Acessibilidade / Reportar erro

Neuropsicologia da atividade onírica: considerações teóricas sugeridas por aspectos clínicos

Neuropsychological aspects of oneiric activity: theoretical considerations suggested by clinical aspects

Resumos

Baseados no que observamos em cinco pessoas hígidas, fazemos uma revisão das principais teorias a respeito dos sonhos e propomos uma explicação unificadora sobre a função cognitiva deles. Classificamos os sonhos considerando seu papel na inibição, estimulação ou criação de estratégias cognitivas em torno de um núcleo emocional. Estas estratégias seriam estocadas e elicitadas subliminarmente por experiências afetivas ou cognitivo-afetivas durante a vigília. Sugerimos que as mudanças de padrão, mais lógico ou mais emocional, durante o sonho baseiam-se numa oscilação de dominância frontal ou límbica durante cada período REM. Observações preliminares mostraram-nos que, durante o período de atividade eletrencefalográfica frontal mais rápida, o despertar elicita impressões de sonhos mais lógicos e menos bizarros mas, se este ocorrer durante períodos de menor ativação frontal, as lembranças elicitadas correspondem a sonhos mais bizarros e portanto cognitivãmente menos elaborados.

sonho; neuropsicologia; eletrencefografia


Based on observations in five patients, we review the main theories concerning dreams and propose a comprehensive theory on their cognitive function. We classify dreams based on the role performed by them in inhibition, stimulation or creation of cognitive strategies around an emotional nucleus. These are stored in the memory bank and retrieved by an elicitation mechanism linking affective experiences on awareness and the strategies processed in previous dreams. We also propose that the changes in logical and emotional patterns in dreams are based on fronto-limbic dominance oscillations during each REM period. Preliminary observations we made show that awakening patients during most rapid frontal EEG activity during REM sleep elicits more logical and less bizarre dreams. Contrariwise, when they are awakened during slower REM cortical EEG activity, mainly over the frontal lobes, their dreams are more bizarre and consequently less elaborated from a cognitive point of view.

dream; neuropsychology; electroencephalography


Neuropsicologia da atividade onírica: considerações teóricas sugeridas por aspectos clínicos

Neuropsychological aspects of oneiric activity: theoretical considerations suggested by clinical aspects

Moysés ChavesI; Marcelo CaixetaII; Delfino da Costa MachadoIII

IServiço de Psiquiatria (ASMGO) e Núcleo de Psicobiologia Humana Médica de Universidade Federal de Goiás (ICB/FM/HC): Acadêmico de Medicina (ASMGO/1CB/FM/UFG)

IIServiço de Psiquiatria (ASMGO) e Núcleo de Psicobiologia Humana Médica de Universidade Federal de Goiás (ICB/FM/HC): Médico-Chefe (ASMGO/ICB/ FM/HC/UFG)

IIIServiço de Psiquiatria (ASMGO) e Núcleo de Psicobiologia Humana Médica de Universidade Federal de Goiás (ICB/FM/HC): Médico-Professor (ICB/UFG)

RESUMO

Baseados no que observamos em cinco pessoas hígidas, fazemos uma revisão das principais teorias a respeito dos sonhos e propomos uma explicação unificadora sobre a função cognitiva deles. Classificamos os sonhos considerando seu papel na inibição, estimulação ou criação de estratégias cognitivas em torno de um núcleo emocional. Estas estratégias seriam estocadas e elicitadas subliminarmente por experiências afetivas ou cognitivo-afetivas durante a vigília. Sugerimos que as mudanças de padrão, mais lógico ou mais emocional, durante o sonho baseiam-se numa oscilação de dominância frontal ou límbica durante cada período REM. Observações preliminares mostraram-nos que, durante o período de atividade eletrencefalográfica frontal mais rápida, o despertar elicita impressões de sonhos mais lógicos e menos bizarros mas, se este ocorrer durante períodos de menor ativação frontal, as lembranças elicitadas correspondem a sonhos mais bizarros e portanto cognitivãmente menos elaborados.

Palavras-chave: sonho, neuropsicologia, eletrencefografia.

ABSTRACT

Based on observations in five patients, we review the main theories concerning dreams and propose a comprehensive theory on their cognitive function. We classify dreams based on the role performed by them in inhibition, stimulation or creation of cognitive strategies around an emotional nucleus. These are stored in the memory bank and retrieved by an elicitation mechanism linking affective experiences on awareness and the strategies processed in previous dreams. We also propose that the changes in logical and emotional patterns in dreams are based on fronto-limbic dominance oscillations during each REM period. Preliminary observations we made show that awakening patients during most rapid frontal EEG activity during REM sleep elicits more logical and less bizarre dreams. Contrariwise, when they are awakened during slower REM cortical EEG activity, mainly over the frontal lobes, their dreams are more bizarre and consequently less elaborated from a cognitive point of view.

Key-words: dream, neuropsychology, electroencephalography

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Aceite: 16-junho-1997.

Dr. Marcelo Caixeta - Rua J45, Qd 86, Lt 16 - 74673-620 - Goiânia GO - Brasil.

  • 1. Barinaga M. To sleep, perchance to...learn? New studies say yes. Science 1994;265:603-604.
  • 2. Crick F, Mitchison G. The function of dream sleep. Nature 1983;304:111-114.
  • 3. Crick F, Mitchison G. REM sleep and neural nets. Behav Brain Res 1995;69:147-155.
  • 4. Freud S. The interpretation of dreams. New York: Avon, 1965.
  • 5. Hobson JA. Sleep and dreaming. J Neurosci 1990;10:371-382.
  • 6. Hobson JA, McCarley RW. The brain as a dream state generator:an activation-synthesis hypothesis of the dream process. Am J Psychiatry 1977;134:1335-1348.
  • 7. Jouvet M. Is paradoxical sleep responsible for a genetic programming of the brain?. CR Seances Soc Biol Fil 1978;172:9-32.
  • 8. Jouvet M. Memories and split brain during dream: 2525 memories of dream: Rev Prat 1979;29:27-32.
  • 9. Jouvet M. Paradoxical sleep: is it the guardian of psychological individualism? Can J Psychol 1991;45:148-151.
  • 10. Kami A, Tanne D. Dependence on REM sleep of overnight improvement of a perceptual skill. Science 1994;265:679-682.
  • 11. McCarley RW, Hoffman E. REM sleep dreams and the activation-synthesis hypothesis. Am J Psychiatry 1981,138:904-912.
  • 12. Okuma T. On the psychophysiology of dreaming:a sensory image-free association hypothesis of the dream process. Jpn J Psychiatry Neurol 1992;46:7-22.
  • 13. Reimão R. Sono: aspectos atuais. São Paulo: Atheneu, 1990.
  • 14. Sastre JP, Jouvet M. Oneiric behavior in cats. Physiol Behav 1979;22:979-989.
  • 15. Wilson MA, McNaughton BL. Replay of neuronal firing sequences in rat hippocampus during sleep following spatial experience. Science 1993;261:1055-1059.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Out 2010
  • Data do Fascículo
    Set 1997
Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.arquivos@abneuro.org