In Memoriam José Zaclis 1917-1983
Nélio Garcia de Barros
Faleceu em São Paulo, a 20 de outubro de 1983, aos 66 anos o Prof. Dr. José Zaclis. Afetuoso e franco, soube cultivar amigos entre colegas e subordinados que lamentam agora o seu desaparecimento. Nos trinta e oito anos em que trabalhou na Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) - de recém formado a Chefe de Serviço - nunca deixou de colaborar, seja nos eventos científicos, seja nos acontecimentos sociais da Clínica. Nascido em Telenesti, então Rumênia, em 1917, chegou ao Brasil com 9 anos de idade, tendo feito aqui o curso secundário. Formou-se em 1944 na FMUSP. No ano seguinte, 1945, casou-se com Léa Guzik, incentivadora e companheira inseparável em todos os momentos. Tiveram um filho, Rubem Zaclis, também médico.
Como profisssional viria a ser pioneiro em muitos aspectos: em 1945, logo após a sua formatura, ingressou como voluntário na clínica Neurológica da FMUSP, sendo primeiro assistente do Dr. Rolando Angelo Tenuto. Em 1947 foi contratado como assistente do Dr. Rolando Angelo Tenuto. Em 1947 foi contratado como neurorradiologista do Hospital das Clínicas da FMUSP - o primeiro também a exercer tal função em nosso meio. A princípio neurocirurgião, viria com o tempo a dedicar-se exclusivamente à neurorradiologia, dada a crescente demanda nesta área. Organizou então o serviço de Neurorradiologia na Clínica e foi seu primeiro chefe. Em 1974, criou o curso de Pós-Graduação em Neurorradiologia e, em 1976, participou da instalação, no Hospital S. Joaquim da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência, do primeiro serviço de Tomografia Computadorizada do País. Preocupado com os riscos inerentes aos exames neurorradiológicos - tendo mesmo dedicado parte de suas pesquisas a estudá-los - foi com particular satisfação que saudou o advento da tomografia computadorizada. Orgulhava-se justamente de, também neste campo, ter sido pioneiro.
Teve produção científica constante e participação interessada e contínua em organizações médicas e congressos. Recebeu o prêmio Austregésilo da Academia Nacional de Medicina de 1951 e, por três vezes, o Prêmio Enjolras Vampré da Associação Paulista de Medicina (1955, 1957 e 1965). Em 1951 defendeu Tese de Doutoramento intitulada: "As Neurectomias Periféricas no Tratamento das Nevralgias do Trigêmio"; em 1958 conquistou o grau de Docente Livre de Clínica Neurológica. Nesta ocasião sua tese sobre "Pan-Angiografia Cerebral por Hiperpressão Pulmonar", com visibilização radiográfica de todo o sistema vascular encefálico mediante injeção de contraste em uma única artéria, teve grande repercussão. Publicou inúmeros trabalhos em revistas nacionais e estrangeiras.
Por duas vezes chefiou o Serviço de Neurocirurgia da FMUSP: em 1951, por viagem de estudos de seu titular e, em 1970, por doença e morte do mesmo titular, Prof. Rolando A. Tenuto. Foi Presidente do Departamento de Neurologia da Associação Paulista de Medicina em 1968; Secretário da Sociedade de Neurocirurgia no biênio 64-66; membro fundador e principal aglutinador da Sociedade Brasileira de Tomografia Computadorizada, sendo seu primeiro Presidente em 1979, tendo organizado e presidido o Primeiro Congresso Brasileiro de Tomografia Computadorizada. No último ano e mesmo adoentado, continuou oferecendo a sua colaboração para novos empreendimentos médicos. Entre eles, é de destacar que, sob a presidência do Prof. Álvaro Magalhães, fez parte da Comissão para Estudo da Instalação de um Serviço de Tomografia Computadorizada no Hospital das Clínicas da FMUSP. Não pode infelizmente, ver completado este Serviço.
Nós, colegas e colaboradores que privamos com ele durante tantos anos, lamentamos sua ausência mas agradecemos o que dele recebemos.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
14 Ago 2012 -
Data do Fascículo
Mar 1984
