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Vitamina C em "cabeludinha" (Myrciaria glomerata Berg)

Vitamin C content in fruits of Myrciaria glomerata

Resumos

Êste trabalho faz parte do estudo do melhoramento genético das mirtáceas frutíferas, que vem sendo realizado pela Seção de Frutas Tropicais do Instituto Agronômiso e pela Seção de Genética da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", em Piracicaba. Colaboraram na parte analítica a Seção Técnica "Química Agrícola" e a Cadeira de Química, da "Luiz de Queiroz''. A extração de vitamina C foi feita num liqüidificador durante dois minutos, utilizando-se o ácido oxálico a quatro por mil como solução protetora. A determinação se fez no "EEL. portable colorimeter". A determinação do conteúdo de vitamina C no fruto integral de plantas expostas ao pleno sol revelou o seguinte : planta 1, 2147 mg/100 g ; planta 2, 2389 mg/100 g ; planta 3, 2322 mg/100 g de fruto (vêr figura 1-A). Os teores de ácido ascórbico encontrados nos graus de maturação foram : fruto verde, 2716 mg/100 g ; fruto de vez, 2391 mg/100 g; fruto maduro, 2417 mg/100 g. O fruto verde tem o teor mais alto, enquanto o de vez e o maduro não diferem entre si. Também foram analisadas as diversas partes do fruto maduro, encontrando-se na casca 2482 mg/100 g e na polpa 3018 mg/100 g. Isto quer dizer que na "cabeludinha" a riqueza em ácido ascórbico aumenta da periferia para o centro. Tal fato é de suma importância, uma vez que só é aproveitada a polpa, portanto, a parte mais rica do fruto. Determinou-se também o conteúdo de vitamina C no fruto integral e maduro, de plantas sombreadas, encontrando-se na planta 1, 717, 28 mg/100 g; na planta 2, 838,66 mg/100 g ; na planta 3, 560,83 mg/100 g ; na planta 4, 713, 28 mg/100 g. Êstes resultados indicam, provavelmente, que as plantas localizadas à sombra são bem mais pobres em ácido ascórbico que aquelas crescendo ao sol; indicam ainda, que entre as plantas sombreadas há diferenças significativas, talvez de origem genética. As figuras dos gráficos 3 e 4 mostram, respectivamente, que a "cabeludinha" é a fonte mais rica de vitamina C entre as mirtáceas nacionais e de tôdas as frutas brasileiras. Comparando-se a "cabeludinha" com outras frutas exóticas, ricas em ácido ascórbico, nota-se que somente a cereja das Antilhas (Malpighia spp.) lhe leva vantagem.


The studies on the vitamin C content in fruits of Myrciaria glomerata Berg, reported in this paper were complementary to the breeding work on fruit plantas of Myrtacex, carried out cooperatively by the Seção de Frutas Tropicais, Instituto Agronômico, Campinas, and Seção de Genética, E.S.A. "Luiz de Queiroz", Piracicaba. The ascorbic acid content was determined in the blend obtained by running the pitted fruits in a blendor for 2 minutes in presence of a 0.4 per cent oxalic acid protecting solution. The quantitative determinations were made with an EEL portable colorimeter. The total vitamin C content in fresh fruits from trees exposed to full sunlight were as follows (in mg/100 g) : tree n.° 1, 2,417 ; tree n.° 2, 2,389 ; tree n.° 3, 2,322. Assays made with fruits at different stages of maturity gave the following results : green fruits, 2,716 ; full developed fruits, 2,391 ; ripe fruits, 2,417. Green fruits had thus a higher vitamin C content than either partially or completely ripe fruits ; the difference between the last two types was not significant. Different parts of the fruit that were assayed separately had the following vitamin C content (mg/100 g) : peel, 2,482 ; pulp (without seed), 3,018. The pulp which is the edible part of the fruit is thus richer than the peel. Vitamin C determinations in ripe fresh fruits from four shaded trees gave the following results (mg/100 g) : tree n.° 1, 717.28 ; tree n.° 2, 838.66 ; tree n.° 3, 560.83 ; tree n.° 4, 713.38. Fruits produced on shaded trees are therefore poorer in ascorbic acid than those from trees exposed to full sunlight. The variations between trees in the shaded group may be ascribed to genetic origin. Myrciaria glomerata fruits have the highest vitamin C content found among edibln fruits of Myrtacex (see table 3) ; it is also one of the tropical fruits richest in this vitamin, ranking third to the cynorrodum of will roses and fruits of Malpighia spp.


Vitamina C em "cabeludinha" (Myrciaria glomerata Berg)(* (* ) Trabalho apresentado à Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em novembro de 1952. Em trabalho anterior, os Autores adotaram para a " cabeludinha" a classificação dada por Popenoe, ou seja, Eugenia tomentosa Camb. (sin. Phyllocalix tomentosus Berg). Recentemente, porém, foram informados pelos Srs. O. Handro, do Instituto de Botânica de São Paulo e Eng. Agr. D. M. Dedecca, da Seção de Botânica do Instituto Agronômico do Estado, de que a verdadeira denominação científica da planta em questão é Myrciaria glomerata Berg. E. tomentosa Camb., devendo ser uma planta algo semelhante à" cabeludinha" é, contudo, uma espécie distinta daquela que constitui o objeto dos nossos estudos. )

Vitamin C content in fruits of Myrciaria glomerata

J. Soubihe SobrinhoI; D. PelegrinoII; J. T. A. GurgelIII; J. Leme JúniorIII; E. MalavoltaIII

IEngenheiro agrônomo, Seção de Frutas Tropicais, Instituto Agronômico

IIAssistente

IIILivres-docentes, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"

RESUMO

Êste trabalho faz parte do estudo do melhoramento genético das mirtáceas frutíferas, que vem sendo realizado pela Seção de Frutas Tropicais do Instituto Agronômiso e pela Seção de Genética da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", em Piracicaba. Colaboraram na parte analítica a Seção Técnica "Química Agrícola" e a Cadeira de Química, da "Luiz de Queiroz''.

A extração de vitamina C foi feita num liqüidificador durante dois minutos, utilizando-se o ácido oxálico a quatro por mil como solução protetora. A determinação se fez no "EEL. portable colorimeter".

A determinação do conteúdo de vitamina C no fruto integral de plantas expostas ao pleno sol revelou o seguinte : planta 1, 2147 mg/100 g ; planta 2, 2389 mg/100 g ; planta 3, 2322 mg/100 g de fruto (vêr figura 1-A).

Os teores de ácido ascórbico encontrados nos graus de maturação foram : fruto verde, 2716 mg/100 g ; fruto de vez, 2391 mg/100 g; fruto maduro, 2417 mg/100 g. O fruto verde tem o teor mais alto, enquanto o de vez e o maduro não diferem entre si.

Também foram analisadas as diversas partes do fruto maduro, encontrando-se na casca 2482 mg/100 g e na polpa 3018 mg/100 g. Isto quer dizer que na "cabeludinha" a riqueza em ácido ascórbico aumenta da periferia para o centro. Tal fato é de suma importância, uma vez que só é aproveitada a polpa, portanto, a parte mais rica do fruto.

Determinou-se também o conteúdo de vitamina C no fruto integral e maduro, de plantas sombreadas, encontrando-se na planta 1, 717, 28 mg/100 g; na planta 2, 838,66 mg/100 g ; na planta 3, 560,83 mg/100 g ; na planta 4, 713, 28 mg/100 g. Êstes resultados indicam, provavelmente, que as plantas localizadas à sombra são bem mais pobres em ácido ascórbico que aquelas crescendo ao sol; indicam ainda, que entre as plantas sombreadas há diferenças significativas, talvez de origem genética.

As figuras dos gráficos 3 e 4 mostram, respectivamente, que a "cabeludinha" é a fonte mais rica de vitamina C entre as mirtáceas nacionais e de tôdas as frutas brasileiras.

Comparando-se a "cabeludinha" com outras frutas exóticas, ricas em ácido ascórbico, nota-se que somente a cereja das Antilhas (Malpighia spp.) lhe leva vantagem.

SUMMARY

The studies on the vitamin C content in fruits of Myrciaria glomerata Berg, reported in this paper were complementary to the breeding work on fruit plantas of Myrtacex, carried out cooperatively by the Seção de Frutas Tropicais, Instituto Agronômico, Campinas, and Seção de Genética, E.S.A. "Luiz de Queiroz", Piracicaba.

The ascorbic acid content was determined in the blend obtained by running the pitted fruits in a blendor for 2 minutes in presence of a 0.4 per cent oxalic acid protecting solution. The quantitative determinations were made with an EEL portable colorimeter.

The total vitamin C content in fresh fruits from trees exposed to full sunlight were as follows (in mg/100 g) : tree n.° 1, 2,417 ; tree n.° 2, 2,389 ; tree n.° 3, 2,322. Assays made with fruits at different stages of maturity gave the following results : green fruits, 2,716 ; full developed fruits, 2,391 ; ripe fruits, 2,417. Green fruits had thus a higher vitamin C content than either partially or completely ripe fruits ; the difference between the last two types was not significant.

Different parts of the fruit that were assayed separately had the following vitamin C content (mg/100 g) : peel, 2,482 ; pulp (without seed), 3,018. The pulp which is the edible part of the fruit is thus richer than the peel.

Vitamin C determinations in ripe fresh fruits from four shaded trees gave the following results (mg/100 g) : tree n.° 1, 717.28 ; tree n.° 2, 838.66 ; tree n.° 3, 560.83 ; tree n.° 4, 713.38. Fruits produced on shaded trees are therefore poorer in ascorbic acid than those from trees exposed to full sunlight. The variations between trees in the shaded group may be ascribed to genetic origin.

Myrciaria glomerata fruits have the highest vitamin C content found among edibln fruits of Myrtacex (see table 3) ; it is also one of the tropical fruits richest in this vitamin, ranking third to the cynorrodum of will roses and fruits of Malpighia spp.

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LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em 20 de abril de 1955.

  • 1.  GURGEL, J. T. A., SOUBIHE, J. (sobrinho), MALAVOLTA, E. & LEME, J. (junior). Fatôres que afetam a determinação da vitamina C na goiaba (Psidium guajava L.). Ann. Esc. Agric. Queiroz 8 : 400-430. 1951.
  • 2.  HAMNER, K. C. & MAYNARD, L. A. Factors influencing the nutritive value of the tomato. Washington, U. S. Dept agric, 1942. 23 p. (Misc. Publ. n.° 502)
  • 3.  ________ & PARKS, H. Q. Effect of light intensity on ascorbic acid content of turnip greens. J. Amer. Soc. Agron. 36 : 269-273. 1944.
  • 4.  LEME, J. (júnior) & MALAVOLTA, E. Determinação fotométrica do ácido ascórbico. Ann. Esc. Agric. Queiroz 7 : 116-129. 1950.
  • 5.  MALAVOLTA, E., LEME, J. júnior), GURGEL, J. T. A. & SOUBIHE, J. (sobrinho). Nota prévia sôbre conteúdo de vitamina C em "cabeludinha" (Eugenia tomentosa Camb.). Rev. Agric, Piracicaba 16 : 403-404. 1951.
  • 6.  MILLER, D. C, LOUIS, L. & YANASAWA, K. Vitamin values of foods in Hawaii. Hawaii, University, 1947. 56 p. (Tec. Bull. n.° 6)
  • 7.  POPENOE, W. Manual of Tropical and Sub-tropical fruits. New York, The Mac-millan Company, 1927. 474 p.
  • 8.  VADOVA, V. A., BEIDEN, T. L. & YANISHEVSKAYA, M. V. Dynamics of vitamin C storage in rose hips. Proc. Sci. Inst. Vitamin Research U. S. S. R. 3(1):157-163. 1941. [Original não consultado ; extraído de Chem. Abstracts 36 : 3009. 1942]
  • 9.  ________, MENSHIKOVA, V. N. & YANISHEVSKAYA,,M. V. Variability in chemical composition of rose hips. Proc. Sci. Inst. Vitamin Research U.S.S.R. 3 (1):165-167. 1941. [Original não consultado ; extraído de Chem. Abstracts 36 :3009. 1942]
  • (*
    ) Trabalho apresentado à Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em novembro de 1952.
    Em trabalho anterior, os Autores adotaram para a " cabeludinha" a classificação dada por Popenoe, ou seja,
    Eugenia tomentosa Camb. (sin.
    Phyllocalix tomentosus Berg). Recentemente, porém, foram informados pelos Srs. O. Handro, do Instituto de Botânica de São Paulo e Eng. Agr. D. M. Dedecca, da Seção de Botânica do Instituto Agronômico do Estado, de que a verdadeira denominação científica da planta em questão é
    Myrciaria glomerata Berg.
    E. tomentosa Camb., devendo ser uma planta algo semelhante à" cabeludinha" é, contudo, uma espécie distinta daquela que constitui o objeto dos nossos estudos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Maio 2010
    • Data do Fascículo
      1955

    Histórico

    • Recebido
      20 Abr 1955
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