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Análises de livros

ANÁLISES DE LIVROS

ANTIEPILEPTIC DRUGS: MECHANISMS OF ACTION. G. H. GLASER, J. KIFFIN-PENRY, D. M. WOODBURY, editores. Um volume com 728 páginas (18x26), 224 figuras. Volume 27 da série Advances in Neurology. Raven Press, New York. 1980. Preço: US$ 94,00.

Trata-se de importante publicação que reune, em 44 artigos, as contribuições das melhores autoridades no campo da farmacologia das drogas anti-epilépticas. Este é o resultado de um trabalho cooperativo de um número considerável de cientistas, no sentido de analisar o estado atual do conhecimento dos mecanismos de ação das drogas mais comuns empregadas no tratamento da epilepsia. Este simpósio foi organizado pelo «Epilepsy Advisory Committee» do National Institute of Neurological and Communicative Disorders and Stroke (NINCDS) que, através de várias reuniões de seu sub-comitê para pesquisa básica (julho 1975 em Yale, 1976 em St. Louis, 1976 em La Jolla, e 1977 em St. Louis) contando com a participação de mais de 200 investigadores de vários países, pertencentes às mais variadas especialidades (neurologia, farmacologia, neuro-fisiologia, bioquímica e neuranatomia), elaboraram o presente volume.

O livro se inicia por um artigo de Swinyaro sobre a história das drogas anti-epilépticas e um de Glaser analisando o empirismo do qual partiram todas as experimentações com as drogas atualmente utilizadas. Nove capítulos se sucedem sobre a neurobiologia das drogas anticonvulsivantes: Peters analisa os efeitos nas células, do córtex cerebral, Scheibel sobre as células do hipocampo, Lux analisa os efeitos iônicos e. de membrana, Delgado-Escueta os efeitos sobre as bombas de sódio e potássio. Krnjevic analisa os efeitos sobre a transmissão sináptica, Somjen expõe os efeitos do potássio e da neuroglia na geração das convulsões, Crill estuda os mecanismos neuronals responsáveis pelo início das crises, McNamara verifica o efeito nos sistemas neuronais complexos e Reed analisa o transporte das drogas no SNC. Seguem-se 3 artigos sobre relações entre estrutura e atividade das drogas: Smythies analisa em brilhante artigo o papel dos receptores na ação das drogas anticonvulsuvantes e convulsivantes; Camer-man estuda as similaridades estereoquímicas dos diferentes compostos; Krall faz um estudo quantitativo da atividade farmacológica relacionada à estrutura. Woodbury expõe os mecanismos das drogas convuisivantes num estudo exaustivo. Vinte e oito artigos, ocupam-se, a seguir, das várias substâncias anticonvulsivantes e seus prováveis mecanismos de ação. Doze desses artigos dedicam-se à difenil-hidantoina seis aos barbitú-ricos, seguindo-se exposições sobre a carbamazepina, oxazolidinas, succinimidas, benzó-diazepinas, inibidores da anidrase carbônica, mecanismos anti-convulsivantes da dieta cetogênica, valproato de sódio e um artigo sobre hormônios e epilepsia. O livro tem seu fêcho com um artigo de E. Roberts, que procura fazer uma síntese teórico-especulativa dos atuais conhecimentos sobre o assunto. Não é necessário salientar a importância de cada um dos tópicos abordados no presente volume, principalmente levando-se em conta a crescente incidência dos mais variados tipos de epilepsia que em alguns países latino-americanos como a Colômbia, chega a apresentar a elevadíssima incidência de 1,95% da população! (Gomez e col., Neurology 28:90 1978). Além disso, a crescente sofistica-ção dos métodos de dosagem dos anticonvulsivantes e sua demonstrada indispensabili-dade na realização do controle ideal das crises convulsivas, vêm fazendo da epileptologia clínica uma sub-especialidade cada vez mais complexa. A análise do conteúdo deste volume, permite chegar à conclusão de que as drogas anti-epilépticas agem através de 3 diferentes mecanismos principais sobre os sistemas neuronais: 1) estabilizando a membrana neuronal; 2) diminuindo a tendência à descarga repetitiva; 3) reduzindo a propagação da descarga epiléptica. Adicionam-se as esses princípios básicos gerais, princípios neurobiológicos relacionados à epilaptogênese como, por exemplo, as relações entre estrutura e atividade, os tipos de receptores, os locais de ação nas várias estruturas do SNC, além de mecanismos de ação de cunho biofísico e bioquímicos. Este trabalho procura demonstrar também a variada metodologia laboratorial atualmente utilizada no estudo dos mecanismos de ação das drogas convulsivantes e anti-convulsi-vantes, in vivo e in vitro.

RAUL MARINO JR.

ESTÚDIOS NEUROPSICOLÓGICOS. CARLOS MENDILAHARSU. Dois volumes (19 x 14). em brochura com 243 e 261 páginas, 57 figuras e 7 tabelas. Editora Delta, Montevidéu, 1979 - 1980.

Carlos Mendilaharsu é um especialista em neuropsicologia já bastante conhecido pelos brasileiros pois participou de numerosos eventos científicos em cue se abordou problemas relacionados com distúrbios corticais. Sua formação de especialista está muito ligada à escola francesa de neuropsicologia, particularmente aos mestres Ajuriaguerra e Hécaen. Igualmente está muito ligado ao grupo de Iowa dirigido pelo Prof. Benton quo contribui com valiosos capítulos para estes dois volumes. Diretor do Laboratório de Afecções Corticais do Instituto de Neurologia de Montevidéu e membro do grupo de trabalho de afasiologia da Federação Mundial de Neurologia e da Sociedade Internacional de Neuropsicologia, Mendilaharsu tem colocado a serviço das funções nervosas superiores toda sua atividade de pesquisador e professor. Este trabalho é apresentado de maneira generosa nestes dois volumes, em que se encontram obras reveladoras de um pensamento maduro, fruto de reflexão e análise crítica colhidos em sua vida de estudioso incansável da matéria. Bastante conhecido por sua dedicação à pesquisa no campo dos distúrbios da linguagem, o Autor, entretanto, não se limita a este campo: como seu mestre Ajuriaguerra pesquisou também as gnosias e praxias em seu aspecto evolutivo, observando, com espírito objetivo, a evolução destas atividades na criança e sua desagregação no cérebro senil. Às pesquisas que realizou, com sua equipe de colaboradores, sobre a evolução das praxias nas crianças, analisadas através de produções gráficas, são exemplares e de leitura obrigatória para os interessados no tema.

Grande parte do primeiro volume desta obra que estamos analisando diz respeito às afasias. Aborda em um primeiro capítulo o estado atual das afasias. Para isto, faz uma revisão a partir do recente surgimento da neurolingüística analisando as contribuições de Lecours, Chomsky e Jakobson e de estudiosos como Goodglass que reestu-daram as afasias à luz deste novo ramo da ciência. Sem temor ante a complexidade do tema o Autor entra no terreno da classificação das afasias, que exige um posicionamento nutrido nas diversas escolas que no correr dos anos, desde Broca, vem procurando correlacionar linguagem e afasias com estruturas cerebrais. Aborda também as fronteiras das afasias, inspirando-se em um dos últimos trabalhos publicados por Luria com o curioso título de «Quasi - aphasic speech disturbances». Neste capítulo o Autor estuda as relações das afasias com os quadros psicóticos. Deste terreno passa para a análise do discurso e a linguagem, colaborando com sua companheira constante Sélika Mendilaharsu na investigação de aspectos neuro e psicolingüísticos, inspirados no redescobri-dor» de Freud que foi Lacan que estabeleceu a supremacia dos significantes. De grande valor para o semiologista é a adaptação para o Uruguai da bateria de Spreen e Benton para o estudo das afasias, que vem sendo utilizada pelo Autor e seus colaboradores desde 1968. Esta experiência é colocada agora à disposição dos estudiosos latino-americanos.

O segundo volume engloba a colaboração de vários autores como Benton cuidando de aspectos históricos e semiológicos, de Hécaen com o estudo da afasia adquirida na infância e do próprio autor e seus companheiros de serviço que entram na análise crítica das diversas provas clínicas, dentre as quais o Token Test aplicado em crianças. Os pesquisadores uruguaios tiveram a feliz idéia de substituir as fichas do teste de De Renzi e Vignolo por objetos de uso familiar e significação mais concreta, aplican-do-o em 150 crianças de 4 anos a 8 anos e 11 meses.

Impossível analisar pormenorisadamente cada capítulo destes dois volumes pois todos eles mereceriam uma reflexão mais aprofundada, capaz de mostrar o volume de conhecimentos que eles trazem para o leitor e a quantidade de problemas que abrem para o interessado neste inesgotável terreno que são os distúrbios da atividade nervosa superior.

ANTONIO B. LEFÈVRE

BRAIN METASTASIS. LEONARD WEISS, HARVEY A. GILBERT, JEROME B. POSNER. Um volume com 438 páginas. Martinus Nijhoft Publishers, The Hague - Boston - London, 1980. Preço: 110 florins.

Em grande parte dos óbitos de pacientes com cancer a morte resulta de metástases. Não obstante, surpreendentemente um número muito pequeno de trabalhos foi dedicado a este aspecto. Desta forma, a Editora está publicando sucessivamente várias monografias com o titulo comum: «Metástases: uma série de Monografias». O primeiro volume «Brain Metastasis» acaba de vir a publicação, enquanto que um terceiro, ainda em preparação, concernerá às metástases do sistema linfático. «Metástases cerebrais» é composto por um trabalho cooperativo de um cientista que se dedica à patologia experimental, de um radioterapêuta e de um neurologista interessado sobretudo em Onco-logia. O volume é dividido em três partes fundamentais. Na primeira, «Aspectos básicos das metástases cerebrais», por sua vez composta por 10 capítulos, é reservada para os principais aspectos anatomopatológicos, fisiopatológicos e imunológicos das metastases encefálicas. A segunda, reunindo 4 capítulos, estuda o diagnóstico dessas metástases sendo enfocadas, sucessivamente, as manifestações clínicas, o estudo da tomografia computorizada nesses processos, as imagens por radio-isótopos e a tomografia pela emissão de positrons. A terceira e última parte concerne ao tratamento das metástases cerebrais, registrando a experiência de diferentes centros especializados, assim como os efeitos das várias medidas terapêuticas rotineiramente empregadas: radioterapia, quimioterapia, ação dos hormônios adrenocorticais. Os dois últimos capítulos, de âmbito predominantemente neurocirúrgico, concernem à terapêutica operatória das metástases cerebrais.

Nesta monografia os autores estudam as metástases cerebrais procedentes de qualquer fonte. O livro derivou de um grupo de trabalho composto por clínicos e cientistas com interesses e experiências nas mais variadas áreas relacionadas com as metástases encefálicas. Na primeira das três partes fundamentais desta monografia os editores reuniram inicialmente os autores interessados em cancer metastático no encéfalo ou em qualquer outra região do organismo e, a seguir, aqueles preocupados principalmente com a estrutura e com a função do encéfalo afetado, ou não, pelo tumor. O trabalho principia com uma visão panorârica do problema das metástases cerebrais, registrando algumas razões pelas quais essas metástases representam um problema clínico sério e significante. Prosseguem com consideração geral sobre as metástases, assim como as peculiaridades de que se reveste o encéfalo como receptor de um tumor metastático. Na segunda parte concernente ao diagnóstico, são registrados os dados mais atualizados no que concerne ao iagnóstlco clinico e laboratorial das metástases cerebrais. Finalmente, na terceira parte, é discutida a terapêutica sistêmica, sendo revistas as recentes experiências com a cirurgia, com a terapêutica por radiação, e com a quemoterapia e a imunoterapia. Como conceitos essenciais concernentes às metástases para qualquer órgão é admitido que as células cancerosas devem se destacar do seu tumor primário, necessitam se disseminar para sedes distantes e finalmente devem parar e serem retidas nessas sedes onde então crescrão como metástases. Esses diferentes passos são extremamente complexos e envolvem um número de iterações sequenciais entre as células cancerosas e seu ambiente, a nível da periferia celular. Depreende-se então que os únicos aspectos que merecem ser considerados para o desenvolvimento de metástases deveriam ser procurados nas periferias das células malignas e estes estudos não identificaram diferenças quantitativas e qualitativas entre células normais e células malígnas. Weiss (capítulo 2) argumenta que seria muito mais apropriado comparar cancer não metastático (tais como carcinomas de células basais) com cancer metástatizante. Essa comparação poderia focalizar os aspectos correlacionados com as metástases. Possivelmente existe no momento muito maior interesse em estudar as propriedades do que procurar identificar as diferenças entre alguns poucos tipos de células assim ditas normais com seus transformantes. Experiências animais mostraram que aproximadamente 104 a 106 das células cancerosas são liberadas em cada 24 horas por grama de tumor sólido. Comparativamente, o número de metástases «clínicas» que desenvolvem em animais portadores de tumores é pequeno; provavelmente menos do que 0,1% das células cancerosas que escapam para a circulação sobrevivem ao trauma da «cascata metastática». Parece assim haver certas subpopulações metastáticas pré-existentes em tumores como talvez seja indicado pelo trabalho de Brunson e Nicolson nas subpopulações de células B16. Estas células, crescem nos cérebros de camundongos em passagens experimentais, e seletivamente crescem nos cérebros de outros animais após a injeção intravenosa, mas raramente formam tumores em outros órgãos tais como os pulmões. A química periférica dessas células difere daquelas linhas que não exibem uma preferência pelo encéfalo. Essas diferenças são correlacionadas com a variação de resposta registradas à quemoterapia, entre os vários canceres primários e suas metástases. Brunson e Nicolson registram diferenças na sensibilidade em diferentes linhas a agentes quemo-terápicos. Se algumas subpopulações de céluIas de tumores sólidos preferem o encéfalo, seria lícito esperar que as metástases cerebrais se desenvolvessem apenas nele, sem afetar outros órgãos igualmente bem vascularizados. Entretanto não é esse o caso: a metástase cerebral raramente ocorre na ausência de metástases em outras sedes e são quase sempre um evento terminal (capítulo 4). As propriedades periféricas das células cancerosas são enfatizadas por Warren no capítulo 5, onde ele descreve as alterações ultra-estruturais associadas a uma intravasão de células malignas, por movimentos ativos, através das membranas basais rotas e por outro lado, extravasão das células cancerosas partindo dos êmbolos tumorais parados justamente em áreas lesadas. A discussão sobre .a quemoterapia nas metastases cerebrais usualmente envolve os termos «barreira hematoencefálica» e «santuários». As realidades sobre a barreira hematoence-fálica no cérebro normal são discutidas em profundidade por Rapoport. No capítulo 7, Vick realiza estudos paralelos da barreira dentro e próximo aos tumores cerebrais e fornece uma nítida evidência de que as penetrações endoteliais e as descontinuidades nessas regiões não condicionam uma barreira detectável para o movimento de moléculas tão grandes quanto a peroxidase. Os tumores são estruturas heterogêneas e muitas de suas iterações com tecidos não cancerosos, incluindo invasão e crescimento, ocorrem em suas regiões periféricas. Assim, Shapiro anota que uma barreira existe nas regiões periféricas, pelo menos em alguns tumores. Em vista desses achados discordantes, as generalizações sobre a presença da barreira em relação as metástases cerebrais são impróprias, desde que tanto o tipo de tumor quanto a sua sede devem ser levados em consideração. A discriminação também deve ser feita entre dois tipos básicos de canais sanguíneos que se desenvolvem em tumores. Em primeiro lugar, uma neovascularização derivada dos capilares dos hospedeiros e que na ramificação em resposta a fatores angiogênicos. É de se esperar, pelo menos nas fases iniciais, esses vasos constituam uma barreira. Quando e sempre que o endotélio vascular desse tipo de neovascularização se torna fenestrado a barreira regional desaparece. Fendas vasculares, as quais agem como canais em algumas partes de alguns tumores, são revestidas com células cancerosas que os esfoliam e não formam barreiras. A falha da quemoterapia nas metástases cerebrais pode ser devida ou à falha da droga em atingir todas as regiões do cancer ou à falha para entrar na célula cancerosa ou, finalmente, à inativação da droga dentro das células. Asobservações de Shapiro de que a barreira hemato-encefálica está aparentemente intacta em micrometástases explicam os motivos pelos quais a quemoterapia profilática falha no prevenir metástases cerebrais. No que concerne ao suceder de metastases, Bross procura descobrir uma sequência dinâmica dos tipos de metástases através de análise de autópsias. A hipótese de «cascatas» interpreta os dados de modo a demonstrar que o cancer da mama inicialmente forma metástases nas vértebras ou pulmões e destas sedes se generaliza e se espalham para o encéfalo e outros órgãos. Em contraste, o cancer broncogênico primário envia suas metástases diretamente para o encéfalo e outros órgãos, sem generalização intermediária. Em todos os casos, apenas raramente, o encéfalo é a única sede metastática de um cancer disseminado, um fato que determinou implicações terapêuticas correntes. O diagnóstico acurado é essencial não apenas para o tratamento apropriado do paciente individual mas também para permitir aos investigadores clínicos a coleta de dados úteis e comparação dos efeitos de diferentes tratamentos. O CT praticamente substitui qualquer outro processo de diagnóstico.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

LÍQUIDO CEFALORRAQUIANO. J. B. DOS REIS, A. B EI., J. B. DOS REIS FILHO. Um volume (18 x 27) encadernado, com 250 páginas, 71 figuras e 79 tabelas. Sarvier Editora. São Paulo, 1980.

Ao septuagésimo aniversário, João Baptista dos Reis contribui para a bibliografia médica brasileira apresentando sob forma de compêndio o fruto de sua larga experiência em líquido cefalorraqueano (LCR), como um dos capítulos da Neurologia. Contando com a preciosa colaboração de seus discípulos Antonio Bei e João Baptista dos Reis Filho bem como com a atuante participação de Jayme Nasser, oferece ele roteiro de sua experiência no setor, alicerçada no labor diário por mais de 40 anos dedicados à especialidade, como aponta no prefácio Octávio Lemmi.

A matéria é distribuída em 7 capítulos, dois deles abrangendo 20 itens. São estes os de semiologia do LCR e de síndromes do LCR. Aliados a capítulo sobre conceito global de normalidade do LCR, esses itens permitem acompanhar a vivência dos autores quanto ao exame do material e quanto aos achados fundamentais nos mais importantes capítulos de patologia de sistema nervoso. Tal estrutura mantém o caráter didático do livro, fundamentalmente dedicado aos interessados em neurociências. Cada tema é abordado de modo claro e preciso e é devidamente complementado por bibliografia escolhida. Sobressai desta a vultosa contribuição de sua escola às considerações sobre cada assunto, valorizando ainda mais os numerosos estudos com que foi enriquecida a Neurologia brasileira pela escola de Paulino Watt Longe.

A. SPINA-FRANÇA

LONG-TERM EFFECTS OF NEUROLEPTICS. F. CATTABENI, G. RACAGNI, P. F. SPANO & E. COSTA, editores. Um volume (16 x 24) com 619 páginas, 186 figuras e 127 tabelas. Volume 24 da série Advances in Biochemical Psychopharmacology. Raven Press, New York, 1980.

Este livro contém os trabalhos apresentados em um Simpósio realizado em Monte Carlo, principado de Monaco, sob os auspícios da Organização Mundial de Saúde e do Instituto de Saúde Mental dos USA e organizado pela Fundação Internacional Menarini de Milão (Itália). O progresso da psicofarmacologia permitiu a síntese e aplicação clínica de numerosas drogas de eficácia comprovada no tratamento das doenças mentais. No entanto, em que pese o enorme interesse despertado neste campo, a pobreza de trabalhos publicados sobre o efeito das neurolépticos a longo prazo é notória. O presente volume veio sanar esta falha por isso que nele foram reunidos numerosos trabalhos de pesquisas básicas e/ou clínicas, associando num intercâmbio altamente proveitoso psiquiatras e cientistas pertencentes a centros especializados de neurofisiofarma-cologia e bioquímica e de laboratórios farmacêuticos da maioria dos países ocidentais desenvolvidos.

A importância dos assuntos tratados é realçada na Introdução escrita por Earl Usdin, em que este autor define o termo «neuroléptico» como relacionado não somente a ação antipsicótica, mas também a produção de efeitos extrapiramidais altamente indesejáveis. No livro é dada ênfase à discinesia tardia, considerada o efeito extrapiramidal mais complexo e importante e cuja fisiopatologia ainda não foi esclarecida. 0 consenso geral dos trabalhos publicados no presente volume é baseado no conceito da plasticidade sináptica que leva a mecanismos compensadores que são desencadeados pelo bloqueio dos receptores dopaminérgicos s bseqüentes ao uso prolongado dos neuro-lépticos. No vultoso material reunido são numerosas as pesquisas no âmbito da bioquímica, psicofarmacologia e neurofisiologia, o que torna difícil ao clínico puro analisar em detalhes específicos todos os trabalhos. O material é constituído de 81 trabalhos elaborados por 238 contribuidores e agrupados em 7 capítulos assim distribuídos: Ação dos neurolépticos crônicos nos mecanismos pré-sinápticos dopaminérgicos; Efeitos dos neurolépticos crônicos nos receptores dopaminérgicos; Ação dos neurolépticos crônicos nos receptores dopaminérgicos; Ação dos neurolépticos crônicos na iteração dos neurotransmissores. Eíeitos dos neurolépticos a longo prazo - estudos do comportamento e postmortem; Plasticidade do receptor - correlações bioquímicas e significância farmacológica; Efeitos neurendócrinos do tratamento a longo prazo com neurolépticos; Efeitos dos neurolépticos a longo prazo - estudos clínicos.

Os diferentes temas desenvolvidos nos 7 capítulos mostram um sensível avanço nos conhecimentos e compreensão dos efeitos dos neurolépticos no sistema nervoso central, com enfoque especial do sistema dopaminérgico e hipotálamo. De maior interesse para psiquiatras e neurologistas é o 7º capítulo, que condensa a maioria dos estudos clínicos relacionados aos principais efeitos colaterais dos neurolépticos a longo prazo. Muitos dos trabalhos deste capítulo tratam da discinesia tardia em seus aspectos farmacológicos, bioquímicos, fisiopatológicos e terapêuticos. Um dos temas se refere aos efeitos clínicos dos neurolépticos a curto prazo na coréia de Huntington, enquanto outro inclui os achados neurendocrinológicos e neurofarmacológicos no parkinsonismo farmacológico crônico e idiopático. Este capítulo abrange o maior número de trabalhos (cerca de 30% dos trabalhos que compõem o livro) e é o mais atraente para os clínicos pois nele figuram assuntos de interesse prático imediato.

JOSÉ LAMARTINE DE ASSIS

CEREBROSPINAL FLUID IN DISEASES OF THE NERVOUS SYSTEM. R. A. FISHMAN. Um volume (16,5x25) com 384 páginas, 35 tabelas e 37 figuras. W. Saunders Co., Philadelphia, 1980.

Robert A. Fishman é, atualmente, o professor de Neurologia da Universidade da Califórnia em São Francisco. Como pesquisador, tem-se distinguido desde a segunda metade do decênio de 1950 por seus estudos sobre relações líquido cefalorraqneano/p'asma de diversos metabólitos em condições normais e patológicas, bem como - mais recentemente - sobre edema cerebral. Sua autoridade no setor liquido cefalorraqueano (LCR) no que tange à Neurologia, já o levou a publicar capítulos especiais em diversas obras, como no tratado de Clínica Neurológica de A. B. Baker.

Agora, em obra detalhada, oferece revisão crítica dos conhecimentos atuais sobre LCR endereçadas a especialidades em neurociências. Após introdução histórica, analisa aspectos anatômicos do sistema LCR e a sua fisiologia. Seguem-se capítulos sobre: pressão intracraniana, sua fisiologia e fisiopatologia, aspectos clínicos; exame clínico (colheita) do LCR; composição do LCR; achados principais em doenças do sistema nervoso. Este é obviamente o capítulo mais extenso. Apoiando-se em ampla e atualizada revisão bibliográfica apresentada após os capítulos numerados, encerra compêndio com índice remissivo adequado. O conteúdo do capítulo sobre composição do LCR abrange matéria distribuída sob moldes clássicos, só que analisada criteriosamente. Quanto a proteínas, por exemplo, não se restringe apenas a aspectos gerais de domínio comum, mas analisa a dinâmica da sua concentração em condições normais e patológicas, aspectos do perfil proteico e da imunoeletroforese. Além disso, revê dados sobre as principais frações e, em detalhe, aqueles sobre as globulinas do grupo gama. Em seguida discute o problema das imuniglobulinas, em especial da IGG da proteína básica de mielina e do interferon. Excelente figura reune traçados eletroforéticos ilustrativos das bandas oligoclonais na esclerose múltipla e na panencefalite esclerosante sub-aguda, preparadas pelo Dr. Kenneth P. Johnson, também de São Francisco.

A. SPINA-FRANÇA

CEREBROSPINAL FLÜSSIGKEIT. D. DOMMASH & H. G. MERTENS, editores. Um volume (16x23,5) com 79 figuras e 36 tabelas. Georg Thieme Verlag. Stuttgart, 1980

Dedicado à memória do Prof. Dr. Georges Schaltenbrand (1897-3979) este compêndio editado por Dommash e Mertens conta com a colaboração de outros 79 especialistas em sua maioria das diversas escolas alemãs. Apesar da multiplicidade dos participantes, a matéria é distribuída observando estrutura que pode ter intersse didático e, ao mesmo tempo, atender às demandas de quem procura informações mais detalhadas. Assim, o capítulo inicial reúne em visão conjunta os dados essenciais quanto à colheita, pressão e composição do líquido cefalorraqueano (LCR). Seguem-se capítulos de análise crítica dos conhecimentos sobre: citologia; estrutura do sistema continente do LCR; composição bioquímica visando ao diagnóstico; aspectos do diagnóstico virológico e bacteriológico, aqui incluídos outros micro-organismos; barreira hêmato - LCR e sua farmacologia; dinâmica do LCR e suas alternações, inclusive devidas a hemorragia. Ao final de cada capítulo é apresentada revisão bibliográfica e, encerrando o livro índice remissivo. Mario Brock encarregou-se do preparo da parte inicial do último capítulo enlistado. Trata-se da fisiologia e fisiopatologia da dinâmica do LCR. Inicia o estudo com revisão sobre o conceito da terceira circulação, adindo aos dados clássicos aqueles de estudos atuais sobre secreção e drenagem, bem como sobre novos métodos de estudo, como o de perfusão. Entre os aspectos patológicos abordados, dá ele ênfase ao hidrocéfalo por hipersecreção e à fisiopatologia da reabsorção. Sendo pouco difundido o idioma alemão em nosso meio, seria recomendável intentar traduzir o compêndio para o português, dada a atualidade e precisão observada na maioria dos capítulos e, ainda, por vir facilitar a abordagem da literatura especializada alemã, que constitui contingente notável da bibliografia citada nos diversos capítulos.

A. SPINA-FRANÇA

NEUROLOGIC EMERGENCIES: RECOGNITION AND MANAGEMENT. MICHAEL SLACMAN, editor. Um volume (16 x 24) encadernado com 266 páginas, 39 figuras e 35 tabelas. Raven Press, New York, 1980. Preço: US$ 28,00.

As urgências médicas e, em especial as urgências neurológicas, constituem entidades clínicas ou cirúrgicas que requerem pronto e correto atendimento, determinante na maioria das vezes de seu prognóstico e do surgimento ou não de sequelas. Muitos médicos frente a tais quadros adotam uma atitude passiva, em parte devido à idéia generalizada da inutilidade de atitudes terapêuticas em patologias severas do Sistema Nervoso e em parte devido ao desconhecimento de como agir, pois poucos são os Hospitais que contam com neurologistas e/ou neurocirúrgiões em suas equipase de Pronto Socorro.

A presente obra é dirigida especificamente a todos os médicos que habitualmente prestam os primeiros socorros em casos de urgências, orientando-os como proceder frente a determinadas patologias neurológicas, clínicas ou cirúrgicas; entretanto, também é de grande interesse para neurologistas pois em seus diversos capítulos são enfocadas as entidades que mais frequentemente ocasionam quadros de emergência e cujo manuseio muitas vezes é controvertido. Os três primeiros capítulos abordam a fisiopatologia dos distúrbios circulatórios cerebrais em urgências neurológicas, o paciente inconsciente e os cuidados cardiorespiratórios em emergências neurológicas, correspondendo a temas gerais e que devem ser levados em consideração na maioria das emergências de âmbito neurológico. Nos capítulos seguintes são abordadas algumas das entidades neurológicas que mais frequentemente acarretam situações de emergência, sendo feita uma abordagem entica dos primeiros cuidados que devem ser prestados a pacientes portadores de patologias vasculares, traumáticas - encefálicas, medulares e de nervos periféricos - convulsivas e com comprometimento de musculatura respiratória. Os dois últimos capítulos são dedicados às urgências neurológicas clínicas e cirúrgicas na infância.

Todos os temas são apresentados de maneira clara e objetiva, de acordo com a finalidade da obra que é a de orientar de modo prático e preciso os cuidados iniciais que devem ser prestados aos pacientes portadores de urgências neurológicas.

JOSÉ PAULO SMITH NÓBREGA

CRITICAL CARE OF NEUROLOGICAL AND NEUROSURGICAL EMERGENCIES. RICHARD A. THOMPSON & JOHN A. GREEN, editores. Um volume (16x24) encadernado, com 252 páginas, 50 figuras e 20 tabelas. Raven Press, New York, 1980. Preço: USO 29,00.

As urgências neurológicas, clínicas ou cirúrgicas, requerem pronto e correto atendimento, determinante não só da sobrevida do paciente como também do surgimento e intensidade de manifestações de eventuais seqüelas. Em geral os primeiros cuidados são ministrados por médicos socorristas, muitas vezes não afeitos às urgências neurológicas, a eles cabendo a orientação inicial de fundamental importância para o prognóstico dos pacientes. Estes, somente após algum tempo serão vistos por neurologistas ou neurocirurgiões pois poucos são os Hospitais que mantêm tais especialistas em suas equipes de Pronto Socorro.

Nesta obra, voltada especificamente a todos aqueles que se dedicam aos atendimentos de urgência, mas também de grande valor para todos os que se interessam pela Neurologia, são abordados vários temas, por diferentes autores, trazendo a experiência de seus respectivos serviços e apresentados no Sexto Simpósio Anual do Instituto de Neurologia Barrow do Hospital St. Joseph (Arizona, EUA).

No primeiro capítulo é feita uma avaliação crítica das vantagens e desvantagens de uma Unidade de Terapia Intensiva voltada exclusivamente às urgências neurológicas; Nos capítulos seguintes são abordadas as entidades neurológicas que mais frequentemente acarretam situações de emergência, sendo feita uma abordagem crítica dos primeiros cuidados que devem ser prestados a pacientes portadores de patologias vasculares, tumorais, infecciosas, convulsivas e traumáticas. Um capítulo é dedicado especialmente às emergências metabólicas na infância e que podem acarretar dano neurológico; outro aos problemas cardiorespiratórios em pacientes com urgências neurológicas e neurocirúrgicas e, finalmente, o último capítulo é dedicado às síndromes psiquiátricas que podem simular doença neurológica aguda.

Todos os temas são expostos de maneira clara e precisa, os diversos autores sendo incisivos em termos de condutas a serem tomadas; dois deles, sobre estado de mal epiléptico e infecções bacterianas do Sistema Nervoso Central, devem ser ressaltados tendo em vista excelente revisão que é feita sobre estes dois assuntos. Trata-se, pois, de uma obra de grande interesse para todos aqueles que se interessam pelas ciências neurológicas.

JOSÉ PAULO SMITH NÓBREGA

ATLAS DER LIQUORZYTOLOGIE. R. M. SCHMIDT. Um volume (19x28 cm) com 198 páginas, 5 tabelas e 616 figuras em cores. Johann Ambrosius Barth. Leipzig, 1978.

Rudolf Manfred Schmidt Professor de Neurologia da Universidade Martinho Lutero em Halle (Wittenberg) que já enriquecera a literatura especializada, em 1968, com seu tratado sobre líquido cefalorraqueano (Der Liquor Cerebospinalis, VEB Verlag, Berlin, 1968) apresenta agora um dos mais preciosos atlas de citomorfologia do líquido cefalorraqueano (LCR) publicados até hoje. Por ser baseado em ilustrações a cores caprichosamente escolhidas, o atlas é extremamente objetivo. Textos curtos, em que o autor descreve o tipo de células, são seguidos de numerosas figuras que, com detalhe, permitem ao leitor apreender as idéias do autor. O material é dividido em 5 capítulos: citomorfologia normal; citomorfologia patológica; células em degeneração; citoquímica: populações celulares em afecções do sistema nervoso. Seguem-se revisão da literatura e índice remissivo.

Dentre as células tumorais, primitivas ou metastáticas, merecem destaque as apresentações sobre células de glioblastoma multiforme espongioblastoma, meduloblastoma, ependimoma, adenomas, carcinomas, melanomas e meningopatias leucêmicas. Trata-se de um atlas altamente recomendável aos que se dedicam a estudos sobre o LCR, em especial sobre sua citomorfologia, por fornecer orientação segura no interpretar devidamente imagens observadas quotidianamente.

Marece ser salientada, finalmente, a qualidade do trabalho da editora; dificilmente encontra-se, hoje em dia, impressão tão refinada de clicheria a cores como a que é apresentada.

A. SPINA-FRANÇA

THE CONCEPT OF A BLOOD-BRAIN BARRIER. M. BRADBURY. Urn volume (15,5x23,5 cm) com 465 páginas, 72 tabelas e 168 fig ras. John Willey & Sons, Chichester, 1979.

Sob forma de 13 dissertações baseadas em dados da literatura e em dados do próprio autor, são revistos os conceitos sobre mecanismos de barreira hêmato-encefálica e, portanto, barreira hêmato-líquido cefalorraqueano (LCR). Compreendem esses capítulos os seguintes temas: introdução ao conceito de sistema sangue-encéfalo-LCR; conceito de barreira vascular; ultraestrutura da barreira hêmato-encefálica; diferenças regionais no sistema nervoso de trocas entre sangue e líquido intersticial; transporte específico de subtratos metabólicos através das barreiras; transporte dependente de energia nas barreiras; transporte e homeostase iônica em líquidos encefálicos; controle hidroge-niônico e potencial sangue-LCR; barreira hêmato-encefálica desenvolvimento onto e filogenético; barreira, neurotransmissores e metabolitos; quebra da barreira hêmato-encefálica; função da barreira hêmato-encefálica. Segue-se lista das referências bibliográficas e índice remissivo

Como discípulo de Hugh Davson, enfoca Michael Bradbury o problema barreira de um ponto de vista fisiológico e, em senso amplo, desenvolve suas idéias, interpretações e conceitos através dos 13 capítulos enlistados. Seus pontos de vista são devidamente documentados, de tal forma que uma das dissertações depende do conhecimento do conteúdo das anteriores. É em função desse aspecto que o compêndio vem a ser um livro que permite ao leitor uma visão atualizada sobre a dinâmica das relações entre sangue, parênquina nervoso e LCR. A análise das condições que, presidem à homeostase dos sistemas aquosos do sistema nervoso central em função das barreiras representa um dos aspectos de maior destaque para a neurologia básica.

A. SPINA-FRANÇA

A PSYCHIATRIC GLOSSARY. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, editora, 5ª edição. Um volume com 142 páginas. Washington, D. C, 1980. Preço: US$ 9,95.

Este pequeno dicionário de termos psiquiátricos, destinou-se, na sua primeira edição, para leigos e médicos não psiquiatras, mas obteve muito sucesso entre psiquiatras e neurologistas. Agora, na sua quinta edição ele proporciona um vocabulário básico para qualquer pessoa que esteja estudando a liteuratura psiquiátrica. As definições são claras e curtas. Este dicionário tem uma tendência a dar enfase aos termos freudianos, mas nele todas as escolas de psiquiatria estão representadas. Termos bioquímicos recebem uma ampla cobertura A leitura deste livro fornece um sumário breve para a Psiquiatria atual.

A. H. CHAPMAN

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Ago 2012
  • Data do Fascículo
    Mar 1981
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