Acessibilidade / Reportar erro

Vigabarina no tratamento da epilepsia de difícil controle em pacientes com síndrome de West e esclerose tuberosa

Vigabatrin in the treatment of epilepsy in patients with West syndrome and tuberous sclerosis

Resumos

OBJETIVO: é relatar a eficácia da vigabatrina no controle das convulsões, bem como as alterações eletrencefalográficas em crianças com esclerose tuberosa e síndrome de West. MÉTODO: Estudo retrospectivo, com dados clínicos, de neuroimagem e de eletrencefalograma. RESULTADOS: Sete pacientes foram acompanhados e o tempo médio de seguimento foi 10 anos. Dos pacientes, quatro eram do sexo feminino e todos eram de cor branca. A média de idade de início das convulsões foi 3,4 meses. Todos usaram associações de vários anticonvulsivantes; no mínimo duas drogas por esquema terapêutico, e cada paciente utilizou pelo menos dois esquemas diferentes. O uso de vigabatrina como monoterapia ou em associação iniciou em média aos 7 anos de idade ou 4 anos após início dos sintomas. Cinco dos sete pacientes que iniciaram vigabatrina ficaram sem crise. CONCLUSÃO: Vigabatrina mostrou-se eficaz no controle das crises, levando a um melhor prognóstico.

vigabatrina; esclerose tuberosa; síndrome de West; epilepsia


PURPOSE: To report the efficacy of vigabatrin in seizures control, as well as the electroencephalographic abnormalities in children with tuberous sclerosis and West syndrome. METHOD: Retrospective study, with clinical, neuroimaging, and electroencephalographic data. RESULTS: Seven patients were followed, and the median time of follow-up was 10 years. Four of them were females and all were white. The mean age of seizures onset was 3.4 months. All patients used antiepileptic drugs associations, at least 2 drugs each therapeutic scheme, each one of the patients have used at least two different schemes. Vigabatrin as monotherapy or adjuvant was started in a mean age of seven years or 4 years after the onset of symptons. Five from seven patients on vigabatrin became seizure free. CONCLUSION: Vigabatrin was efficient in seizures control, leading to a better prognosis.

vigabatrin; tuberous sclerosis; West syndrome; epilepsy


Vigabarina no tratamento da epilepsia de difícil controle em pacientes com síndrome de West e esclerose tuberosa

Vigabatrin in the treatment of epilepsy in patients with West syndrome and tuberous sclerosis

Newra Tellechea RottaI; Alexandre Rodrigues da SilvaII; Lygia OhlweilerIII; Rudimar RiesgoIII

Unidade de Neurologia Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre RS, Brasil

ILivre Docente em Neurologia, Chefe da Unidade de Neurologia Infantil

IIResidente de Neurologia Infantil

IIINeuropediatra, Doutor em Pediatria

RESUMO

OBJETIVO: é relatar a eficácia da vigabatrina no controle das convulsões, bem como as alterações eletrencefalográficas em crianças com esclerose tuberosa e síndrome de West.

MÉTODO: Estudo retrospectivo, com dados clínicos, de neuroimagem e de eletrencefalograma.

RESULTADOS: Sete pacientes foram acompanhados e o tempo médio de seguimento foi 10 anos. Dos pacientes, quatro eram do sexo feminino e todos eram de cor branca. A média de idade de início das convulsões foi 3,4 meses. Todos usaram associações de vários anticonvulsivantes; no mínimo duas drogas por esquema terapêutico, e cada paciente utilizou pelo menos dois esquemas diferentes. O uso de vigabatrina como monoterapia ou em associação iniciou em média aos 7 anos de idade ou 4 anos após início dos sintomas. Cinco dos sete pacientes que iniciaram vigabatrina ficaram sem crise.

CONCLUSÃO: Vigabatrina mostrou-se eficaz no controle das crises, levando a um melhor prognóstico.

Palavras-chave: vigabatrina, esclerose tuberosa, síndrome de West, epilepsia.

ABSTRACT

PURPOSE: To report the efficacy of vigabatrin in seizures control, as well as the electroencephalographic abnormalities in children with tuberous sclerosis and West syndrome.

METHOD: Retrospective study, with clinical, neuroimaging, and electroencephalographic data.

RESULTS: Seven patients were followed, and the median time of follow-up was 10 years. Four of them were females and all were white. The mean age of seizures onset was 3.4 months. All patients used antiepileptic drugs associations, at least 2 drugs each therapeutic scheme, each one of the patients have used at least two different schemes. Vigabatrin as monotherapy or adjuvant was started in a mean age of seven years or 4 years after the onset of symptons. Five from seven patients on vigabatrin became seizure free.

CONCLUSION: Vigabatrin was efficient in seizures control, leading to a better prognosis.

Key words: vigabatrin, tuberous sclerosis, West syndrome, epilepsy.

Espasmos infantis são o principal achado clínico na síndrome de West, uma síndrome epilética relacionada com a idade que afeta 1 em cada 2000 a 4000 crianças1. O diagnóstico da síndrome de West é feito pela associação de episódios de espasmos em flexão, em extensão ou mistos, associados a EEG hipsarrítmico e, na maioria dos pacientes, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor. Sua etiologia pode variar desde causas infecciosas, tais como do grupo TORCH, passando por malformações cerebrais e até causas idiopáticas. Esclerose tuberosa é um grupo de desordens autossômicas caracterizada por pela presença de manchas hipocrômicas e tubérculos na pele e por hamartomas e lesões neoplásicas que invariavelmente afetam o sistema nervoso central2. Pouco se sabe a respeito de suas bases fisiopatológicas e o tratamento permanece problemático3. As principais alterações anatomopatológicas principais são tubérculos corticais, nódulos gliais e subependimários e tumores de células gigantes2,4. Está frequentemente associada a síndrome de West, o que piora tanto o prognóstico por suas consequências como pela ocorrência da síndrome epiléptica3,5. Mesmo assim, possui características clínicas e eletrográficas distintas da síndrome de West que ocorre por outras etiologias4.

O objetivo deste estudo é relatar a eficácia da vigabatrina no controle das crises convulsivas e nas alterações eletrencefalográficas em pacientes com esclerose tuberosa e síndrome de West refratários ao tratamento com outros anticonvulsivantes, seja em mono ou politerapia.

MÉTODO

Foram selecionados 7 casos de esclerose tuberosa e síndrome de West de um universo de 84 pacientes com síndrome de West do ambulatório de Neurologia Infantil do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Foram incluídos pacientes de 0 a 12 anos com diagnóstico de esclerose tuberosa de acordo com os critérios diagnósticos estabelecidos pelo Comitê de Critérios da Associação Americana de Esclerose Tuberosa e que apresentavam também quadro compatível com síndrome de West2,4.

Até o controle das crises, os pacientes foram acompanhados de três em três meses, e após, semestralmente, tendo sido submetidos de forma periódica a exames clínicos, laboratoriais, eletrencefalográficos e de neuroimagem. Avaliou-se a evolução clínica, a partir dos esquemas de anticonvulsivantes utilizados, bem como o uso de vigabatrina, tanto em monoterapia, como em terapia adjuvante.

RESULTADOS

Sete pacientes com esclerose tuberosa e síndrome de West tiveram seguimento ambulatorial regular e usaram vigabatrina. A Tabela 1 mostra os dados demográficos desta amostra. A Tabela 2 mostra o resultado clínico do uso de vigabatrina. Desse grupo, quatro pacientes eram do sexo feminino e todos eram de cor branca. Os sintomas iniciais foram de espasmos em flexão dos membros em 4 pacientes e em extensão nos demais. A média de idade de início dos sintomas foi 3,4 meses (variando de 2 a 8 meses), e o achado eletrencefalográfico inicial foi hipsarritmia. Em todos os casos os exames de tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética de encéfalo foram compatíveis com esclerose tuberosa. O tempo médio de acompanhamento ambulatorial foi 10 anos (variando de 27 meses a 17 anos). Na avaliação neurológica, 5 pacientes apresentavam retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, sendo que um deles apresentou evolução compatível com síndrome de Lennox-Gastaut no decorrer do acompanhamento (paciente 5), um desenvolveu conduta dentro do espectro do autismo (paciente 1) e outro apresentou sintomas psicóticos (paciente 7).

A história familiar era positiva para epilepsia em 2 casos, mas em nenhum havia diagnóstico de esclerose tuberosa. Todos apresentavam variados graus de comprometimento cutâneo, desde tubérculos na face a manchas hipocrômicas no tronco ou a associação de ambas. Um paciente teve um astrocitoma subependimário de células gigantes. Todos usaram esquema com vários anticonvulsivantes; no mínimo 2 drogas por esquema terapêutico, sendo que cada paciente utilizou pelo menos 2 esquemas diferentes, que incluíam ácido valpróico, carbamazepina, oxacarbamazepina, fenobarbital, primidona, nitrazepan e corticóides. O uso de vigabatrina como monoterapia ou adjuvante a outros anticonvulsivantes iniciou em média aos 7 anos (variação de 2 - 17 anos) ou 42 meses após início dos sintomas (variação de 20 – 82 meses). Os pacientes que iniciaram vigabatrina tiveram pronta melhora das crises, tanto em quantidade como em intensidade e duração. Cinco dos 7 pacientes que iniciaram vigabatrina ficaram sem crise. Um caso (paciente 4) no qual não houve melhora completa das crises tinha tumor cerebral e foi o de início mais tardio do uso da vigabatrina - 82 meses -, tendo sido tentados três esquemas de anticonvulsivantes anteriormente. Após o início da vigabatrina, as crises, que eram de frequência diária (3-4/dia), começaram se tornar semanais, com menor duração cada uma.

Três pacientes evoluíram com EEG mostrando alterações focais temporais, um frontal bilateral, e dois multifocais, além de um caso que evoluiu para EEG compatível com síndrome de Lennox-Gastaut.

DISCUSSÃO

Vários estudos têm demonstrado a eficácia da vigabatrina como monoterapia ou como fármaco adjuvante no tratamento da esclerose tuberosa associada a síndrome de West sendo bem tolerada e com poucos efeitos adversos6-11. No entanto, um estudo de meta análise2 não encontrou evidência de que a vigabatrina tivesse algum tipo de vantagem sobre as outras opções terapêuticas. Em casos refratários ao uso de vigabatrina e ACTH, opções como piridoxina, lamotrigina, topiramato, zonisamida, dieta cetogênica, terapia com imunoglobulina, felbamato e hormônio liberador de tireotrofina têm sido relatadas1.

No estudo de Husain3, uma série de 17 casos de esclerose tuberosa e síndrome de West na qual foi usada a vigabatrina, observou-se uma melhora estatisticamente significativa do padrão do EEG, com melhor controle das crises. Os autores concluíram que o EEG é o melhor indicador para o controle das crises. Outro fator de impacto prognóstico é a localização e o tamanho dos tubérculos intracerebrais4,8,12, sendo que os episódios convulsivos mais precoces ocorrem quando os tubérculos estão localizados nas regiões posteriores. Não conseguimos estabelecer essa relação no nosso estudo. O estudo de Gonzalez13 correlaciona os casos de síndrome de West associados à esclerose tuberosa com uma maior prevalência de autismo, o que foi encontrado em um dos nossos pacientes. Concordamos que nesses casos de esclerose tuberosa associados a síndrome de West deve-se sempre suspeitar dessa disfunção neurocomportamental, de maneira a proporcionar estimulação especial. Em conclusão, a vigabatrina mostrou-se eficaz no controle das crises convulsivas, nos casos de síndrome de West associada à esclerose tuberosa, do que resultou melhor prognóstico. Deve-se buscar sempre uma avaliação pormenorizada através do exame neurológico, de neuroimagem e eletrencefalográfico para melhor estabelecer o tratamento farmacológico e o prognóstico desses casos.

Recebido 10 Fevereiro 2003, recebido na forma final 29 Maio 2003. Aceito 1 Julho 2003

Dr. Alexandre Rodrigues da Silva - Rua Sofia Veloso 46/402 - 90050-140 Porto Alegre RS - Brasil. E-mail: alex164@ig.com.br

  • 1. Mikati MA, Lepejian GA, Holmes GL. Medical treatment of patients with infantile spasms. Clin Neuropharmacol 2002;25:61-70.
  • 2. Berg BO . Neurocutanous syndromes: phacomatosis and alliend conditions. In Swaiman KF (ed.) Pediatric neurology. principles and practice. St. Louis Mosby, 1989;795-797.
  • 3. Reis-Filho JS, Montemor Netto MR, Loyola Netto JG, de Araujo JC, Antoniuk S, Torres LF. [Tuberous sclerosis: case report with histopathological and ultrastructural study]. Arq Neuropsiquiatr 1998;56:671-676.
  • 4. Gomez MR. Tuberous sclerosis. New York Raven Press, 1979.
  • 5. Hancock E, Osborne JP, Milner P. Treatment of infantile spasms (Cochrane Review). Cochrane Database Syst Rev 2002;(2):CD001770.
  • 6. Husain AM, Foley CM, Legido A, Chandler DA, Miles DK, Grover WD.West syndrome in tuberous sclerosis complex. Pediatr Neurol 2000;23:233-235.
  • 7. Curatolo P, Seri S, Verdecchia M, Bombardieri R. Infantile spasms in tuberous sclerosis complex. Brain Dev 2001;23:502-507.
  • 8. Lopez-Valdes E, Hernandez-Lain A, Simon R, Porta J, Mateos F. [Treatment of refractory infantile epilepsy with vigabatrin in a series of 55 patients]. Rev Neurol (Barc) 1996;24:1255-1257.
  • 9. Rufo M, Santiago C, Castro E, Ocana O. [Monotherapy with vigabatrin in the treatment of West's syndrome]. Rev Neurol (Barc) 1997;25:1365-1368.
  • 10. Hamano S, Tanaka M, Imai M, Nara T, Maekawa K. [Topography, and number of cortical tubers in tuberous sclerosis: comparison between patients with and without West syndrome] No To Hattatsu 1999;31:402-407.
  • 11. Chiron C. [Role of physiopathological hypotheses in therapeutic choice in epilepsy in children] : Rev Neurol (Paris) 1997;153 Suppl 1:S34-38.
  • 12. Ohtsuka Y, Ohmori I, Oka E.Long-term follow-up of childhood epilepsy associated with tuberous sclerosis. Epilepsia 1998;39:1158-1163.
  • 13. Calderón González R, Treviño Welsh J; Calderón Sepúlveda A. Autismo en la esclerosis tuberosa. Gac Méd Méx 1994;130:374-379.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jan 2004
  • Data do Fascículo
    Dez 2003

Histórico

  • Aceito
    01 Jul 2003
  • Revisado
    29 Maio 2003
  • Recebido
    10 Fev 2003
Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.arquivos@abneuro.org