Acessibilidade / Reportar erro

Adubação da batata doce em São Paulo: Parte I - Efeito da adubação mineral

Resumos

Visando estudar a influência da adubação na cultura da batata doce para as condições do Estado de São Paulo, foram efetuadas várias séries de ensaios abrangendo diversos aspectos do problema. Neste trabalho, são apresentados apenas os resultados de 31 ensaios planejados para estudar o efeito dos elementos N, P e K, sôbre o desenvolvimento das ramas, produção, número de batatas por plantio e pêso médio das batatas, nos principais tipos de solo do Estado. Os resultados dos demais ensaios dêste plano serão objeto de outros artigos. Vários planos e delineamentos experimentais foram adotados. Como fonte de elementos minerais foram utilizados os seguintes adubos comerciais : salitre do Chile, sulfato de amônio, superfosfato de cálcio, farinha de ossos degelatinados, cloreto de potássio e sulfato de potássio. As fórmulas correspondentes a cada canteiro foram preparadas previamente, e as misturas assim obtidas aplicadas a lanço sôbre o solo antes do preparo dos camalhões. A fertilidade natural do solo e outros fatôres de ordem agrícola mostraram ter muito maior influência na produção da batata doce que a adubação. Geralmente, apenas se obtiveram aumentos substanciais de produção, determinados pela adubação, nos ensaios plantados em terras de fertilidade muito baixa. Nesses casos, apesar de se mostrarem bastante elevados os aumentos percentuais de produção, as diferenças ou aumentos absolutos foram muito pequenos, muitas vêzes, abaixo de 3 t/ha. Desta forma, os aumentos de produção não compensaram os gastos com adubos. Nos ensaios de produção normal (acima de 10 t/ha), foi verificado um único caso de efeito de nitrogênio na produção, que se deu em Mococa, em solo do arqueano. Efeitos de fósforo ou de potássio foram observados unicamente em solos de origem glacial, de Sorocaba. Um único caso de interação de nitrogênio e fósforo foi obtido em solo do arenito de Bauru, em Pindorama. Com relação ao desenvolvimento das ramas, sempre que houve influência significativa de algum elemento, êste foi o nitrogênio. Isto geralmente se verificou nos ensaios instalados nos solos de origem glacial. É de se ressaltar que não se verificou correlação alguma entre o desenvolvimento das ramas e a produção. Sôbre outros dados, como percentagem de falhas, número de batatas por planta, pêso médio das batatas, etc, foram insignificantes ou mesmo nulos os efeitos das adubações ou elementos estudados. Um fator que demonstrou grande influência na produção e desenvolvimento da batata doce foi a falta de rotação de cultura. Verificou-se que, nos ensaios onde se fêz o cultivo seguido dessa planta por mais de um ano no mesmo terreno, a produção caiu enormemente nos anos seguintes, muitas vezes para a terça ou quarta parte. Para as condições do Estado de São Paulo, os resultados obtidos indicaram que a adubação mineral direta para a batata doce não constitui, em geral, uma prática economicamente recomendável. Esta planta deve ser cultivada em rotação com outras culturas mais exigentes, que, necessitando de adubações pesadas, permitam à batata doce, no ano seguinte, aproveitar de modo mais vantajoso os restos dos adubos que ficaram retidos no solo.


In order to study the effects of fertilizers on sweet potato, in the conditions of the State of São Paulo, a series of experiments was undertaken to cover the different aspects of the problem. In this paper, results are presented only for 31 experiments planned to study the effects of N, P and K on root development, yield, number of potatoes and mean weight, in the principal types of soil in the State. The results of the other experiments will be considered in further papers. Various plans and experimental designs were used. As a source of mineral elements, the following commercial fertilisers were employed : Chile saltpetre, sulphate of ammonia, superphosphate, degelatinised bone meal, potassium chloride and potasssium sulphate. The formulas for each plot were made up in advance and the mixtures broadcast over the soil before trenching. It appeared that the natural fertility of the soil and other agricultural factors had much more influence on the production of sweet potato than had the application of fertilizers. Substancial responses to fertilizer were generally observed only in soils of very low fertility. In these cases, even although the percentage increases in yield were considerable, the absolute increases (often less than 1.1 tons per acre) were insufficient to pay for the application of fertilizar. Among those trials producing satisfactory yields (over 4 tons per acre), only one showed a response to nitrogen. This was in Mococa on "massapê-salmourão" soil. Responses to phosphorus or potassium were noted only on soils of "glacial" origen in the "Sorocaba" region. A single case of nitrogen-phosphorus interaction was observed on "Arenito de Bauru" in Pindorama. Whenever the development of vines showed a response, this was always due to nitrogen. This was generally found on soils of "glacial" origim. It must be pointed out however that no correlation was found between vine development and yield. Other data, such as percentage of failures, mean weight of potato, etc., failed to show significant response to manuring. One factor which showed a strong influence on yield and growth of sweet potato, was crop-rotation. It was found that, in those trials where the plant was cultivated continuously, the yield fell drastically in subsequent years, often to a third or quarter. The results obtained show that, for conditions prevailing in the State of São Paulo, the direct application of mineral fertilizers to sweet potato is not usually an economic proposition. This plant should be grown in rotation with more exhausting crops, which demarnd heavy dressings. The sweet potato can then benefit from the residual effects of these dressings in the following year.


Adubação da batata doce em São Paulo. Parte I — Efeito da adubação mineral

A. Pais de Camargo (1 (1 ) O autor agradece a colaboração dos engenheiros agrônomos Orlando Figueiredo, J. Moreira Sales, Miguel A. Anderson, Vicente G. de Oliveira, Argemiro Frota, Osvaldo A. Mamprim, A. Gentil Gomes, d. Pais de Barros, Rubens A. Bueno, J. Aloisi Sobrinho e Wilson Ribas, chefes de estações experimentais onde foram realizados os ensaios. Agradece também os trabalhos do Sr. José Francisco, auxiliar de agrônomo, da Secção de Raízes e Tubérculos. )

Engenheiro agrônomo, Secção de Raízes e Tubérculos, Instituto Agronômico de Campinas

RESUMO

Visando estudar a influência da adubação na cultura da batata doce para as condições do Estado de São Paulo, foram efetuadas várias séries de ensaios abrangendo diversos aspectos do problema. Neste trabalho, são apresentados apenas os resultados de 31 ensaios planejados para estudar o efeito dos elementos N, P e K, sôbre o desenvolvimento das ramas, produção, número de batatas por plantio e pêso médio das batatas, nos principais tipos de solo do Estado. Os resultados dos demais ensaios dêste plano serão objeto de outros artigos.

Vários planos e delineamentos experimentais foram adotados. Como fonte de elementos minerais foram utilizados os seguintes adubos comerciais : salitre do Chile, sulfato de amônio, superfosfato de cálcio, farinha de ossos degelatinados, cloreto de potássio e sulfato de potássio. As fórmulas correspondentes a cada canteiro foram preparadas previamente, e as misturas assim obtidas aplicadas a lanço sôbre o solo antes do preparo dos camalhões.

A fertilidade natural do solo e outros fatôres de ordem agrícola mostraram ter muito maior influência na produção da batata doce que a adubação. Geralmente, apenas se obtiveram aumentos substanciais de produção, determinados pela adubação, nos ensaios plantados em terras de fertilidade muito baixa. Nesses casos, apesar de se mostrarem bastante elevados os aumentos percentuais de produção, as diferenças ou aumentos absolutos foram muito pequenos, muitas vêzes, abaixo de 3 t/ha. Desta forma, os aumentos de produção não compensaram os gastos com adubos.

Nos ensaios de produção normal (acima de 10 t/ha), foi verificado um único caso de efeito de nitrogênio na produção, que se deu em Mococa, em solo do arqueano. Efeitos de fósforo ou de potássio foram observados unicamente em solos de origem glacial, de Sorocaba. Um único caso de interação de nitrogênio e fósforo foi obtido em solo do arenito de Bauru, em Pindorama.

Com relação ao desenvolvimento das ramas, sempre que houve influência significativa de algum elemento, êste foi o nitrogênio. Isto geralmente se verificou nos ensaios instalados nos solos de origem glacial. É de se ressaltar que não se verificou correlação alguma entre o desenvolvimento das ramas e a produção. Sôbre outros dados, como percentagem de falhas, número de batatas por planta, pêso médio das batatas, etc, foram insignificantes ou mesmo nulos os efeitos das adubações ou elementos estudados.

Um fator que demonstrou grande influência na produção e desenvolvimento da batata doce foi a falta de rotação de cultura. Verificou-se que, nos ensaios onde se fêz o cultivo seguido dessa planta por mais de um ano no mesmo terreno, a produção caiu enormemente nos anos seguintes, muitas vezes para a terça ou quarta parte.

Para as condições do Estado de São Paulo, os resultados obtidos indicaram que a adubação mineral direta para a batata doce não constitui, em geral, uma prática economicamente recomendável. Esta planta deve ser cultivada em rotação com outras culturas mais exigentes, que, necessitando de adubações pesadas, permitam à batata doce, no ano seguinte, aproveitar de modo mais vantajoso os restos dos adubos que ficaram retidos no solo.

SUMMARY

In order to study the effects of fertilizers on sweet potato, in the conditions of the State of São Paulo, a series of experiments was undertaken to cover the different aspects of the problem. In this paper, results are presented only for 31 experiments planned to study the effects of N, P and K on root development, yield, number of potatoes and mean weight, in the principal types of soil in the State. The results of the other experiments will be considered in further papers.

Various plans and experimental designs were used. As a source of mineral elements, the following commercial fertilisers were employed : Chile saltpetre, sulphate of ammonia, superphosphate, degelatinised bone meal, potassium chloride and potasssium sulphate. The formulas for each plot were made up in advance and the mixtures broadcast over the soil before trenching.

It appeared that the natural fertility of the soil and other agricultural factors had much more influence on the production of sweet potato than had the application of fertilizers. Substancial responses to fertilizer were generally observed only in soils of very low fertility. In these cases, even although the percentage increases in yield were considerable, the absolute increases (often less than 1.1 tons per acre) were insufficient to pay for the application of fertilizar.

Among those trials producing satisfactory yields (over 4 tons per acre), only one showed a response to nitrogen. This was in Mococa on "massapê-salmourão" soil. Responses to phosphorus or potassium were noted only on soils of "glacial" origen in the "Sorocaba" region. A single case of nitrogen-phosphorus interaction was observed on "Arenito de Bauru" in Pindorama.

Whenever the development of vines showed a response, this was always due to nitrogen. This was generally found on soils of "glacial" origim. It must be pointed out however that no correlation was found between vine development and yield. Other data, such as percentage of failures, mean weight of potato, etc., failed to show significant response to manuring.

One factor which showed a strong influence on yield and growth of sweet potato, was crop-rotation. It was found that, in those trials where the plant was cultivated continuously, the yield fell drastically in subsequent years, often to a third or quarter.

The results obtained show that, for conditions prevailing in the State of São Paulo, the direct application of mineral fertilizers to sweet potato is not usually an economic proposition. This plant should be grown in rotation with more exhausting crops, which demarnd heavy dressings. The sweet potato can then benefit from the residual effects of these dressings in the following year.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

LITERATURA CITADA

  • 1
    1.  Anônimo. Fertilizer for sweet potatoes on Fajardo Clay Anual Report (1942-43) University of Puerto Rico Agr. Exp. Sta. Rio Piedras. Puerto Rico.
  • 2.  Anônimo. Sweet potato fertilizers text. Em Thirteeth Anual Report. 1949/50, of the Georgia Coastal Plain Exp. Sta. Bol. 49. pág. 100. 1950.
  • 3.  Anderson, W. S. Fertilizers for starch sweet potatoes. Bol. Agr. Exp. Sta. Mississipi Sta. College 367 ; 1-22, 1942.
  • 4.  Bonnet, J. A., P. Tirado Sulsona e F. Abruna. Effect of lime-phosphorus and green manure on sweet potatoes and corn grown in acid soils. The Journ. of Agric. of the Puerto Rico 21 : 303-321, 1947.
  • 5.  Boock, O. J. e J. B. Castro Efeito do nitrogênio, fósforo e potássio, na adubação da batatinha. Bragantia 10 : 221-233, fig. 1, est. 1-2, 1950.
  • 6.  Boswell, V. R., J. A. Beattie e J. D. Melorvan. Effect of potash on grade, shape and yield of certain varieties of sweet potatoes grown in South Carolina. Cir. U.S. Dep. of Agric. 498 : 1-23, 1938.
  • 7.  Camargo, Teodureto de e C. A. Krug. Experiências sôbre adubação da batatinha. Bol. Téc. Instituto Agronômico de Campinas 16 : 1-36, 1935.
  • 8.  Chung, H. L. The sweet potato in Hawaii. Bol. Hawaii Agr. Exp. Sta. 50 : 1-20. 1923.
  • 9.  Duggar, J. F. e J. T. Williamson. Local fertilizer experiments with sweet potatoes. Bol. Alabama Agr. Exp. Sta. 184 : 19-34. 1915.
  • 10.  Ferreira de Sousa, O. Em Relatório da Secção de Oleaginosas do Instituto Agronômico de Campinas. 1948-49. (não publicado).
  • 11.  Keitt, T. E. Sweet potato work in 1908. Bol. S. Carolina Agr. Exp. Sta. 146 : 1-22, 1909.
  • 12.  Lee Smith, J. Sweet potatoes. A war food and feed crop. Cir. Agr. Extension Service 77 : 1-7, Gainesville, Florida, 1944.
  • 13.  Lisboa, A. A batata doce e sua cultura. Publ. Serv. de Documentação do Min. da Agr. do Brasil 199 : 1-59, 1945.
  • 14.  Molinary Sales, E. Instruciones praticas sobre el cultivo de la batata. Bol. Serv. Ext. Agr. Univ. de Puerto Rico 8 : 1-29, 1-14, 1936.
  • 15.  Mooers, C. A. Fertilizers for sweet potatoes. Bol. Agr. Exp. St. of the Univers. of Tennessee 189 : 12-17. 1944.
  • 16.  Neves, Carlos Alves das. A batateira doce e sua cultura no sertão e nas bacias de irrigação dos açudes do nordeste. Sep. Bol. da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (Rio de Janeiro) 4.° trimestre de 1941 : 1-22, fig. 1-35, 1942.
  • 17.  Normanha, E. S. e Araken S. Pereira. Aspectos agronômicos da cultura da mandioca. Bragantia 10 : 179-202, est. 1-4, 1950.
  • 18.  Pais de Camargo, A. Produção de batata doce. Notas Agrícolas, publ. Dir. Publ. Agr. Secr. da Agric. 35, São Paulo, 1949.
  • 19.  Pais de Camargo, A. Observações preliminares sobre o ciclo vegetativo da batata doce. Bragantia 5 : 797-822, fig. 1-20, 1945.
  • 20.  Pais de Camargo, A. A batata doce. A sua cultura em São Paulo. O Agronômico, boletim dos técnicos do Inst. Agronômico do Est. S. Paulo. Vol. 1. 235-243, fig. 1-9, 1941.
  • 21.  Pais de Camargo, A. Em Relatório da Secção de Raízes e Tubérculos do Instituto Agronômico de Campinas 1944-45 : 111-185 (não publicado).
  • 22.  Pais de Camargo, A. Em Relatório da Secção de Raízes e Tubérculos do Instituto Agronômico de Campinas 1945-46 : 137-205 (não publicado).
  • 23.  Pais de Camargo, A. Em Relatório da Secção de Raízes e Tubérculos do Instituto Agronômico de Campinas 1946-47 : 73-151 (não publicado)
  • 24.  Pais de Camargo, A Em. Relatório da Secção de Raízes e Tubérculos do Instituto Agronômico de Campinas 1947-48 154-233 (não publicado)
  • 25.  Pais de Camargo, A. Em Relatório da Secção de Raízes e Tubérculos do Instituto Agronômico de Campinas 1948-49 39-53 (não publicado).
  • 26.  Paiva Neto, J. E. Os grandes tipos de solos do Estado de São Paulo (Brasil). Bragantia (no prelo).
  • 27.  Porter, D. R. Growing and handling sweet potatoes in California. Cir. California Agr. Ext. Serv. 55: 1-31, fig. 1-12, 1931.
  • 28.  Schermerhorn, L. G. Sweet potatoes studies in New Jersey. Bol. N. J. Agr. Exp. Sta. 398 : 1924.
  • 29.  Taubenhaus, J. J. Em The Culture and diseases of the sweet potato, pág. i-xiv 1-286. E. P. Dutton & Company, New York, 1923.
  • 30.  Thompson, H. C. Em Sweet potato production and handling. Pág. 1-127. Orange Judd Publishing Co. New York, 1929.
  • (1
    ) O autor agradece a colaboração dos engenheiros agrônomos Orlando Figueiredo, J. Moreira Sales, Miguel A. Anderson, Vicente G. de Oliveira, Argemiro Frota, Osvaldo A. Mamprim, A. Gentil Gomes, d. Pais de Barros, Rubens A. Bueno, J. Aloisi Sobrinho e Wilson Ribas, chefes de estações experimentais onde foram realizados os ensaios. Agradece também os trabalhos do Sr. José Francisco, auxiliar de agrônomo, da Secção de Raízes e Tubérculos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Maio 2010
    • Data do Fascículo
      Mar 1951
    Instituto Agronômico de Campinas Avenida Barão de Itapura, 1481, 13020-902, Tel.: +55 19 2137-0653, Fax: +55 19 2137-0666 - Campinas - SP - Brazil
    E-mail: bragantia@iac.sp.gov.br