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ANÁLISES DE LIVROS

TOPOGRAPHIC MAPPING OF BRAIN ELECTRICAL ACTIVITY. FRANK H. DUFFY, editor. Um volume encadernado com 428 páginas. Butterworths Publishers, Boston, 1986.

Existem mais informações no eletrencefalograma (EEG) e nos potenciais evocados (PE) do que nossa análise visual consegue perceber (Duffy). Desde as primeiras descrições do EEG e dos PE os pesquisadores têm procurado conhecer aspectos matemáticos envolvendo esses sinais biológicos. Muito já se escreveu a respeito; entretanto, depois do desenvolvimento dos computadores e de sua difusão, tornou-se bastante mais exequível realizar a análise matemática e estatística dos dados neurofisiológicos. O mapeamento topográfico visa principalmente a: 1) melhorar a apresentação do exame, sob a forma de mapa colorido ou em gradações de cinza, facilitando a comunicação do resultado; 2) permitir a melhor localização dos potenciais através de melhor avaliação topográfica; 3) permitir o estudo dos mecanismos básicos geradores da atividade elétrica cerebral; 4) finalmente, através das informações não passíveis de obtenção pela análise visual e do tratamento estatístico, comparando o indivíduo a um grupo controle ou grupos entre si, permitir a elaboração de diagnóstico mais fino ou preciso.

Este livro congrega os relatos de 45 autores que participaram do simpósio internacional «Progress in Topographic Mapping of Neurophysiological Data», ocorrido em Boston. Desse simpósio participaram neurofisiologistas, pesquisadores e profissionais de áreas afins do Japão, EUA e Europa, incluindo os mais proeminentes do campo. Embora não seja um livro sistematizado, pois recebe contribuições de diferentes especialistas, ele é importante para o neurofisiologista preocupado com o progresso e o futuro na área, pois é cada vez maior o uso clínico do mapeamento topográfico na avaliação das disfunções neurológicas e nos estudos visando ao melhor conhecimento das afecções psiquiátricas. Nos 25 capítulos do livro são apresentados diferentes pontos de vista, comentários favoráveis e críticas ao método. Incluem-se tópicos sobre gênese e desenvolvimento do mapeamento topográfico, sobre aspectos técnicos, paradigmas analíticos, e sobre aplicações clínicas em diversas doenças.

Nos capítulos 1, 2, 3 e 15 são discutidos aspectos do mapeamento dos PE. Nos capítulos 3, 4, 5 e 8 são analisados diversos aspectos referentes ao mapeamento do EEG. No capítulo 7 é mostrada a análise espaço-temporal dos PE ligados a eventos (PE cognitivos). O capítulo 6 começa por discutir aspectos históricos do mapeamento, a seguir desenvolve de forma sistematizada vários aspectos técnicos e termina o autor por comentar sua experiência pessoal com o EEG. Nos capítulos 9 e 10 são apresentados aspectos referentes ao mapa produzido «on line» (ao mesmo tempo que o EEG), suas bases técnicas e alguns exemplos clínicos. Os capítulos 11, 12, 13 e 14 são dedicados principalmente a aspectos técnicos, incluindo a experiência pessoal dos autores. Os capítulos 16, 17 e 18 discutem aspectos básicos técnicos do mapeamento topográfico, em análise mais acessível ao médico. O capítulo 19 procura correlacionar os resultados do mapeamento com estudos do fluxo sanguíneo cerebral e consumo de oxigênio em doenças neuropsicológicas. No capítulo 20 são discutidos achados obtidos pelo mapeamento nas esquizofrenias. Os capítulos 21 a 25 são de comentários: discussão do mapeamento em doenças psiquiátricas (21 e 22), críticas ao método (23 e 24) e, finalmente, o sumário das idéias de Duffy (capítulo 25), resumindo sua experiência acumulada após mais de 1000 exames e, sem dúvida, de leitura obrigatória pela clareza e objetividade.

Este é o primeiro livro a apresentar informações sobre o mapeamento topográfico; nele os autores mostram sua experiência, sintetizam as aplicações atuais, e sugerem as várias direções futuras na pesquisa e na clínica.

FRANCISCO JOSÉ C. LUCCAS

MAGNETIC RESONANCE IMAGING OF THE CENTRAL. NERVOUS SYSTEM. M. BRANDT-ZAWABZKI, D. NORMAN, editores. Um volume encadernado (21 cm x 28 cm) com 416 páginas. Raven Press, New York, 1987.

Todos se impressionam ao observar a qualidade das imagens obtidas pela ressonância magnética (RM). Isto, entretanto, é pouco quando se imaginam as possibilidades ilimitadas da utilização futura desse método para o estudo funcional «in vivo» do sistema nervoso. A RM representa ainda método oneroso e acessível a poucos, porém cada vez mais se aperfeiçoam equipamentos de menor custo e, sem dúvida em futuro bem próximo, será o método de imagem de eleição em Neurologia. Este livro apresenta todas as informações necessárias para quem quer se dedicar ao estudo do método.

A primeira parte se refere aos Princípios Básicos e é constituída de 7 capítulos. O primeiro apresenta de forma clara e compreensiva os princípios do método. O segundo resumidamente apresenta os equipamentos atuais. Os dois capítulos seguintes procuram ensinar como correlacionar propriedades dos tecidos com as imagens obtidas sob parâmetros diversos; são também estudados artefatos e eventuais limitações do método. Nos demais capítulos, entende-se como a ressonância magnética pode estudar fluxos e qual a potencialidade do uso de meios de contraste paramagnéticos. O último capítulo dessa primeira parte trata das possibilidades da realização de espectroscopia por ressonância magnética e das perspectivas ilimitadas que teoricamente podem ser imaginadas para sua utilização.

A segunda parte do livro é dedicada aos aspectos de aplicação clínica. São 13 capítulos profusamente ilustrados. O primeiro capítulo apresenta aspectos anatômicos como são normalmente vistos em RM e suas implicações funcionais. Os capítulos seguintes são especificamente dedicados às seguintes condições patológicas encefálicas: doenças degenerativas, malformações congênitas, tumores cerebrais, processos hipofisários e da região selar, doenças vasculares, hemorragias e isquemias, infecções intracranianas e doenças da substância branca. Na terceira parte do livro são apresentados dois capítulos sobre RM da coluna vertebral, com ênfase na porção lombossacra. Os dois capítulos finais são sobre RM de rinofaringe e pescoço.

São 23 os colaboradores da obra, todos de excelentes centros radiológicos; isto permitiu documentação de alta qualidade que, certamente, servirá de referência para consultas e comparações. Trata-se de obra valiosa, recomendada a neurorradiologistas, neurologistas, radiologistas e a todos que pretenderem se familiarizar com este novo e importante método diagnóstico.

LUIZ A. BACHESCHI

IMPACT OF FUNCTIONAL IMAGING IN NEUROLOGY AND PSYCHIATRY. J. WADE, S. KNEZEVIC, V.A. MAXIMILIAN, Z. MUBRIN, I. PROHOVNIK, editores. Um volume encadernado (17cm x 24cm) com 199 páginas. Volume 5 da série Current Problems in Neurology. John Libbey, London, 1987.

Este tomo surgiu das contribuições apresentadas na Segunda Reunião Internacional sobre Fluxo Sanguíneo Cerebral Regional (Supetar/Brac, Iugoslávia, setembro de 1986). Os editores manifestam a intenção, bem sucedida, de apresentar atualização dos novos métodos de neuroimagem que permitem o estudo funcional do sistema nervoso central nas mais variadas condições fisiológicas e patológicas. São 16 capítulos, magnificamente ilustrados, com excelente qualidade gráfica, O primeiro capítulo contém discussão filosófica sobre a evolução do conceito de doença: com os novos métodos de estudo, as doenças devem ser ainda caracterizadas pelas suas lesões anatômicas ou pelas alterações funcionais que provocam e que já podem ser detectadas em vida?

Os capítulos seguintes, de forma clara e pormenorizada, apresentam os novos métodos de estudo do fluxo sanguíneo cerebral (FSC) e de outras características funcionais do sistema nervoso. O primeiro capítulo mostra como o FSC pode ser estudado pela tomografia computadorizada associada à inalação de xenônio não radioativo, que age como elemento contrastante. O segundo, além de fornecer os elementos básicos para a compreensão dos princípios da ressonância nuclear magnética, explica como é possível estudar fluxo, perfusão e difusão no interior do tecido nervoso. O trabalho seguinte descreve um sistema de medida de FSC, bidimensional e de alta resolução, incorporado num aparelho («cortexplorer») que, segundo o autor, é o meio mais poderoso no momento para o estudo das relações cerebro/comportamento no indivíduo normal ou doente. A seguir é apresentada a importância do SPBCT («single photon emission computerized tomography») para o estudo do FSC. Esta primeira parte é completada por revisão sobre a utilização da tomografia por emissão de positrons (PET) em doenças neurológicas.

A segunda parte, igualmente interessante, é constituída de capítulos que procuram rever a utilidade desses métodos para o estudo das doenças neurológicas mais comuns. Isto inclui doenças cerebrovasculares, epilepsia, enxaqueca, doença de Alzheimer, hemorragia subaracnóidea, afecções neuropediátricas e, além delas, aspectos relacionados à cirurgia extracorpórea e ao envelhecimento. Todos esses capítulos são recomendados pela revisão didática, cuidadosa e atualizada que os caracterizada.

Trata-se de um livro que todo neurologista ou estudioso de neurociências achará útil e interessante. Este volume é entusiasmante recomendação para os demais volumes desta série.

LUIZ A. BACHESCHI

TREATMENT OF CEREBRAL INFARCTION: EXPERIMENTAL AND CLINICAL STUDY. JIRO SUZUKI. Um volume com 380 páginas (16,5cm x 25cm). Springer Verlag, Viena, 1987.

Neste livro são condensados os resultados de investigações feitas durante várias décadas na escola neurocirúrgica da Universidade de Tohoku, Sendai, Japão, chefiada pelo Autor. O renomado conceito que envolve Suzuki, autor de mais de 2000 operações de aneurismas intracranianos e a quem se atribui a descoberta da doença de moya-moya, garante o interesse da leitura deste livro. O autor procura descrever trabalhos experimentais e clínicos concernentes ao enfarte cerebral, quer de sua equipe quer de outros centros. Como o subtítulo do livro já indica, pode ele ser dividido em duas partes: modelos experimentais e estudo clínico. Grande número de trabalhos experimentais, usando vários métodos em diferentes espécies animais, permitiu esclarecer aspectos da fisiopatologia da isquemia cerebral e, ipso-fato, obter melhores resultados no tratamento de pacientes com enfartes cerebrais. Entretanto, muitas dúvidas ainda subsistem.

A natureza dos enfartes cerebrais é complexa e, mesmo quando a oclusão vascular ocorre na artéria carótida interna, há vasto espectro de quadros clínicos. Os modelos experimentais variam amplamente, abrangendo macacos, cães, ratos e o «gerbil» (este último, pelas características do círculo de Willis, aberto, de forma a permitir modelo de isquemia em hemisfério unilateral, por ligadura da artéria carótida comum). Os métodos habitualmente empregados para a obtenção de enfartes experimentais consistiam na oclusão do tronco de artérias intracranianas. Os animais operados eram estudados por vários processos, como eletrencefalografia, auto-radiografia e histologia. O acompanhamento sequencial das alterações de isquemia focal, por vezes ultraestruturalmente, enfoca alterações neuronais, das células gliais, do neurópilo e dos capilares. Capítulo especial é dedicado ao edema isquémico cerebral, no qual o volume do encéfalo aumenta e uma herniação cerebral pode se processar, constituindo a mais comum causa de morte. Em modelos experimentais e em humanos, é descrito o uso do que chamam «coquetel de Sendai», composto de manitol, vitamina E, glicorticóide e fenil-hidantoína. Separadamente, a ação de cada uma das drogas é estudada. A ação de novos agentes protetores é investigada, a começar pelos barbitúricos, o naloxone, as prosta-glandinas e a indometacina.

A segunda parte do livro (Estudo Clínico) é iniciada por revisão da epidemiologia e da semiologia do enfarte cerebral. Baseado em 1000 casos clínicos, Suzuki estuda a história natural da fase aguda do enfarte cerebral, seu prognóstico e as mortes decorrentes de complicações; compara os quadros decorrentes da oclusão da artéria carótida interna e da artéria cerebral média. As diversas técnicas diagnósticas Dara o estudo dos vasos cerebrais são revistas, a começar pelas antigas angiografias cerebrais usando a punção direta e seguidas daquelas realizadas por cateterismo e, depois, as radiografias por subtração digital. As informações que visam aos conhecimentos das conseqüências da oclusão vascular, isto é, as alterações morfológicas do encéfalo são fornecidas pelo CT (em que se descrevem as áreas de baixa e de alta densidade, os efeitos de massa decorrentes do edema cerebral, as atrofias cerebrais e os efeitos dos contrastes) e pela ressonância nuclear magnética. Mencionam-se as técnicas para obter informações concernentes ao fluxo sanguíneo cerebral e ao metabolismo, a começar pelo clássico processo do óxido nitroso; com a evolução da tecnologia, surgiram outros processos que culminaram no mapeamento pela emissão do positron (PET). No capítulo seguinte, o autor discute o tratamento do edema provocado pelo enfarte cerebral, no qual é importante a separação entre as medidas preventivas e o tratamento propriamente dito. Dois problemas são focalizados: como minimizar o edema cerebral e como prevenir a progressão de lesão que leva ao estado de enfarte. Varias terapêuticas, por drogas, foram propostas reconhecendo que poucas demonstram valor. É de importância o controle da tensão arterial, tanto na fase aguda quanto na crônica. O tratamento visando a supressão do edema cerebral por soluções hipertônicas e corticoesteroides é revisto. A terapêutica antitrombótica é examinada. A ação de vasodilatadores é avaliada, chamando-se a atenção para seus inconvenientes, pelo menos na fase aguda: facilitarla a perfusão de luxo, aumentando o risco de se agravar o edema cerebral: haveria além disso o temor de provocar eventual foco hemorrágico e, ainda, o risco de conduzir a hipotensão arterial. A dextrana de baixo peso molecular (Dextram 40) pode ser empregada, mas a curto prazo, visando à redução da viscosidade sanguínea. A ação dos denominados ativadores do metabolismo cerebral foi considerada, sobretudo daqueles que não condicionam vasodilatação cerebral. Entre os agentes que visam à proteção cerebral, o autor destaca a terapêutica pelos barbitúricos em que várias razões limitam seu uso, principalmente o estado de anestesia induzida por altas dosagens e que exigre controle das condições circulatórias. Interessante a terapêutica proposta por Suzuki, como medicação de escolha, e usada em seu departamento: o coquetel Sendai, contendo manitol a 20%, vitamina E e dexametasona, em doses de 500 ml, 500 mg e 50 mg, respectivamente. Essa mistura proporcionaria melhores resultados ainda quando se associa a fenil-hidantoína. Nos capítulos finais desta parte é estudada a terapêutica cirúrgica dos enfartes cerebrais, a começar pela endarterectomia da carótida interna e, sucessivamente, a arterectomia da artéria externa, a «stumpectomia» (retirada de bolsa vascular, de vários milímetros a dois cm, que se situa na porção proximal da artéria carótida interna após sua oclusão vascular e que provoca fluxo de turbulência), a correção de tortuosidades ou acotovelamentos vasculares. No que concerne à endarterectomia da carótida interna, são realçadas as controvérsias de que ainda se reveste. Suzuki considera as seguintes condições como possíveis indicações à operação: estenose da artéria carótida interna de mais de 50% do diâmetro normal no mesmo lado da isquemia; quando o paciente se queixa de freqüentes ruídos no pescoço; em casos de ataques isquêmicos transitórios ou ictos em progressão, seguidos de dissecção da artéria carótida interna; em ataques isquêmicos transitórios atribuíveis a êmbolos partindo de placas carotídeas, finalmente, quando a artéria carótida interna é suspeita como causa de crises de amaurose fugax. A ainda discutida reconstrução vascular teria proporcionado ao autor resultados compensadores, por ele atribuídos, em parte, ao tratamento medicamentoso na fase aguda com o coquetel Sendai. O capítulo final destina-se ao estudo do tratamento cirúrgico da moya-moya. Considera a moya-moya como doença cerebrovascular em que a estenose e a oclusão vasculares, de causa desconhecida, são registradas aos angiogramas cerebrais, estendendo-se desde a terminação bilateral das artérias carótidas internas até as origens da artéria cerebral média e da cerebral anterior. Clinicamente manifesta-se, auando seu início é na mocidade, sob forma isquêmica cerebral e, no adulto, como hemorragias intra-ventriculares. A fisiopatologia característica da doença é revista e os diferentes processos neurocirúrgicos para sua correção são descritos.

Este livro, que representa o pensamento da escola japonesa, destaca-se por estar fundamentado em maciça experiência pessoal, alicerçada em completa bibliografia e é recomendado para neurologistas, neurocirurgiões e cirurgiões vasculares.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

DIABETIC NEUROPATHY. PETER J. DYCK, P.K. THOMAS, ARTHUR K. ASBURY, ALBERT I. WINEGRAD, DANIEL PORTE Jr., editores. Um volume com 322 páginas (18 cm x 25,5cm). W.B. Saunders, Philadelphia, 1987.

A necessidade de livro de texto sobre a neuropatia diabética é realçada pela freqüência e gravidade desta complicação que afeta, na vigência da doença, o sistema nervoso periférico. Supõem os editores desse livro aue existam nos Estados Unidos pelo menos 5 milhões de diabéticos e que cerca de 10% deles evidenciam polineuropatia. Desta forma, aproximadamente 600000 pessoas apresentariam neuropatia sintomática, representada por queixas múltiplas. Este livro se destaca nela atualização dos conhecimentos sobre a compreensão das bases químicas e vasculares da neuropatia diabética e pelas técnicas de melhor monitorização da elicemia e administração da insulina. De modo geral, apesar das investigações progressivas, esses conhecimentos sobre a fisiopatologia da neuropatía diabética são ainda incompletos e seus estudos são menos numerosos em comparação àqueles que concernem à retinopatia e à neuropatia do diabético.

De modo abrangente e não se restringindo aos aspectos neurológicos, Halter e Porte Jr. estudam os dois tipos fundamentais de diabetes mellitus, isto é, o tipo I ou insulino-dependente e o II, não insulino-dependente. Através de vários capítulos são revistos os aspectos clínicos das neuropatías diabéticas. Após uma excursão sobre a epidemiologia da neuropatia diabética, cujos conhecimentos ainda são insatisfatórios (Melton e col.), Dyck e col. estudam o diagnóstico, os estádios, a classificação dessas neuropatias e suas associações com outras complicações da doença. As neuropatias diabéticas focais e multi-focais são revistas por Asbury, que estuda sucessivamente as mononeuropatias cranianas, as neuropatias motoras proximais e as do tronco. Finaliza o capítulo com análise do comprometimento dos troncos nervosos por compressão e encarceramento. A começar por seus aspectos históricos, a polineuropatia diabética é analisada por Thomas e Braun. Inicialmente, são revistos os fenômenos rapidamente reversíveis que correspondem, em geral, a neuropatias «hiperglicêmicas» e a conseqüências dos defeitos da condução isquémica. Logo a seguir é feita menção à polineuropatia sensitiva distai e à polineuropatia autonômica. A avaliação dos sintomas, dos déficits e da atividade neurológica é tema da quarta parte deste volume, composto de 8 capítulos. A investigação clínica da função motora é de responsabilidade de Windebank, segundo o qual é requerido um tipo diferente de exame motor para o diagnóstico clínico de cada paciente e, por outro lado, para a avaliação na conduta de ensaios clínicos. No primeiro caso, os músculos relevantes na determinação dos sintomas são minuciosamente estudados e realce deve ser concedido às discretas alterações dos reflexos e à integração de toda anamnese e o exame físico. Por outro lado, na avaliação de estudos clínicos deve ser utilizado sistema pré-determinado de graduação e um grupo definido de músculos deve ser escolhido. A detecção dos limiares da sensibilidade cutânea é investigada por Tuck e col. no artigo seguinte. Em sucessão, são estudadas as neuropatías autonômicas cardiovasculares, a avaliação da função pupilar na neuropatía diabética, as disfunções sexuais, as cistopatias e, finalmente, as síndromes gastro-intestinais na vigência da doença. Vários itens abrangem as medidas terapêuticas da polineuropatia diabética, distribuídos em vários capítulos: controle metabólico, incluindo o controle da glicemia, a suplementação do mioinositol e os inibidores da aldose-redutase; fatores tróficos e a vitaminoterapia; tratamento da neuropatia autonômica; tratamento da dor na neuropatia diabética, A última secção do volume é reservada para a anatomia patológica e a fisiopatologia humana e experimental da afecção, focalizadas em seus variados aspectos.

O tema é atual, sua aplicabilidade na clínica médica e neurológica é praticamente diária e, seguramente, este livro merece ser lido pelos especialistas.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

INFECTIONS OF THE NERVOUS SYSTEM. P.G.E. KENNEDY, R.T. JOHNSON, editores. Um volume (16cm x 24cm) com 284 páginas, 37 figuras e 19 tabelas. Butterworths, London, 1987.

Este livro é o oitavo volume da série de Atualizações em Neurologia da casa Butterworths. Infecções do sistema nervoso é tópico atual sobretudo após o aparecimento da síndrome de imunodeficiência adquirida em que velhos conceitos sobre moléstias infecciosas tiveram que ser revistos e atualizados.

Os editores selecionaram 17 especialistas na área para escreverem 13 capítulos sobre tópicos atuais e controversos em infecções que acometem o sistema nervoso. O primeiro capítulo, introdutório, é escrito pelos editores que fazem um apanhado geral do livro. Seguem-se os capítulos sobre meningites bacterianas agudas, tuberculose do sistema nervoso, infecções por espiroquetas no sistema nervoso, toxinas bacterianas (botulismo e tétano), micoses do sistema nervoso, malária cerebral, neurocisticercose, meningites agudas virais e encefalites, complicações neurológicas do virus da varicela-zóster, encefalomielite pós-infecciosa, infecções lentas e infecções e síndrome de imunodeficiência adquirida. Cada capítulo termina com uma série de referências bibliográficas atualizadas até o ano de 1987.

Todos os capítulos são de agradável leitura, sintéticos, didáticos e atuais. No capítulo sobre neurocisticercose, por exemplo, escrito por Julio Sotelo do Instituto Nacional de Neurologia e Neurocirurgia da cidade de México, é apresentada a classificação atual sobre formas ativas e inativas da moléstia, bem como o estado atual da terapêutica e das controvérsias na afecção. O capítulo sobre malária cerebral, escrito por N.J. White e S. Looareesuwan, é atual devido ao reaparecimento de grande número de casos desta afecção sobretudo nos países do terceiro mundo. Finalizando o volume Richard W. Price e Bradford A. Navia fazem escelente revisão sobre infecções, síndrome de imunodeficiência adquirida e sobre outros pacientes imunossuprimidos.

É um livro que interessa a toda a classe de especialistas em Neurologia, bem como a Clínica Médica em geral. Deve ser recomendada a sua leitura, merecendo figurar em bibliotecas de Departamento de Neurologia e de Escolas Médicas.

JOSÉ ANTONIO LIVRAMENTO

THE PHYSIOLOGY AND PATHOPHYSIOLOGY OF THE CEREBROSPINAL FLUID. H. DAVSON, K. WELCH, M.B. SEGAL. Um volume (19cm x 25 cm) com 1013 páginas, 541 figuras e 227 tabelas. Churchill Livingstone, London, 1987.

Hugh Davson, estudioso da fisiologia do liqüido cefalorraqueano (LCR), já savia publicado em 1956 e 1967 dois livros sobre o assunto. No entanto, devido ao grande número de estudos ocorrido nas duas últimas décadas sobretudo quanto a função barreira, tornou-se imperiosa a publicação de novo tratado sobre a matéria. Desta vez, conta ele com dois colaboradores K. Welch e M.B. Segal. Este é um livro para especialistas em LCR, estudiosos de seus aspectos fisiopatológicos. Não é reedição atualizada dos livros anteriores e, sim, obra inteiramente nova. Todos os capítulos são escritos pelos três autores. É, portanto, um livro de uma determinada escola. O tratado, com 1013 páginas, apresenta 17 capítulos didáticos e mais de 4200 referências bibliográficas listadas no final do volume, abrangendo até o ano de 1985.

O primeiro capítulo, introdutório, apresenta os aspectos anatômicos relacionados com o LCR. Seguem-se estudo sobre a composição do LCR e 8 capítulos dedicados à função barreira em seus múltiplos aspectos. Selientam-se nestes: o estudo da quebra da barreira, o edema cerebral e o retorno do LCR ao sistema circulatório. Destaque especial é dado ao papel das proteínas e de outras macromoléculas do LCR. O estudo da pressão do LCR é feito de modo praticamente completo. O livro termina com os três capítulos sobre determinados aspectos das hidrocefalias, como a pré-natal, a adquirida e a de pressão normal.

Deve ser salientado que as referências não se restringem apenas à literatura de anglo-saxônica, apresentando também trabalhos e comparações com pesquisadores de todas as partes do mundo que lidam com o assunto, inclusive do Brasil. É um livro que não pode faltar em uma biblioteca de departamentos de Neurologia. Servirá para especialistas, bem como para fonte de freqüentes consultas de residentes e daqueles que trabalham com as ciências neurológicas em geral.

JOSÉ ANTONIO LIVRAMENTO

PARKINSON'S DISEASE. M. YAHR, K. J. BERGMANN, editores. Advanees in Neurology, volume 45. Um volume com 616 páginas (18 x 25,5cm). Raven Press, New York, 1987.

Este volume reúne trabalhos apresentados em Simpósio realizado em New York, pelo Comité de Investigações sobre Doenças Extrapiramidais da Federação Mundial de Neurologia. Esses trabalhos foram reunidos em quatro temas principais: fatores epidemiológicos e etiológicos, patologia bioquímica e ultraestrutural, aspectos motores e abordagens no tratamento da afecção. Por sua vez, esses temas são tratados em vários subtítulos que compõem as 9 secções do volume. A primeira (Patologia da Doença de Parkinson) se inicia por revisão geral das alterações morfológicas na afecção (Jellinger); são considerados os 4 tipos maiores de Parkinsonismo, através do estudo de série pessoal de 500 autópsias; as formas degenerativas da síndrome consistem 75 a 90% dos casos, incluindo doença de Parkinson degenerativa (60 a 75%) e outras degenerações multissistêmicas (cerca de 15%); em não mais que 6 a 8% se associa a doenças cerebrovasculares, enquanto o parkinsonismo encefalítico teve sua percentagem avaliada em 12% antes de 1970 e 3% nas estatísticas recentes. O capítulo seguinte (Hornykiewicz e Kish) é relacionado ao tema da fisiopatologia bioquímica da doença de Parkinson. Vários outros capítulos são dedicados à ação de neurotransmissores e neuropeptidios na fisiopatologia da afecção. Finalmente, investigam-se os subsídios da neuroimagem no diagnóstico e na avaliação da gravidade da afecção. Na segunda secção (Monoaminoxidase, MPTP e Parkinsonismo) sobressai o relato Konin: Toxinas e doença de Parkinson: parkinsonismo pelo MPTP em seres humanos e em animais. É interessante a investigação das relações entre a neuro-melanina e a toxicidade ao MPTP; o pigmento, ausente em roedores, está presente em primatas, atingindo o máximo nos humanos, em que o conteúdo aumenta com a idade (até 50 anos) declinando após; esse fato se correlaciona às suas observações do aumento da vulnerabilidade ao MPTP com a idade do paciente; por outro lado, é importante assinalar uma nítida semelhança na fórmula química estrutural do MPTP com o Paraquat, substância básica de alguns agrotóxicos.

Secção destina-se ao estudo das variantes do parkinsonismo. O primeiro capítulo é reservado para a «Paralisia supranuclear progressiva; considerações anatômicas e bioquímicas» (Agid e col.); trata-se de estudo completo, abrangendo inclusive a controvertida posição nosográfica da afecção, sua neuropatologia e as alterações bioquímicas pós-mortem; concluem que, ao lado de maciça redução de dopamina no estriado, há vários outros aspectos químicos que a diferenciam de um parkinson idiopático. São também discutidas a acinesia pura e oftalmoplegia supranuclear, ulteriormente acrescentada (Imai e col.), o parkinsonismo de início juvenil (Gershanik e col.) e o Parkinson Plus (Fischer), além de outros assuntos. A hipótese de que a hereditariedade desempenhe algum papel na etiologia da doença de Parkinson já foi considerada atraente; todavia, estudos recentes em gêmeos monozigóticos revelaram que a taxa de concordância era inesperadamente baixa e não essencialmente diferente de gêmeos dizigóticos ou mesmo de consanguíneos de primeiro grau. Entretanto não é possível excluir a possibilidade de um defeito congênito, não hereditário, em algumas formas de parkinsonismo. Diversas disfunções sensoriais motoras que acompanham, ou podem acompanhar, a doença de Parkinson são reservadas para uma secção especial desse volume. Destacamos, nesta secção, os estudos sobre o sistema visual do parkinsonismo (Bodis-Wollner e col.), as sensações orais sensitivo-motoras e as distonias do pé (Diamond e col.), as disfunções afetivas e cognitivas na doença de Parkinson. Diversos dados sobre a levodopaterapia, seus efeitos úteis e colaterais, sobre a dopa de ação lenta, sobre a indicação ou não de «férias da droga» são matéria da secção subseqüente. A secção derradeira, «Tendências Farmacoterapêuticas na Doença de Parkinson», é um prosseguimento da anterior. Dois relatórios importantes abrem a discussão (Abordagens correntes e futuras na terapêutica; desenvolvimento e novas abordagens na doença de Parkinson). Este volume engloba, pois, ampla série de trabalhos abrangendo praticamente todos os itens concernentes a essa doença, tão estudada e ainda tão enigmática.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2011
  • Data do Fascículo
    Set 1988
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