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ANÁLISES DE LIVROS

A. H. Chapman; Vilson Mendes Souza

CONSCIOUSNESS AND PERSONS, UNITY AND IDENTITY. MICHAEL TYE. Um volume (12 x 20 cm) com 203 páginas. ISBN 0 262 20147 X. Cambridge, MASSS, 2003: Massachusetts Institute of Technology Press (Cambridge 02142, MASS USA).

Este livro aborda o assunto da unidade de experiência, neurofisiologicamente, psicologicamente e filosoficamente. O problema básico neste assunto é demonstrado no exemplo seguinte. Você está sentado no seu quintal à tardezinha, vendo as flores e outras plantas, ouvindo os passarinhos cantar, tocando na xícara de café que você está bebendo, saboreando o café e inalando o cheiro do café. Nesta experiência você não experimenta cinco coisas diferentes; você tem uma única experiência, e mais tarde lembra de uma experiência só. Isso consiste na unificação dos contribuintes que formam uma experiência; isso acontece em toda experiência que você tem, em toda a sua vida.

Como é que você faz isso?

O autor lista várias teorias para explicar este fenômeno. Todas estas teorias são viáveis somente se você tem um cérebro saudável, funcionando normalmente. Assim, a pergunta pode ser colocada com palavras mais fundamentais. Como é que o cérebro unifica todas as partes de uma experiência na sua consciência?

Para nós, os escritores desta análise do livro, os conhecimentos neurofisiológicos do século XXI resolvem o problema. Um cérebro humano tem 100 bilhões de neurônios, e cada neurônio tem contatos diretos com 80 000 outros neurônios. Entretanto, o número de contatos que os neurônios do cérebro têm diretamente com outros neurônios é aproximadamente 8 trilhões. Um cérebro humano tem 2% do peso do corpo todo, mas consome 25% do oxigênio e nutientes do corpo todo. Isso, na nossa opinião, resolve a pergunta citada acima. Psicologia e filosofia têm que retirar-se e deixar este campo para a neurofisiologia.

Dr. Tye, todavia, não aceita esta teoria: ele favorece uma outra teoria, que é basicamente psicológica e filosófica. Infelizmente, os conhecimentos do Professor Tye, da Universidade de Texas, nos Estados Unidos, sobre neurologia e neurofisiologia são muito ultrapassados. Alguns dados dele vêm até das décadas 1960 e 1970.

Dr. Tye considera meticulosamente várias outras teorias (em geral, psicológicas e filosóficas), e arrasta o leitor em um labirinto depois do outro, até o leitor (ao menos nós) sofrer tonturas, desorientação, e amnésias pelo que ele leu em algumas páginas atrás. Com o leitor exausto e num torpor, o livro cai no chão.

A. H. Chapman

NATURAL MINDS. THOMAS W POLGER. Um volume (14 x 22 cm) com 294 páginas. ISBN 0-262-16221-0. Cambridge, MASS, 2004. Massachusetts Institute Of Technology Press (Cambridge, MASS 02142 USA).

O que é consciência e como é que o cérebro a produz? Como é que nós sabemos que nós somos seres humanos e que nós temos um passado, um presente e um futuro, e que no futuro nós vamos morrer? Estas são as capacidades que somente humanos têm, e nos que separam de todas as outras formas de vida.

O autor deste livro acredita que as respostas a estas perguntas estão na teoria de identidade. Esta teoria constata que o cérebro e a mente são idênticos, e que cada estímulo produz somente um processo no cérebro, onde este estímulo está registrado (realizado). O mais importante ponto de vista que contesta, e nega, a teoria de identidade é funcionalismo. Funcionalismo propõe que um estímulo, como a cor vermelha (num exemplo simples) tem muitos possíveis processos no cérebro, espalhadas em varias ou muitas regiões; o nome técnico desse processo é realizações múltiplas, em contraste com a realização (processo) única da teoria de identidade.

É claro que esta controvérsia vai ficar resolvida somente quando tivermos bem mais informações sobre a neurofisiologia, bioquímica e estrutura do cérebro. Algumas autoridades acham que nós no momento temos somente 2% da informação total sobre o funcionamento biológico e ideacional do cérebro. O coração, o sistema gastrointestinal, os rins e todos os outros sistemas do corpo são relativamente uniformes e simples em contrates com o cérebro. O cérebro muda de funcionamento e até da forma de um centímetro para um outro.

Um conselho sobre este livro é necessário. O leitor tem que estudar, e não somente ler, a maioria das páginas, em que o autor o guia nos diversos pontos de vista sobre a natureza de consciência e os possíveis processos que o cérebro utiliza para a produzir.

Antonio Spina-França

DEMÊNCIA: ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR. LEONARDO CAIXETA. Um volume (18x25 cm) encadernado, com 592 páginas. Belo Horizonte, 2007: Atheneu (edathe@atheneu.com.br).

Abordagem multidisciplinar é a expressão adotada pelo editor deste livro para caracterizar o foco do conteúdo. É este o caminho que adotou seu editor, Leonardo Caixeta, Professor Adjunto e Doutor em Neurociências da Universidade Federal de Goiás. Coordenou ele o trabalho de mais de cincoenta estudiosos do tema ou de matérias a ele correlatas. Conseguiu ele a desejada uniformidade da apresentação e conteúdo de cada um dos 46 capítulos do livro, dividindo-os em quatro partes: aspectos gerais, avaliação diagnóstica, demências e desordens relacionadas, terapêutica.

Nesse contexto, é exemplar o conteúdo do livro, cada capítulo apresentando sua matéria de modo claro, sucinto e enxuto. Caixeta, ele mesmo autor de vários dos capítulos, exemplifica a precisão e a clareza essenciais num livro didático. Basta ler, com atenção, o notável capítulo inicial do livro História da demência e demência na história: conceitos e tendências. A vivência do tema permitiu a Caixeta oferecer ao leitor, nesse capítulo, um modelar exemplo de conhecimento, clareza e maturidade, mesmo quando com propriedade discute as contribuições de diferentes escolas e expõe difíceis aspectos, como aqueles sobre as novas formas de demência e novas abordagens tecnológicas que enriqueceram os conhecimentos do tema, à luz do que nos foi deixado pelos pioneiros, dentre os quais a obra de Alois Alzheimer.

Antonio Spina-França

A ARTE EM CONVIVER COM A DOENÇA DE ALZHEIMER. PAULO ROBERTO DE BRITO MARQUES. Um volume (20x28 cm) em brochura, com 310 páginas. ISBN 85 87102 83 4. Recife, 2006: EDUPE , Editora Universidade de Pernambuco (Avenida Agamenon Magalhães s/n, Santo Amaro, 50103-010 Recife PE; fax 81 3416 4068).

Este livro avalia as bases fisiopatológicas, do diagnóstico ao tratamento, da doença de Alzheimer no contexto das demências, como caracteriza o seu autor – Paulo Roberto de Brito Marques, Professor da Disciplina de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Coordenador do Núcleo de Neurologia do Comportamento do Hospital Universitário Oswaldo Cruz da UPE e Pesquisador em Neuropsicologia Clínica e Doenças Demenciais da UPE.

Com sucesso, o autor distribui a matéria do livro em três partes: aspectos gerais, aspectos médicos e aspectos da convivência da família com o paciente. Sendo livro escrito por um só autor, a seqüência da matéria não se perde ao longo de suas páginas. Partindo da preparação do interessado para a leitura, o texto vai até os três capítulos finais sobre aspectos práticos do comportamento, sobre como lidar com o paciente e uma orientação final para a família e para o cuidador do paciente. Estes três último capítulos são alimentados pelo conhecimento do autor na área de distúrbios cognitivos e em sua vivência no lidar com pacientes com demência e, particularmente, com a doença de Alzheimer.

Senhor de muitos conhecimentos e autor de muitas publicações na área da demência, modestamente Paulo Roberto de Brito Marques nenhuma destas inclui na lista de leituras recomendadas sobre a matéria, com que finaliza este bem preparado livro.

Antonio Spina-França

DOENÇA DE PARKINSON: ESTRATÉGIAS ATUAIS DE TRATAMENTO. LUIZ AUGUSTO FRANCO DE ANDRADE, EGBERTO REIS BARBOSA, FRANCISCO CARDOSO, HÉLIO AFONSO GHIZONI TEIVE. Um volume (16 x 23 cm) encadernado, com 212 páginas. ISBN 85 98353 56 6. São Paulo, 2006: ABDR / Segmentofarma (www.segmentofarma.com.br; e-mail segmentofarma@segmentofarma.com.br).

Este livro resulta de modelar esforço de seus quatro autores, todo Professores de Neurologia. Com desvelo prepararam este livro. Tiveram a colaboração de três especialistas também notáveis, a fonoaudióloga Elisabete Carrara de Angelis, a fisioterapeuta Fátima R, Goulart e o neurologista e neurofisiologista clínico Geraldo Nunes Vieira Rizzo.

Em onze capítulos está dividida a matéria do livro, todo ele voltado ao manejo do parkinsonismo, desde aspectos históricos até os mais destacados aspectos atuais da terapêutica clínica e cirúrgica. De fato, muito se caminhou desde quando Barbeau, em 1969, sumariou no Congresso Mundial de Neurologia o fruto de sua experiência com o uso da levodopa. Entre os estupefatos com tão grande passo estava eu mesmo. Como muitos dos que assistiram essa apresentação, pairaram dúvidas, como "é esta mais uma tentativa medicamentosa? Será que estamos frente a uma nova era no conduzir com maiores esperanças esse desafio que é medicar de modo eficaz o parkinsonismo?". Logo a realidade do resultado satisfatório se impôs. Em todo o mundo foram observados bons resultados, muitos deles registrados. Abriram-se novos dias para o tratamento, aliados que foram aos paulatinos progressos resultantes de abordagens neurocirúrgicas, particularmente estereotácticas.

É importante salientar que cada capítulo termina com muito bem escolhidas referências bibliográficas e que o livro apresenta excelente índice remissivo. Estão os autores de parabéns, por apresentarem de modo tão cuidadoso e sintético um tema como este que, apesar do progresso ainda tem muito a conquistar, a avançar.

Antonio Spina-França

FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL: FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA. SISSY VELOFO FONTES, MARCIA MAIUMI FUKUFIMA, JOSÉ OSMAR CARDEAL. Un volume (21 x 27 cm) em brochura com 340 páginas. São Paulo, 2007: Atheneu Editora www.atheneu.com – e-mail: atheneu@atheneu.com).

Este livro resulta das atividades desenvolvidas pelos autores e seus colaboradores na Disciplina de Neurologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Com quase quarenta especialistas, os editores apresentam a primeira obra sobre o tema organizada no Brasil e que contribui para a formação e aperfeiçoamento de fisioterapeutas e outros profissionais da saúde envolvidos no atendimento do paciente neurológico.

Após três capítulos introdutórios, a matéria consta dos outros dos vinte e dois capítulos do livro. Seis deles são dedicados às bases morfológicas e fisiológicas do sistema nervoso, seguindo-se de interesse à fisioterapia propriamente dita. E das bases neurológicas e de complementares mais utilizados no neurodiagnóstico.

Ricamente ilustrado, não conta o livro com um índice remissivo. Este facilitaria a consulta do fisioterapeuta. Este é o principal motivo para quem está voltada a matéria. São eles a população alvo. Outros profissionais da saúde, porém inclusive o médico neurologista, encontram neste livro contribuições de inestimável valor e propriedade. Além do mais, este livro encerra uma verdade universitária: não se pode deixar de lado uma atividade tão importante dentro das ciências da saúde – aquela do real espaço que conquistou a fisioterapia e, com ela, a reabilitação fisioterápica em neurologia.

A. H. Chapman

ADAPTING MINDS: EVOLUTIONARY PSCHOLOGY AND THE PERSISTENT QUEST FOR HUMAN NATURE. DAVID J. BULLER. Um volume (15 X 23 cm) com 550 páginas. ISBN 0 – 262 – 02579 – 5. Cambridge, MASS, 2006: MIT Press (55 Hayward Street, Cambridge, MASS 02142 USA).

A evolução de seres humanos aconteceu de duas formas: (1) a evolução biológica, formando a estrutura física que humanos agora têm, e (2) a evolução psicológica, que permite que humanos tenham casamentos e famílias duradouras, e a maneira como viver em pequenos ou grandes grupos. Este livro trata desta evolução psicológica numa maneira compreensiva e minuciosa.

A teoria predominante da evolução psicológica propõe que no período Pleistoceno, entre 1.8 milhões e 10.000 anos atrás (um período que os psicólogos evolucionários utilizam) grandes mudanças no cérebro humano aconteceram, combinando com mudanças extensivas no calvário humano. Estas mudanças, uma vez feitas por mutações genéticas e seleção darwiniana, permitiram que o homo sapiens, pouco a pouco, progredisse ao seu status atual, especialmente nos últimos 10.000 anos.

Um ponto de vista alternativo propõe que mudanças cerebrais e mudanças psicológicas ocorriam em passos pequenos durante centenas de milhares ou milhões de anos. Por exemplo: a primeira teoria propõe que casamentos duradouros ocorreram porque humanos realizaram possibilidades criadas há centenas de milhares de anos anteriormente nos seus cérebros. O segundo ponto de vista em contraste acredita que cada passo psicológico foi em resposta a possibilidades mentais que aconteceram pouco tempo antes.

A quantidade de pesquisas psicológicas e sociais sobre isso é enorme, e Dr. Buller examina minuciosamente e criticamente um grande número destas pesquisas. A opinião dele é que nós não sabemos bastante atualmente para chegar a decisões finais. Novas pesquisas são necessárias. Ele chega a uma única conclusão: "A evolução psicológica não terminou ainda conosco".

O livro é bem escrito. Dr. Buller usa exemplos e metáforas de boa forma para esclarecer muito esta matéria. Esta obra provavelmente vai ser um clássico neste ramo. Nós recomendamos este volume para qualquer pessoa que queira saber como é que nós chegamos à etapa da evolução psicológica em que nós nos encontramos.

Antonio Spina-França

APORTES CUBANOS AL ESTUDIO DEL Angiostrongilus cantonensis. COLETIVO DE AUTORES. Um volume (14 x 21 cm) em brochura, com 76 páginas. ISBN 959 270 085 0.La Habana, 2006: Editorial Academia / LABCEL (geditora@ceniai.inf.cu).

O Angiostrongylus cantonensis (AC) é o principal agente etiológico da meningite eosinofílica em Cuba. Este livro apresenta os principais aspectos parasitológicos e clínicos de interesse do acometimento humano pelo AC, que é acidental.

Dentre as manifestações clínicas tem destaque o acometimento do sistema nervoso central (SNC), particularmente sob forma de meningoencefalite. O líquido cefalorraquidiano (LCR) desempenha papel diagnóstico capital nesta forma da doença. Alimenta esse estudo tanto o diagnóstico, como a investigação neuroimunológica pertinente.

A matéria é distribuída em sete capítulos, quatro dos quais voltados a diferentes aspectos da doença no SNC e os aspectos decorrentes. Neste particular, destaca-se a contribuição de Alberto J Dorta Contreas, figura ímpar da liquorologia mundial. Ele e seus colaboradores tratam com exatidão e maestria desses temas. A esse papel deste pesquisador cubano chamam a atenção os preparadores do livro na Introdução e o Prof. Dr. Gustavo Kourí, Diretor Geral do Instituto de Medicina Tropical "Pedro Kourí", no que escreveu como Introdução a este livro. É importante mencionar ainda que somam dezessete os autores desta coletânea, que se encerra com uma lista das contribuições cubanas ao tema.

Essa lista foi preparada com esmero, dela constando os autores, os assuntos e os títulos das contribuições.

O neurologista que cuida de infecção do SNC encontra neste livro os dados para o conhecer a angiostrongiloidíase cerebral e meníngea.

Antonio Spina-França

O MAU GÊNIO DO CÉREBRO: O IMPACTO DA DOENÇA NEUROLÓGICA. WILSON LUIZ SANVITO. Um volume (14 x 21 cm) em brochura, com 190 páginas. ISBN 85 7719 015 3. São Paulo, 2006: A Gráfica Editora Ltda. (www.agrafica.com.br).

Wilson Luiz Sanvito, mestre da neurologia pátria e senhor das letras, oferece neste livro as suas reflexões e as suas idéias sobre controversos aspectos que foi acumulando ao longo do seu exercício profissional. Como afirma Gilberto de Mello Kujawski, no Prefácio: a lista das interpretações cerebrais tratadas no livro chega a ser assustadora pelo vasto leque de desequilíbrios neurológicos a que estamos sujeitos sem saber se e que atacam sem aviso prévio. Aspectos capitais dessa inumerável lista são analisados por Sanvito, com a maestria que sempre o caracteriza. Basta lembrar o quanto reflexiona ele acerca dos capítulos abrangidos pelo livro.

Esses capítulos formam um elenco de situações de que participou por força da profissão ou por ver por elas passarem seus doentes e familiares destes. Lembrando que dá ênfase o papel do cognitivo e do emocional envolvidos, passa Sanvito por assuntos muitas vezes de difícil consideração – a perna alienígena, as memórias que não se apagam, o riso no velório, em busca da lembrança perdida, Alice no país das maravilhas, cérebro-mão: um diálogo complicado, sob o império dos tiques, o cérebro profundo, as loucuras do rei Jorge, deu a louca na vaca, o cérebro no piloto automático, a coreografia dramática, o doutor analfabeto. Este trata do caso de um médico que assistiu Sanvito, que apresentara um acidente vascular cerebral decorrente de arritmia cardíaca, acompanhado de alterações da atividade nervosa superior. Em função destas, algum tempo depois, referiu ele ao Dr. Sanvito que "A experiência mais amarga de minha vida foi ter ficado analfabeto aos 84 anos de idade". Por esse relato, pode-se avaliar o conjunto da matéria reunida neste livro e que é tão útil às reflexões neurológicas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jul 2007
  • Data do Fascículo
    Jun 2007
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