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Tratamento cirúrgico das canaliculites crônicas: relato de nossa experiência em 7 casos

Surgical treatment of chronic canaliculitis: report of our experience in 7 cases

Resumos

Objetivo: Discutir as principais formas de tratamento existentes atualmente e relatar a nossa experiência com o tratamento cirúrgico das canaliculites crônicas. Métodos: Estudo retrospectivo com 7 casos atendidos na Clínica Oftalmológica do HC-FMUSP nos últimos 3 anos. Resultados: Todos os pacientes submetidos a tratamento cirúrgico tiveram cura completa dos sinais e sintomas. Conclusões: Devemos sempre lembrar da possibilidade de canaliculite em pacientes com queixa de epífora e secreção crônica no ponto lacrimal para que seja realizado o tratamento cirúrgico adequado.

Infecções oculares bacterianas; Infecções por Actinomycetales; Doenças do aparelho lacrimal; Doença crônica


Purpose: Discuss the most important forms of treatment available nowadays and to report our experience with the surgical treatment of chronic canaliculitis. Methods: Retrospective study with 7 cases assisted at the Clínica Oftalmológica of HC-FMUSP in the last 3 years. Results: All the patients submitted to surgical treatment had complete cure of the signs and symptoms. Conclusions: We should always remember the possibility of canaliculitis in patients with epiphora and chronic secretion in the lacrimal punctum so that the appropriate surgical treatment can be established.

Eye infection, bacterial; Actinomycetales infections; Lacrimal apparatus diseases; Chronic diseases


Tratamento cirúrgico das canaliculites crônicas: relato de nossa experiência em 7 casos

Surgical treatment of chronic canaliculitis: report of our experience in 7 cases

Roberto Murillo Limongi de Souza Carvalho1 1 Médico Assistente do Setor de Plástica Ocular do Centro de Referência em Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Goiás, Pós-graduando nível Doutorado da Universidade de São Paulo. 2 Médico Orientador do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 3 Médico responsável pelo Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de Santo Amaro. 4 Médica Assistente-Doutora da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 5 Médico Assistente-Doutor e Chefe do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

José Byron V. D. Fernandes2 1 Médico Assistente do Setor de Plástica Ocular do Centro de Referência em Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Goiás, Pós-graduando nível Doutorado da Universidade de São Paulo. 2 Médico Orientador do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 3 Médico responsável pelo Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de Santo Amaro. 4 Médica Assistente-Doutora da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 5 Médico Assistente-Doutor e Chefe do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Marcos Volpini3 1 Médico Assistente do Setor de Plástica Ocular do Centro de Referência em Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Goiás, Pós-graduando nível Doutorado da Universidade de São Paulo. 2 Médico Orientador do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 3 Médico responsável pelo Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de Santo Amaro. 4 Médica Assistente-Doutora da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 5 Médico Assistente-Doutor e Chefe do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Suzana Matayoshi4 1 Médico Assistente do Setor de Plástica Ocular do Centro de Referência em Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Goiás, Pós-graduando nível Doutorado da Universidade de São Paulo. 2 Médico Orientador do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 3 Médico responsável pelo Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de Santo Amaro. 4 Médica Assistente-Doutora da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 5 Médico Assistente-Doutor e Chefe do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Eurípedes da Mota Moura5 1 Médico Assistente do Setor de Plástica Ocular do Centro de Referência em Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Goiás, Pós-graduando nível Doutorado da Universidade de São Paulo. 2 Médico Orientador do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 3 Médico responsável pelo Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de Santo Amaro. 4 Médica Assistente-Doutora da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 5 Médico Assistente-Doutor e Chefe do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

RESUMO

Objetivo: Discutir as principais formas de tratamento existentes atualmente e relatar a nossa experiência com o tratamento cirúrgico das canaliculites crônicas. Métodos: Estudo retrospectivo com 7 casos atendidos na Clínica Oftalmológica do HC-FMUSP nos últimos 3 anos. Resultados: Todos os pacientes submetidos a tratamento cirúrgico tiveram cura completa dos sinais e sintomas. Conclusões: Devemos sempre lembrar da possibilidade de canaliculite em pacientes com queixa de epífora e secreção crônica no ponto lacrimal para que seja realizado o tratamento cirúrgico adequado.

Descritores: Infecções oculares bacterianas; Infecções por Actinomycetales; Doenças do aparelho lacrimal/cirurgia; Doença crônica

INTRODUÇÃO

A canaliculite crônica é uma doença incomum, de etiologia desconhecida, que deve ser considerada em todos o casos de conjuntivite crônica unilateral(1-2). O quadro clínico geralmente se manifesta por epífora, irritação ocular e desconforto no canto medial, acompanhado por sinais de secreção ocular, eritema e espessamento da pálpebra medial, edema e refluxo de secreção no ponto lacrimal e às vezes saída de concreções pelo ponto (dacriolitos)(3) (Figura 1). Os sinais radiológicos se caracterizam por dilatação dos canalículos superior e inferior, com ausência de dilatação do saco lacrimal e ducto nasolacrimal. Apesar de sua ocorrência rara, a canaliculite não sofre melhora espontânea, levando muitas vezes a um quadro de irritação ocular crônica e secreção ocular nos indivíduos acometidos, caso a doença não seja diagnosticada e tratada corretamente. Com o objetivo de discutir as principais formas de tratamento existentes atualmente e relatar a nossa experiência com o tratamento cirúrgico, fizemos um estudo com 7 casos atendidos no Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do HC - FMU SP.


MÉTODOS

Foi realizado um estudo retrospectivo com 7 casos atendidos no Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do HC FMUSP nos últimos 3 anos, sendo anotados os dados clínicos e as formas de tratamento adotadas para cada paciente bem como a evolução pós-operatória.

RESULTADOS

Os dados clínicos e a forma de tratamento encontram-se no quadro 1. Os principais sinais e sintomas encontram-se dispostos no quadro 2.



Em nosso estudo a cultura da secreção coletada foi negativa na maioria dos casos (Streptococcus viridans).

DISCUSSÃO

O tratamento da canaliculite pode ser abordado das seguintes formas: conservador (massagem) ou cirúrgico (curetagem/canaliculotomia), variando de acordo com o cirurgião. O tratamento conservador, expressão mecânica do canalículo, apesar das vantagens de ser um método não invasivo, realizado apenas com massagem do canalículo e uso de antibiótico tópico, nem sempre leva à cura completa da doença e na maioria das vezes o paciente apresenta recorrência dos sintomas. Vecsei et al. relataram em sua casuística apenas uma taxa da 20% de cura completa quando o tratamento conservador foi utilizado isoladamente(4). O tratamento cirúrgico pode ser realizado através de curetagem do canalículo ou canaliculotomia. A curetagem é realizada sob anestesia local e passagem de cureta através do ponto lacrimal dilatado ou punctoplastia. A curetagem é feita até que toda a passagem da cureta seja não produtiva. Após isso é feito o uso tópico de colírio de sulfacetamida. Estudos relatam que 45% dos pacientes apresentaram cura completa dos sintomas e sinais de canaliculite após uma única curetagem(5). A canaliculotomia é realizada sob anestesia local, sendo feita uma incisão a partir do ponto lacrimal na extensão do canalículo, em direção ao canto medial. Após isso é feito a retirada das concreções e lavagem com antibiótico tópico, mantendo-se a ferida aberta no pós-operatório.

A etiologia mais freqüente da canaliculite é o Actinomyces israelii(3), porém nossos resultados diferem da literatura. A negatividade das nossas culturas talvez possa ser atribuída aos diversos tratamentos prévios com antibiótico.

É importante ressaltar que menos de um terço dos pacientes (quadro 2 - sinais e sintomas) apresentaram epífora, mostrando que esta queixa não foi tão freqüente como seria de se esperar.

Em nosso estudo apenas 1 caso foi submetido ao tratamento conservador (2 manobras de expressão do canalículo), havendo melhora inicial dos sinais e sintomas porém o paciente ainda apresenta atualmente discreto edema e hiperemia do ponto e secreção esporádica. Todos os pacientes submetidos a canaliculotomia mostraram cura completa dos sinais e sintomas de canaliculite crônica.

Por fim, frisamos que em pacientes com queixa de epífora e secreção crônica no ponto lacrimal devemos sempre lembrar da possibilidade de canaliculite para que seja realizado o tratamento cirúrgico adequado.

ABSTRACT

Purpose: Discuss the most important forms of treatment available nowadays and to report our experience with the surgical treatment of chronic canaliculitis. Methods: Retrospective study with 7 cases assisted at the Clínica Oftalmológica of HC-FMUSP in the last 3 years. Results: All the patients submitted to surgical treatment had complete cure of the signs and symptoms. Conclusions: We should always remember the possibility of canaliculitis in patients with epiphora and chronic secretion in the lacrimal punctum so that the appropriate surgical treatment can be established.

Keywords: Eye infection, bacterial; Actinomycetales infections; Lacrimal apparatus diseases/surgery; Chronic diseases

Trabalho realizado no Setor de Plástica Ocular do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Endereço para correspondência: Av.Sucuri esq. C/ J-81 n. 1500, Setor Jaó - Goiânia (GO) CEP 74673-100. E-mail: rmurillousp@hotmail.com

Nota Editorial: Pela análise deste trabalho e por sua anuência sobre a divulgação desta nota, agradecemos aos Drs. Ana Estela B. P. Sant'Anna e João Amaro Ferrari Silva.

  • l. Demant E, Hurwits JJ. Canaliculitis: review of 12 cases. Can J Ophthalmol 1980;15:73-5.
  • 2. Sullivan TJ, Hakin KN, Sathananthan N, Rose GE, Moseley IF. Chronic canaliculitis. Aust N Z J Ophthalmol 1993;21:273-4.
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  • 4. Vecsei VP, Huber-Spitzy V, Arocker-Mettinger E, Steinkogler FJ. Canaliculitis: difficulties in diagnosis, differential diagnosis and comparison between conservative and surgical treatment. Ophthalmologica 1994;208:314-7.
  • 5. Pavilack MA, Fruch BR. Through curettage in the treatment of chronic canaliculitis. Arch Ophthalmol 1992;110:200-2.
  • 1
    Médico Assistente do Setor de Plástica Ocular do Centro de Referência em Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Goiás, Pós-graduando nível Doutorado da Universidade de São Paulo.
    2
    Médico Orientador do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
    3
    Médico responsável pelo Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de Santo Amaro.
    4
    Médica Assistente-Doutora da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
    5
    Médico Assistente-Doutor e Chefe do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Dez 2002
    • Data do Fascículo
      Nov 2001
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