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Compressão medular por aneurisma da aorta toracica descendente

REGISTROS DE CASOS

Compressão medular por aneurisma da aorta toracica descendente

Carlos De Luccia; José Zaclis; Roberto Arattjo

Assistentes de Clínica Neurológica da Fac. Med. da Univ. de São Paulo (Prof. A. Tolosa)

SUMMARY

Case report of a c.olored male patient, 54 years old, complaining of weakness and numbness in the lower limbs started four months before examination. No cardio-circulatory or respiratory complaints. Good general conditions. The gait was only possible with the help of a cane. Clinical and neurological examination showed increased cardiac area and sharp and diffuse systolic murmur all over the precordial area. There was a spastic paraparesia with bilateral Babinsky sign and hypoesthesia with level at T8. Blood Wassermann and Kahn tests were negative. Spinal fluid obtained by lumbar puncture showed albuminocytologic dissociation and partial mano-metric block. Etiology of the compression syndrome was established by mielography with iodized poppy-seed oil. A large aneurysmatic tumor was found at T1T5, eroding vertebral bodies and compressing the spinal cord.

A compressão medular por aneurisma da aorta é eventualidade rara. Em seu livro sobre aneurismas aórticos, A. de Almeida Prado (Aneurisma aórticos. Ed. Flores e Mano, Rio de Janeiro, 1935) se refere a essa possibilidade, relatando um caso com essa etiopatogenia. A observação que passaremos a transcrever pareceu-nos interessante de ser divulgada porque o paciente procurou o médico por sintomas neurológicos, nada sentindo em relação aos aparelhos cardiocirculatório ou respiratório. Ainda que não seja imediato, como aconteceu em nosso caso, o diagnóstico etiológico será forçosamente feito ao exame radiogràfico, que se impõe ao ser formulado o de sindrome de compressão medular.

Observação - A. C, preto, casado, brasileiro, com 54 anos de idade, procurou o ambulatório de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo em 4-2-1950 (R. 171.908). O paciente queixava-se de enfraquecimento e sensação de dormência nos membros inferiores. O início da moléstia datava de aproximadamente 4 meses, com o aparecimento, primeiro, de "câimbras" e, depois, da fraqueza e amortecimento referidos acima. Referia também certa dificuldade em urinar e evacuar. Quanto aos antecedentes informou que havia adquirido lues 20 anos antes e que se tratara de "aortite". Teve também maleita.

O exame mostrava indivíduo em bom estado geral e que denotava dificuldade em andar, só o fazendo com a ajuda de bengala. A marcha era pareto-espástica. No exame dos sistemas encontrou-se aumento da macicez precordial e sopro intenso e difuso na mesma região. O pulso era rítmico, de 80, sendo a pressão arterial de 13-8. Não havia queixas que se relacionassem aos aparelhos cardiocirculatório, respiratório ou digestivo. O exame neurológico mostrou paraparesia espástica, com sinal de Babinsky bilateral e hipoestesia superficial com nível em T3. Foi feito o diagnóstico sindrômico de compressão medular.

Exames complementares - Sôro-reações para a lues negativas. Exame do líquido cefalorraqueano: punção lombar, em decùbito lateral; pressão inicial 14 (Claude); liquor límpido e incolor; 6 células por mm3 (linfócitos 76%, médios mononucleares 12%, grandes mononucleares 2%); proteínas totais 1,80 g por litro; glicose 0,65 g; r. Pandy e Nonne, fortemente positivas; r. benjoim 00000.12222.21000.0; r. para lues e cisticercose negativas. As provas manométricas revelaram bloqueio parcial do canal raquidiano. Perimielografia (lipiodol por via cisternal) - Com surpresa, verificou-se a presença de grande aneurisma da aorta toracica descendente, e parada do contraste entre T4 e T5 (fig. 1), com erosão dos corpos dessas vertebras.


Clinica Neurológica da Fac. Med. da Univ. de São Paulo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1951
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