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Prestigiosa validação de nossos padrões editoriais

EDITORIAL

Prestigiosa validação de nossos padrões editoriais

Harley E. A. Bicas; Cristina Muccioli; Mauro Goldchmit; Mauro S. Q. Campos; Paulo E. Correa Dantas; Samir J. Bechara; Vital Paulino Costa; Claudete N. Moral; Cláudia C. N. Moral; Edna Terezinha Rother; Maria Elisa Rangel Braga; Paulo M. Imamura; Hanna Rotschild; Adamo Lui Netto; Henrique S. Kikuta; Elisabeto Ribeiro Gonçalves

Esta é uma das cartas mais sérias que cada um de nós pode haver já assinado e, no entanto, preparada em momento de enorme júbilo. Ela, ainda que devendo representar a humildade de cada contribuição isolada, não pode deixar de transmitir o profundo orgulho do conjunto por sua expressiva vitória. E, também, em meio à comemoração, não se omitir do chamamento de alerta para as responsabilidades advindas.

Sem dúvida, será possível citá-la como registro de uma circunstância histórica das mais importantes, pelo que simboliza não apenas em termos de valorizações acadêmicas de nossa produção científica mas, sobretudo, pelo que resgata da auto-estima de nossa gente. Não seria até exagero interpretar essa vitória como quase épica, pelas dificuldades superadas. Trata-se de anunciarmos, gloriosamente, por nossa participação no acontecido, impados de orgulho, o ingresso dos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia na MEDLINE.

E — daí perguntarão muitos — o que significa isso e por que tanta agitação ? MEDLINE é a marca registrada da Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, o mais importante sistema de compilação de informações sobre o que se produz mundialmente nas ciências da saúde, a base referencial de dados dessas publicações da National Library of Medicine, hoje disponibilizada pela rede mundial de computadores pelo endereço PubMed (www.pubmed.gov).

Atualmente, estima-se que a produção científica mundial em Medicina esteja entre quatro e cinco milhões de artigos por ano, o que significa ser absolutamente impossível um acompanhamento sobre o que se faz e escreve nessa área do conhecimento. A criação de um sistema de referências que selecione o que de melhor existe e que possua credibilidade para certificar a qualidade do veículo e, pois, indiretamente, a da publicação é, portanto, uma necessidade imperiosa da comunidade científica mundial, uma garantia para que essa própria produtividade tenha agilidade na sua auto-renovação e incentivo para se tornar ainda mais apurada. Obviamente, a característica principal desses sistemas de indexação é o elevado nível de exigibilidades, é o rigor com que impõem seus critérios de qualidade e de seleção, não apenas para ingresso, mas para conservação desse estado com que se distingue uma revista científica das demais. Daí, também, não surpreender que Universidades e agências de fomento à pesquisa científica (como nossos CNPq, CAPES, FINEP, FAPESP e outras) valorizem as publicações "indexadas", isto é, feitas em veículos que tenham tais certificados de qualidade.

Claro que esse estado de coisas apresenta uma face profundamente perversa, a de que com ele se incentiva a publicação nos já consagrados (selecionados) periódicos, relegando aos emergentes uma condição inferiorizada. Desse modo, fecha-se um círculo vicioso, nocivo à editoração do país, promovendo-se-lhe a sangria, a drenagem do que melhor existe em sua produção, em benefício dos agentes já blindados e titulados como dignos dessa preferência de reconhecimento. Mais ainda difícil se torna vencer esse contingenciamento quando a publicação se faz, como a dos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, numa língua periférica à da comunidade científica mundial. Essa, por exemplo, sempre foi uma tentação, a de (justificadamente pelo prisma acadêmico), passar a produzir um Brazilian Archives of Ophthalmology, todo em inglês, a língua universal da ciência, o que poderia impulsionar a revista em sentido da indexação, facilitando a divulgação e impacto de seus artigos. Contra a opção de oferecer, sim, aos autores que desejassem, tal condição de uso do inglês (e do espanhol) mas sem torná-la compulsória, sem subjugar o brasileiro a abdicar de sua língua mãe, para publicar numa revista de "seu" país. Fizemos, afinal, a escolha pelo caminho mais difícil, a aposta de que conviria o reforço de quadros nacionais de autores e revisores pela reverberação de seus produtos, uma justificativa pedagógica (que, aliás, também e sobretudo é o sentido teleológico do saber acadêmico).

Uma das condições importantes nesse caminho de sobrevivência editorial e do reconhecimento internacional foi haver conseguido — outro de nossos orgulhos — nossa revista selecionada pela SciELO (Scientific Electronic Library Online), iniciativa brasileira que agora se estende pela América Latina e pelo mundo e que, certamente, fundamenta a conquista de agora. É por isso que, nesta hora de alegria, ganha também especial relevo a presença do fundador dos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, com sua intenção — inicial mas perene — de que os objetivos da revista se expressassem com um sentido bem amplo, mas nos quais a preservação de valores pátrios parece ficar bem evidente. De fato, na primeira página do primeiro número da revista, dando sua apresentação e estatuto, Waldemar Belfort Mattos escrevia "Os Arquivos Brasileiros de Oftalmologia aparecem com as seguintes finalidades: a) dar publicidade aos trabalhos originaes dos oculistas patrícios; b) transmitir a todos os médicos brasileiros, interessados pela especialidade, o que existir de mais moderno no campo da oftalmologia mundial; c) fomentar o estudo e o aperfeiçoamento de oftalmologia". Depois justifica a escolha do símbolo distintivo da revista, homenageando "...disseminadores da primitiva civilisação brasileira", para concluir: "Assim também, com um destes mesmos símbolos em seu frontespício, os Arquivos Brasileiros de Oftalmologia se espalharão por todo o Brasil, promovendo e fomentando, entre todos, o intercâmbio da oftalmologia pátria". Passaram os tempos, mudaram as formas, mas permanece a essência. Receber, assim, o galardão de "very good", a classificação com que os Arquivos Brasileiros de Oftalmologia foram agraciados por sua entrada na MEDLINE, tornando-se, aí, a única publicação latino-americana do gênero e uma das poucas brasileiras, das cerca de quinhentas, em toda a área da saúde (na MEDLINE apenas 17, das quais algumas publicadas inteiramente em inglês) é, portanto, duplamente reconfortante: ganha-se por causa do conteúdo e apresentação da revista; mas ganha-se, também, apesar da língua em que ela é publicada. Ganha-se pelo mérito, mas ganha-se na auto-estima de uma nação, pela condição como isso se fez.

Não há, então, razões para susto. Pois já tivemos que responder a questões como a de que "e agora, só deveremos publicar em inglês ?" Nada muda. Não há imposições. Um autor brasileiro não precisará, doravante, enviar seu artigo para robustecer, ainda mais, um órgão estrangeiro e ter, então, maior reconhecimento de seus feitos (por sua Universidade, por agências financiadoras de estudos, pela comunidade de seus pares): os Arquivos Brasileiros de Oftalmologia passam a oferecer os mesmos índices de qualificações. Seus artigos ganharão reputação e visibilidade aumentada.

É provável — pela vitrine que agora se abre, escancarando a produção oftalmológica brasileira à leitura internacional — que mais autores prefiram expor seus trabalhos em modo a que sejam apreciados na íntegra, não apenas por seus resumos. Conjetura-se, então, que possa haver — se houver — um aumento dos artigos de nossa revista em inglês. Mas livre e espontaneamente. Mais que uma questão de conceito, uma profissão de fé, um jeito de ver o mundo e as pessoas que nele estão.

Em suma, não foi uma simples conquista dos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, mas de toda a Oftalmologia brasileira. Cujo reconhecimento internacional, como o que agora acontece, lhe é, há muito, devido. A habilidade de numerosos colegas, notabilizados mundialmente por seus altos padrões de desempenho clínico e cirúrgico; a inspirada e cuidadosa busca da expansão das fronteiras do saber, em nossos laboratórios; a crescente e bem qualificada massa crítica de autores e revisores científicos é quem se fez merecedora desse prêmio e desse crédito, do qual os Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, se faz veículo.

Sentir-se em estado de graça só pode ser isso: alcançar o sonhado objetivo ao fim de uma dura jornada; provar que a convicção em valores, remando contra as correntezas, não é uma esperança utópica; saber o dever cumprido na conclusão da missão; antever quantos (muitos talvez ainda insuspeitados) benefícios possam ser gerados e espalhados, atingindo gerações; transcender ao "aqui e agora". E é aí que mora, com a glória, a responsabilidade: de, doravante, e muito mais explicitamente, no concerto internacional, mostrar a que veio a Oftalmologia brasileira.

A ela, Oftalmologia brasileira, as congratulações pela expressiva vitória e nossos agradecimentos pela imensa honra de termos podido trazê-la. E ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia, as especiais reverências às suas diretorias que sempre confiaram na independência de ação de sua revista e que, sobretudo, garantiram por seus apoios logístico e financeiro todas as circunstâncias para que se alcançasse o brilho do conteúdo científico, a qualidade da formatação, a regularidade de nossas publicações e de suas distribuições. Nunca é demais insistir na ação indispensável do Conselho Brasileiro de Oftalmologia para a continuidade e progressiva melhora do nosso Arquivos Brasileiros de Oftalmologia. Nunca é demais agradecer às várias diretorias do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e o fazemos aqui com o mais profundo e sincero sentimento de gratidão.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Abr 2005
  • Data do Fascículo
    Fev 2005
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