Acessibilidade / Reportar erro

Cucumbis Carnavalescos: Áfricas, carnaval e abolição (Rio de Janeiro, década de 1880)

Resumos

Este artigo apresenta uma pesquisa sobre os Cucumbis Carnavalescos. Esses grupos alcançaram a sua maior notoriedade na segunda metade da década de 1880, aparecendo cada vez mais nos jornais e conquistando seu espaço nas ruas durante os dias de carnaval. Eles foram reconhecidos, por jornalistas e outros observadores contemporâneos, como "africanos" - "danças africanas", "instrumentos africanos" e "trajes africanos" - desfilando pelas ruas da cidade. O objetivo principal deste trabalho é tentar entender os possíveis significados por trás do ato de criar, preservar e transformar uma ação festiva que tem o passado africano como elemento fundamental para a formação de identidade para os seus membros. Essa identidade africana foi reforçada precisamente enquanto a luta pela abolição da escravatura tornou-se mais intensa e os debates sobre cidadania tornaram-se mais fortes do que nunca.

Carnaval; Cucumbi; abolição da escravidão; Rio de Janeiro


This paper presents research about the carnival Cucumbis. These groups had reached their greatest notoriety in the second half of the 1880s, appearing more and more in the newspapers and conquering their space in the streets during the days of carnival. They were recognized as "Africans" by the journalists and other contemporaneous observers: with their "African dances", "African instruments", and "African costumes" parading through the streets. The main objective here is to try to understand the possible meanings behind the act of creating, preserving, and changing one festive action that has the African past as an essential element to the making of identity for their members. This African identity was strengthened precisely while the struggle for the abolition of slavery grew more intense and the debates about citizenship had become stronger than ever.

Carnival; Cucumbi; abolition of slavery; Rio de Janeiro


  • 2 Eric Brasil Nepomuceno, "Carnavais da abolição: diabos e cucumbis no Rio de Janeiro (1879-1888)" (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Fluminense, 2011).
  • 4 Maria Clementina Pereira Cunha, Ecos da folia: uma história social do carnaval carioca entre 1880 e 1920, São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
  • 5 Mello Moraes Filho, Festas e tradições populares do Brasil, Rio de Janeiro: Ediouro, 1967, pp. 191-202.
  • 9 Mario de Andrade, Dicionário musical brasileiro, Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1989;
  • Luis da Câmara Cascudo, Dicionário do folclore brasileiro, Rio de Janeiro: INL, 1971 [1954];
  • 11 Mario D. Frugillo, Dicionário de percussão, São Paulo: Editora UNESP/Imprensa Oficial do Estado, 2003.
  • 12 Luis Edmundo, nascido no Rio de Janeiro em 26 de junho de 1878, foi jornalista, poeta, cronista, memorialista, teatrólogo e orador. Dedicou-se intensamente ao passado do Rio de Janeiro, cidade que amou e onde faleceu em 8 de dezembro de 1961. Foi cronista e pesquisador da cidade, publicando obras ainda hoje fundamentais para aqueles que se interessam pelo cotidiano carioca nos séculos passados. Ver Luiz Edmundo, O Rio de Janeiro do meu tempo, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938,
  • 15 Mariza Soares, Devotos da cor: identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro do século XVIIII, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
  • 16 Marina de Mello e Souza, Reis negros no Brasil escravista: história da festa de coroação do rei congo, Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006, p 254.
  • 19 Robert Slenes, "'Eu venho de muito longe, eu venho cavando': jongueiros cumba na senzala centro-africana", in Silvia Hunold Lara e Gustavo Pacheco (orgs.), Memória do jongo: as gravações históricas de Stanley Stein Vassouras, 1949 (Rio de Janeiro: Folha Seca; Campinas: CECULT, 2007), p. 116.
  • 21 John Thornton, The Kingdom of Kongo: Civil War and Transition, 1641-1718, Madison: University of Wisconsin Press, 1983;
  • John Thornton, A África e os africanos na formação do mundo atlântico, 1400-1800, Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
  • 25 Manuel Querino, A Bahia de outrora, Salvador: Progresso, 1946, p. 63.
  • 26 Segundo Wlamyra Albuquerque, Querino forjou sua imagem pública em sua empedernida atuação na campanha abolicionista, sua participação em associações operárias e em suas pesquisas sobre a cultura negra na Bahia. Sendo negro, sua atuação contribui para combater a ideia de que os brancos eram responsáveis pelas ações abolicionistas. Defendia que o negro merecia lugar de destaque "como fator da civilização brasileira", pois foi o seu trabalho que sustentou por séculos "a nobreza e a prosperidade do Brasil". Ver Wlamyra Albuquerque, O jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil, São Paulo: Companhia das Letras, 2009. pp 86-7.
  • 27 Nina Rodrigues, Os africanos no Brasil, São Paulo: Nacional; Brasília: INL, 1976. p. 181.
  • 29 Tiago de Melo Gomes, "Para além da casa da Tia Ciata: outras experiências no universo cultural carioca, 1830-1930", Afro-Ásia, n. 29-30 (2003), p. 179.
  • 30 Apud Jota Efegê, Ameno Resedá - O rancho que foi escola. Documentário do carnaval carioca, Rio de Janeiro: Letras e Artes, 1965, pp. 68-9.
  • 32 Humberto Fernandes Machado, "Palavras e brados: a imprensa abolicionista do Rio de Janeiro, 1880-1888" (Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 1991).
  • 33 Nelson Werneck Sodré, História da imprensa no Brasil, São Paulo: Mauad, 1994, p. 257.
  • 35 Sodré, História da imprensa, pp. 249-52; Marcelo Balaban, "O poeta do lápis: a trajetória de Angelo Agostini no Brasil Imperial, São Paulo e Rio de Janeiro, 1864 e 1888" (Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, 2005).
  • 50 Elikia M'Bokolo, África negra: história e civilizações, tomo 1 (até o século XVIII). Salvador: Edufba; São Paulo: Casa das Áfricas, 2009. pp. 413-15.
  • 52 Nei Lopes, Novo dicionário banto do Brasil, Rio de Janeiro: Pallas, 2003, p. 181.
  • 53 Pierre Verger, Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo, Salvador: Corrupio, 2002.
  • 55 Wyatt McGaffey, "The West in Congolese Experience", in Philip D. Curtin (ed.), Africa and the West (Madison: The University of Wisconsin Press, 1972), pp. 51-6.
  • 56 Robert Slenes, "Malungo n'goma vem! África coberta e descoberta do Brasil", Revista USP, n. 12 (1991-1992), p. 53.
  • 59 Luiz da Câmara Cascudo, Made in África, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965, p. 114.
  • 62 Sidney Chalhoub, Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte, São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
  • 63 Eric Brasil Nepomuceno e Camila Mendonça, "1888: Abolição e abolicionismos", in Carolina Vianna Dantas, Hebe Mattos e Martha Abreu (orgs.), O negro no Brasil: trajetórias e lutas em dez aulas de história (Rio de Janeiro: Objetiva, 2012), pp. 73-84;
  • Eduardo Silva, "Domingo, dia 13: o underground abolicionista, a tecnologia de ponta e a conquista da liberdade", in Martha Abreu e Matheus Serva Pereira (orgs.), Caminhos da liberdade: histórias da abolição e do pós-abolição no Brasil (Niterói: PPGHISTÓRIA-UFF, 2011), pp. 29-37.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Jul 2014
  • Data do Fascículo
    Jun 2014
Universidade Federal da Bahia Praça Inocêncio Galvão, 42 Largo 2 de Julho, Centro, 40060-055 - Salvador - BA, Tel: 5571 3283-5501 - Salvador - BA - Brazil
E-mail: ceao@ufba.br