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Arnaldo Di Lascio

IN MEMORIAM

ARNALDO DI LASCIO

Com a morte de Arnaldo Di Lascio em maio de 1990, perde a medicina brasileira e, em particular, a pernambucana um dos últimos especialistas em Neuropsiquiatria.

Argentino de nascimento, filho de imigrantes italianos, era antes de tudo um nordestino da Paraíba (uma vez que sua família lá se fixou), que teve no Recife sua terra adotiva. Graduado em Medicina pela velha Faculdade de Medicina do Recife em 1936, já nos bancos escolares começou a se destacar como estudante aplicado, de futuro promissor. Atraído por Ulysses Pernambucano passou a trabalhar no antigo Hospital de Alienados (Hospital da Tamarineira) como acadêmico-interno e, nesta condição, foi co-autor do trabalho «Alguns dados antropológicos da população do Recife», juntamente com o próprio Ulysses Pernambucano, Jarbas Pernambucano e Almir Guimarães. Uma vez médico, integrou-se à chamada Escola Pernambucana de Psiquiatria de Ulysses Pernambucano, passando a atuar como médico do Sanatório Recife, como Neuropsiquiatra da Polícia Militar de Pernambuco e como Professor Assistente da Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina do Recife. Com o prematuro falecimento de Ulysses Pernambucano em 1943, deixou a função docente, porém em 1955 voltou a exercê-la já então na qualidade de Professor Assistente da Clínica Psiquiátrica da mesma escola médica, funcionando então no Hospital D. Pedro II e no qual fundou o Serviço de Eletrencefalografia.

Com sólida formação na medicina clínica geral, dedicou-se particularmente ao estudo da neurologia e da psiquiatria biológica sem tornar-se um intransigente defensor da psiquiatria organicista. Isto fica patente no grande número de trabalhos científicos que publicou, proporcionando uma visão de sua experiência na prática médica e na pesquisa científica na sua área de atuação. Sem nunca haver enfrentado uma banca de concurso para docente, foi um professor completo, competente e atualizado, eficiente transmissor de conhecimentos para várias gerações de médicos até sua aposentadoria compulsória em 1985. É possível que seu desinteresse em possuir títulos universitários representasse uma crítica ao artificialismo e ao defeito das técnicas de seleção do pessoal universitário. Um outra característica de Di Lascio era seu gosto pelas atividades associativas. Fundador, com Ulysses Pernambucano, da Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental do Brasil, era Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia (da qual foi membro da Diretoria no biênio 1966-1968) da Sociedade Brasileira de Eletrencefalografia e Neurofisiologia Clínica, da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, sócio da Sociedade de Medicina de Pernambuco e integrante da Academia Pernambucana de Medicina. Nos últimos anos estava trabalhando para tornar realidade a Associação de Antigos Alunos da Faculdade de Medicina do Recife.

Todavia, o traço mais marcante de sua personalidade era a retidão de caráter e o senso de cumprimento do dever, características que lamentavelmente estão cada vez mais relegadas no Brasil moderno.

Eis o perfil de um homem, exemplo para as gerações de hoje.

ALCIDES CODECEIRA Jr.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 1991
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