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Resultados experimentais relativos à poda da figueira, variedade roxo de Valinhos

Results of a pruning trial for the roxo de valinhos fig variety

Resumos

Neste trabalho são apresentados os resultados obtidos durante quatro anos (1951/54) em um experimento conduzido desde 1949 em Monte Alegre do Sul, com a finalidade de estudar o comportamento de figueiras submetidas a tipos de poda de renovação anual da copa, de severidade menor que a comumente empregada nas culturas comerciais do Estado de São Paulo. O experimento, compreendendo 192 plantas, foi delineado em blocos ao acaso, com três repetições e quatro tratamentos, a saber: copas de 10, 20, 30 e 40 ramos. O tratamento de 10 ramos foi tomado como testemunha, por ser o mais próximo do tipo usual. Os dados obtidos, relativos à produção em número e em peso de figos, analisados estatisticamente, revelaram resultados altamente significativos e permitiram várias conclusões, que resumimos a seguir. a) As produções totais do ensaio, obtidas de 1951 a 1954, foram respectivamente as seguintes: 5.200, 9.039, 8.895 e 15.990 kg/ha, as quais mostram os aumentos havidos à medida que as plantas se tornaram mais velhas. A produção obtida aos cinco anos após a plantação definitiva é bastante satisfatória quando confrontada com a média das grandes regiões produtoras mundiais e indica que são altamente favoráveis as condições de Monte Alegre do Sul, para o cultivo da figueira. b) Os resultados de três anos (1952/1954), analisados separadamente e em conjunto, mostraram a tendência da produção aumentar quando diminuiu a severidade da poda da copa. Em 1954 as produções médias, observadas para as plantas deixadas com 10, 20, 30 e 40 ramos foram, respectivamente, 10.381, 16.288, 18.411 e 18.607 kg/ha, de modo que os aumentos porcentuais verificados nos tipos de 20, 30 e 40 ramos, em relação ao de 10, foram respectivamente: 56,9, 77,3, e 79,2. O aumento de produção se refere exclusivamente aos figos maduros, porquanto, com relação aos verdes colhidos no fim da safra, não se observaram diferenças significativas. c) Os dados de produção permitiram verificar que o pêso dos figos maduros diminui quando aumenta o número de ramos da copa. Em 1954 o peso médio dos figos produzidos nas plantas de 10, 20, 30 e 40 ramos foi, respectivamente: 65,5, 63,7, 59,7 e 60,0 g. d) Não se verificaram diferenças acentuadas entre os pesos dos ramos cortados, nos quatro tipos de copa; as médias observadas nas podas de 1953 e de 1954, para as figueiras de 10, 20, 30 e 40 ramos, foram respectivamente: 5,3, 5,2, 4,7 e 5,4 kg por planta. e) Verificou-se uma tendência para os figos amadurecerem mais precocemente nas plantas deixadas com maior número de ramos. Na primeira década de janeiro de 1954 - período correspondente às maiores colheitas dos tratamentos 2, 3 e 4 - as plantas deixadas com 10, 20, 30 e 40 ramos mostraram, respectivamente, as seguintes porcentagens de figos colhidos em relação à produção total do tratamento: 12,9, 21,2, 31,7 e 36,8; ao passo que na última década de fevereiro - período correspondente às maiores colheitas do tratamento 1 - foram as seguintes as porcentagens respectivamente verificadas: 18,7, 12,3, 9,4 e 9,5. f) Nas condições da experiência o tipo de copa mais vantajoso à produção de figos maduros parece encontrar-se entre os de 15 a 25 ramos por planta, enquanto para a produção de figos verdes destinados às fábricas de doces, entre os de 25 a 35 ramos. Entretanto, a adoção de tipos de copa com maior número de ramos do que o usual acarreta certas modificações, como: diminuição do tamanho dos figos, antecipação das colheitas, aumento de despesas com pulverizações e adubações, as quais sugerem várias considerações econômicas. Complexos como são os problemas econômicos, pela dependência em que se acham de numerosos fatôres, não se podem estabelecer regras fixas. Em última análise, é o próprio fruticultor quem decidirá o melhor caminho a seguir, de posse das informações aqui relatadas.


Four pruning methods were compared during 4 consecutive years at Monte Alegre do Sul, State of São Paulo. The 4 methods consisted in leaving on the trees, 10 (common method), 20, 30 and 40 branches. Pruning was done every year so that all the growth was removed except for a number of branches that were cut back to a length of 2 to 5 inches. On each of these stumps 1 or 2 branches were allowed to grow so that the total number per tree corresponded to the designated treatment. The pruning experiment was laid out in randomized blocks with 3 replications. Individual plots consisted of 16 trees of the variety Roxo de Valinhos (San Piero). The results of the trial can be summarized as follows. a) The total yield of the whole experimental plot for the years 1951 through 1954 was, respectively, 5.2, 9.0, 8.9, and 16,0 tons per hectare. This last crop produced in the fifth year after planting was considered very satisfactory when compared with that in other fig growing areas in the world. b) The results of the three last crops were analysed and showed that there was significant tendency for the yield to increase when severity of pruning decreased. In 1954 the yields for the 4 treatments were, respectively, 10.4, 16.3, 18.4, and 18.6 tons per hectare. c) The weight of the ripe figs decreased as the number of branches per tree increased. In 1954 the average fruit weight for the 10, 20, 30 and 40 branch treatments was respectively, 65.5, 63.7, 59.7, and 60,0 g. d) No significant difference was noticed between weights of pruned branches from the 4 treatments. In 1953 and 1954 the average weight of branches for the 10, 20, 30 and 40 branch treatments was respectively, 5,3, 5,2, 4,7, and 5,4 kg per tree. e) A tendency for earlier ripening of the fig crop on trees left with larger numbers of branches was observed. For the first 10 days in January (harvest peak for the 20, 30, and 40 branch treatments) the trees with 10, 20, 30 and 40 branches yielded respectively, 12.9, 21.2, 31.7, and 36.8 per cent of the total crop for the treatment. In the last 10 days of February (harvest peak for the 10 branch treatment) the results were reversed, being respectively 18.7, 12.3, 9.4 and 9.5 per cent of the total yield for the treatment. f) Changes in fruit size, earliness, shortening of picking season, and increased expenditures in fertilizers and sprays result from the use of methods of pruning more moderate than those actually adopted in the State. It is thus up to the grower to make the ultimate decision as to which pruning method he should adopt, taking into consideration the experimental data available and the especific conditions of his own orchard.


Resultados experimentais relativos à poda da figueira, variedade roxo de Valinhos(* (* ) Parte da tese de doutoramento apresentada à Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo, em 29 de novembro de 1955. O A. agradece aos Engs. Agrs. Sebastião Alves e A. G. Gomes, da Estação Experimental de Monte Alegre do Sul, pela colaboração prestada, e aos Engs. Agrs. C. G. Fraga e A. Conagin, da Seção de Técnica Experimental, pela orientação na análise estatística dos resultados. )

Results of a pruning trial for the roxo de valinhos fig variety

Orlando Rigitano

Engenheiro-agrônomo, Seção de Frutas de Clima Temperado, Instituto Agronômico

RESUMO

Neste trabalho são apresentados os resultados obtidos durante quatro anos (1951/54) em um experimento conduzido desde 1949 em Monte Alegre do Sul, com a finalidade de estudar o comportamento de figueiras submetidas a tipos de poda de renovação anual da copa, de severidade menor que a comumente empregada nas culturas comerciais do Estado de São Paulo.

O experimento, compreendendo 192 plantas, foi delineado em blocos ao acaso, com três repetições e quatro tratamentos, a saber: copas de 10, 20, 30 e 40 ramos. O tratamento de 10 ramos foi tomado como testemunha, por ser o mais próximo do tipo usual.

Os dados obtidos, relativos à produção em número e em peso de figos, analisados estatisticamente, revelaram resultados altamente significativos e permitiram várias conclusões, que resumimos a seguir.

a) As produções totais do ensaio, obtidas de 1951 a 1954, foram respectivamente as seguintes: 5.200, 9.039, 8.895 e 15.990 kg/ha, as quais mostram os aumentos havidos à medida que as plantas se tornaram mais velhas. A produção obtida aos cinco anos após a plantação definitiva é bastante satisfatória quando confrontada com a média das grandes regiões produtoras mundiais e indica que são altamente favoráveis as condições de Monte Alegre do Sul, para o cultivo da figueira.

b) Os resultados de três anos (1952/1954), analisados separadamente e em conjunto, mostraram a tendência da produção aumentar quando diminuiu a severidade da poda da copa. Em 1954 as produções médias, observadas para as plantas deixadas com 10, 20, 30 e 40 ramos foram, respectivamente, 10.381, 16.288, 18.411 e 18.607 kg/ha, de modo que os aumentos porcentuais verificados nos tipos de 20, 30 e 40 ramos, em relação ao de 10, foram respectivamente: 56,9, 77,3, e 79,2. O aumento de produção se refere exclusivamente aos figos maduros, porquanto, com relação aos verdes colhidos no fim da safra, não se observaram diferenças significativas.

c) Os dados de produção permitiram verificar que o pêso dos figos maduros diminui quando aumenta o número de ramos da copa. Em 1954 o peso médio dos figos produzidos nas plantas de 10, 20, 30 e 40 ramos foi, respectivamente: 65,5, 63,7, 59,7 e 60,0 g.

d) Não se verificaram diferenças acentuadas entre os pesos dos ramos cortados, nos quatro tipos de copa; as médias observadas nas podas de 1953 e de 1954, para as figueiras de 10, 20, 30 e 40 ramos, foram respectivamente: 5,3, 5,2, 4,7 e 5,4 kg por planta.

e) Verificou-se uma tendência para os figos amadurecerem mais precocemente nas plantas deixadas com maior número de ramos. Na primeira década de janeiro de 1954 - período correspondente às maiores colheitas dos tratamentos 2, 3 e 4 - as plantas deixadas com 10, 20, 30 e 40 ramos mostraram, respectivamente, as seguintes porcentagens de figos colhidos em relação à produção total do tratamento: 12,9, 21,2, 31,7 e 36,8; ao passo que na última década de fevereiro - período correspondente às maiores colheitas do tratamento 1 - foram as seguintes as porcentagens respectivamente verificadas: 18,7, 12,3, 9,4 e 9,5.

f) Nas condições da experiência o tipo de copa mais vantajoso à produção de figos maduros parece encontrar-se entre os de 15 a 25 ramos por planta, enquanto para a produção de figos verdes destinados às fábricas de doces, entre os de 25 a 35 ramos. Entretanto, a adoção de tipos de copa com maior número de ramos do que o usual acarreta certas modificações, como: diminuição do tamanho dos figos, antecipação das colheitas, aumento de despesas com pulverizações e adubações, as quais sugerem várias considerações econômicas. Complexos como são os problemas econômicos, pela dependência em que se acham de numerosos fatôres, não se podem estabelecer regras fixas. Em última análise, é o próprio fruticultor quem decidirá o melhor caminho a seguir, de posse das informações aqui relatadas.

SUMMARY

Four pruning methods were compared during 4 consecutive years at Monte Alegre do Sul, State of São Paulo. The 4 methods consisted in leaving on the trees, 10 (common method), 20, 30 and 40 branches. Pruning was done every year so that all the growth was removed except for a number of branches that were cut back to a length of 2 to 5 inches. On each of these stumps 1 or 2 branches were allowed to grow so that the total number per tree corresponded to the designated treatment.

The pruning experiment was laid out in randomized blocks with 3 replications. Individual plots consisted of 16 trees of the variety Roxo de Valinhos (San Piero). The results of the trial can be summarized as follows.

a) The total yield of the whole experimental plot for the years 1951 through 1954 was, respectively, 5.2, 9.0, 8.9, and 16,0 tons per hectare. This last crop produced in the fifth year after planting was considered very satisfactory when compared with that in other fig growing areas in the world.

b) The results of the three last crops were analysed and showed that there was significant tendency for the yield to increase when severity of pruning decreased. In 1954 the yields for the 4 treatments were, respectively, 10.4, 16.3, 18.4, and 18.6 tons per hectare.

c) The weight of the ripe figs decreased as the number of branches per tree increased. In 1954 the average fruit weight for the 10, 20, 30 and 40 branch treatments was respectively, 65.5, 63.7, 59.7, and 60,0 g.

d) No significant difference was noticed between weights of pruned branches from the 4 treatments. In 1953 and 1954 the average weight of branches for the 10, 20, 30 and 40 branch treatments was respectively, 5,3, 5,2, 4,7, and 5,4 kg per tree.

e) A tendency for earlier ripening of the fig crop on trees left with larger numbers of branches was observed. For the first 10 days in January (harvest peak for the 20, 30, and 40 branch treatments) the trees with 10, 20, 30 and 40 branches yielded respectively, 12.9, 21.2, 31.7, and 36.8 per cent of the total crop for the treatment. In the last 10 days of February (harvest peak for the 10 branch treatment) the results were reversed, being respectively 18.7, 12.3, 9.4 and 9.5 per cent of the total yield for the treatment.

f) Changes in fruit size, earliness, shortening of picking season, and increased expenditures in fertilizers and sprays result from the use of methods of pruning more moderate than those actually adopted in the State. It is thus up to the grower to make the ultimate decision as to which pruning method he should adopt, taking into consideration the experimental data available and the especific conditions of his own orchard.

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LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em 18 de outubro de 1956.

  • 1.  CONDIT, I. J. Fig culture in California. California agric. Exp. Sta., 1933. 69p. (Circ. 77)
  • 2.  GOULD, H. P. Fig growing in the South Atlantic and Gulf States. Washington, U. S. Department of Agriculture, 1935. 34p. (Bull. 103)
  • 3.  PAIVA, J. E. (neto), KÜPPER, A., CATANI, R. A. [e outros]. Estudo pedológico da Est. Exp. "Monte Alegre". São Paulo, Diretoria de Publicidade Agrícola, 1950. 76p. (Publicação n.° 820)
  • 4.  RIGITANO, O. A figueira cultivada no Estado de São Paulo. Tese de doutoramento apresentada à Universidade de São Paulo. Campinas, Instituto Agronômico, 1955. 59p. [Mimeografado]
  • 5.  ________ Figo. Relatório da Seção de Viticultura e Frutas de Clima Temperado do I. Agronômico de Campinas, ano 1948. p. 10-12. [Não publicado]
  • 6.  STANSEL, R. H. & WYCHE, R. H. Fig culture in the Gulf Coast region of Texas. Texas agric. Exp. Sta,, 1932. 28p. (Bull. 466)
  • (*
    ) Parte da tese de doutoramento apresentada à Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo, em 29 de novembro de 1955. O A. agradece aos Engs. Agrs. Sebastião Alves e A. G. Gomes, da Estação Experimental de Monte Alegre do Sul, pela colaboração prestada, e aos Engs. Agrs. C. G. Fraga e A. Conagin, da Seção de Técnica Experimental, pela orientação na análise estatística dos resultados.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Maio 2010
    • Data do Fascículo
      1957
    Instituto Agronômico de Campinas Avenida Barão de Itapura, 1481, 13020-902, Tel.: +55 19 2137-0653, Fax: +55 19 2137-0666 - Campinas - SP - Brazil
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