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In Memoriam

In Memoriam

A 4 de julho último, em sua cidade natal, Recife, faleceu aos 40 anos incompletos, o Prof. Jarbas Pernambucano de Melo, catedrático, há 13 anos, de Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da Universidade de Recife.

Cumpriu Jarbas Pernambucano, em tempo curto, destino privilegiado. Filho do pranteado Prof. Ulisses Pernambucano de Melo que foi o primeiro catedrático de Neurologia da mesma Faculdade, identificou-se com as diretrizes universitárias do pai, conquistando, após a morte deste e por concurso, a Cadeira da Faculdade de Medicina de Recife. O privilégio de ser filho de Ulisses Pernambucano impunha-lhe deveres pesados que ditaram seus rumos realizados sempre prontamente e em altos níveis. Aos 20 anos, diplomou-se em Medicina e desde logo procurou as obrigações da especialização, estagiando em escolas credenciadas no Rio de Janeiro (Prof. A. Austregésilo) e São Paulo (Prof. Adherbal Tolosa e Dr. Edgard Maffei). Três anos após concluir o curso médico, já conquistava a Docência-Livre de Neurologia em Recife, com excelente trabalho sôbre "Gliobastoma Multiforme", exposição e análise do material colhido no seu estágio em São Paulo e que lhe valeu positivas referências da imprensa médica brasileira e mesmo estrangeira. No ano imediato, 1941, alçou-se a assistente da Clínica Neurológica até 1943, quando ocorreu o falecimento de seu pai, detentor da Cátedra. Disputou-a Jarbas Pernambucano dois anos depois com magnífico trabalho sôbre "Atrofias cerebelares", vencendo o concurso em 1945. Realizava aí suas aspirações consagradas como dever de herdeiro de pai tão ilustre, mestre que por mais de 6 anos tivera, conscientemente, sua vida pendente do acidente cardíaco recidivante que viria vitimá-lo em 1943.

Professor de têmpera serena e trato ameníssimo, inclusive com os seus pacientes humildes, pertencia Jarbas Pernambucano todavia à flor do patriciado de sua terra. Imprimiu à sua Cadeira uma orientação voltada à investigação e pôde apresentar, mau grado a prematura morte, alguns trabalhos que lhe atestam os frutos. Só como professor, satisfeitos os compromissos universitários a que o obrigava a doença do pai, pôde Jarbas Pernambucano finalmente estagiar em centros neurológicos europeus e norte-americanos, o que fêz em 1949. Ainda em 1957 comparecia ao VI Congresso Neurológico Internacional (Bruxelas). Fiel sempre à obra paterna, participou ativamente de todos os Congressos da Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental que Ulisses Pernambucano fundára em 1938. Já preparára o trabalho para o Congresso de 1958, em Salvador, quando, em condições exatamente iguais às de seu pai, ocorreu o súbito falecimento.

Perde, assim, a Neurologia pátria um estudioso que aos 27 anos se tornara, por concurso, professor de Clínica Neurológica e que vinha desenvolvendo tal atividade universitária, lúcida e ordenada, que autorizava a esperança de vir a ombrear com os mais eméritos mestres brasileiros. Desaparecendo aos 40 anos incompletos, conseguiu Jarbas Pernambucano todavia conquistar, no cenário científico de sua pátria, o mérito predestinado ao vigor intelectual de sua linhagem.

Nelson Pires

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Dez 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1958
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