In memoriam
Em 30 de agosto de 1972 faleceu, em Porto Alegre, o Prof. João Alberto Martins Dahne, prestigioso e autorizado neurocirurgião, deixando estarrecidos seus colegas e amigos de todo o continente americano e enlutando a Neurocirurgia brasileira.
Nascido em 6 de abril de 1918 no município de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, João Dahne completou, em Porto Alegre, o curso básico e os estudos pré-universitários, diplomando-se, em 1945, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Rio Grande do Sul. Desde o último ano do curso de graduação João Dahne iniciou seus primeiros passos na especialidade que preencheria sua vida, juntando-se com decidido entusiasmo à equipe neurocirúrgica pioneira. Em 1946 participou, como residente, na fundação do Instituto de Neurocirurgia de Porto Alegre, instituição à qual dedicou toda a sua atividade profissional, tendo chegado ao posto de Sub-Diretor. Em 1952 iniciou atividades didáticas na carreira universitária na função de assistente de Propedeutica Cirúrgica na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio Grande do Sul, onde depois passou à situação de professor, encarregado do ensino da Neurocirurgia. Desde a fundação da Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre vinha exercendo o cargo de Professor Titular de Neurocirurgia.
Como chefe de disciplina em duas Escolas Médicas e chefe de clínica em uma instituição de renome internacional, João Dahne conquistava de imediato a simpatia e o respeito dos que se agrupavam a seu redor atraídos pela honestidade de seus propósitos, pela sinceridade de suas conceituações, pela franqueza de suas opiniões, pela confiança imposta por seus ensinamentos, sempre seguros e de caráter eminentemente prático. Dotado de grande capacidade para relacionamento apesar de ser parcimonioso no palavreado, Dahne formou largo círculo de discípulos e amigos entre os quais se incluíam quasi todos os neurologistas e neurocirurgiões do Brasil e numerosos estrangeiros que reconheciam suas grandes aptidões como diagnosticador e sua competência como neurocirurgião, de par com suas virtudes humanísticas para com os pacientes e para com os que o procuravam para aprender. Uma de suas facetas mais atraentes consistia na satisfação com que orientava e estimulava os jovens praticantes da especialidade, corrigindo-lhes os defeitos com paciência e apoiando-os moralmente com sagacidade e, tecnicamente, com maestria.
Membro de numerosas Sociedades Médicas brasileiras e estrangeiras, algumas das quais fundadas com sua cooperação ativa, Dahne, desde que, em 1951, foi Secretário Geral do IV Congresso Latino-Americano de Neurocirurgia, participou ativamente de todos os congressos de âmbito nacional ou internacional que se realizaram subseqüentemente, prestigiando-os com seus relatórios e comunicações, apresentados pessoalmente ou por elementos de sua equipe neurocirúrgica. Os Congressos Brasileiros de Neurocirurgia sempre tiveram em Dahne o sólido esteio e o decidido apoio de sua cooperação criteriosa, idônea e prestigiosa.
De índole simples e cativante, modesto em sua atuação social, facilmente accessível e familiar para com seus discípulos, proporcionador de oportunidades para os jovens e fugindo de situações promocionais de qualquer natureza, enérgico na disciplinação e frontalmente contrário aos dogmatismos científicos, trabalhador infatigável e dando de si tanto quanto exigia dos outros, João Dahne constituia incomum amálgama de excelsas qualidades. Com sua morte a Neurocirurgia brasileira perdeu uma de suas mais destacadas figuras, um médico que, como especialista, conquistou renome internacional, um varão que, como chefe, impressionava pela personalidade marcada pelo realismo e pela retidão de sua conduta, um homem que, como companheiro, sedimentava amizades mercê da sólida e serena afeição que tinha pelos seus íntimos e pelos seus discípulos.
Elyseu Paglioli
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
18 Abr 2013 -
Data do Fascículo
Dez 1972
