Acessibilidade / Reportar erro

Histopathological and immunohistochemical study of the brain and heart in the chronic cardiac form of Chagas' disease

Estudo histopatológico e imuno-histoquímico do encéfalo e coração na forma crônica cardíaca da doença de Chagas

Abstracts

A histopathological and immunohistochemical study of the brain and heart was made in 50 patients with the chronic cardiac form of Chagas' disease. The immunohistochemical technique used was the peroxidase-antiperoxidase method adapted for the demonstration of the T. cruzi amastigotes. Histological and immunohistochemical examination of the brain showed encephalitis in multiple foci, although sparse, in four patients (8%). In one of the patients the process was recent, active, and containing parasites. In the other three patients, the lesions were of minor intensity, with light exudative inflammatory changes, suggesting a process becoming inactive, or already inactive. The search for parasites in these three patients was negative, even with use of immunoperoxidase. The heart histological and immunohistochemical study showed, besides the chronic myocarditis in multiple foci associated with interstitial fibrosis, amastigotes in seven patients (14%). The absence of parasites and of inflammatory changes in the brain in the great majority of patients with chronic Chagas' disease, contrasting with the constant finding of inflammatory changes and the occasional finding of amastigotes in the myocardium of the same patients, allows us to state, in the same way other authors did, that there is no histopathological basis to support the existence of the chronic nervous form of Chagas' disease.

Chagas' disease; brain; Chagasic encephalitis; immunoperoxidase


Fez-se o estudo histopatológico e imuno-histoquímico sistematizado do encéfalo e coração de 50 pacientes com forma crônica cardíaca de doença de Chagas. A técnica imuno-histoquímica empregada foi o método da peroxidase-antiperoxidase adaptado para a demonstração de formas amastigotas do T. cruzi. O exame histológico e imuno-histoquímico do encéfalo revelou, em 4 casos (8%), encefalite em focos múltiplos, não sistematizados. Num dos casos o processo era recente, em atividade, contendo parasitas. Nos outros três casos as lesões eram de menor intensidade, com fenômenos exsudativos discretos, sugerindo tratar-se de processo em extinção ou já inativo. A pesquisa de parasitas nestes três casos, mesmo com o uso da imunoperoxidase, foi negativa. O estudo histológico e imuno-histoquímico do coração mostrou, além da miocardite crônica em focos múltiplos acompanhada de fibrose endomisial, amastigotas em 7 casos (14%). A ausência de parasitas e de processo inflamatório no eneéfalo da grande maioria dos chagásicos crônicos, contrastando com o achado constante de lesões inflamatórias e o encontro ocasional de amastigotas no mio-cárdio destes mesmos pacientes, permite afirmar, de modo semelhante a outros autores, que não há base histopatológica para que se possa admitir a existência da forma crônica nervosa da doença de Chagas.

doença de Chagas; eneéfalo; encefalite chagásica; imunoperoxidase


José Eymard Homem Pittella; Cicero Meneguette; Alfredo J. Afonso Barbosa

M.D., Laboratory of Neuropathology, Department of Pathology, Federal University of Minas Gerais (UFMG) Medical School, Belo Horizonte

SUMMARY

A histopathological and immunohistochemical study of the brain and heart was made in 50 patients with the chronic cardiac form of Chagas' disease. The immunohistochemical technique used was the peroxidase-antiperoxidase method adapted for the demonstration of the T. cruzi amastigotes. Histological and immunohistochemical examination of the brain showed encephalitis in multiple foci, although sparse, in four patients (8%). In one of the patients the process was recent, active, and containing parasites. In the other three patients, the lesions were of minor intensity, with light exudative inflammatory changes, suggesting a process becoming inactive, or already inactive. The search for parasites in these three patients was negative, even with use of immunoperoxidase. The heart histological and immunohistochemical study showed, besides the chronic myocarditis in multiple foci associated with interstitial fibrosis, amastigotes in seven patients (14%). The absence of parasites and of inflammatory changes in the brain in the great majority of patients with chronic Chagas' disease, contrasting with the constant finding of inflammatory changes and the occasional finding of amastigotes in the myocardium of the same patients, allows us to state, in the same way other authors did, that there is no histopathological basis to support the existence of the chronic nervous form of Chagas' disease.

Key words: Chagas' disease, brain, Chagasic encephalitis, immunoperoxidase.

RESUMO

Fez-se o estudo histopatológico e imuno-histoquímico sistematizado do encéfalo e coração de 50 pacientes com forma crônica cardíaca de doença de Chagas. A técnica imuno-histoquímica empregada foi o método da peroxidase-antiperoxidase adaptado para a demonstração de formas amastigotas do T. cruzi. O exame histológico e imuno-histoquímico do encéfalo revelou, em 4 casos (8%), encefalite em focos múltiplos, não sistematizados. Num dos casos o processo era recente, em atividade, contendo parasitas. Nos outros três casos as lesões eram de menor intensidade, com fenômenos exsudativos discretos, sugerindo tratar-se de processo em extinção ou já inativo. A pesquisa de parasitas nestes três casos, mesmo com o uso da imunoperoxidase, foi negativa. O estudo histológico e imuno-histoquímico do coração mostrou, além da miocardite crônica em focos múltiplos acompanhada de fibrose endomisial, amastigotas em 7 casos (14%). A ausência de parasitas e de processo inflamatório no eneéfalo da grande maioria dos chagásicos crônicos, contrastando com o achado constante de lesões inflamatórias e o encontro ocasional de amastigotas no mio-cárdio destes mesmos pacientes, permite afirmar, de modo semelhante a outros autores, que não há base histopatológica para que se possa admitir a existência da forma crônica nervosa da doença de Chagas.

Palavras-chave: doença de Chagas, eneéfalo, encefalite chagásica, imunoperoxidase

Full text available only in PDF format.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Acknowledgements — This work was supported by FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) and by Grant 302036/76 from CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Aceite: 26-junho-1992

Dr. José Eymard Homem Pittella — Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal, Faculdade de Medicina, UFMG — Av. Alfredo Balena 190 — 30130-100 Belo Horizonte MG — Brasil.

  • 1. Alencar A. Encefalopatia crônica chagásica. J Bras Neurol 1982, 18:7-12.
  • 2. Almeida HO, Tafuri WL, Bogliolo L, Cunha JC. Parasitismo incomum do miocárdio e do esôfago em chagasico crônico, portador de doença de Hodgkin e em uso de imuno-depressores. Rev Soc Bras Med Trop 1974, 8:117-121.
  • 3. Almeida HO, Teixeira VP, Oliveira AC. Flebite com parasitismo em supra-rentais de chagásicos crônicos. Arq Bras Cardiol 1981, 36:341-344.
  • 4. Barbosa AJA. Método imunocitoquímico para a identificação de amastigotas do Trypanosoma cruzi em cortes histológicos de rotina. Rev Ins Med Trop São Paulo 1985, 27: 293-297.
  • 5. Borges-Fortes A. As lesões do sistema nervoso na enfermidade de Chagas (tripanosomiase americana). J Clin 1942, 23:353-361.
  • 6. Borges-Fortes A. As lesões do sistema nervoso na enfermidade de Chagas (tripanosomiase americana). J Clin 1945, 26:277-286.
  • 7. Cardoso RA. Lesões do sistema nervoro central em 4 casos infantis agudos de doença de Chagas. Bol Inst Puer Univ Brasil 1960, 17:101-110.
  • 8. Chagas C. Nova entidade mórbida do homem: resumo geral de estudos etiológicos e clínicos. Mem Inst Oswaldo Cruz 1911, 3:219-275.
  • 9. Chagas C. Les formes nerveuses d'une nouvelle trypanosomiase: Trypasosoma cruzi inoculé par Triatoma magista (maliadie de Chagas). Nouv Iconogr Salpêtrière 1913, 26:1-9.
  • 10. Chagas C. Triapanosomiase americana: forma aguda da moléstia. Mem Inst Oswaldo Cruz 1916, 8:37-59.
  • 11. DeCoursey E. The first fatal case of Chagas' disease observed on the isthmus of Panama. Am J Trop Med 1935, 15:33-40.
  • 12. Dominguez A, Gavallér B. Encephalitis chagasica. Z Tropenmed Parasitol 1962, 13:308-311.
  • 13. Elejalde P. Lesões cerebrais na doença de Chagas aguda. An Paul Med Cir 1958, 76:348-350.
  • 14. Ferreira MS, Ferreira RG, Oliver W, Rocha A, Silva AM. Meningoencefalite aguda causada pelo Trypanosoma cruzi em paciente portador da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Rev Soc Bras Med Trop 1989, 22(Suppl2):91.
  • 15. Hudson L, Britten V. Immune response to south american trypanosomiasis and its relationship to Chagas'disease. Br Med Bull 1985, 41:175-180.
  • 16. Johnson CM, DeRivas GT. Six new cases of Chagas' disease in Panama with review of previous cases. Am J Trop Med Hyg 1936, 16:47-57.
  • 17. Jörg ME. Histopatologia neural en disfunción cerebral mínima, secuela de meningoence-falitis por Trypanosoma cruzi Prensa Med Argent 1978, 65:229-238.
  • 18. Jörg ME, Rovira IZ. Formas clínicas encefalopáticas de enfermedad de Chagas crónica observadas en la Argentina. Prensa Med Argent 1980, 67:757-764.
  • 19. Jörg ME, Orlando AS. Neurosindrome mínimo en la tripanosomiasis cruzi crónica (estudio de dos casos de encefalopatia chagásica crónica). Mem Inst Oswaldo Cruz 1967, 65:63-79.
  • 20. Jost L, Turin M, Etchegoyen F, Leiguarda R, Torcuato A, Iotti R. Meningoencefalitis chagásica en paciente con tratamiento inmunosupresor por trasplante renal. Rev Neurol Arg 1977, 3:425-428.
  • 21. Kohl S, Pickering LK, Frankel LS, Yaeger RG. Reactivation of Chagas' disease during therapy of acute lymphocytic leukemia. Cancer 1982, 50:827-828.
  • 22. Krettli AU. Resposta imune humoral na doença de Chagas. Interciência 1983, 8:374-383.
  • 23. Laranja FS, Dias E, Nóbrega G, Miranda A. Chagas' disease: A clinical, epidemiologic, and pathologic study. Circulation 1956, 14:1035-1060.
  • 24. Leiguarda R, Roncoroni A, Taratuto AL, Jost L, Berthier M, Nogues M, Freilig H. Acute CNS infection by Trypanosoma cruzi (Chagas' disease) in immunosuppressed patients. Neurology 1990, 40:850-851.
  • 25. Lisbôa AC. Sobre a forma congênita da doença de Chagas: estudo anátomo-patológico de 6 casos. Rev Inst Med Trop São Paulo 1960, 2:319-334.
  • 26. Lopes ER, Chapadeiro E, Tafuri WL, Prata AR. Doença de Chagas. In Chapadeiro E, Lopes ER, Raso P, Tafuri WL (eds): Bogliolo Patologia. Ed 4 Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987, p 1047-1065.
  • 27. Lundeberg KR. A fatal case of Chagas' disease occurring in a man 77 years of age. Am J Trop Med Hyg 1938, 18:185-196.
  • 28. Mattosinho-França LC, Fleury RN, Ramos HA Jr, Lemos S de, Melaragno Filho R, Pasternak J. Moléstia de Chagas crônica associada a leucemia linfática: ocorrência de en-cefalite aguda como alteração do estado imunitário. Arq Neuro-Psiquiat (São Paulo) 1969, 27:59-66.
  • 29. Menezes AC, Lopes ER, Chapadeiro E. Estudo anatomopatológico sistematizado de encéfalos de chagásicos crônicos falecidos subitamente. Rev Inst Med Trop São Paulo 1988, 30:441-442.
  • 30. Monteverde DA, Taratuto AL, Lucatelli N. Meningoencefalitis chagásica aguda en pacientes inmunosuprimidos. Rev Neurol Arg 1976, 2:260-266.
  • 31. Noetzel H von, Elejalde P, Dias E. über die Gehirnveränderungen bei der Chagaskran-kheit. Z Tropenmed Parasitol 1958, 9:27-32.
  • 32. Pittella JEH. Ischemic cerebral changes in the chronic chagasic cardiopathy. Arq Neuro-Psiquiat (São Paulo) 1984, 42:105-115.
  • 33. Pittelia JEH. Brain involvement in the chronic cardiac form of Chagas' disease. J Trop Med Hyg 1985, 88:313-317.
  • 34. Queiroz AC. Tumor-like lesion of the brain caused by Trypanosoma cruzi Am J Trop Med Hyg 1973, 22:473-476.
  • 35. Queiroz AC. O envolvimento do sistema nervoso central em algumas doenças parasitárias. J Bras Med 1976, 30:26-38.
  • 36. Queiroz AC. Estudo das alterações encefálicas em casos humanos agudos da doença de Chagas. Rev Pat Trop 1978, 7:13-22.
  • 37. Queiroz AC. Estudo anatomopatológico do encéfalo na forma crônica da doença de Chagas. Rev Pat Trop 1978, 7:135-145.
  • 38. Rivero I, Boris E, Moravenik M, Morales JA, Gomez ME, Rosas JM. Leucemia aguda y enfermedad de Chagas: estudio de 4 casos. Medicina 1975, 35:73-78.
  • 39. Rubio M, Howard J. Congenital Chagas' disease: II. Pathological findings in nine cases. Bol Chil Parasitol 1968, 23:113-121.
  • 40. Scaravilli P. Parasitic and fungal infections of the nervous system. In Hume Adams J, Corsellis JA, Duchen LW (eds): Greenfield's Neuropathology. Ed 4. London: Edward Arnold, 1984, p 304-337.
  • 41. Sevlever G, Tanatuto AH, Carreras MC de las, Leiguarda R, Nogues M. Catatonia secondary to acute Chagas' encephalitis. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1987, 50:1244.
  • 42. Sternberger LA, Hardy PH, Cuculis JJ, Meyer EG. The unlabeled antibody-enzyme method of immunocytochemistry: preparation and properties of soluble antigen-antibody complex (horseradish peroxidase-antihorsemdish peroxidase) and its use in identification of spirochetes. J Histochem Cytochem 1970, 18:315-333.
  • 43. Teixeira AR, Roters FA, Mott KE. Acute Chagas' disease. Gaz Méd Bahia 1970, 3:176-186.
  • 44. Teixeira ARL. Chagas' disease: trends in immunological research and prospects for immunoprophylaxis. Bull WHO 1979, 57:697-710.
  • 45. Torres CM. A tripanosomose americana e a sua anatomia patológica. Fol Méd 1923, 4:25-29.
  • 46. Vianna G. Contribuição para o estudo da anatomia patológica da «Moléstia de Carlos Chagas». Mem Inst Oswaldo Cruz 1911, 3:276-294.
  • Histopathological and immunohistochemical study of the brain and heart in the chronic cardiac form of Chagas' disease

    Estudo histopatológico e imuno-histoquímico do encéfalo e coração na forma crônica cardíaca da doença de Chagas
  • Publication Dates

    • Publication in this collection
      19 Jan 2011
    • Date of issue
      Mar 1993
    Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revista.arquivos@abneuro.org