Acessibilidade / Reportar erro

Variação sazonal da densitometria óssea no RS

CARTAS AO EDITOR

Variação sazonal da densitometria óssea no RS

Tânia Weber Furlanetto; Melissa Orlandim Premaor

Departamento de Medicina Interna, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Tânia W. Furlanetto Departamento de Medicina Interna Hospital de Clínicas de Porto Alegre Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rua Ramiro Barcellos 2350/700 90035-003 Porto Alegre, RS Fax: (51) 3333-1585 E-mail: furlanet@cpovo.net

LEMOS COM INTERESSE OS DADOS de Stringari e col, publicados nos Arquivos, em abril de 2004 (1). Os autores relatam que a densidade óssea (DO) não se associou à estação do ano, quando corrigida para o peso, no RS. Isso levou o editorialista a concluir que a exposição solar parece ser suficiente para a produção de vitamina D pela pele, mesmo no inverno, no RS (2).

Temos dados que contrariam essa hipótese. Recentemente, encontramos prevalência muito alta de hipovitaminose D, em pacientes internados em enfermaria de medicina interna, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no mês de outubro (3). A avaliação foi realizada no primeiro dia da internação e a exposição ao sol e capacidade de deambular não se associaram a hipovitaminose D. Os pacientes com vitamina D baixa apresentaram quadro laboratorial de hiperparatireoidismo esperado. Escolhemos o mês de outubro para esse estudo porque a vitamina D tem vida média longa. No início do inverno é possível que os pacientes ainda tenham vitamina D produzida no verão. No hemisfério norte, em região de clima temperado, os níveis séricos de PTH foram menores de agosto a outubro (4) e maiores de março a maio.

Porque não foi vista, então, variação sazonal na DO?

É possível que os meses de novembro a fevereiro, chamados "verão", não se associem aos níveis mais altos de vitamina D e mais baixos de PTH, pois o outono no RS, região de clima subtropical, pode ser invernoso e as temperaturas baixas freqüentemente se estendem até novembro-dezembro. Já os meses de maio a agosto, chamados "inverno", talvez não se associem aos níveis mais altos de PTH, pois a primavera pode ser veranosa, encontrando-se temperaturas elevadas até maio-junho.

Não sabemos a prevalência de hipovitaminose D no RS, em populações mais sadias e em outros meses do ano. No entanto, o RS, pela umidade alta do ar, especialmente no inverno, e por sua posição geográfica, pode ter prevalência alta de vitamina D em alguns meses do ano. Na Argentina, em região de latitude semelhante, foi encontrada deficiência de vitamina D, em pessoas idosas sadias, vivendo em casa (5).

A duração da vitamina D produzida quando a exposição ao sol é mais eficiente, isto é, mais rica em luz UV, depende de vários fatores. Dentre eles, estão o tempo de exposição ao sol, a área de pele exposta, a qualidade da luz e a ingestão de cálcio.

É importante salientar que, no trabalho em questão, a média da DO foi menor, na coluna e no fêmur, no "verão". A associação da menor DO com esse período tornou-se não significativa, quando corrigida para o peso. Não ficou claro porque não foi feita a correção para o índice de massa corporal. Além disso, como as medidas foram não seqüenciais, esses dois grupos de mulheres podem ter tido outros fatores que as diferenciavam, como ingestão de cálcio, uso de diuréticos de alça e uso de protetores solares, que não foram incluídos na regressão linear, e poderiam alterar a associação. Seria interessante, também, saber em que condição foi aferido o peso das pacientes, pois as vestimentas, com certeza, têm seu peso aumentado, imediatamente após a chegada do frio.

REFERÊNCIAS

1. Stringari FF, Zanette E, Machado F, Marroni BJ, Canani LH. Influência da sazonalidade na determinação da densidade mineral óssea. Arq Bras Endocrinol Metab 2004;48:240-4.

2. Borges JLC. Complicando o monitoramento da osteoporose: mas não aqui. Arq Bras Endocrinol Metab 2004;48:221-2.

3. Premaor MO, Alves GV, Crossetti LB, Furlanetto TW. Hyperparathyroidism secondary to hypovitaminosis D in hypoalbuminemic is less intense than in normoalbuminemic patients. A prevalence study in medical inpatients in Southern Brazil. Endocrine 2004;1:27-43 (no prelo).

4. Krall EA, Sahyoun N, Tannenbaum S, Dallal GE, Dawson-Hughes B. Effect of vitamin D intake on seasonal variations in parathyroid hormone secretion in postmenopausal women. N Engl J Med 1989;321:1777-83.

5. Olivieri B, Plantalech, Bagur A, Wittich AC, Rovai G, Pusiol E, et al. High prevalence of vitamin D insufficiency in healthy elderly people living at home in Argentina. Eur J Clin Nutr 2004;58:337-4.

  • Endereço para correspondência

    Tânia W. Furlanetto
    Departamento de Medicina Interna
    Hospital de Clínicas de Porto Alegre
    Universidade Federal do Rio Grande do Sul
    Rua Ramiro Barcellos 2350/700
    90035-003 Porto Alegre, RS
    Fax: (51) 3333-1585
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Mar 2005
    • Data do Fascículo
      Ago 2004
    Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Rua Botucatu, 572 - conjunto 83, 04023-062 São Paulo, SP, Tel./Fax: (011) 5575-0311 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: abem-editoria@endocrino.org.br