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Análises de livros

ANÁLISES DE LIVROS

A NEUROLOGIA QUE TODO MÉDICO DEVE SABER (segunda edição). RICARDO NITRINI, LUIZ ALBERTO BACHESCHI (editores). Um volume (21 x 28 cm) em brochura, com 490 paginas. São Paulo, 2003: Livraria Atheneu (Rua Jesuíno Pascoal 30, fax 11 223 5513, e-mail edathe@terra.com.br).

Antonio Spina-França

O título deste livro deveria ser "a neurologia que todo neurologista deve saber", pois reúne o essencial da bagagem esperada para o conhecimento da área. Soma-se a esse aspecto, o fato de ter sido preparado e editorado por membros da escola que Enjolras Vampré criou em São Paulo, a partir da segunda década do século passado, na hoje Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Pela qualidade do conhecimento que irradia desde então, essa escola se ombreia às de maior prestígio, tanto no Brasil como internacionalmente. A essa mesma escola pertencem os trinta e dois responsáveis pelos diferentes temas reunidos neste livro, todos com uma característica em comum: a vivência que têm na matéria sobre a qual discorrem.

O livro tem vinte e cinco capítulos, reunidos em três partes. A primeira apresenta o essencial da propedêutica neurológica, em cinco capítulos: princípios fundamentais, semiologia neurológica, síndromes neurológicas e topografia da lesão, exames complementares (líquido cefalorraquidiano, eletrencefalografia, eletroneuromiografia), métodos de imagem. Pranchas e quadros sinópticos de anátomo-fisiologia enriquecem cada um deles, assim como, no último deles, as neuroimagens de tomografia computadorizada e de ressonância magnética, particularmente.

A segunda parte abrange, em quinze capítulos, temas do viver neurológico diário: hipertensão intracraniana, comas e estados alterados de consciência, doença encefalovascular, traumatismo cranioencefálico, processos infecciosos do sistema nervoso, epilepsias, fisiopatologia da dor, cefaléias, distúrbios do movimento, demências, esclerose múltipla, neuropatias periféricas, miopatias, urgências neurológicas, biologia molecular e neurologia clínica. No capítulo "urgências" está muito bem colocado e igualmente bem desenvolvido o estudo das complicações neurológicas do alcoolismo, matéria do diuturno de um serviço de emergência.

A terceira parte contém cinco capítulos de neurologia infantil: desenvolvimento normal do sistema nervoso central (SNC), semiologia neuropediátrica: o exame neurológico da criança, principais causas pré- e perinatais do desenvolvimento anormal do SNC e principais afecções em neurologia infantil.

A bibliografia recomendada a propósito de cada tema consta do respectivo capítulo. Índice remissivo encerra o livro.

A precisão do conteúdo de cada capítulo e o cuidado dos editores, quanto à homogeneidade da obra, fazem deste compêndio um verdadeiro livro de cabeceira para os que se iniciam em neurologia, assim como para aqueles que mais experiência tenham reunido sobre a matéria ao longo de sua vida profissional. Ao mesmo tempo, a exatidão dos textos e a experiência didática de cada um dos autores responsáveis pelos temas, ambas salientadas pelos editores na Apresentação, abrem ao livro a perspectiva de guiar a matéria curricular de neurologia em um curso de graduação em medicina.

REABILITAÇÃO EM DOENÇAS NEUROLÓGICAS: GUIA TERAPÊUTICO PRÁTICO. JOSÉ ANTONIO LEVY, ACARY SOUZA BULLE OLIVEIRA (editores). Um volume (16 x 27 cm) em brochura, com 263 páginas. São Paulo, 2003: Livraria Atheneu (Rua Jesuíno Pascoal 30, fax 11 223 5513, e-mail edathe@terra.com.br).

Antonio Spina-França

Trinta profissionais da saúde ligados às Clínicas Neurológicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Pulo (EPM-UNIFESP) prepararam os vinte capítulos deste livro, coordenado e editado por José Antonio Levy e Acary Souza Bulle Oliveira. José Antonio Levy, Livre-Docente de Neurologia e Professor Associado de Neurologia da FMUSP, é mestre maior entre os que cuidam da Clínica Neurológica da FMUISP. Ele é o introdutor do estudo sistematizado das afecções neuromusculares em nosso meio, que se destaca entre suas muitas outras notáveis contribuições à neurologia e às neurociências. Acary Souza Bulle Oliveira, Doutor em Neurologia, é o responsável pelo Setor de Investigação em Doenças Neuromusculare de EPM-UNIFESP. A competência de ambos representou o melhor estímulo para o trabalho conjunto das duas escolas, de que resultou este livro.

Quatro capítulos sobre bases anátomo-fisiológicas dos principais transtornos do sistema nervoso abrem o livro. Após eles, constam temas de reabilitação e de medidas terapêuticas aplicáveis a esses transtornos. Sucessivamente, em diferentes graus de profundidade, são analisados os assuntos: recuperação da motricidade, cognição, disfagia orofaríngea neurogênica, terapia nutricional enteral e reabilitação nutricional, reabilitação respiratória, epilepsia, espasticidade, dor, alterações autonômicas (bexiga neurogênica), escaras, lesão muscular traumática, tratamento ortopédico das deformidades de causa neurológica, aspectos comportamentais em doenças crônicas, avaliação da qualidade de vida, doença crônica e o processo de morrer, cuidado domiciliar do paciente (home care). Cuidadoso índice remissivo encerra o livro.

Encontram-se nesses capítulos, todos preparados por profissionais da saúde comprovadamente capacitados, muito do que o neurologista necessita para o diuturno assistir do seu paciente. Por outro lado, os profissionais da saúde de outras áreas que não a medicina e a neurologia, pela primeira vez em nosso meio, encontram nas páginas deste livro um guia seguro para o seu exercício profissional junto ao paciente neurológico.

PAUTAS DE TRATAMENTO EN NEUROLOGÍA. CARLOS CHOUZA (editor). Um volume (17 x 24 cm) em brochura, com 281 páginas. ISBN 9974 648 020 2. Montevidéu, 2002: Instituto de Neurología (Hospital de Clínicas, Avenida Italia s/n, Montevideo, Uruguay. Fax 55982 487 8423).

Antonio Spina-França

Carlos Chouza, Professor Catedrático de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade da República do Uruguai e Diretor do Instituto de Neurologia do Hospital de Clínicas de Montevidéu, é o editor deste livro. Contou ele com a colaboração dos membros desse destacado centro de estudos de neurociências para o preparo dos capítulos deste livro. Tanto a experiência clínica do Editor, como a de seus colaboradores, ditou preparo de cada uma das pautas que o livro abrange.

O livro se inicia com o tema de neurofarmacologia clínica voltado às bases farmacológicas e farmacogenéticas para a terapêutica neurológica. Após esse capítulo, sucessivamente são apresentados os temas: epilepsia, doenças desmielinizantes, doenças neuromusculares, demências, doença de Parkinson e transtornos do movimento, cefaléias e algias faciais, neuroinfectologia, transtornos neurovegetativos, síndrome vertiginosa, neuropatia óptica, transtornos do sono em doenças neurológicas e, finalizando, aspectos das estratégias de neuroproteção.

A pauta de cada tema discute os dados de cada autor resultantes da respectiva prática diária, a que se soma o essencial da literatura sobre o assunto. Esta é listada ao final de cada capítulo.

Este é um livro de interesse a todo o neurologista. Ao mesmo tempo, convida à análise do quanto seria útil estender seu âmbito, passando da experiência regional – no caso da notável escola neurológica de Montevidéu – para algo mais amplo, como a soma de condutas preconizadas por outros igualmente importantes centros neurológicos latino-americanos.

CEFALÉIAS PRIMÁRIAS. COMO DIAGNOSTICAR E TRATAR:ABORDAGEM PRÁTICA E OBJETIVA. ABOUCH VALENTY KRYMCHANTOWSKI. Um volume (18 x 25 cm) em brochura, com 192 páginas. São Paulo, 2002: Lemos Editorial (Rua Rui Barbosa 70, 001326-000 São Paulo SP. Fax 11 3371 1855. E-mail lemos@lemos.com.br;www.lemos.com.br).

Antonio Spina-França

O autor, o médico Abouch Valenty Krymchantowski, com Doutorado em Neurologia pela Universidade Federal Fluminense, atua no Instituto de Neurologia Deolindo Couto da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o Ambulatório de Cefaléias Crônicas. Como cefaliatra, sua vivência clínica do tema do livro é ampla e garante a sua fecunda contribuição científico-tecnológica na área. Ele é membro da Sociedade Brasileira de Cefaléia (SBC), da qual apresentam o livro em Prólogos, tanto o Presidente de Honra – Edgard Raffaelli Júnior – e o Presidente – Pedro Ferreira Moreira Filho.

Tomando como ponto de partida a classificação e a nomenclatura recomendadas pelo Headache Classification Committee of the International Headache Society (1988), endossada pela Organização Mundial da Saúde (CID-10), Krymchantowski desenvolve a matéria deste livro. Apresenta na Introdução o protocolo de anamnese e de exame clínico e, nos capítulos seguintes analisa as características diagnósticas e de conduta das principais cefaléias primárias.

Assim, sucessivamente são analisadas as cefaléias do tipo tensional, a migrânea ou enxaqueca, o tratamento das crises de migrânea, a migrânea em crianças e adolescentes, a cefaléia crônica diária, a cefaléia em salvas. Cefaléias primárias incomuns são o objetivo do último capítulo.

Referências bibliográficas atuais enriquecem cada um dos capítulos. No entanto, a meu ver, o que mais enriquece cada um deles é a vivência clínica do autor acerca do tema.

Trata-se de livro que interessa ao cefaliatra, ao neurologista e ao clínico geral. A experiência do autor e seu descortínio crítico enriquecem, com este compêndio, a literatura brasileira sobre cefaléias.

TRATAMENTO CLÍNICO E CIRÚRGICO DAS EPILEPSIAS DE DIFÍCIL CONTROLE. ARTHUR CUKIERT (editor). Um volume (22 x 28 cm) encadernado, com 394 páginas. São Paulo, 2002: Lemos Editorial (Rua Rui Barbosa 70, 01326-010 São Paulo SP. Fax 11 3371 1855. E-mail lemos@lemos.com.br).

Antonio Spina-França

Trinta e três são os autores dos capítulos deste livro sobre epilepsias de difícil controle, coordenado e editado por Arthur Cukiert, Doutor em Neurologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

São 29 os capítulos em que a matéria é distribuída. Mantendo o foco na epilepsia refratária, sucessivamente eles apresentam: bases neuroquímicas e neuropatológicas, estratégias terapêutica clínica, drogas anti-epilépticas, dieta cetogênica, particularidades na mulher epiléptica, ocorrência na infância, aspectos de neuroimagem, neurofisiologia não-invasiva (EEG), vídeo-EEG, avaliação neuropsicológica, o papel da calosotomia, aspectos da anestesia em cirurgia da epilepsia, cirurgia na epilepsia do lobo temporal e extratemporal, eletrocorticografia, implante subdural, tumor cerebral primário e epilepsia refratária, hemisferectomia, qualidade de vida, aspectos psiquiátricos pré- e pós-operatórios, estimulação vagal como terapia alternativa. Ao final de cada capítulo consta a bibliografia sobre o respectivo tema. Índice remissivo finaliza o livro.

César Timo-Iaria, Professor Titular de Fisiologia da FMUSP, em seu Prefácio ao livro, realça a sua extrema utilidade para os especialistas em epilepsia. E, como salienta Arthur Cukiert na Apresentação, para a equipe multiprofissional responsável pelo cuidado do paciente com epilepsia refratária.

NEUROENDOCRINOLOGIA CLÍNICA E CIRÚRGICA. ARTHUR CUKIERT, BERNARDO LIBERMAN (editores). Um volume (21 x 28 cm) encadernado, com 638 páginas. São Paulo, 2002: Lemos Editorial (Rua Rui Barbosa 70, 01326-010 São Paulo SP. Fax 11 3371 1855. E-mail lemos@lemos.com.br).

Antonio Spina-França

Somam-se aos editores, 57 outros colegas no preparo dos 41 capítulos que este livro contém, com o objetivo de analisar os principais aspectos clínicos e cirúrgicos da neuroendocrinologia, como em seus prefácios salientam Arthur Cukiert e Bernardo Liberman. O primeiro é neurocirurgião, Doutor em Neurologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e o segundo, Livre-Docente de Endocrinologia da FMUSP, atuando ambos no Hospital Brigadeiro, na cidade de São Paulo.

O tema é introduzido nos cinco primeiros capítulos, voltados a aspectos anatômicos e fisiológicos da base da fossa craniana média, particularmente do hipotálamo e da hipófise e o eixo que ambos constituem. Seguem-se capítulos sobre funções hormonais periféricas e o desempenho que sobre elas tem a hipófise. O estudo das patologias tumorais se inicia no capítulo 20 e se desenvolve daí por diante, com realce às condutas de terapêutica cirúrgica e clínica. A bibliografia pertinente ao tema consta do final de cada capítulo. Índice remissivo encerra o livro.

Trata-se de compêndio que realça a experiência dos autores em cada área, reunida com maestria pelos editores.

ELA E EU: MINHA RELAÇÃO COM A ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA. SILVIO A ZANINI. Um volume (14 x 21 cm) em brochura, com 127 páginas. São Paullo, 2002: Lemos Editorial (Rua Rui Barbosa 70, 01326-010 São Paulo SP. Fax 11 3371 1855. E-mail lemos@lemos.com.br).

Antonio Spina-França

O autor deste livro, o notável cirurgião Silvio Zanini, há mais de dez anos mantém estreitos laços com a esclerose lateral amiotrófica (ELA) que, paulatinamente, limitou suas atividades físicas. Hoje, em cadeira de rodas e não mais podendo expressar-se verbalmente, matem férreo o espírito indômito de luta que sempre foi, e é, uma das tônicas de sua atividade profissional e de seu desempenho humano. Testemunha ele, neste livro, sua experiência interior de conviver com o diagnóstico e com a limitação da perspectiva de vida que consigo traz o diagnóstico de ELA. Este livro reúne suas reflexões acerca de como enfrentar a limitação motora progressiva e suas apreciacões quanto ao modo de encarar a doença mantendo a qualidade de vida.

Através dos 37 capítulos do texto, ensina o autor tanto ao médico que cuida de pacientes com ELA, como também investe no caminho de informar melhor outros pacientes acometidos por essa doença, mostrando-lhes a sua experiência. Como menciona ele no Prefácio, este não é um livro para auto-ajuda. Trata-se de uma forma de instigar outros padecentes a conscientizar-se do diagnóstico e, mesmo assim, buscar dar continuidade à luta de suas vidas da melhor forma possível. A consideração final do autor, dirigida ao doente, é lapidar: "Lembre-se de que, em qualquer circunstância, pode-se ser um vencedor; um doente sim, um derrotado, nunca".

Pelo real testemunho que o livro contém, é de leitura altamente recomendada tanto ao neurologista como aos demais profissionais da saúde que lidam com a ELA, assim como para os cuidadores do paciente por ela acometidos, sejam eles seus parentes ou não. Mas, é um livro que retrata a luta e o positivo convívio com um transtorno da saúde que traz consigo um prognóstico difícil de ser aceito. E, neste sentido, um livro enriquecedor para aqueles que buscam entrever tudo quanto a natureza humana pode almejar.

QUESTIONS FOR FREUD: THE SECRET HISTORY OF PSYCHOANALYSIS. NICHOLAS RAND, MARIA TOROK. Um volume (13 x 20 cm) com 239 páginas. ISBN 0 674 74235 3. Cambridge, 2002: Harvard University Press (79 Garden Street, Cambridge, MASS 02138 USA).

A.H. Chapman; Djalma Vieira e Silva

Este livro é uma bem documentada crítica sobre Sigmund Freud e alguns aspectos das suas teorias e técnicas. Os autores aceitam que Freud fez contribuições significativas para a psicologia e a psiquiatria, mas eles alegam que a psicanálise é contaminada por contradições ilógicas e outros defeitos de raciocínio. Eles indicam que este livro não vai tratar das críticas feitas em muitos outros livros e artigos; estes defeitos incluíam "alegações que Freud foi desonesto e impróprio nos seus relacionamentos com os seus pacientes; a propaganda que ele fez para as suas teorias e para si mesmo; as distorções e representações falsas que fez nas suas evidências clínicas; a ausência de confirmação de suas teorias e técnicas por investigadores independentes; a ausência no seu sistema de proteção contra dogmas insustentáveis e interpretações arbitrárias; a sua incapacidade de produzir resultados duradouros nos seus pacientes, e não falar de curas; e, a tendência de confundir as suas próprias observações e fantasias com observações científicas e dados clínicos.".

Um dos autores, Maria Torok, é uma psicanalista que exerce a sua profissão, presumivelmente com modificações marcantes, e o outro autor, Nicholas Rand, é um acadêmico que se dedica ao estudo da psicanálise há muitos anos.

Os autores dedicam a maior parte do livro a três contradições que Freud colocou em psicanálise: (1) Freud aceitou a realidade de traumas sexuais na infância, como seduções por adultos, e também acreditou que todos esses traumas existiam somente nas fantasias dos pacientes; durante toda a sua carreira ele vacilou entre esses dois pontos de vista incompatíveis. (2) Ele disse que a análise de um sonho ("a estrada real para o inconsciente") exige a descoberta das significações de todos os detalhes do sonho e que elas são diferentes em todos os pacientes, e também que existe uma lista grande de significações universais em todo mundo (assim, uma bengala sempre representa um pênis e uma escada sempre representa o ato sexual). (3) Ele ensinou que as coisas que pacientes dizem não devem ser censuradas ou distorcidas, mas nos casos que ele apresentou na literatura psiquiátrica ele censurou e distorceu muitas matérias para forçar as verbalizações dos pacientes para concordar com suas teorias. Uma grande parte deste livro consiste de muitos exemplos desses três tipos de defeitos em psicanálise.

Os autores discutem, em todos os seus aspectos, um criminoso escândalo público envolvendo três membros da família de Freud (um tio e dois irmãos) que aconteceu quando Freud tinha nove anos de idade; este escândalo, nos anos e décadas seguintes, foi escondido por toda a família de Freud e quase nunca mencionado entre eles mesmos. Os autores apresentam artigos dos vários jornais austríacos em que o escândalo foi relatado durante quase um ano. Os autores são de opinião que essa experiência colocou no jovem Freud uma tendência a esconder obsessivamente tudo que foi contra os seus interesses profissionais e sociais, e que esta tendência afetou a psicanálise durante a sua evolução e difusão. Assim, ele frequentemente negou a existência de coisas adversas à psicanálise, que foram óbvias para observadores independentes.

De fato, há alguns erros neste livro. Os autores dizem que Freud foi o primeiro psicoterapeuta e que todos os tipos de psicoterapia, que existem hoje, tiveram no seu trabalho as fontes originais. Isto não é verdade. Na mesma época, Pierre Janet, na França, Adolf Meyer, nos Estados Unidos, e e os seguidores de Ivan Pavlov, na Rússia, evoluíram para sistemas de psicoterapia independentemente de Freud, e algumas autoridades acham que o movimento de assistência social desenvolveu as suas formas de psicoterapia, ao menos em parte, numa maneira independente. Os autores dizem, como Freud mesmo disse, que Freud descobriu o inconsciente mas, como L. L. Whyte esclarece no seu livro The Unconscious before Freud (O inconsciente antes de Freud), o inconsciente tem uma história comprida que começou com Platão e, bem mais tarde, foi elaborado pelos pós-platonistas ingleses. Ainda, de fato, há outros erros neste livro, mas eles são menos importantes.

Em nossa opinião, pessoas que não têm grandes investimentos intelectuais e profissionais nas teorias e técnicas de Freud vão achar este livro interessante, mas pessoas que aceitam as doutrinas freudianas e usam-nas no seu trabalho, talvez, vão achar este livro sem validade.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Abr 2003
  • Data do Fascículo
    Mar 2003
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