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Doença do refluxo gastroesofágico: prevalência, fatores de risco e desafios...

Gastroesophageal reflux disease: prevalence, risk factors and challenges...

EDITORIAL

Doença do refluxo gastroesofágico - prevalência, fatores de risco e desafios...

Gastroesophageal reflux disease - prevalence, risk factors and challenges...

Descritores: Refluxo gastroesofágico, epidemiologia. Prevalência.

Headings: Gastroesophageal reflux, epidemiology. Prevalence.

A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) tem impacto negativo na qualidade de vida, aumenta os custos com a saúde e o risco para adenocarcinoma do esôfago. A identificação de pirose ou/e regurgitação ácida são aceitas como marcadores clínicos da DRGE quando ocorrem 1 ou mais vezes por semana nos últimos 12 meses(1) ou 2 vezes por semana nas últimas 4 a 8 semanas segundo o Consenso Brasileiro para a Doença do Refluxo(2). A maioria dos estudos que estima a sua prevalência e os fatores de risco associados é falha, pois não apresentam definição de pirose ("sensação de queimação da região retroesternal, estendendo-se até a base do pescoço ou para a garganta"), os indivíduos estudados não são representativos da população geral e/ou o tamanho amostral é reduzido. Dados populacionais em países em desenvolvimento, particularmente no Brasil, são raros(4). Duas importantes contribuições são publicadas neste número dos ARQUIVOS DE GASTROENTEROLOGIA. A primeira, de MORAES-FILHO et al.(3), em enquete nacional realizada em 22 cidades brasileiras detectou "pirose" 1 ou mais vezes por semana em 11,3% entre 13.000 indivíduos. A segunda publicação, de OLIVEIRA et al.(6), em pesquisa também com base populacional, detectaram "pirose" e/ou "amargor na boca" pelo menos semanalmente, durante o ano anterior em 31,3% de 3.934 indivíduos residentes na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Em ambos os estudos houve associação com o sexo feminino, com o aumento da idade, com o estresse e com "problemas de saúde"/"baixo índice de bem-estar psicológico". Na enquete nacional também houve associação com a ingestão de alimentos, principalmente gordurosos, frituras e condimentos, mas, surpreendentemente, não com o consumo de café, álcool ou fumo. Adicionalmente, no estudo em Pelotas, baixa escolaridade, "viver sem companheiro", "presença de insônia" e obesidade/sobrepeso estiveram também associadas à pirose.

Recente estudo(5) incluindo 60.000 indivíduos na Noruega, corrobora os estudos brasileiros, ao demonstrar maior prevalência de pirose em mulheres e um progressivo aumento com a idade. Entretanto, revisão da literatura internacional, baseada em critérios semelhantes (definição de pirose, base populacional e grande tamanho amostral) aos dois estudos brasileiros aqui publicados, encontrou somente 15 publicações aceitáveis e que indicaram prevalência entre 10% e 20% no mundo ocidental e 5% no oriente(1). Nessa revisão, somente história familiar e obesidade foram considerados fatores de riscos consistentes para DRGE.

A grande variação da prevalência encontrada por MORAES-FILHO et al.(3) e OLIVEIRA et al.(6), pode refletir os diferentes delineamentos desses estudos ou representar uma real maior prevalência de pirose na cidade de Pelotas.

As necessidades de dados sobre a epidemiologia e outros aspectos da DRGE, colocam-nos desafios. O primeiro é delinear protocolos mais sólidos como, por exemplo, estudos longitudinais (estudos de coorte) ou estudos de casos e controle para cujo planejamento e execução o país tem recursos humanos plenamente qualificados. O segundo e maior, é alocar recursos financeiros e infra-estrutura para estudos nacionais, multicêntricos, que poderiam fornecer dados essenciais para futuros programas de prevenção e planejamento em saúde pública. Quem deve liderar a resposta a esses desafios? Como diz a canção de Bob Dylan "a resposta está pairando no ar"...

Sérgio G. S. de BARROS* * Serviço de Gastroenterologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Dent J, El-Serag HB,Wallander M-A, Johansson S. Epidemiology of gastro-oesophageal reflux disease: a systematic review. Gut 2005;54:710-7.

2. Moraes-Filho JPP, Cecconello I, Gama-Rodrigues J, Paula-Castro L, Henry MA, Meneghelli UG, Quigley E, and the Brazilian Consensus Group. Brazilian Consensus on Gastroesophageal reflux Disease: proposals for assessment, classification and management. Am J Gastroenterol 2002;97:241-8.

3. Moraes-Filho JPP, Chinzon D, Eisig JN, Zaterka S, Hashimoto CL. Prevalence of heartburn and gastroesophageal reflux disease in the urban Brazilian population. Arq Gastroenterol 2005;42:122-7.

4. Nader F, Costa JSD, Nader GA, Motta GLCZ. Prevalência de pirose em Pelotas, RS, Brasil: estudo de base populacional. Arq Gastroenterol 2003;40:31-4.

5. Nilsson M, Johnsen R, Ye W, Hveem K, Lagergren J. Prevalence of gastro-oesophageal reflux symptoms and the influence of age and sex. Scand J Gastroenterol 2004;39:1040-5.

6. Oliveira SS, Santos IS, Silva JFP, Machado EC. Prevalência e fatores associados à doença do refluxo gastroesofágico. Arq Gastroenterol 2005;42(2):116-21.

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    Serviço de Gastroenterologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Ago 2005
    • Data do Fascículo
      Jun 2005
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