Acessibilidade / Reportar erro

Hematoma extradural do vértex: relato de caso

Epidural hematoma at the vertex: case report

Resumos

Relatamos caso incomum de um paciente de 37 anos com hematoma extradural traumático do vértex com sintomas de hipertensão intracraniana. O diagnóstico foi feito através da tomografia do crânio em cortes coronais e o paciente foi submetido a craniotomia com drenagem do hematoma.

hematoma extradural; traumatismo craniencefálico


We report the unusual case of a 37 years old man with an epidural traumatic hematoma at the vertex with intracranial hypertension symptoms. The diagnostic was achieved with coronal cranial tomographic scans and a craniotomy was performed for hematoma removal.

epidural hematoma; head injury


Hematoma extradural do vértex: relato de caso

Epidural hematoma at the vertex: case report

Luiz Fernando Haikel Jr.I; Sérgio ListikII; José Carlos Rodrigues Jr.I; Marcelo B. Soares ViterboI; Clemente A. Brito PereiraIII

Serviço de Neurocirurgia do Complexo Hospitalar Heliópolis, São Paulo SP, Brasil

IResidente em Neurocirurgia

IINeurocirurgião, Chefe do Serviço de Neurotraumatologia

IIIChefe do Serviço de Neurocirurgia

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Dr. Luiz Fernando Haikel Jr Complexo Hospitalar Heliópolis Rua Cônego Xavier 256 04231030 São Paulo SP - Brasil E-mail: lfhjr@zipmail.com.br

RESUMO

Relatamos caso incomum de um paciente de 37 anos com hematoma extradural traumático do vértex com sintomas de hipertensão intracraniana. O diagnóstico foi feito através da tomografia do crânio em cortes coronais e o paciente foi submetido a craniotomia com drenagem do hematoma.

Palavras-chave: hematoma extradural, traumatismo craniencefálico.

ABSTRACT

We report the unusual case of a 37 years old man with an epidural traumatic hematoma at the vertex with intracranial hypertension symptoms. The diagnostic was achieved with coronal cranial tomographic scans and a craniotomy was performed for hematoma removal.

Key words: epidural hematoma, head injury.

Os hematomas extradurais do vértex (HEDV) são incomuns1,2. Seu relato na literatura é escasso e, quando apresentadas, as séries são limitadas a poucos casos. Constituem um grupo peculiar dos hematomas intracranianos traumáticos3. A incidência de HEDV relatada em alguns estudos varia de 0 a 8%, com mortalidade de 18 a 50%1,4-8. Em 92 a 100% dos casos sua origem está relacionada a fraturas da região do vértex ou diástase da sutura sagital4,5. Geralmente, seu diagnóstico é tardio e necessita de semiologia peculiar para ser suspeitado, uma vez que os sintomas podem ser vagos e sua localização constituir-se num potencial "ponto cego" para o diagnóstico tomográfico9.

Neste artigo, relatamos o caso de um paciente que apresentou um hematoma extradural do vértex após bater a cabeça contra uma porta.

CASO

Homem de 37 anos de idade, comerciante, destro, deu entrada no Pronto Socorro do Hospital Heliópolis em julho de 2002 com história de ter batido a cabeça contra uma porta, apresentado perda de consciência por tempo indeterminado, seguida de sonolência e confusão mental. Era tabagista. Não era etilista crônico; não utilizava medicação nem teve crise convulsiva, delirium tremens ou apresentava outro antecedente.

À admissão apresentava-se sonolento, confuso, com náuseas e vômitos, tendo obtido 13 pontos (abertura ocular, 3 pontos; melhor resposta verbal, 4 pontos; melhor resposta motora, 6 pontos) na escala de coma de Glasgow (ECG). As pupilas estavam isocóricas e o reflexo à luz, normal; não apresentava déficit motor. À inspeção geral não havia escoriações ou outras lesões. O exame físico geral não apresentou anormalidades.A tomografia computadorizada (TC) axial do crânio demonstrou área hiper-atenuante na região fronto-parietal da convexidade direita que ultrapassava a linha média nos cortes mais próximos do vértex, aí também incluindo a região fronto-parietal (Fig 1) esquerda. Com estas imagens foi solicitada uma TC de crânio com cortes coronais. Este exame revelou extenso hematoma extradural fronto-parietal bilateral, sendo maior à direita (Fig 2). Observou-se ainda que havia desvio da linha média para a esquerda de 5 mm associado à imagem de herniação subfalcina mais compressão dos ventrículos laterais e do terceiro ventrículo. A janela óssea da TC demonstrou fratura do vértex ultrapassando a linha média.



O paciente foi operado de urgência. A incisão foi bicoronal com extensão posterior na linha média no sentido longitudinal até se encontrar o final da fratura. Procedeu-se a uma craniotomia fronto-parietal bilateral, deixando-se uma barra óssea sobre o seio sagital superior (SSS). Havia um extenso hematoma extradural de maior volume à direita. O HEDV foi prontamente aspirado em toda sua extensão a exceção da porção localizada ao longo do SSS, que foi aspirada contra a barra óssea deixando-se uma pequena camada de hematoma acima do SSS. Não havia sangramento ativo, nem se identificou a origem do HEDV. Não havia lesão dural. Procedeu-se então ao ancoramento da dura máter. O fechamento foi por planos, como habitual. O paciente evoluiu bem já no primeiro pós-operatório, com 15 pontos na ECG, não apresentando cefaléia, náusea ou vômito.

DISCUSSÃO

Os HEDV constituem grupo peculiar dos hematomas intracranianos traumáticos3. Sua apresentação clínica geralmente não é específica e não se apresenta com sinais focais, podendo haver retardo no diagnóstico7,9,10. A apresentação clínica parece estar relacionada a três fatores: velocidade de formação, fonte hemorrágica e tamanho do hematoma4,8. Na maioria dos casos, sua apresentação é aguda, entretanto há casos de HEDV crônicos relatados na literatura9,11,12. Cefaléia, vômitos, confusão mental e hipertensão intracraniana (HIC) são os sintomas mais comuns13. O sangramento do SSS é a principal fonte de formação dos HEDV, entretanto, existem outras fontes, entre elas as veias meníngeas, os lagos venosos, os seios meníngeos, o espaço diplóico e as pequenas artérias que suprem as estruturas da linha média14,15.

A topografia dos HEDV explica sua fisiopatologia. A compressão do SSS pelo coágulo leva a alentecimento do fluxo de drenagem venosa causando ingurgitamento venoso e aumento na pressão intracraniana6. Segundo Alexander,13 a localização específica da compressão venosa também tem importância. Quanto mais anterior ao SSS for o comprometimento, há menor chance de causar HIC, enquanto mesmo coágulos pequenos localizados nas regiões mais posteriores podem causar aumento na pressão intracraniana. Assim, deve-se levar em consideração não apenas o tamanho do coágulo, mas também a sua relação com o SSS. Além disso as granulações da aracnóide podem estar obstruídas pelo sangue, o que leva a má absorção do líquido cefalorraquidiano e à hidrocefalia.

O diagnóstico do HEDV pode ser enigmático e por vezes demorado. A radiografia simples do crânio poderá demonstrar fratura da região do vértex ou ainda diástase de suturas, indicando que alguma lesão mais grave possa estar presente. A TC de crânio com cortes axiais é algo limitada para o diagnóstico4,15. Conclusões similares foram descritas em outras séries e levam à conclusão que a TC axial de crânio não demonstra bem o HEDV, pois a região do vértex constitui-se em possível "ponto cego"7,9, além do que o volume parcial de hematoma, nesta região, pode ser confundido com osso, prejudicando o diagnóstico. Diante destes obstáculos, alguns autores sugerem que se faça TC com cortes coronais em qualquer suspeita de HEDV, seja ela clínica ou radiológica15,17. A utilização da ressonância magnética em tais casos tem valor propedêutico importante por ser exame em que se pode observar cortes multiplanares do encéfalo, mostrando, assim, mais fácil e inequivocamente não só a presença do HEDV como também o seu tempo de evolução15.

Em conclusão, HEDV é uma séria conseqüência da fratura do vértex. Seu diagnóstico requer alto grau de suspeição. Seus sintomas são decorrentes do aumento da pressão intracraniana. O pronto diagnóstico e intervenção proporcionaram melhora rápida e completa do estado inicial do paciente em questão, provando que a boa e rápida resposta clínica à remoção do coágulo está de acordo com a fisiopatologia (obstrução venosa, má absorção do líquido cefalorraquidiano e o efeito de massa) não havendo dano estrutural.

Recebido 11 Maio 2004, recebido na forma final 6 Outubro 2004. Aceito 7 Dezembro 2004.

  • 1. Plotkin FR, Burke TF. Vertex epidural hematoma: a diagnostic challenge. Ann Emerg Med 1994;24:312-315.
  • 2. Matsumoto K, Akagi K, Abekura M, Tasaki O. Vertex epidural hematoma associated with traumatic arteriovenous fistula of the middle meningeal artery: a case report. Surg Neurol 2001;558:302-304.
  • 3. McCormick WF. Pathology of closed head injury. In Wilkins RH, Rengachary SS (eds). Neurosurgery. Ed 2. New York: McGraw Hill,1996:2640-2644.
  • 4. Borzone M, Rivano C, Altemonte M, Capuzzo T. Acute vertex epidural hematomas surgically treated. Acta Neurochir 1988;93:55-60.
  • 5. Zuccarello M, Fiore DL, Trincia G, Pardatscher K, Andrioli GC. Epidural haematoma at the vertex. Acta Neurochir 1982;66:195-206.
  • 6. Borzone M, Gentile S, Perria C, Capuzzo T. Vertex epidural hematomas. Surg Neurol 1979;11:227-284.
  • 7. Guha A, Perrin RG, Grossman H, Smyth H. Vertex epidural hematomas. Neurosurgery 1989;25:824-828.
  • 8. Wylen EL, Nanda A. Vertex epidural hematoma with coronal sutures diastasis presenting with paraplegia. J Trauma 1998;45:413-415.
  • 9. Bonilha L, Matos JPV, Borges WAA, Fernandes YB, Andrioli MSD, Borges G. Chronic epidural hematoma of the vertex. Clin Neurol Neurosurg 2003;"106:69-73.
  • 10. Miller DJ, Steinmetz M, McCutcheon IE. Vertex epidural hematoma: surgical versus conservative management: Two cases reports and review of the literature. Neurosurgery 1999;45:621-625.
  • 11. Pomeranz S, Wald U, Zagzag D, Gomori M, Shalit M. Chronic epidural hematoma of the vertex: problems in detection with computed tomography. Surg Neurol 1984;22:409-411.
  • 12. Stevenson GC, Brown HA, Hoyt WF. Chronic venous epidural hematoma at the vertex. J Neurosurg 1964;21:887-891.
  • 13. Alexander GL. Extradural hematoma at the vertex. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1961;24:381-384.
  • 14. OkA K, Rhoton AL, Barry M, Rodriguez R. Microsurgical anatomy of the superficial veins of the cerebrum. Neurosurgery 1985;17:711-747.
  • 15. Harbury OL, Provenzale JM, Barboriak DP. Vertex epidural hematomas: imaging findings and diagnostic pitfalls. Eur J Radiol 2000;36:150-157.
  • Endereço para correspondência
    Dr. Luiz Fernando Haikel Jr
    Complexo Hospitalar Heliópolis
    Rua Cônego Xavier 256
    04231030 São Paulo SP - Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Jul 2005
    • Data do Fascículo
      Jun 2005

    Histórico

    • Aceito
      07 Dez 2004
    • Recebido
      11 Mar 2004
    Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revista.arquivos@abneuro.org