Derivação ventriculoperitoneal com válvula no tratamento da hidrocefalia infantil

Facure, José Jorge

doi:10.1590/S0004-282X1972000100002

Resumos

Uma série de 95 crianças hidrocefálicas foram submetidas à derivação ventriculoperitoneal (DVP) com válvula no período de dezembro de 1965 a novembro de 1969. Os resultados obtidos são analisados e comparados com os obtidos mediante derivação ventriculoatrial (DVA). Das crianças operadas, 54 estão vivas e com a hidrocefalia compensada, 9 faleceram, não sendo possível estabelecer as condições atuais das 32 restantes. Com a derivação para o peritônio foram evitadas as severas complicações vasculares e cardiopulmonares observadas com a derivação para a cvidade cardíaca. O número de revisões cirúrgicas é menor nos pacientes submetidos à DVP com válvula. Além disso, as infecções no sistema de drenagem ventriculoperitoneal provocam quadros menos graves e de mais fácil solução, que os observados na derivação ventriculoatrial. A análise das condições pré-operatórias, das complicações e dos resultados finais permitiram algumas conclusões: 1) o uso de válvula unidirecional, no sistema de derivação ventriculoperitoneal, dificulta a oclusão da extremidade distal do sistema de drenagem; 2) pode-se esperar bons resultados, sem necessidade de revisão cirúrgica, em cêrca de 42,35% das crianças hidrocefálicas submetidas à DVP com válvula; 3) as derivações ventriculoperitoneais com válvula, quando comparadas às derivações ventriculoatriais, considerando um grupo de crianças hidrocefálicas operadas nos mesmos Serviços, em condições semelhantes, com mesmo tempo de seguimento — foram as que proporcionaram melhores resultados; 4) os casos estudados permitem constatar, portanto, que a DVP com válvula, constitui atualmente a terapêutica cirúrgica mais apropriada da hidrocefalia infantil.

From December-1965 to November-1969, 95 hydrocephalic infants have been operated upon using ventriculoperitoneal shunt with valve (88 cases with a Spitz-Holter valve, 6 cases with a Hakim valve and one case with a Pudenz-Heyer valve). Up to the present time (December, 1970) a total of 54 children are alive with a compensated hydrocephalus and 9 patients died, being impossible to follow-up the 32 remaining cases. The use of the ventriculoperitoneal shunt has eliminated all cardiovascular-pulmonary complications and reduced the number for surgical revisions. Besides, infections involving the draining system are less severe and more easily controlled than those occurring in the ventriculoatrial shunts. After analysis of the surgical techniques as well as complications and results the following conclusions are stated: 1) the use of a valve in the ventriculoperitoneal shunt difficults the oclusion of the peritoneal end of the draining system; 2) good results can be expected without reoperations in about 42,35% of hydrocephalus cases treated by ventriculoperitoneal shunt with valve; 3) ventriculoperitoneal shunts with valve showed better results when compared to ventriculoatrial shunts. This statement is made comparing two groups of hydrocephalic infants submitted to surgery at the same Service and in the same conditions, with the same follow-up period; 4) the cases presented permit to state that at present time the ventriculoperitoneal shunt with valve is the most suitable surgical procedure for hydrocephalus.

Derivação ventriculoperitoneal com válvula no tratamento da hidrocefalia infantil

Evaluation of the ventriculo-peritoneal shunt with valve in the treatment of hydrocephalus

José Jorge Facure

Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas: Médico-assistente de Clínica Neurológica (Prof. Oswaldo Freitas Julião)

RESUMO

Uma série de 95 crianças hidrocefálicas foram submetidas à derivação ventriculoperitoneal (DVP) com válvula no período de dezembro de 1965 a novembro de 1969. Os resultados obtidos são analisados e comparados com os obtidos mediante derivação ventriculoatrial (DVA).

Das crianças operadas, 54 estão vivas e com a hidrocefalia compensada, 9 faleceram, não sendo possível estabelecer as condições atuais das 32 restantes. Com a derivação para o peritônio foram evitadas as severas complicações vasculares e cardiopulmonares observadas com a derivação para a cvidade cardíaca. O número de revisões cirúrgicas é menor nos pacientes submetidos à DVP com válvula. Além disso, as infecções no sistema de drenagem ventriculoperitoneal provocam quadros menos graves e de mais fácil solução, que os observados na derivação ventriculoatrial. A análise das condições pré-operatórias, das complicações e dos resultados finais permitiram algumas conclusões: 1) o uso de válvula unidirecional, no sistema de derivação ventriculoperitoneal, dificulta a oclusão da extremidade distal do sistema de drenagem; 2) pode-se esperar bons resultados, sem necessidade de revisão cirúrgica, em cêrca de 42,35% das crianças hidrocefálicas submetidas à DVP com válvula; 3) as derivações ventriculoperitoneais com válvula, quando comparadas às derivações ventriculoatriais, considerando um grupo de crianças hidrocefálicas operadas nos mesmos Serviços, em condições semelhantes, com mesmo tempo de seguimento foram as que proporcionaram melhores resultados; 4) os casos estudados permitem constatar, portanto, que a DVP com válvula, constitui atualmente a terapêutica cirúrgica mais apropriada da hidrocefalia infantil.

SUMMARY

From December-1965 to November-1969, 95 hydrocephalic infants have been operated upon using ventriculoperitoneal shunt with valve (88 cases with a Spitz-Holter valve, 6 cases with a Hakim valve and one case with a Pudenz-Heyer valve).

Up to the present time (December, 1970) a total of 54 children are alive with a compensated hydrocephalus and 9 patients died, being impossible to follow-up the 32 remaining cases. The use of the ventriculoperitoneal shunt has eliminated all cardiovascular-pulmonary complications and reduced the number for surgical revisions. Besides, infections involving the draining system are less severe and more easily controlled than those occurring in the ventriculoatrial shunts. After analysis of the surgical techniques as well as complications and results the following conclusions are stated: 1) the use of a valve in the ventriculoperitoneal shunt difficults the oclusion of the peritoneal end of the draining system; 2) good results can be expected without reoperations in about 42,35% of hydrocephalus cases treated by ventriculoperitoneal shunt with valve; 3) ventriculoperitoneal shunts with valve showed better results when compared to ventriculoatrial shunts. This statement is made comparing two groups of hydrocephalic infants submitted to surgery at the same Service and in the same conditions, with the same follow-up period; 4) the cases presented permit to state that at present time the ventriculoperitoneal shunt with valve is the most suitable surgical procedure for hydrocephalus.

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Clínica Neurológica Faculdade de Ciências Médicas Universidade Estadual de Campinas Caixa Postal 1170 13100 Campinas SP Brasil.

Tese apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do grau de Doutor: Médico-assistente de Clínica Neurológica (Prof. Oswaldo Freitas Julião).

Nota do autor Ao Prof. Gilberto Machado de Almeida os nossos agradecimentos pela orientação e pelo apoio ao nosso trabalho.

1. ALMEIDA, G. M. Corpo estranho intracardíaco: complicaçăo da ventriculoauriculostomia. Arq. Neuro-Psiquiat. (Săo Paulo) 23:201, 1965.
2. ALMEIDA, G. M. Derivaçăo ventrículo-atrial no tratamento da hidrocefalia em crianças. Arq. Neuro-Psiquiat. (Săo Paulo) 27:1, 1969.
3. ALMEIDA, G. M. & PEREIRA, W. C. Derivaçăo ventriculoperitoneal com válvula no tratamento da hidrocefalia do lactente. Arq. Neuro-Psiquiat. (Săo Paulo) 27:308, 1969.
4. AMES, R. H. Ventriculoperitoneal shunts in the management of hydrocephalus. J. Neurosurg. 27:525, 1967.
5. ANDERSON, F. M. Subdural hematoma: a complication of operation for hydrocephalus. Pediatrics 10:11, 1952.
6. ANDERSON, F. M. Ventriculo-auriculostomy in treatment of hydrocephalus. J. Neurosurg. 16:551, 1959.
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9. COHEN, S. J. & CALLAGHAN, R. P. A syndrome due to the bacterial colonization of Spitz-Holter valves. A review of five cases. British med. J. 2:677, 1961.
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11. DAKTERS, J. G.; YASHON, D.; CROFT, T. J. & WHITE, R. J. Cerebrospinal fluid diversion. Arch. Surg. 96:56, 1968.
12. DAVIDOFF, L. M. & FEIRING, E. H. Subdural hematoma occuring in surgically treated hydrocephalic children: with a note on a method of handling persistent accumulations. J. Neurosurg. 10:557, 1953.
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16. FACURE, J. J.; FACURE, N.; CAMARA, A. J. & OTERO, N. R. Verificaçăo do funcionamento de derivaçőes ventriculoperitoneais com válvula mediante empręgo de radioisótopos: contribuiçăo técnica pessoal. Arq. Neuro-Psiquiat. (Săo Paulo) 29:234, 1971.
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24. LEFČVRE, A. B.; ZACLIS, J. & VALENTE, M. I. Hidrocefalia ou hidranencefalia. Valor da transiluminaçăo do crânio no diagnóstico diferencial. Estudo anátomo-clínico de dois casos. Arq. Neuro-Psiquiat. (Săo Paulo) 13:325, 1965.
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29. MIGLIORE, A.; PAOLETTI, P. & VILLANI, R. The rate of exchange of Na₂₄ and other ions between plasma and cerebrospinal fluid in normal subjects and in hydrocephalic infants. Develop. Med. Child. Neurol. 1:310, 1965.
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32. PICAZA, J. A. The posterior-peritoneal shunt technique for the treatment of internal hydrocephalus in infants. J. Neurosurg. 13:298, 1956.
33. PLAUT, M.; SOIFER, I. & VALSAMIS, M. Bacterial endocarditis complicating ventriculoatrial shunt. N. Y. med. J. 62:1856, 1962.
34. RAIMONDI, A. J. & MATSUMOTO, S. A simplifield technique for performing the ventriculo-peritoneal shunt. J. Neurosurg. 26:357, 1967.
35. RAO, P. S.; MOLTHAN, M. E. & LIPOW, H. W. Cor pulmonale as a complication of ventriculoatrial shunts. J. Neurosurg. 33:221, 1970.
36. RICKHAM, P. P. & PENN, I. A. The place of the ventriculostomy reservoir in the treatment of myelomaningoceles and hydrocephalus. Develop. Med. Child. Neurol. 7:296, 1965.
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38. SPITZ, E. B. Neurosurgery in the prevention of exogenous mental retardation. Pediat. Clins N. Am. 6:1215, 1959.
39. TISCHER, W. Vergleichend Ergebnisse peritonialer und ventrikularer Drainagen beim frühkindlichen Hydrozephalus. Neurochirurgia 12:127, 1969.
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41. WEISS, S. R. & RASKIND, R. Twenty-two cases of hydrocephalus treated with a silastic ventriculoperitoneal shunt. Int. Surg. 51:13, 1969.
42. WEISS, E. R. & RASKIND, R. Further experience with the ventriculoperitoneal shunt: prophylatic antibiotics. Int. Surg. 53:300, 1970.
43. WILSON, C. B. & BERTAN, V. Perfuration of the bowel complicating perineal shunt for hydrocephalus. Am. Surg. 32:601, 1966.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
19 Abr 2013
Data do Fascículo
Mar 1972

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

[1] 1. ALMEIDA, G. M. Corpo estranho intracardíaco: complicaçăo da ventriculoauriculostomia. Arq. Neuro-Psiquiat. (Săo Paulo) 23:201, 1965.

[2] 2. ALMEIDA, G. M. Derivaçăo ventrículo-atrial no tratamento da hidrocefalia em crianças. Arq. Neuro-Psiquiat. (Săo Paulo) 27:1, 1969.

[3] 3. ALMEIDA, G. M. & PEREIRA, W. C. Derivaçăo ventriculoperitoneal com válvula no tratamento da hidrocefalia do lactente. Arq. Neuro-Psiquiat. (Săo Paulo) 27:308, 1969.

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[43] 43. WILSON, C. B. & BERTAN, V. Perfuration of the bowel complicating perineal shunt for hydrocephalus. Am. Surg. 32:601, 1966.