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Análises de livros

Análises de livros

RECENT ADVANCES IN NEUROLOGY AND NEUROPSYCHIATRY. SIR RUSSELL BRAIN E E. B. STRAUSS. 6ª edição. Um volume com 311 páginas e 46 figuras, editado por J. & A. Churchill Ltd., Londres, 1955.

Êste livro, excelente compêndio para médicos e estudantes, já está bastante difundido, pois sua primeira edição data de 1929; entre a 5ª edição (1947) e a atual foi êle pràticamente reescrito com inclusão das novidades de maior alcance prático e o acréscimo de novos capítulos sôbre Eletrencefalografia, sôbre Neurorradiologia e sôbre Neurocirurgia. Foi conservada a disposição inicial de juntar a Neurologia à Psiquiatria, pois em numerosas eventualidades há comunidade da sintomatologia clínica. De maneira geral e segundo o esquema de sua primeira edição, o livro contém assuntos que interessam diretamente aos médicos no que concerne à neurofisiologia, à semiologia, à terapêutica, à neuropatologia e à psicopatologia.

Em seus vários capítulos, aos quais foram apensas referências bibliográficas para eventual consulta às fontes originais, são estudados, respectivamente: 1) o lobo frontal e a organização do movimento; 2) a psicopatologia do lobo frontal; 3) o lobo temporal; 4) o lobo occipital e as sensações; 5) consciência e inconsciência; 6) o cerebelo e seus distúrbios; 7) poliomielite e a doença de Coxsackie; 8) afecções desmielinizantes; 9) patologia dos discos intervertebrals e espondilose; 10) fisiopatologia da circulação cerebral; 12) eletrencefalografia; 13) neurorradiologia; 14) tumores intracranianos. No capítulo 11 são estudadas afecções diversas e atualizados alguns métodos de terapêutica neurológica (tratamento das meningites, da neurolues, das epilepsias).

Clareza e concisão na exposição das idéias, visando incutir especialmente dados de valor prático, boa ordenação dos assuntos, agradável apresentação tipográfica e perfeita clichetagem, fazem dêste livro um compêndio de valor para o aprendizado da Neurologia e para o atendimento dos casos mais comuns da Clínica Neurológica.

O. Lange

ALCOHOLISM. LINCOLN WILLIAMS. Um volume com 62 páginas, editado por E. & S. Livingstone Ltd., Edinburgo e Londres, 1956.

A conceituação do alcoolismo como doença suplanta cada vez mais o preceito de que o alcoolismo é conseqüência de depravação moral. Os trabalhos iniciados nos Estados Unipos da América do Norte, demonstrando que o alcoolismo é, primacialmente, um problema médico, não devem ser ignorados. Entretanto, as várias terapêuticas propostas dão pouco resultado quando aplicadas isoladamente; a abstinência é apenas temporária na grande maioria dos casos e a reincidência ocorre como regra, mesmo nos casos internados por longos períodos em casas de saúde ou hospitais. O problema só poderá ser resolvido por uma associação de recursos médicos e medidas de caráter social que abranjam as necessidades físicas, psicológicas, familiares, sociais e espirituais dos pacientes. Daí o valor, na luta contra o alcoolismo, da cooperação de instituições especializadas cujos membros já foram vítimas do mesmo mal e que, portanto, estão capacitados para compreender as razões das reincidências, e aptos para auxiliar os alcoólatras na luta para escaparem ao vício.

Neste livro, para uso de médicos práticos, Lincoln Williams, depois de relatar como evoluíram seus próprios conceitos sõbre a etiopatogenia do alcoolismo, chama a atenção para o vulto do problema, em suas várias facetas, estudando os "aspectos clínicos e o decurso do alcoolismo, os tipos de alcoólatras, os fatôres pessoais, a hereditariedade, os efeitos físicos e mentais, os aspectos médico-legais.

Importante é - conhecidos todos êstes elementos básicos - o modo pelo qual os alcoólatras devem ser abordados pelo médico para que se submetam, voluntàriamente, ao regime de vida que lhes será imposto, imposição que será variável para cada doente de acôrdo com as suas próprias idéias e métodos de vida. Os tratamentos desintoxicantes nos casos agudos, os recursos para estabelecimento de reflexos condicionados, as medicações que provocam enojamento (apomorfina) ou temor (Antabuse), devem ser associados à psicoterapia e, especialmente, ao que se poderia chamar de psicoterapia de grupos homogêneos, na qual o papel mais ativo é desempenhado por monitores ex-alcoólatras.

Êste livro, despretensioso em sua forma e apresentação, merece ser lido, não apenas pelos médicos práticos, como recomenda seu autor, mas também por neurologistas. Seria louvável mesmo sua ampla divulgação, pois sua leitura contribuirá para eliminar o cepticismo dos médicos e a atmosfera de pessimismo que impera quanto às possibilidades de reintegração social dos alcoólatras e, conseqüentemente, para a diminuição dos prejuízos causados pelo alcoolismo.

O. Lange

PERSONALITY CHANGES FOLLOWING FRONTAL LEUCOTOMY. P. MAC DONALD TOW. Urn volume com 262 páginas, 45 tabelas e 27 figuras. Oxford University Press, Londres-Nova York-Toronto, 1955.

Apesar da leucotomia possibilitar, pela lesão circunscrita do encéfalo, o estudo experimental neurofisiológico no homem, a preocupação quase exclusiva com a finalidade terapêutica tem feita perder rico material de pesquisa. Mac Donald Tow procura estudar êste desprezado mas importante aspecto colateral da leucotomia, deixando completamente à margem o efeito terapêutico. De casos indicados para a leucotomia, êle selecionou um número reduzido de pacientes, cujas condições de integridade psíquica satisfaziam plenamente ao objetivo da pesquisa: verificação das possíveis conseqüências da lesão sôbre as funções mentais e sôbre o comportamento humano; dêste número selecionado de casos sòmente 36 puderam completar as séries finais de exames. É o resultado desta pesquisa, realizada no período de 3 anos, que o autor relata nesta bem apresentada monografia.

Muito embora não apresente qualquer contribuição original para o conhecimento das funções do lobo frontal, êste trabalho fornece dados seguros de observação cuidadosa e criteriosa quanto às conseqüências da leucotomia sôbre o psiquismo humano. A leucotomia determinou comprometimento de extenso campo psicológico, não pela perda total de qualquer função específica, mas pela redução da capacidade de muitas funções. O maior comprometimento ocorreu nas funções intelectuais altamente organizadas, tais como o pensamento abstrato e o raciocínio por analogia, na associação imaginativa e no pensamento criador, no uso de palavras e no poder de expressão clara e lógica, na habilidade para planejar espontaneamente ou iniciar uma nova ação, e na habilidade para apreciar e aproveitar da experiência em seus aspectos mais delicados, pessoais e sutis. O comportamento do indivíduo mostrou-se condicionado muito mais pelos estímulos imediatos e muito menos pela influência global do ambiente e das experiências anteriores. Assim, o lobo frontal seria parte essencial da vida envolvida na apreciação e seleção das experiências e conceitos, atuando na seleção daquelas que importam para a resolução de situações presentes ou para planejamentos de condutas futuras; poderia ser considerado como o órgão principal para a satisfatória adaptação ao ambiente.

J. Longman

EL CEREBRO INFANTIL. N. I. KRASNOGORSKY. Tradução de K. Gavrilov. Ed. Psique, Buenos Aires, 1956.

A obra de Krasnogorsky - que é o diretor da Clínica Pediátrica do Instituto Pavlov de Lenlngrado - reúne os trabalhos realizados durante cêrca de 40 anos por um estudioso que tem, dentre os seus mais importantes títulos, êste de ter sido um dos primeiros discípulos de Pavlov. Tal condição impõe uma responsabilidade bastante grande para um autor que pretende continuar a obra do mestre que, como é sabido, embora tendo morrido bastante idoso (com 87 anos) e tenha continuado estudando inclusive quando já gravemente enfermo até os últimos dias de vida, assim mesmo não teve tempo senão para iniciar o estudo das aplicações da reflexologia em Psiquiatria.

Digamos de início que um dos aspectos mais chocantes na recente e intensiva divulgação da obra de Pavlov, é o grande desnível entre a visão de precursor genial do mestre que, partindo pràticamente do nada, lançou as bases da reflexologia, e a obra de muitos de seus continuadores, que nada mais fizeram do que uma repetição monótona e muitas vêzes confusa. Não nos referimos - é claro - aos grotescos trabalhos de divulgação realizados por alguns parteiros, que descobriram recentemente no "parto sem dor" um excelente e cômodo meio de aumentar a clientela, já farta, e com boas razões, do parto com dor; nem também nos referimos a obras de divulgação, se assim podem ser chamadas, daqueles que cumprem as tarefas do momento, sejam elas no terreno da genética, da botânica ou da reflexologia. Achamos, sim, que devem ser criticadas com rigor as obras de divulgação cientifica, realizadas por cientistas de responsabilidade, e que desfiguram completamente todo um conjunto de conhecimentos que constituem a base da neuropsiqulatria com a qual trabalhamos e pesquisamos.

Talvez fôsse possível interpretar esta situação, lembrando que faltou para a obra de Pavlov aquela sedimentação que se faz necessária quando surge um pesquisador que pula as etapas comuns do progresso dos conhecimehtos e se projeta, logo de início, para o futuro. Somos forçados a fazer uma comparação com a obra de outro pesquisador não menos genial que foi H. Jackson, o qual, embora tendo pronunciado a primeira de suas fundamentais "Croonian Lectures" em 1884, sòmente vários decênios depois foi "descoberto" por outros estudiosos em variados pontos do mundo, oferecendo a sua obra, até os dias de hoje, oportunidade para a interpretação de numerosos fenômenos da fisiopatologia do sistema nervoso. É provável que o açodamento em explorar os ricos veios abertos pela reflexologia, seja a explicação para a incrível deficiência de trabalhos como o que analisamos neste momento.

Há um fato por demais estranhável, mas nem por isto menos significativo, que-explica boa parte das lacunas encontradas mais ou menos uniformemente nos múltiplos capítulos que o livro aborda: êste fato é o total desconhecimento de tudo que tem feito a Neurologia ocidental e que já é muito. A bibliografia de 120 obras que encontramos no presente volume, deixa completamente estarrecido qualquer neurologista, não sòmente porque faltam todos aquêles nomes que estamos acostumados a encontrar nos trabalhos da especialidade, como também porque os poucos nomes de autores russos aqui conhecidos, como o de Ozeretzki, que é uma autoridade mundialmente reconhecida no estudo do desenvolvimento psicomotor da criança, estão igualmente ausentes. Não podemos entender a existência de uma cortina de ferro no que diz respeito aos estudos de fisiologia do sistema nervoso infantil; não entendemos, mas ela existe, e foi altamente danosa para as pesquisas de Krasnogorsky. Sòmente um autor que desconhece a existência de Minkowski, Langworthy, Flechsig, André Thomas, Gesell, McGrae e tantos outros que têm trabalhado no mesmo terreno, poderia fazer a afirmação, aliás um tanto imodesta, de que "el éxito de nuestra investigación fué debido al hecho de que el cérebro infantil, gradas a la sencillez relativa de sus funciones (o grifo é nosso), se mostró como un objeto asequible al estudio fisiológico", e que tôdas as dificuldades encontradas por outros investigadores no estudo dos reflexos cerebrais dos adultos, foram fàcilmente superadas "por nosotros en lo referente al material infantil".

Esta grande facilidade decorre essencialmente do quase total desconhecimento da fisiologia do sistema nervoso infantil por parte do autor, cujo pulso já é seguramente tomado no primeiro capítulo, em que se encontram resumidos os conceitos fundamentais sôbre os quais se apoiam suas pesquisas. As investigações visaram aproveitar o reflexo de sucção, que é encontrado normalmente em lactentes e mesmo em fetos nos últimos meses de gestação, para estudar a reação aos estímulos exteriores em crianças normais e encefalopatas. Êste reflexo tem sido largamente estudado por vários autores, sabendo-se que êle se enquadra dentro de um conjunto de atividades reflexas e automáticas peculiares aos seis primeiros meses de vida, e que são substituídas por atividades de nível voluntário depois de superado um período de inibição fisiológica. Os trabalhos de McGraw versaram em grande parte sôbre isto, sendo a sua obra "The Neuromuscular Maturation of the Human Infant" (Columbia Univ. Press, Nova York, 1943) um marco já clássico no estudo da Neuropediatria. É espantoso que o autor tenha gasto tanto tempo provocando, inibindo e medindo um reflexo cuja evolução já é amplamente conhecida tanto no normal como no patológico, e que esta medida tenha servido de elemento de contrôle para a formação e inibição dos reflexos condicionados. Não deixa de ser ridículo um pesquisador supor que está interferindo na produção de um reflexo em crianças normais ou doentes, quando o reflexo está variando fundamentalmente em função da mielinização fisiológica do sistema nervoso ou das lesões eventualmente existentes num cérebro patológico. Não é por outra razão que o autor se surpreende com a sua "descoberta" de que em alguns encefalopatas "la extinción se realiza en forma extremamente lenta" (pág. 27). Não há neurologista que desconheça que o reflexo de sucção, em certas encefalopatias, é de tal maneira fácil de ser desencadeado, em virtude do baixo limiar, que os mais variados estímulos podem produzí-lo mesmo com o caráter persecutório.

Não é sem grande esfôrço que prosseguimos na leitura, procurando desbastar uma linguagem freqüentemente estranha, diante da qual nos sentimos muitas vêzes como verdadeiros leigos. No momento em que supomos ter apreendido o sentido de expressões como "analisadores sensitivos e sensorials", "analisadores motores", etc, encontramos a afirmação de que os transtornos das funções motoras encontradas nas crianças raquíticas são "el resultado dei transtorno de la actividad dei analisador motriz"; neste momento somos forçados a reconhecer que qualquer semelhança dêstes analisadores motores com o sistema piramidal ou extrapiramidal era fruto de nossa imaginação e do desejo de penetrar no pensamento do autor. Esta decepção se acentua quando descobrimos que não é só no raquitismo e sim também na histeria grave (sic) e na catalepsia que o analisador motor funciona deficientemente.

Iríamos muito longe analisando pormenorizadamente cada um dos capítulos da obra de Krasnogorsky, pois a mesma aborda um sem número de assuntos, que são "descobertos" pelo autor ao ritmo dos metrônomos que produzem sem cessar os mais variados reflexos; são estudados o sono, as neuroses corticais, a anorexia, a enurese e mesmo a epilepsia. Em todos os capítulos o mesmo total desconhecimento de tudo que constitui a enorme obra da Neurologia do mundo ocidental.

Poderia algum otimista admitir que êste alheiamento de nossa cultura traduzisse uma etapa superior de conhecimentos em que os nossos tivessem sido superados. Oxalá assim o fôsse, pois muito poderíamos lucrar com a leitura de obras como esta. Entretanto, a verdade é que certos conceitos expostos pelo autor estão de tal maneira ultrapassados, que só podem ser admitidos como trabalhos de valor meramente histórico. Apresentá-los como coisa recente e digna de ser repetida, não passa de um deslise de editor interessado em aproveitar a divulgação e a aceitação um tanto ingênua, por parte de um público desconhecedor da fisiologia nervosa, da obra desfigurada do grande pesquisador que foi Pavlov.

A. B. Lefèvre

Livros recebidos

Recent Advances in Neurology and Neuropsychiatry. Sir Russell Brain e E. B. Strauss. 6» edição. Um volume com 311 páginas e 46 figuras, editado por J. & A. Churchill Ltd., Londres, 1955.

Alcoholism. Lincoln Williams. Um volume com 62 páginas, editado por E. & S. Livingstone Ltd., Edinburgo e Londres, 1956.

Der Wahnkranke im Lichte alter und neuer Psychopathologie. K. Kolle. Um volume com 56 páginas, in 8c, editado por Georg Thieme Verlag, Stuttgart, 1957. Preço: DM 4.80.

Fundamentos de Diagnostico y Tratamiento en Neurocirugia. S. Obrador Alcalde. Um volume com 450 páginas e 221 figuras, 2° edição, Editorial Paz Montalvo, Madrid, 1957.

Congenital Syphilis. A follow-up study with reference to mental abnormalities. B. Hallgren e E. Hollstrom. Um volume com 81 páginas e 20 tabelas. Suplemento 93 da Acta Psychiatrica e Neurológica Scandinavica, Ejnar Munksgaard ed., Copenhague, 1954.

Aktuální Otázky V Neurologii (Questões Neurológicas de Atualidade). Coletânea de trabalhos em homenagem ao Prof. Kamil Henner. Um volume com 228 páginas, editado pela Státní Zdravotnické Nakladatelství, Praga, 1955.

Die Stoerungen der Schriftsprache (Agraphie und Alexie). A. Leischner. Um volume com 288 páginas e 47 figuras. Georg Thieme Verlag, Stuttgart, 1957. Preço: DM 30.-.

Nota da Redação - A notificação dos livros recentemente recebidos não implica em compromisso da Redação da revista quanto à publicação ulterior de uma apreciação. Todos os livros recebidos são arquivados na biblioteca do Serviço de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2014
  • Data do Fascículo
    Jun 1957
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