Acessibilidade / Reportar erro

ANÁLISES DE LIVROS

SOMATIC AND AUTONOMIC REGULATION IN SLEEP. E. LUGARESI, P. L. PARMEGIANI (editores). Um volume (15,5x23,5 cm) em brochura, com 140 páginas. Bologna, 1997: Springer-Verlag (via Ugo Foscolo 7, 40123 Bologna, Italia).

Trata-se uma oportunidade notável de se atualizar e acompanhar as descobertas e os estudos ora em andamento, da tradicional e dinâmica escola de pesquisa de sono de Bolonha. Todos os oito capítulos foram escritos por autores da Universidade de Bolonha, perfazendo assim um conjunto harmonioso da contribuição única que esta escola vem oferecendo à comunidade científica. São pelo menos quatro décadas de dedicação de várias gerações de pesquisadores de sono.

Atualmente, temos à frente desta escola os dois editores desta obra, Elio Lugaresi, reconhecido como um dos maiores líderes na Itália em relação aos aspectos fisiopatológicos do sono humano, cujo nome vem ligado a inúmeros méritos, entre eles algumas das primeiras descrições da síndrome de apnéia do sono tipo obstrutivo; ao relato e estudo exaustivo da insônia familiar fatal, desde seu quadro clínico, genético, ao achado de seu agente etiológico, um príon; o estudo da distonia paroxística noturna, hoje conhecida como síndrome de epilepsia noturna do lobo frontal. Pier Luigi Parmeggiani, co-editor, e atualmente vice-presidente da Federação Mundial das Sociedades de Pesquisa de Sono, destaca-se na fisiologia do sono em modelos animais, dedicados à investigação de neurotransmissores envolvidos no processo sono-vigília; atualmente focaliza seus esforços no controle neural da temperatura no ciclo sono-vigília.

Apesar do título do livro enfatizar a fisiologia da regulação autonômica e somática do sono, na realidade, são incluídos textos diversos. Este conjunto de capítulos foi originalmente preparado para um curso sobre sono e suas patologias promovido pela Sociedade Italiana de Neurociência, em 1996. São oito capítulos divididos em duas partes. A primeira, é dedicada a: a. bioquímica do ciclo sono-vigília; b. regulação da circulação cerebral e extracerebral durante o ciclo sono-vigília; c. controle hipotalâmico da temperatura e os estágios de sono. A segunda parte, traz aspectos fisiopatológicos do sono humano, incluindo: a. ritmo circadiano da temperatura corpórea em patologias neurodegenerativas, atendo-se à insônia familiar fatal e à atrofia de múltiplos sistemas; b. epidemiologia da sonolência excessiva diurna; c. distúrbios respiratórios durante o sono, enfatizando a síndrome de apnéia do sono tipo obstrutivo; d. distúrbios do controle motor durante o sono, como mioclonia noturna, síndrome das pernas inquietas e câimbras noturnas; e. síndrome de epilepsia noturna do lobo frontal.

As referências são extensas, geralmente excedendo meia centena em cada capítulo, e favorecem, merecidamente, os trabalhos desenvolvidos pela escola de Bolonha. Para todos os que já aprenderam a admirar esta escola de pesquisadores e para os iniciantes, é um volume altamente recomendável.

RUBENS REIMÃO

O DESENVOLVIMENTO KLEINIANO II. DONALD MELTZER. Tradução de Cláudia Bacchi. Um volume (14x21 cm) com 173 páginas. São Paulo, 1993: Editora Escuta.

Este livro consiste de 16 aulas proferidas pelo autor a um pequeno grupo de estudantes de psicoterapia em Londres. Estas aulas apresentam uma narrativa minuciosa do tratamento da psicoterapeuta austro-britânica Melanie Klein (1882-1960) numa criança inglesa com 10 anos de idade; esta narrativa é acompanhada por muitos comentários de Meltzer, e tudo é baseado no livro "Narrativa da Análise de Uma Criança", anteriormente publicado por Klein. Melanie Klein em geral é classificada como uma psicoterapeuta pós-freudiana. As sessões deste tratamento aconteceram no ritmo de 5 a 6 dias cada semana e duraram 4 meses, incluindo terapia de jogos e terapia verbal.

Donald Meltzer é um psiquiatra americano que emigrou para a Inglaterra em 1952 para estudar com Melanie Klein e depois da morte dela continuou em Londres, onde passou toda a sua vida profisssional. Entre 1948 e 1951 o autor mais velho desta análise do livro e Meltzer foram residentes em psiquiatria no mesmo centro médico nos Estados Unidos. Nesta época Meltzer era uma pessoa simpática; um pouco tenso e melancólico, falava às vezes de sua família em Nova York e dos problemas emocionais de seus parentes.

Os problemas básicos do paciente deste livro foram desconforto emocional com crianças e com adultos e uma agorafobia de grau moderado. Ele também tinha problemas depressivos e fases de excitação maníaca.

Melanie Klein desenvolveu muitos conceitos psicanalíticos que divergiam bastante das idéias de Freud; Meltzer dá muita atenção neste livro à evolução em Melanie Klein das suas próprias teorias e técnicas de tratamento. Estas divergências geraram conflitos profissionais entre ela e os freudianos convencionais. A hostilidade entre ela e Anna Freud, ambas clinicando no centro de Londres durante mais de 20 anos, foi aberta e bem conhecida. Tais conflitos teóricos e clínicos às vezes deixam terapeutas imparciais numa posição perplexa e desconfortável.

Para um leitor que tenta ficar dentro dos limites do método científico, os métodos de Klein, e dos freudianos e pós-freudianos em geral, não são aceitáveis. Por exemplo, na página 29, e em outras páginas, Klein diz que as barras elétricas de um aquecedor na sala de terapia representaram para o paciente o pênis de seu pai e quando a criança ligou o aquecedor, este paciente foi, no ponto de vista de Klein, fazendo o pênis de seu pai ereto e quando desligou o aquecedor ele foi fazendo o pênis de seu pai frouxo, e ela fez estas interpretações ao paciente. Mas Klein não dá, ao nosso ver, quaisquer evidências para apoiar estas asserções. Este tipo de raciocínio acontece várias vezes na maioria das páginas deste livro (e o raciocínio de Meltzer é semelhante) e o faz, do nosso ponto de vista, de modo não científico e assim inaceitável.

Todavia, neste bem escrito livro, o leitor tem uma apresentação clara e detalhada (literalmente, passo a passo) do que exatamente acontece numa análise kleiniana, e livros que conseguem isso sobre qualquer tipo de psicoterapia são raros. Desde que análises kleinianas são feitas por pequeno número de psicoterapeutas em muitos países, inclusive no Brasil, é interessante, e às vezes útil, entender o que ocorre neste tipo de tratamento que alguns dos nossos colegas estão fazendo.

A.H. CHAPMAN

LUIZ ROGÉRIO SENA PEREIRA

HISTÓRIA DA NEUROLOGIA NO ESTADO DE SÃO PAULO. RUBENS REIMÃO & JOSÉ LUIZ ALONSO-NIETO, editores. Um volume (16x22,5 cm) em brochura, com 351 páginas. São Paulo, 1996: Lemos Editorial (Rua Rui Barbosa 70, 01236-010 São Paulo SP).

Reunindo os esforços de 30 colaboradores, em 42 capítulos os Editores apresentam este primeiro texto acerca de alguns dos marcos da neurologia paulista, preparado sob a égide do Departamento de Neurologia da Associação Paulista de Medicina (APM).

Destaque é dado a Enjolras Vampré, que foi Presidente da APM, e às duas escolas neurológicas resultantes do núcleo inicialmente desenvolvido por ele na Santa Casa de Misericórdia da Cidade de São Paulo: a Clínica Neurológica da então Faculdade de Medicina de São Paulo, hoje da Universidade de São Paulo (FMUSP); a Clínica Neurológica da Escola Paulista de Medicina, hoje da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP). A partir dessas duas escolas nucleares, o desenvolvimento de algumas das escolas delas resultantes é focalizado, assim como o de alguns dos centros da especialidade situados em outras cidades do Estado. Os aspectos sobre esses temas e sobre alguns de seus vultos estão reunidos nos 28 primeiros capítulos.

Aspectos do desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre temas neurológicos específicos são apresentados nos 13 capítulos seguintes, em sua maioria obedecendo ao ângulo de visão de seus autores. A distribuição demográfica (1992) dos neurologistas no Estado de São Paulo e lista daqueles que integram o Departamento de Neurologia da APM encerram o texto.

Como os Editores salientam nos Agradecimentos com que o livro se inicia, este volume resulta de um primeiro esforço voltado ao assunto. Implicitamente prometem eles, portanto, dar continuidade ao esforço ou propiciar condições para tanto, precisando facetas deixadas em aberto e focalizando decisivas contribuições de outros vultos e de outros núcleos neurológicos paulistas. Assim, será garantido o conceito de que "só pelo conhecimento do passado é possível compreender e julgar a Medicina de hoje", expresso no Prefácio desta obra pelo Professor Emérito da FMUSP e Diretor Vitalício do Museu Histórico da Casa de Arnaldo, o Prof. Dr. Carlos da Silva Lacaz.

ANTONIO SPINA-FRANÇA

NEUROCISTICERCOSIS. CAMILO ARRIGADA R., JORGE NOGALES-GAETE, WERNER APT B., editores. Um volume (18x25,5 cm) em brochura, com 334 páginas. ISBN 956-272-689-4. Santiago, 1997: Arrygnog Editores (Enrique Foster Norte 203, Santiago, Chile). E-mail:jnogales@ctc-mundo.net

Este livro, já analisado no número anterior desta revista por Benedicto Oscar Colli, é uma obra essencial para os estudiosos das moléstias inflamatórias do sistema nervoso. A neurocisticercose continua sendo, na América Latina, um grande problema não só de saúde pública mas também para toda a classe neurológica.

O livro começa com excelente prólogo contendo aspectos históricos da doença, escrito por Charles M. Poser. Em seguida, são apresentados vários capítulos que abrangem aspectos epidemiológicos, aspectos biológicos do parasita, os principais sintomas clínicos, o diagnóstico por imagem e imunológico, no caso e no líquido cefalorraqueano (LCR), e finalmente o tratamento medicamentoso e cirúrgico da neurocisticercose.

O capítulo de imunodiagnóstico da neurocisticercose está bastante atualizado, referindo a pesquisa de anticorpos e de antígenos no soro e LCR. No entanto, os autores não fazem referência à pesquisa concomitante de anticorpos no soro e LCR através do índice de anticorpos de Reiber e Lange, pelo qual se evidencia da produção intratecal de anticorpos anticistercos. A pesquisa de antígenos é bem descrita, apesar de a metodologia empregada não se encontrar disponível em todos os centros onde a neurocisticercose é estudada.

O capítulo de tratamento medicamentoso é apresentado de modo didático e inclui exemplos típicos de manejos em várias situações que são frequentemente observadas em pacientes com neurocisticercose. Falta no entanto ao livro, como em várias outros publicados na América Latina, um número maior de referências ao que é publicado em português, particularmente por autores brasileiros.

Ao término da leitura, salienta-se a excelente qualidade das ilustrações tanto dos aspectos de neuroimagem quanto dos aspectos patológicos, seja do parasita em si seja por peças anatomo-patológicas de sistema nervoso.

Estão de parabéns mais uma vez os editores. É um livro imprescindível na biblioteca daqueles que se dedicam as ciências neurológicas.

JOSÉ ANTONIO LIVRAMENTO

TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO EM PEDIATRIA. ARTUR HENRIQUE GALVÃO BRUNO DA CUNHA, HILDO ROCHA CIRNE DE AZEVEDO FILHO, editores. Um volume (14x21cm) em brochura, com 70 páginas. Recife, 1997: Edições Bagaço Ltda. (Rua Conde de Irajá 315, 50710-310 Recife PE).

Este livro, escrito por dois renomados neurocirurgiões do Recife, é uma obra de caráter prático e bem escrita sobre um problema atual, o traumatismo cranioencefálico em crianças.

Contém um capítulo introdutório sobre traumatismo cranioencefálico (TCE) infantil em que já são descritos cinco princípios que devem ser observados no primeiro atendimento ao paciente com TCE, juntamente com a escala de coma de Glasgow modificada para a criança. Seguem-se capítulos sobre traumatismo de tecidos moles, TCE fechado, TCE aberto, processos metatraumáticos. Cada um deles vem acompanhado de figuras ilustrativas, de pacientes e de neuroimagem.

É um livro prático, de bolso, que deve ser do conhecimento de todo residente de neurocirurgia e daqueles pediatras que trabalham com emergências. Estão de parabéns seus autores pela apresentação deste manual, adequado à nossa realidade e extremamente prático, como salienta no prefácio da obra o Coordenador de Ensino do IMIP, Instituto Materno Infantil de Pernambuco, Dr. João Guilherme Bezerra Alves.

JOSÉ ANTONIO LIVRAMENTO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Nov 2000
  • Data do Fascículo
    Jun 1998
Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.arquivos@abneuro.org