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Prevalência de síndrome metabólica em pacientes sul-brasileiras com síndrome dos ovários policísticos

CARTA AO EDITOR

Prevalência de síndrome metabólica em pacientes sul-brasileiras com síndrome dos ovários policísticos

Poli Mara Spritzer; Denusa Wiltgen

Unidade de Endocrinologia Ginecológica, Serviço de Endocrinologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Departamento de Fisiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Poli Mara Spritzer Serviço de Endocrinologia Hospital de Clínicas de Porto Alegre Rua Ramiro Barcelos 2350 90050-170 Porto Alegre, RS Fax: (51) 3316-3656 E-mail: spritzer@ufrgs.br

A SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (PCOS) é uma doença complexa, de apresentação clínica heterogênea, e que se caracteriza pela presença de anovulação crônica e hiperandrogenismo. Embora ainda não claramente definida do ponto de vista etiopatogênico, apresenta, ao redor do mundo, uma grande prevalência entre adolescentes e mulheres em idade reprodutiva. Além dos distúrbios reprodutivos, as pacientes com PCOS apresentam, freqüentemente, alterações metabólicas que incluem obesidade, dislipidemia e resistência insulínica. Apesar de os mecanismos moleculares envolvidos na alteração da ação da insulina nestas pacientes não estarem completamente elucidados, sabe-se que a presença de resistência insulínica leva à hiperinsulinemia compensatória, e esta parece estar implicada na patogênese do hiperandrogenismo da PCOS.

A síndrome metabólica é uma constelação de fatores de risco para doença cardiovascular que inclui hipertensão, dislipidemia, hiperglicemia e obesidade central, fatores estes estreitamente relacionados à resistência insulínica (RI) (1). Neste sentido, a avaliação clínica da presença de RI apresenta dificuldades. Embora variáveis do exame físico sejam úteis em sinalizar a RI, como a circunferência de cintura > 88 cm ou acantose nigricans, a confirmação laboratorial é tema mais complexo. O clamp euglicêmico hiperinsulinêmico é acurado mas inacessível na prática clínica, e os demais marcadores (níveis de insulina, gli/ins, ins/gli, HOMA, área sobre a curva de insulina e outros) são úteis em estudos clínicos mas não há consenso sobre pontos de corte fidedignos para classificar determinada paciente como apresentando RI.

Da mesma forma, estudos em pacientes com PCOS têm demonstrado alta prevalência de síndrome metabólica, mesmo considerando diferentes etnias. No entanto, características ambientais e culturais podem ter influência sobre resultados de freqüência de síndrome metabólica em mulheres com PCOS, quando populações específicas são consideradas. Os dados americanos, por exemplo, parecem apresentar um viés relacionado com a epidemia de obesidade que assola essa população. No artigo "Síndrome dos ovários policísticos, síndrome metabólica, risco cardiovascular e o papel dos agentes sensibilizadores da insulina" (2), os autores descrevem dados da literatura que indicam uma prevalência de síndrome metabólica entre 33­43% em pacientes americanas com PCOS. Mesmo quando apenas um componente da síndrome metabólica é analisado, a prevalência persiste muito elevada, como no caso da circunferência da cintura > 88 cm (80%) (3) ou do HDLc < 50 mg/dl (68%) (4), confirmando o risco metabólico precoce destas pacientes.

Em nosso meio (5), numa população de 91 mulheres entre 14 e 35 anos que consultaram por hirsutismo na Unidade de Endocrinologia Ginecológica/Serviço de Endocrinologia do HCPA, Rio Grande do Sul, a prevalência de síndrome metabólica, de acordo como NCEP (6) foi de 27,9% nas pacientes com PCOS. Os critérios mais prevalentes nesta população foram cintura > 88 cm e HDL < 50 mg/dl, ambos presentes em 50,8% das pacientes (figura 1). Quando analisadas apenas as pacientes com PCOS de peso normal (IMC < 25 kg/m2, 32,8% da amostra), nenhuma apresentou síndrome metabólica e apenas 10% evidenciaram HDL< 50 mg/dl, apesar de a prevalência de resistência insulínica [HOMA (> 3,8)] neste grupo ter sido de 45%.


Assim, embora a resistência insulínica apresente alta prevalência em pacientes com PCOS, independentemente do IMC, as evidências ressaltam o impacto da presença de obesidade e possivelmente de fatores ambientais e culturais como dieta e estilo de vida, como determinantes de co-morbidades relacionadas à resistência insulínica nas pacientes com PCOS.

REFERÊNCIAS

1. Sierra-Johnson J, Johnson BD, Allison TG, Bailey KR, Schwartz GL, Turner ST. Correspondence between the adult treatment panel III criteria for metabolic syndrome and insulin resistance. Diabetes Care 2006;29:668-72.

2. Silva RC, Pardini DP, Kater CE. Síndrome dos ovários policísticos, síndrome metabólica, risco cardiovascular e o papel dos agentes sensibilizadores da insulina. Arq Bras Endocrinol Metab 2006;50:281-90.

3. Ehrmann DA, Liljenquist DR, Kasza K, Azziz R, Legro RS, Ghazzi MN. Prevalence and predictors of metabolic syndrome in women with polycystic ovary syndrome. J Clin Endocrinol Metab 2006;91:48-53.

4. Apridonidze T, Essah PA, Iourno MJ, Nestler JE. Prevalence and characteristics of metabolic syndrome in women with polycystic ovary syndrome. J Clin Endocrinol Metab 2005;90:1929-35.

5. Wiltgen D, Furtado LB, Kohek MBF, Spritzer PM. Association between CAPN10 UCSNP-43 and UCSNP-19 polymorphisms and metabolic syndrome in polycystic ovary syndrome (PCOS). In: 88th Annual Meeting of the Endocrine Society (ENDO 2006), Boston, USA. Program & Abstracts 2006;88:529.

6. Executive Summary of Third Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA 2001;285:2486-97.

Recebido em 29/11/06

Aceito em 15/12/06

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Abr 2007
    • Data do Fascículo
      Fev 2007
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