Acessibilidade / Reportar erro

Tratamento da neurocisticercose com praziquantel

Treatment of neurocysticercosis with praziquantel

Resumos

27 pacientes com neurocisticercose foram tratados com praziquantel, utilizado em doses progressivamente crescentes até alcançar 50 mg/kg/dia, por período de 21 dias, associado a dexametasona. Os doentes foram avaliados clínica e laboratorialmente durante o tratamento e, aqueles que completaram um ano de evolução, repetiram os testes imunofluorescência e ELISA neste período. Cefaléia foi o sintoma encontrado mais freqüentemente durante o tratamento, ocorrendo em 37% dos pacientes; 18,5% dos doentes apresentaram hipertensão intracraniana, um deles evoluindo para o óbito; 25,9% dos enfermos tiveram que suspender o praziquantel antes de completar o tratamento, devido ao surgimento de complicações importantes. Nos exames laboratoriais realizados no sétimo dia de tratamento, 33,3% dos pacientes apresentaram anormalidades, sendo leucocitose a mais freqüente. No período de um ano, 72,2% dos enfermos tiveram melhora do quadro clínico, enquanto os testes imunológicos tornaram-se não-reagentes no soro em 45,4% dos doentes e no LCR em 42,8%. Entretanto, nem sempre houve coincidência da melhora clínica com a apresentação dos testes imunológicos não-reagentes. No presente trabalho, não é possível afirmar que os testes imunológicos não-reagentes, assim como a melhora clínica dos pacientes, sejam conseqüentes à eficácia do tratamento com o praziquantel. Devido à grande freqüência e gravidade das complicações deste tratamento, os pacientes devem ser avaliados individualmente quanto aos riscos versus os benefícios dele.


Twenty seven patients with neurocysticercosis were treated with praziquantel in progressive doses reaching 50 mg/kg/day associated with dexamethasone for 21 days. The patients were followed during and after treatment and those followed up for one year repeated their immunological tests (indirect immunofluorescence and ELISA) at this time. Headache was the most frequent symptom during the treatment, occurring on 37% of patients. During the treatment 18.5% of patients had intracranial hypertension and one died. One year after treatment 72.2% of patients who finished treatment improved. The immunological tests became negative in 45.4% of patients sera and 42.8% of cerebrospinal fluids. There was no correlation between the clinical evolution and immunological, testis. In this study it is not possible to afirm that both negative immunological tests and good clinical evolution were consequents to the efficacy of praziquantel treatment. Due to the great frequency and seriousness of this treatment complications, the patients with neurocysticercosis must be individually evaluated to know the risks and the benefits of the treatment with praziquantel.


L. G. ViannaI; V. MacedoII; P. MelloI; H. A. O. SouzaIII; J. M. CostaIV

IPhD, Professor Adjunto da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS), Universidade de Brasília - Trabalho realizado no Núcleo de Medicina Tropical e Nutrição, Universidade de Brasília

IIProfessor Titular da FCS - Trabalho realizado no Núcleo de Medicina Tropical e Nutrição, Universidade de Brasília

IIIMédico Residente do Hospital de Base do DF - Trabalho realizado no Núcleo de Medicina Tropical e Nutrição, Universidade de Brasília

IVProfessor Adjunto da Faculdade de Medicina de Uberlândia. Resumo dos resultados foi publicado anteriormente - Trabalho realizado no Núcleo de Medicina Tropical e Nutrição, Universidade de Brasília

RESUMO

27 pacientes com neurocisticercose foram tratados com praziquantel, utilizado em doses progressivamente crescentes até alcançar 50 mg/kg/dia, por período de 21 dias, associado a dexametasona. Os doentes foram avaliados clínica e laboratorialmente durante o tratamento e, aqueles que completaram um ano de evolução, repetiram os testes imunofluorescência e ELISA neste período. Cefaléia foi o sintoma encontrado mais freqüentemente durante o tratamento, ocorrendo em 37% dos pacientes; 18,5% dos doentes apresentaram hipertensão intracraniana, um deles evoluindo para o óbito; 25,9% dos enfermos tiveram que suspender o praziquantel antes de completar o tratamento, devido ao surgimento de complicações importantes. Nos exames laboratoriais realizados no sétimo dia de tratamento, 33,3% dos pacientes apresentaram anormalidades, sendo leucocitose a mais freqüente. No período de um ano, 72,2% dos enfermos tiveram melhora do quadro clínico, enquanto os testes imunológicos tornaram-se não-reagentes no soro em 45,4% dos doentes e no LCR em 42,8%. Entretanto, nem sempre houve coincidência da melhora clínica com a apresentação dos testes imunológicos não-reagentes. No presente trabalho, não é possível afirmar que os testes imunológicos não-reagentes, assim como a melhora clínica dos pacientes, sejam conseqüentes à eficácia do tratamento com o praziquantel. Devido à grande freqüência e gravidade das complicações deste tratamento, os pacientes devem ser avaliados individualmente quanto aos riscos versus os benefícios dele.

SUMMARY

Twenty seven patients with neurocysticercosis were treated with praziquantel in progressive doses reaching 50 mg/kg/day associated with dexamethasone for 21 days. The patients were followed during and after treatment and those followed up for one year repeated their immunological tests (indirect immunofluorescence and ELISA) at this time. Headache was the most frequent symptom during the treatment, occurring on 37% of patients. During the treatment 18.5% of patients had intracranial hypertension and one died. One year after treatment 72.2% of patients who finished treatment improved. The immunological tests became negative in 45.4% of patients sera and 42.8% of cerebrospinal fluids. There was no correlation between the clinical evolution and immunological, testis. In this study it is not possible to afirm that both negative immunological tests and good clinical evolution were consequents to the efficacy of praziquantel treatment. Due to the great frequency and seriousness of this treatment complications, the patients with neurocysticercosis must be individually evaluated to know the risks and the benefits of the treatment with praziquantel.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Dra. Lucy Gomes Vianna - Faculdade de Ciências da Saúde, Departamento de Clínica Médica, Universidade de Brasília - Campus Universitário. Asa Norte - 10919 Brasília DF - Brasil.

  • 1. Botero D, Castano S - Treatment of cysticercosis with praziquantel in Colombia. Am J Trop Med Hyg 31:811, 1982.
  • 2. Carvalho-Filho P, Arruda OM, Melo-Souza SE - Descargas epileptiformes periódicas lateralizadas em neurocisticercose. Arq Neuro-Psiquiat (São Paulo) 47:94, 1989.
  • 3. Chavarria M, Gonzalez DD -  Droncit en el tratcamiento de la cisticercosis porcina. Esp Vet 1:159, 1978.
  • 4. Ciferri F - Praziquantel for  cysticercosis of the brain parenchyma (letter). N Eng J Med 311:733, 1984.
  • 5. Colli BO, Martelli N, Assirati  JA Jr, Machado HR, Guerreiro NE, Belluci A - Forma tumoral da neurocisticercose:  exérese de cisticerco de 70x77 mm e tratamento com praziquantel. Relato de caso. Arq Neuro-Psiquiat (São Paulo) 42:158, 1984.
  • 6. Costa JM - Teste imunoenzimático (ELISA) no diagnóstico da neurocisticercose. Tese. Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1983.
  • 7. DeGhetaldi LD, Norman RM, Douville AW Jr - Cerebral cysticercosis treated biphasically with dexamethasone and praziquantel. Ann Intern Med 99:17S, 1983.
  • 8. DeGhetaldi LD, Norman RM, Douville AW Jr - Praziquantel for cysticercosis of the brain parenchyma (letter). N Eng J Med 311:732, 1984.
  • 9. DelBrutto OH, Sotelo J - Neurocysticercosis: an update. Rev Infect Dis 10:1075, 1988.
  • 10. Frobberg H - Propriedades farmacocinéticas, íarmacológicas y toxicológicas del praziquantel. Salud Publ Méx 24:605, 1982.
  • 11. Gómez JG, Pena G, Patino R, Pradilha G - Neurocysticercosis treated with praziquantel. Neurologia en Colombia 5:665, 1981.
  • 12. Groll EW - Chemotherapy of human cysticercosis with praziquantel. In Flisser A et al (eds): Cysticercosis: Present State of Knowledge and Perspectives. Academic Press, New York, 1982, pg 207.
  • 13. Leopold G, Ungethüm W, Groll E, Diekmann HW, Nowak H, Wegner DHG - Clinical pharmacology in normal volunteers of praziquantel, a new diug aggainst schistosomes and cestodes: an example of complex study covering both tolerance and pharmacokinetics. Eur J Clin Pharmacol 14:281, 1978.
  • 14. Machado AJ, Camargo ME, Hoshino S - Reação de imunofluorescência para a cisticercose com partículas de Cysticercus cellulosae fixadas a lâminas de microscopia. Rev Soe Med Trop 7:181, 1973.
  • 15. Rim HJ, Won CR, Chu JW - Studies on the human cysticercosis and its therapeutic trial with praziquantel (Embay 3440). Korea Univ Med J 17:459, 1980.
  • 16. Robles C, Chavarria M - Un caso de cisticercosis cerebral curado medicamente. Gaceta Méd Mex 116:65, 1980.
  • 17. Sotelo J, Escobedo F, Rodríguez-Carbajal J, Torres B, Rubio-Donnadieu F - Therapy of parenchymal brain cysticercosis with praziquantel. N Engl J Med 310:1001, 1984.
  • 18. Spina-França A, Nóbrega JPS - Neurocisticercose e praziquantel. Rev Paul Med 95:34, 1980.
  • 19. Spina-França A, Nóbrega JPS, Livramento JA, Machado LR - Administration of praziquantel in neurocysticercosis. Trompenmed Parasit 33:1, 1982.
  • 20. Thomas H - Resultados experimentales con praziquantel (Embay 8440) en cestodiasis y cisticercosis. Bol Chil Parasitol 32:2, 1977.
  • 21. Thomas H, Andrews P, Mehlhorn H - New result on the effect of praziquantel in experimental cysticercosis. In Papers Read at Workshop: Praziquantel in Human Cysticercosis. México, 1981.
  • 22. Thorn GW - Clinical considerations in the use of corticosteroids. N Engl J Med 274:775, 1966.
  • 23. Vazquez ML, Jung H, Sottelo J - Plasma levels of praziquantel decrease when dexamethasone is given simultaneously. Neurology 37:1561, 1987.
  • Tratamento da neurocisticercose com praziquantel

    Treatment of neurocysticercosis with praziquantel
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Maio 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 1990
    Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revista.arquivos@abneuro.org