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Celso Pereira da Silva: 1908-1958

Celso Pereira da Silva: 1908-1958

A 23 de novembro de 1958, com a morte de Celso Pereira da Silva, abriu-se um claro irreparável no ambiente neuro-psiquiátrico paulista.

Conhecedor exímio da Neuro-radiologia, à qual se consagrara de maneira intensa, pesquisador infatigável e sempre alerta, contribuiu de modo decisivo, em nosso meio, para os refinamentos de técnica e as minúcias de interpretação nesse domínio da investigação clínica aplicada à Neurologia e à Psiquiatria. E, mais ainda que cientista, organizador inato, soube sempre criar em tôrno de si a atmosfera de interêsse na pesquisa e de cooperação interhumana, indispensáveis ao verdadeiro progresso da ciência. Assim foi no Hospital de Juqueri, no qual trabalhou durante 20 anos; assim foi no Serviço de Neurologia da Escola Paulista de Medicina de que participava desde 1941.

Nascido em São José do Rio Pardo (São Paulo) a 10 de setembro de 1908, e tendo concluído no Distrito Federal os estudos primário e secundário, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 1929. No 3º ano do curso médico foi contratado, como interno acadêmico, para o Hospital de Juqueri (maio de 1932). Ao lado das tarefas de rotina como estudante interno, ao qual então competia proceder aos exames somáticos e neurológicos dos pacientes e secundar a atuação do psiquiatra supervisor, empenhou-se nos trabalhos do Serviço de Radiologia. E aí pôde evidenciar prontamente a capacidade de organizador: modernizou e sistematizou o fichário dos pacientes, metodizou a rotina dos trabalhos e, principalmente, iniciou verdadeira escola para técnicos em radiologia. Neste mister foi incansável, transformando meras atendentes improvisadas em conhecedoras seguras da técnica. E o conseguiu da maneira mais completa, apesar dos empecilhos inevitáveis ante a rotina de nossos serviços públicos. Era em horas extra-expediente que instruía as auxiliares, cujo preparo tinha de começar, não raro, pela alfabetização e pelo ensino elementar. E nesse empenho, era plenamente correspondido pela dedicação e pelo entusiasmo daquelas modestas auxiliares, que aprendiam ao vivo o que é consagrar-se realmente ao serviço público. Concluído o curso médico, em 1934, continuou no Hospital, agora como médico interno residente. E embora oficialmente só dois anos depois fôsse nomeado para o Serviço de Radiologia e Fisioterapia, como médico assistente (1937), em realidade não interrompeu as atividades naquele departamento. No ano seguinte, coube a Celso Pereira da Silva chefiar a secção. Só deixou êsse pôsto - no qual serviu aos doentes, aos colegas e à ciência, de maneira inigualável - quando, em 1951, se desligou do Hospital de Juqueri.

Sob a orientação firme e entusiástica de Celso Pereira da Silva a Neuro-radiologia se transformou em fator indispensável para o diagnóstico neuropsiquiátrico e para as pesquisas científicas no Hospital de Juqueri. Juntamente com o Laboratório Clínico, a Secção de Neuro-cirurgia e a Anatomia Patológica, essa unidade granjeou para o hospital extraordinário renome na Psiquiatria nacional e em meios científicos do exterior. E não apenas com as investigações pessoais, com os trabalhos em que foi coautor. Eficiente no planejamento da rotina de trabalhos e da pesquisa, dinâmico por excelência, sabia comunicar aos demais colegas o entusiasmo contagiante que sempre resultava em verificações clínicas e muitas vêzes em novas conclusões. A colaboração que continuamente prestou aos neurocirurgiões, aos clínicos e aos psiquiatras, no Hospital de Juqueri, excedeu de muito aquilo que se pode deduzir das publicações científicas correspondentes. Como acentuou Mira y López, com sobeja justiça - ao prefaciar monografia da qual Celso Pereira da Silva foi coautor - os trabalhos dessa ordem, tradição no Hospital de Juqueri, não seriam possíveis sem o ambiente propício, técnico e científico. E foi Celso, de modo indubitável, o principal fator dêsse ambiente. Desde a formação das auxiliares, literalmente pela base, desde a valorização e o estímulo contínuo dos trabalhos por estas desenvolvidos, desde a organização do fichário técnico-científico, a instalação material e a modernização do departamento, até a discussão informal dos casos clínicos com os colegas e a investigação constante, desde a presença permanente à testa dos serviços até a colaboração direta nos trabalhos científicos, todos os gêneros de atividade atestam a incrível operosidade do biografado. Foi êle, ainda, o principal idealizador do Centro de Estudos Franco da Rocha, que se concretizou em 1943 e cuja primeira diretoria integrou. Foi eleito, em 1944, secretário do Departamento de Neuro-Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina.

Infelizmente para os internados do Hospital de Juqueri e para o renome científico dessa construção imortal de Franco da Rocha, chegou o momento em que Celso Pereira da Silva teve de abandonar o Departamento com o qual se identificara tão intimamente. É necessário dizê-lo. Não foi por fugir à luta, que a esta êle sabia enfrentar com desassombro nas mais duras circunstâncias. Mas a permanência no serviço começou, paradoxalmente, a transformar-se em prejuízo para os pacientes. E isto, sòmente isto, o decidiu a retirar-se para outros campos. Acolheu-o a Clínica Infantil do Ipiranga, e assim, desde setembro de 1951, quando deixou o Hospital de Juqueri, passou a colaborar com êste instituto modelar como médico radiologista, sob comissionamento.

A atividade de Celso Pereira da Silva se repartia então entre a Clínica Infantil do Ipiranga e a Clínica Neurológica da Escola Paulista de Medicina. Realmente, desde março de 1941, integrava êle o grupo de neurologistas da Escola Paulista, como assistente voluntário. E passou desde junho de 1952, a exercer também o cargo de neuro-radiologista do Hospital São Paulo. Graças a essa dupla providência, nem a assistência médica nem a pesquisa científica se privaram da incessante atividade e da competência técnica de Celso Pereira da Silva.

E não sòmente como técnico e como cientista serviu êle à causa do bem comum. Intensamente preocupado com a melhora do nível de vida da população, identificado com a causa da paz, empenhou-se êle com o mesmo devotamento e com a mesma capacidade de produção em tarefas concretas no campo social. Jamais, entretanto, tais preocupações lhe desviaram a atenção para com os deveres profissionais ou interferiram de qualquer modo nas funções públicas.

Pela produção científica, pelo bem que continuamente espargiu, pelos empreendimentos sociais em que decididamente se empenhou, pelo exemplo dignificante de firmeza inquebrantável nos atos e de coerência nas convicções, Celso Pereira da Silva apenas interrompeu o curso das realizações objetivas. Não desapareceu como fôrça atuante, agora subjetiva, através de quantos com êle privaram ou de qualquer modo o conheceram.

Aníbal Silveira

RELAÇÃO DOS TRABALHOS APRESENTADOS Ε PUBLICADOS POR CELSO PEREIRA DA SILVA

1. A prova da adrenalina (curva da pressão arterial) como meio de diagnóstico em Psiquiatria. Em colaboração com Edmur de Aguiar Whitaker e Mário Yahn. Rev. de Neurol, e Psiquiat. de São Paulo, 1 (outubro) 1934.

2. O sinal da hipófise (Claude, Baudoin, Porak) como meio de diagnóstico no hipertiroidismo. Em colaboração com J. Ribeiro do Valle. São Paulo Médico, 1 (novembro) 1934.

3. O valor da fórmula de Read na determinação do metabolismo basal. Em colaboração com J. Ribeiro do Valle. Rev. de Neurol, e Psiquiat. de São Paulo, 2 (abril-junho) 1935.

4. A prova diatérmica no diagnóstico das perturbações tiroidianas. Em colaboração com J. Ribeiro do Valle. Hipocratéa, 1 (julho-agôsto) 1935.

5. A entubação duodenal. Hipocratéa, 1 (maio-junho) 1935.

6. Estudos encefalográficos em esquizofrênicos. Em colaboração com Fausto Guerner, José Fajardo e Mário Yahn. Memórias do Hospital de Juqueri, vol. 11-12, 1935.

7. Síndromo parabasedowiano. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 2, 1937.

8. Tratamento da epilepsia pelas injeções intra-raquidianas de bromureto de sódio. Em colaboração com Fausto Guerner. Apresentado na Associação Paulista de Medicina, Secção de Neuropsiquiatria, em 5 de agõsto de 1935 (não publicado).

9. Estudos sôbre a ionização cálcica e iodurado e sôbre a pneumencefalografia em epilépticos. Em colaboração com Mário Yahn. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 1, 1936.

10. Modernos processos de semiologia neurocirúrgica (iodoventriculografia de Balado). Em colaboração com A. Mattos Pimenta. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 2, 1937.

11. Da sistematização de Torkildsen e Penfield e a iodoventriculografia. Em colaboração com A. Mattos Pimenta. Apresentado na Associação Paulista de Medicina, Secção de Neuropsiquiatria, em 5 de julho de 1937 (não publicado).

12. Arteriografia cerebral. Em colaboração com A. Mattos Pimenta. Apresentado na Associação Paulista de Medicina, Secção de Neuropsiquiatria, em 6 de setembro de 1937 (não publicado).

13. Ence falo grafia nos epilépticos. Em colaboração com Fausto Guerner e Mário Yahn. Arq. da Assist. Gerai a Psicopatas do Estado de São Paulo, 2, 1937.

14. A radiofotografia de Manoel de Abreu no Serviço de Assistência a Psicopatas do Estado de São Paulo. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 4 (junho) 1939.

15. Pneumencefalografia e reações liquóricas pós insuflação gasosa nos epilépticos. Em colaboração com S. Rodrigues Machado e J. Batista dos Reis. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 4 (setembro) 1939.

16. Prognóstico pneumencefalográfico da esquizofrenia. Estudo em 16 doentes tratados pelo método de Sakel. Em colaboração com Mário Yahn. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 4 (dezembro) 1939.

17. Notas sôbre o craniograma. normal na infância. Pediatria Prática (São Paulo), 11 (maio-junho) 1940.

18. Contribuição radiológica ao estudo da epilepsia. Rev. Paulista de Med., 21 (agôsto) 1942.

19. Síndromo de hiperostose frontal interna. Em colaboração com José P. G. d'Alambert. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 8 (março-junho) 1943.

20. Adenocarcinoma esquirroso da mama com metástases ósseas generalizadas. Em colaboração com José P. G. d'Alambert. Hospital (Rio de Janeiro), 25 (maio) 1944.

21. Acidentes mecânicos da convulsoterapia. Em colaboração com Paulo Ferreira de Barros. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 9 (março) 1944.

22. Contribuição ao estudo da semiologia psiquiátrica: a pneumencefalografia. Em colaboração com Aníbal Silveira e Mário Robortella. Trabalho laureado com o prêmio "A. Austregésilo", da Academia Nacional de Medicina, em 1945. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 12 (janeiro-dezembro) 1947.

23. Traumatismos crânio-encefálicos nos acidentados de guerra: considerações radiológicas. Trabalho laureado com o prêmio "General Severiano da Fonseca" da Associação Paulista de Medicina, em 1945. Imprensa Médica (Rio de Janeiro), 21 (setembro) 1945.

24. Sôbre a cisticercose encefálica: estudo clínico, anátomo-patológico, radiológico e do liqüido cefalorraquidiano. Em colaboração com Paulo Pinto Pupo, Waldemar Cardoso e J. Batista dos Reis. Trabalho laureado com o prêmio "Enjolras Vampré" da Associação Paulista de Medicina, em 1945. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 10-11 (janeiro-dezembro) 1945-1946.

25. Síndromo da fenda esfenoidal de causa traumática. Em colaboração com Tarcizo Leonce Pinheiro Cintra e J. Cândido da Silva. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 12 (janeiro-dezembro) 1947.

26. Quadro cerebelar transitório conseqüente à pneumencefalografia. Em colaboração com Mário Robortella. Arq. da Assist. Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, 12 (janeiro-dezembro) 1947.

27. Arteriografia cerebral em Neurocirurgia. Em colaboração com A. Mattos Pimenta. Apresentado na Associação Paulista de Medicina, Departamento de Neuropsiquiatria, em dezembro de 1947 (não publicado).

28. Quadro psiquiátrico de feitio particular atribuível a alterações da região parietal: estudo clínico e psicopatológico de 10 pacientes. Em colaboração com José Longman e O. L. Barros Salles. Apresentado ao V Congrseso Brasileiro de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal, em outubro de 1948 (não publicado).

29. Interpretação da imagem cortical no pneumencefalograma: contribuição para a Neurocirurgia. Em colaboração com Aníbal Silveira e Mário Robortella. Apresentado ao V Congresso Brasileiro de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal, em novembro de 1948 (não publicado).

30. Contribuição da pneumencefalografia para o diagnóstico neuropsiquiátrico. Apresentado na Associação Paulista de Medicina, Departamento de Radiologia, em 22 de novembro de 1948 (não publicado).

31. Contribuição radiológica para o estudo da hérnia do núcleo pulposo. Rev. Paulista de Med., 34 (abril) 1949.

32. Caso provável de toxoplasmose de forma cerebral. Em colaboração com A. Mattos Pimenta, S. Krinsky e W. E. Maffei. Rev. Paulista de Med., 37 (outubro) 1950.

33. Des renseignements que le psychiatre peut tirex de la pneumoencéphalographie. Em colaboração com Aníbal Silveira, Mário Robortella e Spartaco Vizzotto. Apresentado ao I Congresso Mundial de Psiquiatria (Paris), em setembro de 1950. Comptes Rendus, 3:293, 1952.

34. Localização funcional, clínica e pneumencefalográfica de distúrbios psiquiátricos: confronto em 200 casos. Em colaboração com Aníbal Silveira, Mário Robortella, Spartaco Vizzotto e Isaías Melsohn. Apresentado ao IV Congresso Sul-Americano de Neurocirurgia (Pôrto Alegre), em maio de 1951 (não publicado).

35. Contribuição da pneumencefalografia para o estudo das localizações cerebrais. Em colaboração com Aníbal Silveira e A. Mattos Pimenta. Apresentado à III Jornada Brasileira de Radiologia (Rio de Janeiro), em setembro de 1951 (não publicado).

36. A arteriografia cerebral no diagnóstico da natureza dos tumores intracranianos. Em colaboração com A. Mattos Pimenta. Apresentado à III Jornada Brasileira de Radiologia (Rio de Janeiro), em setembro de 1951 (não publicado).

37. Considerações a respeito da hiperostose frontal interna. Apresentado à IV Jornada Brasileira de Radiologia (Curitiba), em outubro de 1953 (não publicado).

38. Estudo sôbre mielografias. Em colaboração com A. Mattos Pimenta e A. Sette Jr. Apresentado ã IV Jornada Brasileira de Radiologia (Curitiba), em outubro de 1953 (não publicado).

39. Diagnóstico radiológico das malformações arteriovenosas congênitas do encéfalo. Em colaboração com A. Mattos Pimenta. Apresentado à IV Jornada Brasileira de Radiologia (Curitiba), em outubro de 1953 (não publicado).

40. Pneumencefalografia no alcoolismo crônico. Em colaboração com Orestes Barini. Apresentado à IV Jornada Brasileira de Radiologia (Curitiba), em outubro de 1953. Rev. Paulista de Med., 45 (abril) 1954.

41. Considerações sôbre a interpretação dos mielogramas com óleos iodados no diagnóstico da natureza das lesões. Rev. Paulista de Med., 45 (maio) 1954.

42. Escorbuto. Em colaboração com Stella Pacheco Oliveira. Pediatria Prática (São Paulo), 27:121-128, 1957.

43. Hemi-hipoplasia corporal esquerda. Em colaboração com Newton Alves. Pediatria Prática (São Paulo), 27:101-108, 1957.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Dez 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1959
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