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Análises de livros

ANÁLISES DE LIVROS

BORDERLAND BETWEEN NEUROLOGY AND PSYCHIATRY. JOSEPH B. GREEN, editor. Um volume (15x23) com 175 páginas. W. B. Saunders Company, Philadelphia, 1984.

Após divórcio de aproximadamente 50 anos entre a Neurologia e a Psiquiatria, está ocorrendo, reaproximação entre ambas, em Virtude de denominadores em comum evidenciados por investigações no campo das ciências básicas. Assim, ao lado do interesse que foi .inaugurado pelas modificações do comportamento em afecções somáticas do sistema nervoso, investigações farmacológicas, imunológicas, neuroquímicas e genéticas assumiram importância em entidades classicamente consideradas como puramente psiquiátricas. Neste livro, o termo «borderland» é empregado para designar áreas de imbricamento entre a Neurologia e a Psiquiatria. Segundo Green, constitui tentativa de previsão de uma próxima fusão dessas duas especialidades, baseada em aspectos comuns entre as afeções neurológicas e as alterações comportamentais. O livro é composto por 10 capítulos e um artigo especial, escrito por C. A. Shamoian, sobre a psicogeriatria. No primeiro capítulo «Súbitas alterações comportamentais. Guia para uma avaliação inicial», D. B. Smith e Bruce Craft assinalam que alterações bruscas de comportamento se associam a estados confusionais. Essas síndromes abrangem amplo espectro de etiologias, incluindo . causas metabólicas, tóxicas, infecciosas e vasculares, entre outras. O capítulo «Diagnóstico diferencial entre demências e depressões no idoso» (D. K. Winstead e D. H. Mielke) é de particular interesse prático, pois permite o reconhecimento de uma das causas das assim chamadas pseudodemências, separando-a da doença de Alzheimer. F. L. Loverso sé incumbiu da revisão dos «Distúrbios da Fala e da Linguagem», estudando as diversas formas de disartrias e de disfasias. São também considerados os padrões de linguagem de pacientes com demência, linguagem na confusão, e a da esquizofrenia e que constituem apenas um déficit secundário. O capítulo das «Desordens do sono» é escrito por: G. Ferriss. Os registros polissonográficos permitem avaliação e diferenciação entre as diversas formas de alterações, principalmente as insonias, a sonolência, os sintomas que ocorrem durante o sono ou na relação da sequência sono-vigília. Charles N. Still esmiuça as principais «Desordens involuntárias dos movimentos». Excluindo os tratamentos neurocirúrgicos, o autor focaliza as bases do tratamento clínico do parkinsonismo, dos tremores, das coréias, distonias, tiques e discinesias tardias. G. S. Golder estuda «Os aspectos psicológicos e neurológicos da índrome de Tourette». Conidera-se hoje como oriunda de hipersensibilidade dos receptores dopaminérgicos. Os sintomas motores estariam na dependência do comprometimento do sistema nigroestriatal, enquanto que o sistema mesolímbico, também dopaminérgico, mediaria as anormalidades comportamentais. A terapêutica se baseia no emprego do haloperidol, potente bloqueador dopaminérgico. Joseph B. Green e Rita A. Mercille revêm as «Complicações psiquiátricas da epilepsia» e a conduta clínica aconselhada nesses casos. «A síndrome do descontrole episódico e agressão», é capítulo sob a responsabilidade de F. A. Ellioti. Não seria uma doença em si mas sintoma comum a várias alterações psicológicas e físicas. No capítulo sobre «A conduta em crianças com aparentes problemas de aprendizagem» J. R., Schinschok e M. Milford-Cooley salientam a necessidade de colaboração multidisciplinar para se enfrentar o problema, oriundo das mais diversas causas neurológicas e/ou psicológicas. O «Autismo infantil» é definido por W. De Mayer e a época de sua incidência, decurso clínico, diagnóstico diferencial, conduta e tratamento são a seguir estudados.

Pela simples enumeração dos capítulos conclui-se pela recomendação da leitura deste atualizado e útil volume.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

GAIT DISORDERS IN CHILDHOOD AND ADOLESCENCE. D. H. SUTHERLAND. Um volume (16,5x23,5) encadernado, com 201 páginas e 55 figuras. Williams & Wilkins, Baltimore, 1984.

A semiologia da marcha é ponto fundamental da observação neuropediátrica, ao qual este volume vem acrescentar nova dimensão. Sutherland considera que a verificação dos distúrbios da marcha pode ser feita em dois níveis e analisa ambos nesta obra. O primeiro, e pela detecção visual, uma habilidade geralmente adquirida durante o treino dos especialistas que lidam com a criança. O segundo, é a análise da deambulação mediante a medida dos movimentos, da utilização da eletromiografia durante estes movimentos e da verificação da força aplicada ao solo. Os dois métodos combinados auxiliam o clínico, evidenciando alterações em doenças progressivas, modificações geradas por tratamento, ou servindo de alicerce ao planejamento terapêutico. Este tomo é fruto dá pesquisa clínica intensa do Laboratório de Análise dos Movimentos do Children's Hospital, San Diego, Califórnia. A marcha foi estudada em crianças normais, de 1 a 7 anos de idade, e comparada metodicamente a diversos quadros neurológicos e ortopédicos. Casos típicos de cada patologia são mostrados em figuras claras e objetivas, com vista frontal e lateral da criança, evidenciando as modificações dinâmicas da locomoção. Essas ilustrações, retiradas de filmes, facilitam a compreensão das diversas fases normais e anormais da marcha. De cada caso apresentam-se também gráficos dos índices de rotações articulares, medidas lineares, eletromiografia dinâmica e medidas de reação do solo.

Merecem atenção especial os capítulos dedicados a doenças progressivas e não progressivas espinais e dos nervos periféricos, alterações do controle motor (com atenção especial para a paralisia cerebral) e miopatias. As seções que, descrevem patologias de âmbito ortopédico contribuem para o diagnóstico diferencial tornando este um livro de referência semiológica útil a residentes e neuropediatras.

RUBENS REIMÃO

EVALUATION AND TREATMENT OF INSOMNIA. A. KALES & J. D. KALES, Urn volume (14,5x17) encadernado, com 324 páginas, 9 figuras e 33 tabelas. Oxford University Press, New York, 1984.

Os autores são reconhecidos como autoridades neste campo, tanto pelas suas (publicações como por liderarem o centro de distúrbios do sono da Universidade da Pennsylvania. A insônia é descrita aqui como sintoma de múltiplas patologias, para a caracterização das quais torna-se fundamental o auxílio do neurologista, a consulta psiquiátrica e muitas vezes a avaliação poligráfica de noite inteira. Dados populacionais são apresentados, evidenciando que 32% dos adultos na população geral queixam-se de insônia. Estas noites mal dormidas se acompanham de desempenho deficiente durante o dia, no trabalho e no lar, com consequentes repercussões psicossociais. Relatam-se também os esforços didáticos que são aplicados atualmente nas escolas médicas e nos cursos de divulgação cientifica dos Estados Unidos visando conscientizar a classe médica das modernas formas de avaliação e tratamento das alterações do sono.

A poligrafia de noite inteira é descrita como método complementar necessário nas insônias crônicas e útil na diferenciação etiológica. A seção dedicada ao tratamento é ampla e abrange tanto normas de higiene do sono, como psicoterapias comportamentais e o uso de drogas. Os hipnóticos, principalmente benzodiazepines, são focalizados, enfatizando sua aplicação restrita e a necessidade de muitas vezes serem utilizados como adjuntos da psicoterapia. O emprego de drogas antidepressivas, como indutores de sono, é mencionado, principalmente no que tange aos tricíclicos e inibidores da manoaminoxidase, mas citando também o valor dos antidepressivos de segunda geração, os tetracíclicos e os bicíclicos. A cada capítulo segue-se extensa bibliografia para complementar tais conhecimentos básicos.

O texto tem alguns pontos fracos, como ao ignorar a classificação dos distúrbios do sono da Association of Sleep Disorders Centers, a qual é mundialmente aceita e utilizada, e não fornecer em substituição outra classificação didática. Falha também ao apresentar reiteradamente experiências ou opiniões próprias em áreas controvertidas como se fossem fatos aceitos e comprovados. Apesar destes aspectos criticáveis, trata-se de um tomo de interesse e que merece ser lido pelos neurologistas, psiquiatras e psicólogos que se dedicam ao estudo dos distúrbios do sono.

RUBENS REIMÃO

EPILEPSY-100 ELEMENTARY PRINCIPLES. ROGER J. PORTER. Volume 12 da série Major Problems in Neurology. Um volume (15,5x23) com 162 páginas. W. B. Saunders Company, Philadelphia, 1984.

Esta monografia se apresenta com características que não permitem considerá-la como um livro de texto sobre a epilepsia, pois consta de coletânea de comentários sobre 100 itens, cuja importância é fundamental para o diagnóstico e para o tratamento da afecção. Envolve respostas a muitas dúvidas e questões controvertidas. Só poderia advir de um especialista com larga experiência sobre o assunto, estribado em extensa bibliografia. É o caso de Roger Porter, do National Institute of Health, dos Estados Unidos. Apesar dos itens obedecerem a ordenação sistemática, todas as questões são comentadas separadamente, de forma a permitir a leitura escolhida de um ou outro tópico, sem prejuízo da compreensão que independe do acompanhamento sequencial de todo o texto. Os diversos itens são agrupados em capítulos: Abordagem do paciente (5 itens), Diagnóstico: causas da epilepsia (4 itens), Diagnóstico: crises e epilepsias (15 itens), Diagnóstico: crises parciais (3 itens), Diagnóstico: crises generalizadas (11 itens), Diagnóstico: status epilepticus (1 item), Diagnóstico: crises não epilépticas e crises febris (7 itens), terapêutica: considerações gerais (3 itens), Terapêutica: farmacologia e farmacocinética (7 itens), Terapêutica: crises parciais (3 itens), Terapêutica: crises generalizadas (2 itens), Terapêutica: status epilepticus (1 item), Terapêutica: papel de drogas anti-epilépticas (8 itens), Terapêutica: papel da cirurgia (1 item), Terapêutica: gravidez e epilepsia (1 item), Aspecto psicossociais da epilepsia (3 itens), Futuro: considerações sobre as investigações (2 itens). Neste último capítulo o autor salienta a necessidade de maiores conhecimentos sobre mecanismos básicos das epilepsias e de drogas anti-epilépticas, assim como a necessidade de melhores agentes anti-epilépticos. Ao finalizar, Porter chama a atenção para aporte de novas técnicas diagnósticas: tomografia computadorizada, tomografia por emissão de positron, a ressonância nuclear magnética e o magnetencefalograma. Esses métodos já trouxeram ou virão a trazer novos subsídios para conhecimento mais íntimo da epilepsia.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Ago 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 1985
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