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Análises de livros

Análises de livros

NEUROLOGIA. J. PEREYRA KÄFER E GUSTAVO F. POCH. Um volume (16,5x23) com 929 páginas e 363 figuras. Lopez Libreros Editores S. R. L., Junin 863 (R.20), Buenos Aires, 1961.

Êste livro vem preencher uma lacuna na literatura médica latino-americana. Os estudantes e médicos das Américas de língua castelhana e portuguêsa estavam habituados a estudar Neurologia em tratados anglo-saxões, porquanto os livros lusocastelhanos que existiam eram incompletos, obsoletos ou, pelo menos, desatualizados. O livro agora lançado pelo Prof. José Pereyra Käfer e Dr. Gustavo F. Poch contém tudo o que é necessário para o diagnóstico das afecções do sistema nervoso, com boa sistematização didática e excelente documentação; além disso, é bem apresentado e dotado de perfeito índice geral inicial, enumerando capítulos e subcapítulos e detalhado índice remissivo final que facilita sobremodo a consulta. No índice final estão assinaladas com destaque as referências de maior importância para o diagnóstico diferencial de cada caso em particular. No final de cada capítulo foram incluídas as fontes bibliográficas de maior importância em que os autores se basearam e nas quais os leitores poderão complementar seus conhecimentos; muito louvável, aqui, o cuidado que os autores tiveram em referir, sempre que possível, trabalhos latino-americanos. As numerosas ilustrações são em geral boas, especialmente as referentes à documentação anátomo e histopatológica; as figuras relativas aos documentos radiográficos são precárias, não certamente por culpa dos autores ou dos impressores, mas por defeitos e deficiências técnicas de clicheria, arte que nos países latino-americanos ainda está muito longe de atingir o grau de aperfeiçoamento que alcançou nos países anglo-saxões.

Estas características relativas à cuidadosa apresentação do material de estudo juntam-se à quantidade e à qualidade dos assuntos apresentados. Procuram os autores, em tarefa ingente e altamente meritória, reunir em um único volume de 929 páginas tudo o que o médico deve saber sobre afecções do sistema nervoso central e periférico, proporcionando dados essenciais para o diagnóstico, prognóstico e tratamento, sem se perder em minúcias de cunho científico, porém desnecessárias e cansativas. Em virtude de ser impossível classificar tôdas as afecções sob o mesmo critério, recorreram os autores ao agrupamento das entidades sob forma que melhor facilitasse sua compreensão e estudo, baseando-se alguns capítulos na etiologia, outros na sintomatologia clínica, outros ainda nas alterações anátomo-patológicas.

Na introdução são analisados os elementos fornecidos pela anamnese, pela semiologia clínico-neurológica e pelos exames complementares. Os capítulos seguintes tratam das enfermidades dos músculos (II), das afecções do sistema nervoso periférico (III), dos comprometimentos dos nervos cranianos (IV), das mielopatias (V), da neurolues (VI), das infecções do sistema nervoso e das meninges (VII), das afecções desmielinizantes (VIII), das enfermidades degenerativas (IX), das cerebelopatias (X), das afecções do sistema extrapiramidal (XI), das afasias, agnosias e apraxias (XII), das afecções cérebro-vasculares (XIII), dos tumores intracranianos (XIV), dos traumatismos crânio-encefálicos (XV), das enfermidades paroxísticas (XVI), dos comas (XVII), das malformações (XVIII). Naturalmente poder-se-á discutir o critério seguido na disposição dos capítulos e na seriação dos numerosos subcapítulos; tal divergência não diminui em nada o mérito do livro quanto ao seu conteúdo e sua grande utilidade prática. Em todos os capítulos a metodização é eficiente e a exposição cuidadosa. Particularizando, julgamos muito didático o capítulo sôbre os comas e muito bem disposto o material relativo aos acidentes cérebro-vasculares; modelar, como síntese e clareza didática, é o que versa sôbre as afasias., apraxias e agnosias.

É natural que em obras de tal vulto ocorram lapsos de menor monta. Na pág. 46, por exemplo, não está certa a referência à técnica das reações de Pandy, Nonne e Weichbrodt, pois só na de Nonne é que se usam partes iguais de reativo e líquor. Na mesma página não está certo dizer que "na maioria dos casos em que existe aumento maciço das proteínas se observa franco aumento do teor de globulinas", pois isso se dá em todos êsses casos. Na pág. 48 há um êrro que é repetido freqüentemente em livros de Neurologia: o de denominar como "sorológicas" as reações de desvio de complemento praticadas no líquor. É de nenhum valor a verificação do quociente de Ayala para o diagnóstico dos bloqueios raquidianos (pág. 288), o que, aliás, os próprios autores dizem, quando acrescentam que tal prática está em desuso; julgamos que o que está em desuso não deve ser ensinado. Lamentamos o pouco valor que os autores deram, em geral, à punção suboccipital, indicando-a apenas em casos especiais (pág. 49). A posição (decúbito ventral) recomendada na pág. 23 para a pesquisa do reflexo de Moro (movimento de abraçamento), não é a ideal, pois impede a plena execução da resposta motora. À pág. 12, a conceituação de diplegia ou diparesia como sendo a denominação para as "paralisias ou paresias dos membros superiores" nos parece despropositada; a expressão diplegia se ajusta melhor às manifestações bilaterais e simétricas produzidas por lesões bilaterais e simétricas. Na pág. 107 a astereognosia, função cortical por excelência, é considerada como sintoma de radiculopatias, sendo, entretanto, evidente que isso ocorre por falta de passagem das informações sensitivas primárias indispensáveis para a função integrativa final; aliás os próprios autores o dizem quando, à pág. 671, adotam o conceito de Nielsen para definir a astereognosia. Deve haver um êrro que escapou à revisão na legenda da figura 280 (pág. 633), onde é dito, a propósito de biopsia hepática, que há vacuolização intramuscular. A expressão "hipodiadococinesia", empregada na pág. 485, deveria ser, a nosso ver, substituída por "disdiadococinesia".

Êstes pequenos senões, apontados apenas para salientar o interêsse que êsse livro nos despertou, não alteram em nada a apreciação muito favorável que fazemos do trabalho do Prof. José Pereyra Käfer e do Dr. Gustavo F. Poch. Recomendamo-lo com entusiasmo aos estudantes e médicos e felicitamos os autores por terem publicado um livro que, sem favor algum, pode figurar ao lado dos bons compêndios didáticos de Neurologia, honrando a literatura médica latino-americana. Dando realce à semiologia clínica, o livro é extremamente útil neste momento em que em muitos centros de estudo e trabalho, o exame clínico-neurológico é relegado para segundo plano, sobrepujado pelo emprêgo, às vêzes abusivo, de exames complementares.

O. LANGE

NEURANATOMIA. EROS ABRANTES ERHART. Um volume (16,5X23,5) com 344 páginas e 138 figuras. Segunda edição revista e melhorada. Livraria Atheneu Editôra São Paulo S.A., São Paulo, 1962.

Tínhamos razão quando, ao apreciar a "Neuranatomia" do Dr. Eros Abrantes Erhart, em 1960, dissemos que o livro certamente teria grande aceitação no meio médico brasileiro e latino-americano. Em pouco mais de um ano a primeira edição esgotou-se, obrigando o autor a providenciar a reimpressão. Cuidadoso como é, o Dr. Eros Abrantes Erhart não se limitou à reimpressão pura e simples, mas melhorou a redação de alguns capítulos e, atendendo a sugestões de colegas e especialistas, procurou sanar pequenos senões, melhorando ainda mais a correlação entre os elementos morfológicos e a fisiopatologia. Além disso atualizou alguns capítulos, acrescentando dados recentes colhidos na literatura e ilustrou o estudo do telencéfalo com vultosa série de cortes frontais e sagitais, que permitem a apreciação topográfica pluridimensional de várias formações do sistema nervoso central. A apresentação do livro, a impressão e a clicheria são primorosas.

Assim, esta segunda edição tem novos méritos. Além de ser útil porque ensina com segurança o essencial sem detalhes eruditos mas desnecessários, de fácil manuseio pela disposição dos assuntos e pelo excelente índice final, de leitura agradável porque ao mesmo tempo que ensina a morfologia refere as ilações fisiológicas e aponta correlações anátomo-clínicas, o livro do Dr. Eros Abrantes Erhart, tendo passado brilhantemente pela prova da aceitação, constitui, agora, manual de grande valor no ensino da neuranatomia, dispensando os estudantes e médicos não especializados da consulta a compêndios e tratados estrangeiros, que poderão ser mais extensos e complexos, mas que, seguramente, não serão melhores no sentido de proporcionar as bases necessárias para o diagnóstico topográfico das afecções do sistema nervoso.

O. LANGE

MANUEL DE PSYCHIATRIE. HENRI EY, P. BERNARD E C. BRISSET. Um volume com 1013 páginas. Masson & Cie. Ed., Paris, 1960.

O livro de Ey e colaboradores é, a nosso ver, uma das exposições mais completas e equilibradas da patologia mental. O mestre de Bonneval, com o fito de evitar uma "impregnação do texto pelo organodinamismo que é sua concepção pessoal", associou-se com P. Bernard, psiquiatra clínico, e com C. Brisset, psicanalista. O manual é dividido em oito partes. Na primeira, à guisa de introdução, é feita uma súmula dos elementos de psicologia médica, assim como um apanhado da história da Psiquiatria e de suas tendências doutrinárias. A segunda parte trata da semiologia e dos métodos de investigação: a abordagem da semiologia pode dar margem a críticas, por parte dos que não estejam familiarizados com a metodologia de Ey, que substitui a semiologia analítica tradicional por uma fenomenologia estrutural; o exame comporta a semiologia do comportamento e da conduta social, a semiologia da atividade psíquica basal atual e a semiologia do sistema permanente da personalidade. Na terceira parte é descrito o quadro clínico das doenças mentais, sendo abordados problemas psicopatológicos. A quarta parte versa sôbre os processos orgânicos geradores de distúrbios mentais: em seus 11 capítulos são analisados os numerosos fatores que poderiam ter influência patogênica (hereditariedade, endocrinopatias, infecções, traumatismos cranianos, tumores e senilidade). Na quinta parte - a ação patogênica do meio - apesar de serem abordados os temas fundamentais (meio e estrutura psíquica, situações patogênicas, noção de distúrbio reativo), julgamos qu"e deveriam os autores dar maior extensão e profundidade à análise da ação patogênica do meio que constitui um dos problemas principais da Psiquiatria. Na sexta parte são analisados aspectos da Medicina Psicossomática. A sétima parte é dedicada à terapêutica, sendo dada uma visão panorâmica das técnicas psicoterápicas e dos tratamentos biológicos. A oitava parte - problemas jurídicos e administrativos - apesar de referir-se a situações e leis francesas, é útil em tôdas as latitudes, mormente nesta época em que a assistência aos doentes mentais se transforma profundamente.

Trata-se de livro recomendável pela excelente apresentação, pelo conteúdo, pela divisão dos assuntos com numerosos subtítulos facilitando a leitura e o estudo. Anotações em itálico nas margens permitem consulta rápida. O manual é de grande utilidade para estudantes, clínicos e mesmo especialistas que nela terão uma visão geral e acessível da Psiquiatria.

JAYME GONÇALVES

CLINICAL RESEARCH DESIGN AND ANALYSIS IN THE BEHAVIORAL SCIENCES. EUGENE E. LEVITT. Um volume com 199 páginas. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois), 1961.

Estamos diante de preciosíssimo livro, extremamente oportuno em face da multiplicação cada vez maior dos "cientistas de primeiro andar", notadamente no campo das ciências biológicas. A falta de meios penetrantes, de real valor científico, na investigação do comportamento normal ou patológico, confina o psiquiatra nos limites da observação clinica, obrigando-o, quase sempre, ao passivo inventário de fenômenos cuja natureza íntima lhe escapa. De quinze anos para cá, foi êle virtualmente arrastado ao campo da experimentação, pelo impulso que sofreu a quimioterapia psiquiátrica e, através desta, a psicofarmacologia, a psicoquímica e a psicofisiologia, impondo-se, destarte, a aferição de seus conhecimentos de base puramente especulativa, pelos meios mais válidos, introduzidos pelo laboratório. No passado, se muitas vêzes a intuição genial de alguns ou mesmo a sutil perspicácia de uns poucos, lhes permitia visão muito lúcida de certos fenômenos da intimidade anímica, uma incoercível tendência ao vôo sôlto, levava-os, quase sempre, a erguer brilhantes e magnificas concepções habilmente estruturadas muito mais com a argamassa da imaginação do que com a prudente objetividade da observação ou da experiência. Desta forma, os limites muito imprecisos que separam ainda hoje a Psiquiatria da literatura de ficção eram freqüentemente ultrapassados; imaginosos e bem acabados sistemas doutrinários tiveram e têm curso livre, com fôro de cidadania científica, servindo de sustentação a escolas cujo sucesso depende muito da carência de recursos críticos eficientes dos que, percebendo-lhes a fragilidade, não dispõem de outros para lhes contrapor.

Desde o capitulo I, onde o autor começa conceituando o verbete "ciência" e relatando as experiências do pesquisador "Jones", empenhado em demonstrar que todo fósforo, devidamente atritado sôbre superfície apropriada, se inflama, vai o leitor sendo habilmente conduzido para o intrincado ainda que metódico raciocínio que deve reger tôda a investigação científica digna dêsse nome. Para aquêles não familiarizados, as noções elementares de "êrro", "êrro especifico", "condições de experiência", "amostra", "população", "consistência", "pesquisa de campo", "coeficiente de validade" e muitas outras, vão sendo progressivamente expostas em linguagem simples, com explicações sempre claras e acessíveis. O autor jamais perde de vista a aplicabilidade dêsses conceitos às ciências do comportamento, passando com rara habilidade das pitorescas análises do cientista "Jones" aos exemplos fornecidos pela problemática do comportamento humano. Nos capítulos seguintes as coisas vão se complicando, ao surgirem as noções de "teste-reteste", os cálculos matemáticos para a avaliação estatística da validade, da variação, do x2, das fórmulas de Spearman-Brown, do cálculo do coeficiente de correlação de Sperman (cálculo de ρ), etc; sem embargo, êsse desenvolvimento é gradual, progressivo, mostrando-se o autor sumamente hábil na clareza de sua exposição.

O capítulo IX é dedicado à análise estatística e nêle são indicados os três erros fundamentais cometidos freqüentemente nas pesquisas clínicas: o primeiro consistiria no desprezo pelo tratamento estatístico dos resultados; o segundo consistiria na aplicação de uma análise estatística imprópria à natureza dos dados obtidos ou, escolhida a análise apropriada, em aplicá-la de forma inadequada; o terceiro seria o de considerar a análise estatística como capaz de substituir o raciocínio lógico, de corrigir falhas na experiência mal conduzida, ou de eludir a pobreza dos dados colhidos. Em apêndice, além de pequena bibliografia, vêm algumas tábuas para avaliação do x2, do "Kank-order" coefficient (ρ)" e outras, e um "nut-shell refreshment" em álgebra, que bem documenta o espírito com que foi realizado todo o livro, pois traz noções de álgebra elementar para uso daqueles que, já assustados com as asperezas da estatística, ainda são obrigados a lidar com complicadas fórmulas matemáticas, das quais, provàvelmente, estariam afastados há muito tempo.

CLOVIS MARTINS

A PHARMACOLOGIC APPROACH TO THE STUDY OF THE MIND. R. M. FEATHERSTONE E A. SIMON. Um volume com 399 páginas. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois), U.S.A., 1961.

Um livro sôbre Psicofarmacologia ainda está para ser escrito; o que se lê é, geralmente, a reunião de trabalhos, nem sempre inéditos, de autores diversos, agrupados, a um pretexto qualquer, sob a mesma capa. Êste que temos na mão apresenta, em quatro séries de capítulos, os resultados de um simpósio havido na Universidade da Califórnia, em janeiro de 1959. A apresentação dos trabalhos tem aquela característica pitoresca, muito do gôsto do moderno cientista americano, "doublé" de homem de laboratório e do "good humored, clean and well adapted, ordinary American man" sorridente, tal como mostram, aliás, as fotografias que ilustram as primeiras páginas do livro. A variedade e importância dos temas, a heterogeneidade do grupo que os estudou e desenvolveu no transcorrer do certame, impedem uma visão sincrética da obra; ao lado de trabalhos técnicos de aprofundamento farmacológico, a propósito dos "psychoenergizers" ou de alucinógenos, há, por exemplo, ensaios de gabarito filosófico, sôbre problemas de pesquisa que desafiam a leitura apressada e põem à prova o fôlego do leitor.

Depois de palavras simples de apresentação, em que se assinalam as dificuldades do tema, seguem-se artigos entregues à responsabilidade dos diversos participantes do simpósio, repartidos em grupos constituídos de farmacologistas, psiquiatras clínicos (atuando como terapeutas), de psicólogos, de bioquímicos (ali chamados de psicoquímicos); dessa maneira um problema (ou "panei") proposto foi visto e apresentado através da perspectiva de cada um dos especialistas que formavam o grupo de discussão. Os trabalhos são sempre curtos, claros, concisos.

No primeiro dos três dias em que se desenvolveu o conclave, cuidaram-se dos temas introdutórios, das idéias gerais: Brodie, Featherstone e Udenfriend destacam-se dentre os participantes desta primeira jornada. A êles segue-se a discussão dos problemas relacionados aos planos de pesquisas e da avaliação clínica no emprêgo de psicotrópicos; neste grupo há trabalhos que recomendamos vivamente à leitura dos que se dedicam ao estudo do valor terapêutico de drogas novas. Os de Jonathan Cole, Epstein, L. J. Meduna, colocados na angulação psiquiátrica para apreciação do problema, destacam-se como de leitura obrigatória.

No último dia estudaram-se as substâncias alucinógenas, capitulo apaixonante da Psiquiatria moderna; o moderador do "panei", J. M. Dille, discorre sem grandes novidades sôbre os pontos gerais da questão, repetindo conceitos conhecidos. Insiste na importância maior dos efeitos não alucinógenos do ácido lisérgico, citando dentre eles a ação chamada "psiquedélica" (palavra cunhada por Osmond para significar o poder de determinadas substâncias na dissolução de barreiras de defesa psíquica erguidas na luta pela sobrevivência). O uso do LSD-25 na psicoterapia é comentado por êle. Dois capítulos são dedicados ao estudo farmacológico das relações entre a estrutura molecular de alguns alucinógenos, e seus efeitos farmacodinâmicos: L. G. Abood estuda uma substância antidepressiva, ou "Ditran", pelos seus efeitos psicotomiméticos. Alles, depois, trata de dois derivados da etilfenilamina (o MDA e TMA), comparando-os (sempre pelos seus efeitos alucinógenos) ao LSD-25, no plano da estrutura molecular dessas substâncias. Finalmente, no que concerne ao aproveitamento terapêutico do LSD-25, o psiquiatra Sidney Cohen formula as exigências mínimas de um psicoterapeuta às qualidades que devem apresentar uma substância proposta para facilitar-lhe a tarefa e conclui que o ácido lisérgico reúne quatro das seis que supõe essenciais: sensato, adverte, depois, contra certos perigos na utilização da droga, à qual, sem embargo, atribui propriedades excepcionais para o estudo armado dos problemas de patologia mental; nisto acompanha a maioria. Num artigo objetivo ("The hallucinogens: A consideration of semantics and methodology with particular reference to psychological studies"), A. R. Holliday analisa impiedosamente as falhas que acompanham as pesquisas no campo da psicofarmacologia; não hesita em apontar erros nas conclusões de um DeShon, de um Jarvik, de um Abramson, decorrentes de generalizações apressadas, de métodos inadequados; apela para o agnosticismo que deve acompanhar todo dentista, repudiando a insegurança e a ansiedade que nos fazem aceitar os "Diktat" da autoridade científica ou "take things on faith", sem espírito crítico ou analítico; trabalho franco e severo, para ser lido e meditado.

Assinale-se também o excelente capitulo que, na qualidade de "Dinner speaker", escreveu Aldous Huxley, sob o título "The final Revolution" e no qual analisa, com sua dupla autoridade de escritor dos mais lidos no mundo e de quem voluntariamente se submeteu à experiência messalínica, o problema dos conteúdos anímicos e suas origens, numa penetração autoscópica das mais lúcidas e profícuas, fornecendo subsídio valioso aos cientistas que o rodeavam, com êles discutindo em plano de igualdade.

Todo o livro reúne material valioso e deve, pois, ser lido com cuidado. Se, por vêzes, parece-nos superficial, não deixa, porém, de assinalar os problemas maiores, sempre alerta para sua existência; outras leituras lá mesmo indicadas, através de referências bibliográficas, corretamente apresentadas, reúnem o melhor sôbre cada tema e apontam o complemento a ser ampliado. E lido, consolida-se no espírito de quem estuda a consciência dos imensos obstáculos que envolvem a pesquisa do comportamento humano e da difícil redutibilidade fenomenológica da função psíquica a seus elementos de essência. Êsse já nos parece mérito bastante para justificar seu manuseio; e se êle também não chega ainda a ser uma monografia, é, porém, mais que um simples ajuntamento de artigos de revistas sob a forma de livro.

CLOVIS MARTINS

MÈTHODES CHIMIOTHÉRAPIQUES EN PSYCHIATRIE. JEAN DELAY E PIERRE DENIKER. Um volume com 496 páginas. Masson et Cie., Paris, 1961.

Delay e Deniker são pioneiros na pesquisa clínica e terapêutica, tendo seus nomes ligados a tôdas as drogas de que dispõe o arsenal psicoquímico; Delay já tem mesmo um outro compêndio de terapêutica, publicado em 1950 (Les Méthodes Biologiques en Psychiatrie, Masson et Cie., Paris, 1950), cuja leitura dá nítida medida do vertiginoso progresso da psicofarmacologia nos doze anos.que se lhe seguiram. O livro agora publicado segue a boa tradição cultural francesa, com algumas pitadas da má; bela apresentação gráfica; inspirada sistematização didática da matéria; estilo fluido e elegante; linguagem clara, de leitura fácil. De ruim tem a excessiva e dogmática segurança onde, sabemos, falha-nos o raciocínio científico; o enciclopedismo; a escotomização de certos problemas abertos, nos saltos para conclusões que nos parecem apressadas e excessivamente tranqüilas, o gôsto pelos neologismos fundidos no grego, na tentativa de tornar difusos os limites da nossa pobre ignorância.

É dividido em 10 capítulos que deixam entrever três angulações diferentes no tratamento geral do assunto: nos dois primeiros, assumindo uma atitude histórieotaxonômica, os autores estudam, dividindo-o em cinco etapas, o desenvolvimento da quimioterapia psiquiátrica moderna, a partir do aparecimento da clorpromazina. Os autores desenvolvem o tema com grande "aisance", uma vez que é a êles que deve a psicofarmacologia grande parte de sua sistematização atual; destacam os grupos, distinguindo os neurolépticos dos hipnóticos e dos tranqüilizantes, estudando os critérios de que se valeram, à medida que vão relatando o caminho percorrido até a quinta etapa, marcada pelo aparecimento dos antidepressivos. Reproduzem a já conhecida classificação das drogas psicotrópicas proposta por Delay. Nesse mister os franceses se mostram insuperáveis. Ordenam com suma clareza, oferecendo esquemas verdadeiramente magistrais para confinar o objeto e agrupar a matéria, aplicando-lhes nomenclatura adequada. Depois dêste ensaio taxonômico, os autores, assumindo atitude mais pròpriamente farmacológica, passam ao estudo individual dos medicamentos atualmente usados, iniciando-o com a clorpromazina, que consideram o medicamento-base em Psiquiatria; no desejo de condensar, abarcando tudo o que se escreveu sobre esta substância, entram no estudo eletrencefalográfico e bioquímico das alterações por ela provocadas no ser vivo, apresentando dados de psicofarmacologia experimental. Prosseguem com o estudo da reserpina, alcalóide que, a nosso ver, ao menos do ponto de vista experimental, é mais importante para a psicofarmacologia que a própria clorpromazina, dado que seus efeitos neurotrópicos, com doses mínimas, são de fato notáveis. O estudo dos derivados da feno-tiazina ocupa o capitulo V. Os tranqüilizantes e os antidepressivos são estudados, respectivamente, nos capítulos VII e VIII. Neste aspecto o livro faz o inventário completo de todos os medicamentos conhecidos até agora, alguns dos quais recém-liberados pelas nossas autoridades sanitárias, como é o caso de, pelo menos, dois dos derivados piperazinados da fenotiazina; no estudo de quase todos, os autores apresentam casuística própria, apesar de também se valerem de extensa bibliografia tentando cobrir todos os aspectos que o estudo terapêutico, farmacológico e experimental comporta. É esta atitude ambiciosa que nos parece falha. Não há clima, nos dias que correm, para êsse tipo de enciclopedismo, impraticável ao esfôrço individual. Campos tão vastos e tão diversificados fogem ao domínio de um ou dois cientistas, por maior envergadura que possuam. E não se diga que estamos diante de um compêndio para consulta rápida, que pode valer-se da compilação para informar ao leitor: para o terapeuta prático há dados excessivos; para o pesquisador, mostra-se insuficiente e incompleto.

Os dois últimos capítulos são dedicados aos tratamentos combinados e à influência da quimioterapia sôbre a assistência psiquiátrica hospitalar, levantando-se, também aí, um problema interessante que é o da transformação operada na fisionomia dos quadros mórbidos psíquicos depois do advento das novas drogas. O capítulo VI, dedicado ao estudo da ação psicofisiológica dos neurolépticos, é o mais ambicioso da obra, talvez mesmo o mais original; entretanto, apesar da boa documentação apresentada, o fôlego dos autores, nêle, mostra-se mais curto. Contudo, esboça um caminho nvo no campo da investigação da neuro e da psicofisiologia ao tentar interpretar, do ponto de vista clínico, os prováveis mecanismos de ação dos neurolépticos através das manifestações neurológicas que determinam.

Falha lamentável, mal explicada pelos autores no comêço da obra, é a omissão completa de um estudo sôbre os psicodislépticos (na classificação do próprio Delay), hoje largamente utilizados no tratamento das psicoses crônicas ou como auxiliares na psicoterapia.

CLOVIS MARTINS

THE NATURE OF SLEEP. A Ciba Foundation Symposium. Um volume com 400 páginas. J. & A. Churchill Ltd., Londres, 1961.

Neste simpósio foram apresentados 20 trabalhos; entre os 33 participantes, destacam-se alguns líderes no campo da fisiologia nervosa, como Adrian, Bremer, Eccles, Moruzzi e Gastaut. Os trabalhos se dividem em dois grupos: 1) os feitos em animais, em sono espontâneo ou sob ação de anestésicos; 2) observações em seres humanos, em sono espontâneo ou provocado por estímulos rítmicos (Gastaut). Nos do primeiro grupo predominam as técnicas utilizando microeletrodos, com amplificadores transistorizados, registro múltiplo em fitas magnéticas, oscilógrafos de múltiplos canais, bem como disposição tridimensional dos microeletrodos. Muito original o trabalho de Caspers, feito em ratos, com eletrodos implantados, estando os animais com os movimentos livres e em seu ciclo natural de vigília e sono. Em sêres humanos foram usadas técnicas quantitativas com o integrador de Drohocki e eletrocronogramas, o autocorrelacionador de Rosenblith e Brazier, o analisador de freqüência com a técnica da integração óptica de Fischgold e a máquina de calcular Tx-O que exprime em uma curva a percentagem de atividade α.

Eis algumas conclusões gerais: 1) a atividade global do cérebro não diminui durante o sono; o que há é excitação de diferentes rêdes de neurônios e intermitência mais prolongada em seu ritmo (Verzeano); 2) o sono fisiológico no homem se acompanha de ligeiro aumento de fluxo sangüíneo cerebral, não havendo diminuição do consumo de oxigênio pelo cérebro (Kety); 3) no gato o sono tem duas fases, uma com ondas lentas e fusos é a fase cortical, outra é a fase rombenee-fálica com ondas elétricas rápidas, também presentes na formação reticular e atividade elétrica miográfica nula nos músculos do pescoço; 4) o sonho aparece na fase leve do sono e se acompanha de movimentos oculares rápidos que testemunham sua presença; sempre há sonho, mesmo que a pessoa dêles não se recorde ao despertar (Kleitman); 5) nada se conhece ainda sobre aspectos bioquímicos que expliquem o sono; 6) da existência de um centro do sono (Hess) ou o sono como inibição cortical generalizada (Pavlov, Bremer) ainda não se pode decidir; 7) as conclusões resultantes dos trabalhos experimentais feitos em mamíferos inferiores não são necessariamente válidas para o homem (Eccles).

Êste simpósio representa, de modo geral, a tendência para a aplicação, ao problema do sono, dos métodos da neurofisiologia analítica que estuda a atividade do neurônio e não a atividade global do encéfalo. Embora seja grande a quantidade de informações fragmentárias apresentadas, ainda estamos longe do conhecimento do mecanismo neurofisiológico do sono, principalmente no que se refere aos seus aspectos bioquímicos.

PÚBLIO SALLES SILVA

PSYCHIATRY - BTOLOGICAL AND SOCIAL. IAN GREGORY. Um volume com 577 páginas, 11 figuras e 56 tabelas. W. B. Saunders Co., Philadelphia e Londres, 1961.

Êste manual orienta-se pelos postulados e princípios psicodinâmicos, presentes em todos os capítulos. Com efeito, a despeito da advertência do autor de que êste livro segue uma orientação eclética e holística, sente-se o impulso psicanalítico na valorização atribuída a cada um dos aspectos da moderna Psiquiatria e na ênfase com que são tratados os aspectos psicodinâmicos. Como tratado de Psiquiatria Clínica, em comparação com outros manuais de procedência americana, tais como o livro de Noyes e o American Hand-Book of Psychiatry, de Silvano Arieti, êste livro revela-se muito sintético, resumido e insuficiente em vários capítulos.

O autor introduziu alguns capítulos que nos pareceram interessantes: epidemiologia das doenças mentais, agressões sexuais, problemas conjugais, pesquisas em Psiquiatria, óbito. No capítulo que versa sôbre problemas conjugais, estuda as motivações psicológicas dos casamentos, a repercussão da doença mental dos cônjuges no lar, os desquites e a loucura a dois. No capítulo dedicado ao óbito, analisa as causas de morte entre os doentes mentais, e, mais demoradamente, o problema do suicídio. No que se refere à pesquisa, fornece algumas noções de estatística aplicada à Psiquiatria e aprecia as normas para avaliação dos resultados terapêuticos e das causas das doenças mentais.

O livro é dividido em duas partes: princípios gerais (parte geral) e síndromes específicas (parte especial). Em ambos, em vista da extensão da matéria que procurou abarcar, o autor foi obrigado a manter-se em plano muito superficial em numerosos capítulos: alcoolismo e toxicomanias, Psiquiatria infantil, psicoses endógenas, terapêutica, exame do doente mental, exame psicológico e outros. Existem omissões em alguns dêles e, em outros, as descrições das formas clínicas foram excessivamente reduzidas. Contribuiu também para tornar incompleta a parte informativa e descritiva dêste livro, a preocupação de desenvolver as bases psicogenéticas, o perfil psicológico e os aspectos sociais e culturais, o que foi feito à custa de excessiva compressão e esquematização. Dois capítulos, por exemplo, poderiam ser eliminados, em lugar de serem apresentados tão incompletos e mutilados: a Psiquiatria infantil e os exames psicológicos (testes de personalidade). Teria sido preferível aumentar o texto, desenvolvendo mais os capítulos, de forma a apresentar um tratado mais minucioso, com visão mais penetrante da Psiquiatria norte-americana, tão interessante sob certos aspectos.

A despeito dos senões assinalados, trata-se de livro moderno, bem sistematizado, de utilidade para consulta, mormente no que se refere aos aspectos sociais e cuturais do doente mental, que são discutidos inclusive no capítulo relativo à etiologia, de forma bastante interessante.

ROBERTO FORTES

TENDANCES ACTUELLES DE LA DÉLINQUANCE JUVÉNILE. T. C. N. GIBBENS. Monografia com 58 páginas, editada pela Organização Mundial de Saúde (Cahiers de Santé Publique, m 5), 1961.

A Organização Mundial de Saúde está interessada no problema da delinqüência juvenil. Em 1949, a pedido da Organização das Nações Unidas e visando a prevenção do crime e o tratamento de delinqüentes, foi promovido um estudo sôbre os aspectos psiquiátricos da origem, da prevenção e do tratamento da delinqüência juvenil. Depois da publicação deste estudo (Bovet, L. - Les aspects psychiatriques de la délinquance juvénile, Genève. Organisation Mondiale de la Santé: Série de Monographies, nº 1, 1951), representantes da OMS tomaram parte em várias conferências e assistiram às reuniões de peritos da ONU dedicadas à prevenção do crime e ao tratamento dos delinqüentes. Além disso a OMS organizou, em Copenhague, um seminário sôbre o tratamento psiquiátrico dos delinqüentes. Ainda a pedido da ONU, um psiquiatra, o Dr. T. C. N. Gibbens, foi encarregado de completar o trabalho do Dr. Bovet com um estudo das tendências atuais da delinqüência juvenil, baseado em sua experiência clínica, na literatura recente e nos dados colhidos no decurso de visitas a vários países (Áustria, Dinamarca, Israel, Líbano, Polônia, República Federal Alemã, Suécia e Iugoslávia).

O relatório de Gibbens, que foi comunicado ao II Congresso das Nações Unidas para a prevenção do crime e o tratamento dos delinqüentes, acaba de ser publicado com pequenas alterações de detalhe. As formas e as novas manifestações da delinqüência juvenil atualmente discutidas nos diferentes países compreendem, de um lado, atos delituosos que resultam de novas possibilidades oferecidas ao crime e, de outro, delitos que parecem revelar uma mudança mais fundamental do comportamento ou a participação de grupos sociais que até agora se mantiveram afastados do crime. É destas formas novas que o autor se ocupa em sua exposição referente à evolução da vida social e familiar e da personalidade do delinqüente (atentados à propriedade, delitos sexuais, violências, alcoolismo e toxicomania, comportamentos agrupados sob o nome de hooliganismo). Examinando as tendências atuais de prevenção, o autor dá particular importância ao desenvolvimento de estudos previsionais visando identificar os jovens que correm o perigo de se tornarem delinqüentes. Êle nota que há uma orientação geral para programas de prevenção concebidos de tal sorte que seus resultados possam ser objeto de análise científica. Um capítulo consagrado aos métodos de tratamento passa em revista os problemas de diagnóstico, de reeducação em meio aberto e de reeducação em instituições.

O. LANGE

CLINICAL ELECTRO-ENCEPHALOGRAPHY. ROBERT R. HUGHES. Um volume com 118 páginas. John Wright & Sons Ltd., Bristol, 1961.

Trata-se de compêndio de iniciação eletrencefalográfica acompanhado de alguns dados clínicos e de ordem eletrofisiológica. Neste aspecto o manual se parece com os demais já existentes, embora não seja tão completo quanto os mesmos: excluindo as figuras, restam cêrca de 60 páginas de texto, e seria pedir muito, que nestas poucas fôlhas existissem todos os dados de interêsse como constam nos compêndios de Gray Walter-Dennis Hill, Schwab, Strauss, Gibbs, Kiloh-Osselton, entre outros. Dos sete capítulos - Equipamentos, EEG manual, Métodos de ativação, EEG nas epilepsias, EEG nas lesões cerebrais, EEG em Psiquiatria e EEG nos distúrbios endócrinos - unicamente merece especial atenção o referente às lesões cerebrais por distúrbios vasculares, uma vez que são referidos recentes trabalhos de pesquisa e principalmente os resultados das investigações de Gastaut. Os demais capítulos são incompletos e nem de longe de igualam mesmo aos mais elementares manuais preexistentes. A bibliografia é mínima, para não dizer inexistente e não acompanha os métodos modernos de citação.

Trata-se, pois, de mais um livro de iniciação eletrencefalográfica que não introduz nada de novo, incompleto e inferior aos demais já editados e que não fará falta em qualquer biblioteca especializada.

PAULO VAZ ARRUDA

ELECTROENCEPHALOGRAPHY AND CEREBRAL TUMOURS. O. MAGNUS, W. STORM VAN LEEUWEN E W. A. COBB (editores). Um volume (19,5X26,5) com 248 páginas, 106 figuras e 67 tabelas. Elsevier Publishing Co., Amsterdam, 1961.

Êste livro resultou da necessidade de divulgar contribuições apresentadas a um simpósio de eletrencefalografistas, realizado em Wassenaar (Holanda), em 1959, com o fim de confrontar e discutir técnicas usadas e resultados obtidos em casos de tumores intracranianos. Embora concordantes em seus aspectos gerais, as contribuições publicadas nestes últimos anos sobre a utilização da eletrencefalografia no diagnóstico e localização dos tumores intracranianos mostram divergências no tocante a detalhes técnicos e à interpretação dos traçados, levando os clínicos e neurocirurgiões, às vêzes, a duvidar da utilidade do estudo da atividade elétrica cerebral em tais casos. Na realidade, a eletrencefalografia, recurso diagnóstico de valor primacial nas epilepsias, não pode ser empregada, isoladamente, no diagnóstico das afecções expansivas intracranianas; seus resultados devem ser balanceados com os dados neurológicos e os elementos fornecidos por outros exames subsidiários. Eletrencefalografistas, neurologistas e neurocirurgiões devem compreender os processos eletrofisiológicos que se desenvolvem no cérebro antes de tentar interpretar os resultados de um exame que explora a atividade cerebral em casos de tumores que podem destruir, asfixiar ou irritar os neurônios, alterando em vários sentidos a representação gráfica de sua atividade. Daí a necessidade de se reunirem periodicamente os eletrencefalografistas para reajustamento de pontos de vista técnicos e interpretativos.

Inicialmente O. Magnus, um dos promotores do simpósio, analisa detalhes técnicos considerados indispensáveis para a prática da eletrencefalografia e para a perfeita interpretação dos resultados (constantes de tempo, velocidade do traçado, combinações e distância dos eletrodos, correções). Os capítulos seguintes têm a seguinte ordenação: Sinais eletrencefalográficos nos tumores cerebrais (G. Arfei e H. Fischgold); Comentários gerais sôbre a utilização da eletrencefalografia no diagnóstico e localização dos tumores cerebrais (H. Fischgold, A. Zalis e J. Buisson-Ferey); Significação dos sinais eletrencefalográficos para a localização de tumores cerebrais (R. Hess); Eletrencefalografia nos meningeomas dos ventrículos laterais (W. A. Cobb e M. M. Gassel); Eletrencefalografia nas lesões talâmicas primárias (J. H. A. van der Drift e O. Magnus); Eletrencefalografia nas metástases cerebrais (J. H. A. van der Drift e O. Magnus); Eletrencefalografia nas hemorragias intracranianas (J. H. A. van der Drift e O. Magnus). Os cinco capítulos seguintes, todos extremamente úteis para neurologistas e neurocirurgiões, fogem do alvo principal deste simpósio, pois referem-se às alterações eletrencefalográficas encontradas também em processos não expansivos: Eletrencefalografia após leucotomia seletiva (J. H. A. van der Drift e O. Magnus); Influência das lesões estereotáxicas no eletrencefalo-grama (R. Hess); Traçados elétricos intracerebrais em casos com tumores cerebrais e lesões terapêuticas (C. W. Sem-Jacobsen e A. Torkildsen); Valor da eletrencefalografia no diagnóstico diferencial de lesões cerebrais (J. H. A. van der Drift e O. Magnus); Métodos de ambulatório para o exame eletrence fotográfico de pacientes com epilepsia tarda (H. Fischgold e J. Buisson-Ferey). No último capítulo, J. Bancaud volta a tratar dos processos expansivos, procurando fazer a Correlação dos achados neuropsicovatológicos e eletrencefalográficos em casos de tumores cerebrais, mostrando que esta comparação de dados permite, muitas vêzes, valorizar significantemente certas características do traçado eletrencefalográfico no sentido de localizar e, mesmo, de caracterizar a natureza das afecções expansivas intracranianas.

Neste livro é, portanto, condensada a experiência haurida em importantes centros eletrencefalográficos europeus. Êle é indispensável para eletrencefalografistas e valioso para neurologistas e neurocirurgiões, pois elucida quanto às aplicações e limitações da eletrencefalografia como recurso paraclínico visando o diagnóstico e prognóstico de afecções intracranianas. O material nêle contido é mais amplo do que é sugerido pelo seu título, pois as contribuições não se limitam aos processos expansivos. A apresentação tipográfica e a clicheria são esmeradas.

O. LANGE

ENCEPHALITIDES. L. VAN BOGAERT, J. RADERMECKER, J. HOZAY E A. LOWENTHAL (editores). Um volume (17,5X25,5) com 721 páginas, 438 figuras e 50 tabelas. Elsevier Publishing Co., Amsterdam, 1961.

Êste livro reúne 74 contribuições apresentadas a um simpósio realizado em Antuérpia, em 1959, sob os auspícios da Federação Mundial de Neurologia, visando o estabelecimento de critérios básicos para a classificação e a uniformização da nomenclatura das encefalites. Com essa designação são consideradas afecções de diversa natureza e origem, com variado substrato histopatológico, no qual se entremeiam lesões inflamatórias, desmielinizantes, hemorrágicas e esclerosantes; elas têm, de comum, características clínicas indicadoras do comprometimento, agudo ou subagudo, do encéfalo no seu todo, sendo discretos os sinais focais; tôdas as estruturas e sistemas encefálicos podem ser comprometidos; algumas vêzes há extensão do processo às meninges, à medula espinal e às raízes raquidianas. O diagnóstico depende, muito mais que da sintomatologia, de exames subsidiários - eletrencefalográficos, virológicos, microbiológicos, químicos e biópsicos - cujas técnicas se aperfeiçoam cada vez mais no afã de encontrar elementos que permitam diagnóstico exato. Apesar de tudo, muitos dêsses casos ainda permanecem com rótulos vagos, seja porque ainda são poucos os laboratórios de virologia bem aparelhados, seja porque os dados fornecidos pelas análises químicas ainda não têm validade estatística para a comprovação de determinada etiologia, seja porque os resultados indicam apenas a intensidade e não a qualidade do processo. Mesmo os dados da neuropatologia não têm validade absoluta para estabelecer critério para classificação porque os resultados, além das variações atinentes às diversas entidades etiopatogênicas, variam com a evolução do processo em si mesmo e, especialmente, com a superposição de lesões devidas à anoxia e às modificações metabólicas conseqüentes à gravidade do acometimento encefálico.

O simpósio promovido pela Federação Mundial de Neurologia reuniu neurologistas, patologistas e virologistas que nos últimos anos tinham estudado casos de encefalites para que seus resultados fossem analisados e reavaliados em conjunto, visando confrontação de dados e conceitos. Os participantes foram convidados a apresentar os seus casos com tôda a documentação neuropatológica, virológica e neuroquimica, mesmo aquela que tinha sido considerada dispensável quando os resultados tinham sido publicados anteriormente. Assim foi possível estabelecer, pelo menos até certo ponto, as características de algumas reações de caráter específico próprias de determinados agentes nociceptivos. Se não foi ainda possível estabelecer nomenclaturas não passíveis de crítica para todos os casos, ao menos foram registrados e comparados resultados que servirão de base para trabalhos ulteriores visando classificação aproveitável para fins clínicos, patológicos e virológicos. Todo o material apresentado foi colecionado e arquivado no Centro Interuniversitário de Pesquisas Neuropatológicas (Instituí Bunge, Rue Philippe Williot 59, Berchem - Antuérpia, Bélgica), onde poderá ser examinado por outros pesquisadores; os que residirem em países distantes poderão obtê-lo sob forma de empréstimo ou mediante aquisição.

É praticamente impossível analisar cada uma das contribuições apresentadas que foram agrupadas nos seguintes capítulos: Encefalites transmitidas por artrópodos (arborvírus); Encefalites pelo vírus da raiva; Encefalites herpéticas; Encefalites pós-influenza; Encefalites pós-vacinais e pós-exantemáticas; Encefalites neoplásticas difusas; Encefalites granulomatosas; Encefalites necrosantes e hemorrágicas; Leucoencefalites esclerosantes subagudas; Panencefalites; Encefalites ainda não classificáveis. Na segunda parte do livro foram reunidos trabalhos atinentes às investigações imunológicas e virológicas, às alterações eletrencefalográficas, às alterações químicas do líquido cefalorraquidiano e do sôro, com ênfase especial para as alterações eletroforéticas. Na parte final do livro várias autoridades - Ludo van Bogaert, W. Haymacker, H. Jacob, R. Radermecker e A. Lowenthal - criticam as observações apresentadas e sintetizam os achados no âmbito das respectivas especializações, respectivamente, sintomatologia, distribuição geográfica, neuropatologia, eletrencefalografia e neuroquímica.

Tratando-se de um repositório comentado de documentos de alto valor pelo seu conjunto, será supérfluo destacar esta ou aquela contribuição pessoal. Os neurologistas, os internistas, os neuropatologistas, os eletrencefalografistas, os virologistas e os homens de laboratório terão muito que ler neste livro, no qual cada simposiasta procurou dar de si o melhor, sabendo de antemão que seus resultados seriam confrontados. Os editores procuraram concatenar os assuntos de forma a valorizar o conjunto, tornando este livro uma obra de consulta obrigatória. As sínteses finais dão idéia exata do esfôrço realizado no sentido de uniformizar dados e conceitos que eram dispersos e, por vêzes, contraditórios. O trabalho tipográfico é excelente e a clicheria, esmerada.

O. LANGE

LIVROS RECEBIDOS

Nota da Redação - A notificação dos livros recentemente recebidos não implica em compromisso da Redação da revista quanto à publicação ulterior de uma apreciação. Todos os livros recebidos são arquivados na biblioteca da Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

CLINICAL METHODS OF NEURO-OPHTHALMOLOGIC EXAMINATION. Alfred Kestenbaum. Um volume (17X25,5) com 577 páginas e 107 figuras. Segunda edição. Gruñe & Stratton, Inc., New York-London, 1961.

TENDANCES ACTUELLES DE LA DÉLINQUANCE JUVÉNILE. T. C. N. Gibbens. Monografia com 58 páginas. Editada pela Organização Mundial de Saúde (Cahiers de Santé Publique, m 5), 1961. Preço: 2 francos suíços.

NEUROLOGIA. José Pereyra Käfer e Gustavo F. Poch. Um volume (16,5X23) com 929 páginas e 363 figuras. Lopez Libreros Editores S.R.L., Junin 863 (R.20), Buenos Aires, 1961.

NEURANATOMIA. Eros Abrantes Erhart. Um volume (16,5X23,5) com 344 páginas e 138 figuras. Segunda edição revista e melhorada. Livraria Atheneu Editora São Paulo S.A., São Paulo, 1962.

LA PERSONALITÀ DELL'EPILETTICO TEMPORALE. A. Ballerini. Monografia (17X24) com 979 páginas e 25 figuras. Suplemento da Rivista Sperimentale di Freniatria e Medicina Legale délie Alienazioni Mentali, vol. LXXXV, 1961.

EXAMINATION OF THE NERVOUS SYSTEM: A STUDENT'S GUIDE. A. Theodore Steegmann. Um volume (13,50X19,50) com 165 páginas e 42 figuras, segunda edição. The Year Book Publishers, Inc. (200 East Illinois St., Chicago, U.S.A.), 1962. Preço: US$ 4.00.

ENCEPHALITIDES. L. van Bogaert, J. Radermecker, J. Hozay e A. Lowenthal (editores). Um volume (17,5X25,5) com 721 páginas, 438 figuras e 50 tabelas. Elsevier Publishing Co., Amsterdam, 1961. Preço: £ 8.00.

ELECTROENCEPHALOGRAPHY AND CEREBRAL TUMOURS. O. Magnus, W. Storm van Leeuwen e W. A. Cobb (editores). Um volume (19,5X26,5) com 248 páginas, 106 figuras e 67 tabelas. Elsevier Publishing Co., Amsterdam, 1961. Preço: £ 4.10.

SPEECH DISORDERS: APHASIA, APRAXIA AND AGNOSIA. Russell Brain. Urn volume (14,50X22,50) com 184 páginas e 24 figuras. Butterworth & Co. Ltd., Londres, 1961.

BASIC NEUROPATHOLOGICAL TECHNIQUE. G. Gasser. Urn volume (14,50X22,50) com 77 páginas e 59 figuras (4 em cores). Blackwell Scientific Publications, Oxford, 1961.

PSYCHOLOGIE IN BIOLOGISCHER SICHT. W. R. Hess. Urn volume (17,5X24,5) com 120 páginas. Georg Thieme Verlag, Stuttgart, 1962. Preço: DM 20.-.

SIMULATIONS MEDICALES: SIGNES, DIAGNOSTIC, PATHOGÉNIE, TRAITEMENT DES MALADIES SIMULÉES. Jean Albert-Weill e colaboradores. Um volume (15,5X24,5) com 268 páginas. G. Doin & Cie., Éditeurs, Paris, 1962. Preço: 32 NF.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1962
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