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V Simpósio Neuro-Radiológico Internacional

V International Symposium of Neuroradiology

CONGRESSOS MÉDICOS

V Simpósio Neuro-Radiológico Internacional

Fazendo parte do I Congresso Internacional de Ciências Neurológicas, o V Simpósio Neuro-radiológico teve lugar em Bruxelas (Bélgica) durante a última semana de julho de 1957. A organização e direção desta secção do Congresso esteve a cargo dos Profs. D. L. Mc Rae (Canadá) e F. J. Mellot (Bélgica). Dos participantes do Congresso de Ciências Neurológicas, cerca de 200 membros pertenciam à secção de Neuro-radiologia. O programa constou de 5 sessões próprias destinadas à comunicação dos 39 trabalhos inscritos no Simpósio e de duas sessões em conjunto com o I Congresso Internacional de Cirurgia Neurológica.

A primeira sessão, dedicada à encefalografia e à ventriculografia, foi presidida por B. G. Ziedses Des Plantes (Amsterdam, Holanda). Nessa sessão foram apresentados os seguintes trabalhos:

1 - O terceiro ventrículo com 12 mm ou mais de largura. A. Engeset e A. Lomum (Oslo, Noruega). Confrontando os quadros clínicos com o aumento do diâmetro transversal do terceiro ventrículo os autores chegaram à conclusão de que diâmetro transversal igual ou superior a 12 mm é patológico.

2 - Diagnóstico pneumográfico dos tumores da pineal. E. Klaus (Olo-mouc, Checoslováquia). Medindo a menor distância entre o limite posterior do terceiro ventrículo e a cisterna ambiens em radiografias de perfil, o autor chegou à conclusão que distância superior a 15 mm significa tumor da região epifisária.

3 - Achados pneumográficos em angiomas cerebrais. V. Valentino e D. L. Mc Rae (Montreal, Canadá). Revendo os pneumogramas de casos comprovados de angiomas encefálicos, os autores encontraram anormalidades que puderam ser sistematizadas ém quatro grupos: a) deslocamento ventricular para o lado da afecção em caso de lesão de tipo atrófico; b) desvio ventricular para o lado oposto quando o angioma é volumoso ou em caso de hematoma intracerebral; c) lacuna na imagem ventricular em caso de projeção intraventricular da massa angiomatosa; d) hidrocefalia de tipo obstru-tivo, quando o angioma interfere com a livre circulação do liqüido cefalor-raqueano.

4 - Entumescimentos e deslocamentos do tronco encefálico analisados por meio de cisternografia. A. Sicuro (Turim, Itália). O estudo das cisternas basais e particularmente de suas relações com a tenda do cerebelo oferece, segundo o autor, maiores possibilidades de diagnóstico do entumesci-mento ou desvio do tronco encefálico devidos a hérnias cerebrais ou cerebe-lares causadas por tumores.

5 - Encefalografia com o intensificador de imagem. O. Wiedenmann e K. H. Lenchs (Munich, Alemanha). Trata-se de filme cinematográfico de excelentes qualidades técnicas no qual o ar injetado por via lombar é visto dirigindo-se para as cavidades ventriculares ou subaracnóideas.

6 - Ventriculografia com a cabeça baixa nos tumores da fossa posterior. E. Laine, G. Riff, J. M. Delantsheer e P. Galibert (Lille, França). Através de uma cânula introduzida no corno frontal de um ventrículo lateral e cuja extremidade os autores procuram pôr em correspondência com o orifício de Monro são injetados 8-10 ml de ar, com o paciente em posição vertical e de cabeça para baixo. Dessa forma são obtidas boas imagens das cavidades medianas do sistema ventricular sem os inconvenientes da superposição da parte alta do aqueduto cerebral às sombras dos ventrículos laterais.

Na segunda sessão, presidida por E. Henrard (Bruxelas, Bélgica), os trabalhos apresentados foram os seguintes:

1 - Aspectos radiológicos dos meduloblastomas e dos astrocytomas cere-belares. D. L. Mc Rae e A. Elliott (Montreal, Canadá). São salientados os melhores resultados obtidos com a radioterapia do que com a exerese no tratamento dos meduloblastomas. Os meduloblastomas em crianças e adolescentes não dão, em geral, sinais de hipertensão enquanto que os astrocytomas sem sinais radiológicos de hipertensão intracraniana são muito raros. Segundo os autores, sinais de calcificação cerebelar nunca foram encontrados em casos de meduloblastomas.

2 - Estudo radiológico de casos de epilepsia temporal tratados por lo-bectomia. R. D. Hoare, A. M. Falconer, W. A. Kennedy e J. L. Wilson (Londres, Inglaterra). Os autores procuram sistematizar os achados radiológicos em confronto com os diferentes tipos de lesões segundo a classificação de Penfield e concluem dizendo que em certas circunstâncias a radiografia pode auxiliar na seleção dos pacientes para o tratamento cirúrgico.

3 - Resultados do exame radiológico numa série de meningeomas intracranianos. J. Wickbem e S. Stattin (Gothemburg, Suécia). Analisando uma série de 70 casos de meningeomas estudados radiològicamente, os autores verificaram que o diagnóstico exato é possível, na maioria das vezes, quando são feitas radiografias simples, angiografia e pneumografia. Alguns dos casos, entretanto, não foram diagnosticados, enquanto que outros diagnosticados como meningeomas eram, em verdade, tumores de outra natureza.

4 - Combinação da pneumencefalografia mediante pequenas quantidades de ar com mielografia do segmento cervical da coluna vertebral. K. Lewit (Praga, Checoslováquia). Manobrando a cabeça e o tronco dos pacientes, o autor faz passar ar da cavidade craniana para o espaço subaracnóideo cervical. A maior indicação de semelhante combinação, segundo Lewit, reside na possibilidade de diagnóstico diferencial entre aracnoidite intracraniana e hérnia de disco intervertebral cervical.

5 - Estudo neuro-radiológico do mongolismo. K. H. Schiffer, K. Hartung e S. Strubel (Mainz, Alemanha). Há, segundo os autores, um grupo bem definido de pacientes que apresenta hipoplasia do diencéfalo; a esta hipopla-sia circunscrita corresponde deformação do andar médio da base do crânio.

6 - Micro-radiografia do crânio. H. Fishgold, M. Juster, J. Eccoiffie e J. Metzger (Paris, França). Processo delicado e muito trabalhoso que consiste em preparar lâminas delgadíssimas de osso que, radiografadas, per- mitem o estudo de sua histologia. Da mesma forma que na histopatologia tradicional, há interesse, nesta forma de exame, no estudo da zona de transição entre a área patológica e a área vizinha normal.

A terceira sessão, presidida por J. Buli (Londres, Inglaterra), foi dedicada a trabalhos sobre angiografia cerebral.

1 - Angiografia vertebral por cateterismo retrógrado femoral. B. Non-te, G. Riff e E. Spy (Lille, França). O cateterismo de uma artéria vertebral, segundo a técnica preconizada pelos autores é, na maioria dos casos, fácil e não exige habilidade especial como ocorre no caso da punção per-cutânea. Além disso, oferece a vantagem de poder ser a cabeça do paciente movida sem correr o risco de sair o cateter do vaso. Outra vantagem do método reside na proteção das mãos do operador contra os efeitos dos raios X.

2 - Achados anátomo-patológicos em carótidas puncionadas por via per-cutânea e sua importância clínica. A. Rimpau e H. R. Seils (Hamburgo, Alemanha). Segundo os autores, as lesões que podem ter expressão clínica são devidas, em geral, a defeitos na técnica de punção que devem ser evitados.

3 - As artérias lentícülo-estriadas e seu valor diagnóstico. P. E. Andersen (Odense, Dinamarca). Dada a constância de seu trajeto, verificada em 300 angiografias, as artérias lentícülo-estriadas têm valor indiscutível no diagnóstico dos processos expansivos intracranianos.

4 - Pan-angiografia cerebral. J. Zaclis e Antonio P. de Almeida (São Paulo, Brasil). Reduzindo consideravelmente a pressão arterial sistêmica mediante hiperpressão intratorácica, os autores conseguiram a visibilização de todo o sistema vascular cerebral pelo contraste injetado em uma das carótidas.

5 - Oclusão da artéria cerebral média. A. Breit (Passau, Áustria). Ocupando-se particularmente com as oclusões dos ramos terminais da artéria cerebral média, o autor faz, em primeiro lugar, uma revisão anatômica da distribuição desse vaso. Usando projeções especiais, alguns casos de trombose distai puderam ser demonstrados em vida. Outros, entretanto, não o foram, apesar das projeções especiais e do uso da angiografia seriada.

6 - Circulação colateral nas tromboses carotídeas e das artérias cerebrais. M. Rovira, R. Jacas e A. Ley (Barcelona, Espanha). São apresentados 6 casos, dos quais merecem ser salientados dois, de oclusão da artéria cerebral média com vicariância por parte da artéria cerebral anterior e um caso de oclusão da artéria cerebral anterior e vicariância por parte de ramos da artéria cerebral média.

7 - A angiografia nos traumatismos cranianos. J. L. Leger (Montreal, Canadá). O trabalho trata particularmente dos aspectos angiográficos das diferentes variedades e das indicações da angiografia cerebral, baseado em 215 casos, dos quais em 55 havia hematomas subdurals, em 33 hematomas extradurals e em 27 hematomas intracerebrais.

8 - O sinal da opacificação venosa loco-regional precoce durante a sério-angiografia carotídea rápida. E. Woringer, J. Baumgartner e J. P. Braun (Colmar, França). Este fenômeno, obrigatório nas malformações angioma-tosas e de grande valor no diagnóstico de malignidade nos tumores encefá-licos, foi também observado pelos autores em condições patológicas outras, como traumatismos crânio-encefálicos, atrofias cerebrais, tromboses, etc, mas nunca em angiografias normais.

9 - Carótido-angiografia em 8 casos de oftalmoplegia unilateral. G. Di Chiro (Nápoles, Itália). Em 4 de seus casos, o autor encontrou imagens de aneurismas arteriais responsáveis pela oftalmoplegia, o que demonstra o valor da angiografia em caso de oftalmoplegia unilateral.

Na quarta sessão, presidida por H. Fishgold (Paris, França), foram apresentados os seguintes trabalhos:

1 - Resultados da radioterapia pós-operatória dos tumores cerebrais e condições sobre a radiossensibilidade de alguns tipos histológicos. G. van der Schueren (Louvain, Bélgica).

2 - Perfuração estereotáxica da lâmina terminal em hidrocéfalos internos. B. G. Ziedses Des Plantes e P. Crezee (Amsterdam, Holanda). Tendo como principal vantagem a prevenção da baixa acentuada da pressão intracraniana, os autores recomendam o método no tratamento da hidrocefalia interna e também como recurso paliativo antes de intervenções cirúrgicas na fossa posterior.

3 - Calcificação intracraniana após meningite tuberculosa em crianças. J. Larber (Sheffield, Inglaterra). De 122 crianças com meningite tuberculosa tratada, 64 mostraram calcificação intracraniana após período variável de 18 meses a 5 anos. A maior ou menor incidência de calcificação parece depender, segundo os autores, do tipo de tratamento.

4 - Demonstração radiológico. de atrofia localizada da medula. C. Hile-sted e H. H. Jakobsen (Copenhague, Dinamarca). Foram apresentadas as mielografias gasosas de 5 pacientes que, segundo os autores, eram portadores de atrofia localizada da medula; não houve comprovação cirúrgica ou anatômica.

5 - Epidurografia gasosa espinal. J. Kohout (Stratonice, Checoslová-quia). Descrição do método, enumeração das vantagens e demonstração da possibilidade de combinação da epidurografia com a mielografia.

6 - Novo método de investigação pneumográfica da coluna cervical. J. Jirout (Praga, Checoslováquia). São descritas diversas manobras com o paciente, a fim de mobilizar o ar contido no segmento cervical do espaço subaracnóideo.

7 - Discretas deformidades mielográficas em ciática sem protusão discai. L. Walk (Eskituna, Suécia). Revendo 131 casos de ciática sem hérnia de disco intervertebral, o autor julga ser possível o diagnóstico mielo-gráfico das diferentes afecções capazes de produzir ciática.

8 - Alargamento do canal vertebral em condições patológicas incomuns. G. Lombardi e G. Mordlo (Milão, Itália). Os autores observaram esse alargamento em ependimomas, lipomas e tumores dermóides, bem como em afecções não neoplásicas como cistos epidurals, aneurismas de vasos medulares e grandes herniações discais.

Na quinta reunião, presidida por D. L. Mc Rae (Montreal, Canadá), foram apresentados os seguintes trabalhos:

1 - As extensões intracranianas dos tumores do etmóide, da órbita e do cavo. Estudo angiográfico. G. J. Mellot, R. Potuliege, J. Brihaye e Ph. Martim (Bruxelas, Bélgica).

2 - O efeito de diferentes meios de contraste sobre a freqüência cardíaca durante a angiografia cerebral. S. E. Sjogren (Estocolmo, Suécia). Trata-se da observação dos efeitos do acetrizoato de sódio (Triurol, Leo) e do diatrizoato de sódio {Hypaque, Winthrop) sobre a freqüência cardíaca no homem. O autor observou que a bradicardia e queda da pressão arterial são mais acentuadas quando é usado o Triurol.

3 - Modificações na circulação cerebral durante carótido-angiografias. E. Kasgstrom, P. Lindgren e G. Tornell (Estocolmo, Suécia). Estudando os efeitos do Triurol e do Hypaque sobre o fluxo cerebral de gatos, os autores observaram que o primeiro determina um aumento até de 200%, ao passo que o Hypaque produz variação desprezível ou nula.

4 - Variações tensionais e da freqüência cardíaca durante carótido-an-giografia com acelrizoato de sódio. P. Lindgren e G. Tornell (Estocolmo, Suécia). Os autores observaram, na pressão arterial, uma queda de 10-40 mm Hg e uma redução de 20-40% na freqüência cardíaca, efeitos que em geral duram menos de 1 minuto. Os efeitos circulatórios mencionados são devidos à ação da substância sobre estruturas cerebrais reguladoras da vaso-motricidade e não devido a reflexo do seio carotídeo.

5 - Alterações radiológicas na sarcoidose cerebral. G. P. Zalzman (Estocolmo, Suécia). O autor estuda particularmente a evolução da sarcoidose cerebral baseado em exames sucessivos; as modificações observadas radiolò-gicamente na sarcoidose são as que se observam nas afecções expansivas intracranianas.

6 - Contribuição ao estudo radiológico das malformações do plano sagital inter-hemisférico. Thief fry, Lefebvre, Lepintre, Faure e Masselin (Paris, França). São estudados 45 casos de malformação das estruturas encefálicas medianas: 9 de agenesia do corpo caloso, 11 de cisto ou de cavidade do septo pelúcido, 13 de cisterna interventricular e 19 de ausência completa do septo pelúcido. Os autores encontraram toxoplasmose em 4 casos. Do ponto de vista da sintomatologia, essas malformações eram associadas a acentuado retardo psicomotor e convulsões ocorrendo desde o primeiro ano de vida. Quanto à evolução, grande parte das crianças morreu dentro de 1 ano a partir da ocasião em que foi feito o diagnóstico.

Das sessões conjuntas, a primeira presidida por L. Christophe (Liège, Bélgica), tinha como tema Os métodos estereotáxicos, e a segunda, presidida por H. Olivecrona (Estocolmo, Suécia), versava sobre Os angiomas supra-tentoriais. Não serão feitos aqui comentários relativos a estas duas sessões, matéria de outro relatório.

Graças à boa atuação dos Profs. Mc Rae e Mellot e ao espírito de colaboração dos participantes, todo o programa pôde ser levado a cabo dentro da mesma perfeita ordem; cada trabalho foi apresentado a seu turno dentro do tempo previamente designado. Quanto à qualidade dos trabalhos apresentados houve pequena minoria de interesse secundário; a maior parte deles era de excelente teor científico, podendo alguns deles ser considerados como contribuições de real valor para o aperfeiçoamento da Neuro-radiologia. A discussão dos temas, todavia, foi o ponto fraco do Simpósio, em virtude da escassez de comentários por parte do auditório. A falta de maior participação do auditório na discussão dos trabalhos apresentados é devida, pelo menos em boa parte, ao retraimento muito natural entre pessoas desconhecidas que nem sempre falam o mesmo idioma. Este nosso modo de pensar é apoiado pelo fato de que as raras discussões a que pudemos assistir eram mantidas, em sua generalidade, entre elementos que já se conheciam graças a congressos anteriores. Assim, pois, é fácil prever para o Simpósio Neuro-radio-lógico um futuro mais profícuo, resultante de reuniões cada vez mais proveitosas à medida que elas se forem sucedendo.

J. Zaclis* * Neuro-radiologista. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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    Neuro-radiologista. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Fev 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 1957
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