Acessibilidade / Reportar erro

Análises de livros

ANÁLISES DE LIVROS

SIGNS AND SYMPTOMS IN NEUROLOGY. PHILLIP D. SWANSON, editor. Um volume encadernado (17,5 x 23,5) com 401 páginas. J. B. Lippincot, New York, 1984.

Ao contrário dos livros de texto habituais em que as enfermidades são agrupadas em capítulos, de acordo com sua patogênese, neste livro procurou-se tomar como ponto de partida os sintomas e sinais. Está claro que assim facilitaria muito ao estudante ou ao médico geral chegar ao diagnóstico diferencial, baseando-se nas queixas clínicas dos pacientes, as quais são esmiuçadas e estudadas, em sua gênese, chegando-se às enfermidades que as determinam. Neste volume, Swanson reuniu 9 membros da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington (Seattle) que se incumbiram dos 9 capítulos que o compõem. Swanson e Ruff esmiuçam possíveis entidades que, entre outros aspectos, condicionam alterações das atividades cognitivas. Estudam então as alterações relacionadas à linguagem, memória, percepção e outras atividades intelectuais que surgem, mesmo na ausência de déficit motores e sensitivos. As diversas formas de afasias são então consideradas, no que concerne à localização da lesão e ao exame da linguagem. As alterações da percepção e as síndromes de desconexão são a seguir consideradas. As várias formas de alterações da memória e de demência foram revistas e suas respectivas causas são revisadas, enfatizando-se o diagnóstico diferencial. No segundo capítulo, "Desordens Paraxísticas e Distúrbios da Consciência", Wayne, Grill e Swanson se incumbem da queixa frequente de alterações transitórias da consciência, desde os "apagamentos" até as simples "tonturas" e, em caráter eventualmente mais grave, estados que vão da confusão ao coma. Obviamente as causas dessas desordens abrangem não apenas afecções primárias do sistema nervoso mas também doenças sistêmicas que modificam as bases bioquímicas e fisiológicas da função cerebral. Assim, são descritas, sucessivamente, as crises convulsivas, os ataques isquêmicos transitórios, os sinais e sintomas dos comas causados por moléstias estruturais ou metabólicas do encéfalo e, finalmente, são consideradas as alterações do sono. As alterações do sistema visual são estudadas por Mills, que considera os sinais e sintomas ligados ao sistema aferente e ao sistema eferente. Esmiuça as alterações relacionadas primariamente com a percepção visual e as alterações da motricidade ocular. Os distúrbios auditivos e vestibulares são estudados por Ruff. Suani, Ruff e Swanson estudam as diferentes modalidades, originadas por variadas causas, dos distúrbios motores. As desordens da sensação, talvez a mais frequente queixa em neurologia, após uma descrição geral sobre a dor (Loeser), suas manifestações mais comuns são revistas: cefaléias (Farrell), nevralgias cranianas e outras dores na face (Farrell), lombalgias (Loeser), radiculopatias, plexopatias e mononeurites (Spence), causas centrais de dores e parestesiais (Spence). Bird revê as disfunções do sistema nervoso autônomo, desde aquelas mais comuns, como as que ocorrem na doença de Parkinson e no diabete melito até disfunções raras, como a síndrome de Shy-Drager ou as que acompanham, por vezes, a síndrome de Guillan-Barré. Infecções do Sistema Nervoso são objeto de revisão de Sumi, o qual, através de seus sinais e sintomas, chega à investigação das respectivas causas. Genética e Neurologia, é objeto do último capítulo, de Thomas e Donald Farrell. Inicialmente são estudados os cuidados para a obtenção de uma história familiar útil e logo após são lembrados os tipos de herança e os principais tipos de patologias correspondentes a essas diversas formas de transmissão genética. A bibliografia que encerra cada capítulo é intencionalmente pobre visando apenas à menção de algumas referências.

Apesar da intenção original de se tomar como ponto de partida os sinais e sintomas, permanece a impressão geral de que o livro claudica, por vezes, nessa finalidade e termina mesmo por agrupar patologias, diferenciando-se realmente pouco dos livros de textos habituais.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

TERAPIA OCUPACIONAL NO TRATAMENTO DA HEMIPLEGIA DO ADULTO. ORTRUD EGGERS. Um volume em brochura com 217 páginas e 80 figuras. Colina Editora, Rio de Janeiro, 1984.

O livro, bem traduzido por J. Israel Lemos do original alemão, que leva o título de 'Ergotherapie bei Hemiplegie' (Springer Verlag, Heidelberg), consegue transmitir a vasta experiência da autora no tratamento de hemiplégicos mediante terapia ocupa-cional e de acordo com os princípios do método de Bobath. Está dividido em 9 capítulos, com índices geral e remissivo.

O leitor a partir das primeiras páginas é introduzido nos princípios de motivar o paciente hemiplégico a não abandonar e a desenvolver o potencial do hemicorpo deficitário, frequentemente não aproveitado pelo excessivo emprego do lado sadio. A autora através dos capítulos desfia uma série de técnicas para: manter a atenção do paciente sobre seu lado hemiplégico; aprender a usar os membros deficitários; inibir a espasticidade que frequentemente é a grande responsável pelo déficit motor; aproveitar os automatismos de maneira útil; servir-se, desenvolver e aproveitar as funções sensoriais, sensitivas e motoras remanescentes, em harmonia com o lado sadio. Para conseguir bons resultados, a autora descreve uma série de técnicas e manobras práticas para avaliar a intensidade dos deficits do candidato a reabilitação ocupacional. São excelentes essas páginas dedicadas a semiologia, que sem dúvida o neurologista lerá com agrado. Em relação à terapia ocupacional a autora transmite de maneira didática, clara e minuciosa as técnicas e instrumentos que devem ser empregados e utilizados, descendo a detalhes práticos, como a descrição das salas, mobília e material de reabilitação necessários para manter um serviço de terapia ocupacional.

A autora consegue transmitir ao leitor o fato bem conhecido, mas frequentemente esquecido, da unidade e complexidade de cada pessoa humana, especialmente se está doente, e que no caso do hemiplégico pode ficar fisiopatologicamente e psicologicamente fragmentada em consequência do "abandono" do lado hemiplégico por parte dele mesmo e dos profissionais que cuidam dele. Esta obra deve ser leitura obrigatória para todos os profissionais que trabalham no campo da reabilitação e deve ser recomendada a todos os que trabalham no campo da Neurologia.

J. L. ALONSO NIETO

NEUROLOGIC EMERGENCIES IN INFANCY AND CHILDHOOD. J. M. PELLOCK & E. C. MYER, editores. Um volume encadernado (19 x 26) com 418 páginas, 122 figuras e 40 tabelas. Harper & Row, Philadelphia, 1984.

Dentre os lançamentos recentes em neurologia infantil, este se distingue e certamente terá lugar assegurado no uso diário dos neuropediatras, residentes de neurologia, em unidades de terapia intensiva e pronto socorro infantis. A sua relevância se deve à falta de outras obras que abranjam as emergências em neurologia infantil e ao cuidado e objetividade desta publicação. Não se trata de um manual apenas com condutas rápidas e simplistas mas, além de trazer as regras fundamentais de manuseio do paciente, apresenta também as bases fisiopatológicas essenciais para o julgamento racional. Cada assunto é complementado com referências bibliográficas para aquelas que desejam mais informações.

Capítulos inteiros foram dedicados a assuntos atuais como a síndrome de morte súbita infantil, as apnéias do sono em lactentes, a avaliação da pressão intracraniana na infância e a síndrome de Reye. Outros temas mais usuais são também apresentados como convulsões, hemorragia intracraniana e hipóxia neonatais, trauma, coma, intoxicações, status epilepticus, acidentes vasculares, ataxia aguda, neurooftalmologia e emergências neurológicas nas doenças endócrinas. Merece também atenção a inclusão de secções sobre a indicação da neuroradiologia, eletrencefalografia e eletromiografia. Em neuroradiologia são discutidos os achados de radiografia simples, angiografia, tomografia computadorizada e ultrasonografia. Tabelas e figuras são expostas de forma didática e foram acrescentados esquemas algoritmos de conduta terapêutica facilitando a orientação prática ao clínico que se defronta com uma emergência, seja em seu consultório ou no hospital.

RUBENS REIMÃO

THE NEURON AND THE GLIAL CELL. SANTIAGO RAMÓN Y CAJAL. Traduzido e editado por J. DE LA TORRE & W. C. GIBSON. Um volume encadernado (15,5 x 23,5) com 244 páginas, 102 figuras e 1 tabela. Charles C. Thomas, Springfield, Illinois, 1984.

Os aficcionados da história das neurociências irão aplaudir esta edição em língua inglesa do trabalho Histologie du système nerveux de l´'homme et des vertebrés de Ramón y Cajal que foi originalmente publicado em Paris em 1909. A edição francesa, impressa três anos após o Mestre ter recebido Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina foi um aperfeiçoamento de sua obra fundamental Textura del sistema nervioso del hombre y de los vertebrados.

Os conceitos gerais do sistema nervoso e a descrição filogenética iniciam o tomo e são seguidos dos métodos de pesquisa microscópica e anatômica. A histologia do neurônio, as vias neurais, a neuróglia e os nervos periféricos são pormenorizados nos demais capítulos. A genialidade do autor pode ser apreciada a cada tópico quando vai além da descrição pura, discutindo as hipóteses funcionais das estruturas ou mesmo de seu papel como integrante de um sistema coordenado e coerente. Questões teleológicas também são comentadas sob o ponto de vista evolutivo, com marcante tendência a atribuir funções pragmáticas aos componentes biológicos. Fica ainda mais evidente a grandeza do texto quando considerados os parcos conhecimentos da evolução e da fisiologia do sistema nervoso no início do século.

Desenhos de histologia, ricos em detalhes e clareza marcaram de forma inconfundível as obras deste autor. Os aqui reproduzidos são característicos e, junto com longa lista bibliográfica de 1807 a 1907, aumentam o valor histórico e científico do tomo.

RUBENS REIMÃO

EARLY BRAIN DAMAGE, C. R. ALMLI & S. FINGER, editores. Dois volumes encadernados (16x23,5). Volume 1, subtítulo Research Orientations and Clinical Observations, com 368 páginas, 31 figuras e 17 tabelas. Volume 2, subtítulo Neurobiology and Behavior, com 387 páginas, 37 figuras e 14 tabelas. Academic Press, New York, 1984.

O objetivo destes dois volumes é englobar trabalhos isolados que apresentam o estado atual das múltiplas facetas da pesquisa dos processos de lesão e recuperação no sistema nervoso imaturo. Tal meta ambiciosa e louvável uniu 76 autores de 6 países.

Estudos clínicos no homem, são vistos no primeiro volume. Partindo das diversas estratégias e teorias de pesquisa, passa-se aos experimentos com modelos animais para condições patológicas humanas, descrevem-se os efeitos a curto e longo prazos das lesões cerebrais na criança e as repercussões sobre as funções nervosas superiores incluindo os processos de lateralização. Salientam-se os captíulos sobre distúrbios da atenção, hiperatividade, linguagem e funções visuais. No segundo tomo, são enfeixados estudos experimentais em animais, focalizando a anatomia, fisiologia e consequências comportamentais das lesões cerebrais precoces. Procura-se também fornecer uma visão multifatorial da fisiopatologia e, se há algumas décadas considerava-se a idade de ocorrência da lesão como o fator determinante da plasticidade cerebral (princípio de Kennard) acredita-se atualmente que a localização da lesão, espécie estudada, sexo. predisposição genética e os estímulos do meio também interferem na regeneração tecidual. Outro fator de monta em lesões pós-natais do sistema nervoso imaturo é a experiência, tanto pré como pós-lesional, fornecida pelo meio. Esta influência ambiental é descrita como moduladora da recuperação funcional e parece ser mais atuante quanto mais imaturo o órgão estudado.

A heterogeneidade dos temas experimentais e sua complexidade tornam esta obra recomendável como fonte de referência e principalmente como complementação a neuro-pediatras, psicólogos, psiquiatras e a todos que em ciências básicas estudam o desenvolvimento do sistema nervoso.

RUBENS REIMÃO

MOVEMENT DISORDERS (Volume 2, número 3 de Neurologic Clinics). JOSEPH JANKOVIC, editor. Urn volume (15 x 23) com 219 páginas. W. B. Saunders Co.. Philadelphia, 1984.

Por muito tempo, as desordens do movimento foram consideradas mero exercício de diagnóstico e desprovidas de processos eficientes de terapêutica, Ulteriormente esse conceito sofreu modificações essenciais, através do conhecimento de neurotransmissores e receptores, e seu respectivo emprego no tratamento. O mais marcante agente terapêutico foi a levodopa, precursora da dopamina, Apesar dos grandes progressos no conhecimento dessas afecções, ainda é difícil uma classificação baseada em sua fisiopatologia, essencial para a seleção da melhor terapêutica. Conforme Jankovic, editor, a finalidade deste volume não é a discussão de todas as desordens dos movimentos mas, apenas, revisão de seus aspectos clínicos, mecanismos e tratamento das formas mais comuns.

São 17 capítulos, sob a responsabilidade de especialistas conhecidos que revêem, sob prisma eminentemente prático, aspectos do problema. Yung e Penney, estudaram a "Anatomia Neuroquímica das Desordens do Movimento", salientam, nesse capítulo, as doenças de Parkinson e de Huntington em que os conhecimentos neuroquímicos são mais completos. Marsden, revê a "Fisiopatologia das Desordens do Movimento", dividindo-as em dois grupos clínicos: a síndrome acinético-rígida do parkinsonismo e aquelas condições caracterizadas pelos movimentos involuntários anormais rotulados como discinesias. Estas últimas, por sua vez, são separadas e estudadas em 5 síndromes clínicas: tremor, coréia, mioclonias, tiques e discinesias. A farmacologia da doença de Parkinson é revista por Borton e Calne, seguida pelos princípios gerais de sua farmacoterapia. Jankovic, estudou a curiosa síndrome de Steele, Richardson e Olszewski, a paralisia supranuclear progressiva, discutindo seu diagnóstico e tratamento. Polinsky se incumbe da "atrofia sistêmica múltipla", em seus aspectos clínicos, fisiopatológicos e terapêuticos. O diagnóstico diferencial dos tremores e seu tratamento, são objeto do artigo de Keller. Importante e atualizada é a revisão sobre: "A doença, de Huntington: uma década de progresso" (Shoulson). As mais recentes investigações sobre a ligação da doença de Huntington ao segmento de DNA relacionado ao cromossoma 5 é fator notável que permitirá novos progressos no conhecimento da afecção. A maioria dos pacientes com desordens do movimento apresentam alguma forma de disfunção de comportamento. Este é o motivo do capítulo de Mayeux visando principalmente às doenças de Parkinson e de Huntington. Stanley Fahn descreve as formas clínicas dos movimentos distônicos. Fahn associado a Jankovic analisam as condutas práticas no tratamento dessas distonias. Outro assunto, mais ou menos revolucionário em seus novos conceitos, constitui a síndrome de Tourette, quando Butler estuda a afecção e explana a fascinante hipótese dopamínica. Eldridge enfatiza o mapeamento genético, a neurogenética clínica, os fatores genéticos nas doenças comuns e a classificação das doenças hereditárias dos gânglios da base. A discinesia tardia, revista por Goetz e Klawans é estudada em sua patogênese básica. Parece depender da denervação farmacológica crônica de receptores dopaminérgicos específicos sediados no estriado. As medidas terapêuticas para contornar esses sintomas são delineadas pelos autores. Finalizando o livro, Grimm revê as marchas anormais, analisando e discutindo as ataxias tratáveis.

Este volume, escrito nos mesmos moldes dos outros que compõem a coleção Neurologic Clinics, mantém o mesmo equilíbrio e alto nível dos que o antecederam.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Ago 2012
  • Data do Fascículo
    Set 1985
Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.arquivos@abneuro.org