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A importância do treinamento da criança com baixa visão, com emprego dos auxílios ópticos, para capacitação educacional: relato de caso

The value of optical aids' training for low vision child education: case report

Resumos

O aprendizado do correto manuseio do auxílio óptico foi treinado: localização, focalização e seguimento com o telescópio de 8x de magnificação. Após essa etapa iniciou-se o aprendizado de cópia da lousa com o auxílio adaptado. Totalizaram-se 17 sessões para a criança receber a prescrição final devido às grandes dificuldades apresentadas pela baixa acentuada das funções visuais.

Baixa visão; Recursos audiovisuais; Intervenção precoce (educação); Capacitação; Criança; Pré-escolar; Relatos de casos


Training of the proper handling of optical devices was performed: location, targeting and tracking with the 8x magnification telescope. After this step, learning to a copy from a blackboard with the adapted optical aid was initiated. Seventeen sessions were required for the child's final prescription due to severe low vision and loss of visual functions.

Vision, low; Audiovisual aids; Early intervention (education); Training; Child; Child, preschool; Case reports


RELATO DE CASO

A importância do treinamento da criança com baixa visão, com emprego dos auxílios ópticos, para capacitação educacional: relato de caso

The value of optical aids' training for low vision child education: case report

Eduardo Toshio SatoI; Celina Tamaki-CastroII; Danilo Dimas Monteiro de CastroIII

ITecnólogo Oftálmico, Pós-graduando (Mestrado) e Colaborador do Setor de Reabilitação Visual e Visão Subnormal da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) - Brasil

IIOrtoptista, Doutora em Ciências Visuais e Preceptora do Setor de Reabilitação Visual e Visão Subnormal da UNIFESP - São Paulo (SP) - Brasil

IIIMédico Oftalmologista do Setor de Reabilitação Visual e Visão Subnormal da UNIFESP - São Paulo (SP) - Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Eduardo Toshio Sato Rua Botucatu, 822 - São Paulo (SP) CEP 04023-062 E-mail: edu.sato@yahoo.co.uk

RESUMO

O aprendizado do correto manuseio do auxílio óptico foi treinado: localização, focalização e seguimento com o telescópio de 8x de magnificação. Após essa etapa iniciou-se o aprendizado de cópia da lousa com o auxílio adaptado. Totalizaram-se 17 sessões para a criança receber a prescrição final devido às grandes dificuldades apresentadas pela baixa acentuada das funções visuais.

Descritores: Baixa visão; Recursos audiovisuais; Intervenção precoce (educação); Capacitação; Criança; Pré-escolar; Relatos de casos

ABSTRACT

Training of the proper handling of optical devices was performed: location, targeting and tracking with the 8x magnification telescope. After this step, learning to a copy from a blackboard with the adapted optical aid was initiated. Seventeen sessions were required for the child's final prescription due to severe low vision and loss of visual functions.

Keywords: Vision, low; Audiovisual aids; Early intervention (education); Training; Child; Child, preschool; Case reports

INTRODUÇÃO

A seleção do recurso óptico é sempre uma relação entre o tamanho do campo visual remanescente e o grau de magnificação necessária, e a sua escolha depende principalmente dos objetivos do paciente. Adaptação dos auxílios ópticos requer treinamento e prática das técnicas de utilização nas diferentes atividades(1). O uso desses instrumentos deve fazer parte do programa de treinamento da visão residual, assim como o acompanhamento da adaptação e resultados obtidos ao longo prazo.

RELATO DE CASO

C.V.L., sexo masculino, 6 anos, natural de São Paulo, escolaridade pré-3, foi encaminhado do setor de Neuro-oftalmologia (2006), com diagnóstico de hipertensão intracraniana benigna para reabilitação visual. Apresentou queixa de baixa da acuidade visual acentuada havia dez meses (não progressiva) e fotofobia. A principal atividade prejudicada pela baixa visual foi dificuldade no acompanhamento escolar.

No exame oftalmológico, apresentou à biomicroscopia córnea transparente, câmara anterior ampla, íris e cristalino sem alterações. O exame do fundo de olho mostrou edema do disco óptico em ambos os olhos e no exame de refração foi encontrado +0,25 DE ~ -0,50 DC a 175° no olho direito e +0,50 DE ~ -0,50 DC a 85° no olho esquerdo que não foram corrigidos opticamente. Lentes filtrantes âmbar foram adaptadas devido à fotofobia.

Na avaliação funcional da visão, apresentou acuidade visual (AV) no olho direito 10/600 e no olho esquerdo movimentos de mão, com alterações centrais no campo visual computadorizado em ambos os olhos (entretanto com resultados não confiáveis devido à má colaboração), dificuldade de distinguir cores primárias, baixa sensibilidade ao contraste e na avaliação da motilidade ocular extrínseca apresentou exotropia de 30 dioptrias prismáticas.

Teste com auxílios ópticos:

- Telescópio monocular de 6x = AV: 10/100;

- Telescópio monocular de 8x = AV: 10/40.

Determinado o melhor auxílio óptico, o telescópio de 8x, foram iniciadas sessões de treinamento de manuseio. No primeiro treinamento foram realizados exercícios de:

- Localização: localizar objetos da sala (relógio na parede, figuras, quadros, porta de armário, janelas, objetos coloridos), utilizando o telescópio para familiarizar-se com a diminuição do campo visual;

- Focalização: aprender o manuseio da lente ocular para realizar a focalização da imagem;

- Seguimento: procurar números de 1 a 20 na ordem crescente impressos num pôster colocado a 2 metros.

Devido à grande dificuldade, algumas orientações foram dadas, como permitir aproximar-se do material de trabalho na escola (livro, lousa, cartilha), usar cadernos com pautas reforçadas, canetas de ponta porosa e/ou lápis grafite 6B. E também devido à grande dificuldade no treinamento do seguimento, foi orientado treinamento em casa, exercício de simulação de diminuição de campo visual que o telescópio proporciona, utilizando um "rolinho de papelão" de 5 cm de diâmetro e 10 cm de comprimento.

Após cinco sessões de treinamento:

- Ainda apresentava dificuldades em localizar e focalizar;

- Apresentou demora no escaneamento dos números, levando 5 minutos para achar números de 1 a 9, não conseguindo completar até o 20 devido à fadiga;

- Paralelamente ao exercício de seguimento, foram realizadas tentativas de cópias de frases escritas na lousa (distância de 2 metros);

- Criança desmotivada e desanimada.

Após oito sessões de treinamento, houve melhora na localização e focalização de objetos e figuras para longe. O tempo de escaneamento diminuiu, completando o seguimento total dos números entre 5 e 6 minutos. O seu desempenho melhorou ao realizar sessões de treinamentos em grupo com outras crianças (Figura 1), o que aumentou a sua motivação para realizar cópia de lousa.


Após 15 sessões de treinamento:

- Localização e focalização com facilidade;

- Tempo de escaneamento variou entre 52 segundos e 1 minuto;

- Realizou cópias de lousa com facilidade, mesmo diminuindo o tamanho da letra e a cor do giz (Figura 2).


No total, foram necessárias 17 sessões de treinamento até receber a prescrição final do auxílio de visão subnormal para longe.

DISCUSSÃO

O treinamento do manuseio do auxílio óptico tem como objetivo ajudar a criança a usar o seu resíduo visual e possibilitar estímulos para que haja melhor desenvolvimento cognitivo(2). Muitas vezes, o treinamento com o telescópio é realizado com crianças em idade pré-escolar ou logo que mostram algum interesse ou desenvolvimento da aptidão (destreza e capacidade de manuseio)(1,3-4). Portanto, o desenvolvimento da capacidade de utilizar eficientemente o recurso óptico a ser prescrito se torna um passo importante da reabilitação visual.

Recebido para publicação em 06.07.2009

Última versão recebida em 14.10.2009

Aprovação em 21.10.2009

Trabalho realizado no Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) - Brasil.

  • 1
    Ritchie JP, Sonksen PM, Gouldt E. Low vision aids for preschool children. Dev Med Child Neurol. 1989;31(4):509-19.
  • 2
    Teplin SU. Visual impairment in infants and young children. Inf Young Children. 1995;8:18-51.
  • 3
    Castro DDM. Visão subnormal. In: Tartarella MB, Tamaki-Castro C. Estimulação visual precoce. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 1994. p.94-107.
  • 4
    Cox RF, Reimer AM, Verezen CA, Smitsman AW, Vervloed MP, Boonstra FN. Young children's use of a visual aid: an experimental study of the effectiveness of training. Dev Med Child Neurol. 2009;51(6):460-7.
  • Endereço para correspondência:
    Eduardo Toshio Sato
    Rua Botucatu, 822 - São Paulo (SP)
    CEP 04023-062
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Ago 2010
    • Data do Fascículo
      Jun 2010

    Histórico

    • Aceito
      21 Out 2009
    • Revisado
      14 Out 2009
    • Recebido
      06 Jul 2009
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