Acessibilidade / Reportar erro

MELHORAMENTO DO TRIGO: XXXI. HERDABILIDADES E CORRELAÇÕES ENTRE TRÊS CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS EM POPULAÇÕES HÍBRIDAS

Resumos

Para estimar a herdabilidade, em sentido amplo e restrito, para altura de planta, número de grãos por espigueta e produção de grãos, bem como as correlações entre essas características, realizaram-se cruzamentos entre o `BH-1146' (P1), de origem nacional e porte alto, com os cultivares mexicanos CMH 80.638/ CMH 75A. 411//CMH 80.638 (P2); CMH 79.959/2 * CNO 79 (P3) e CMH 79.481/CMH 77A. 917 (P4), de porte baixo a médio. Plântulas, das gerações parentais F1 e F2 e dos retrocruzamentos, para ambos os pais, foram transplantadas para vasos no telado. Para o caráter altura de planta, os valores estimados para as herdabilidades em sentido amplo e restrito, ao nível de plantas individuais, foram altos em todos os cruzamentos, variando de 0,86 a 0,91 e de 0,77 a 0,96 respectivamente. Para o caráter número de grãos por espigueta, os valores da herdabilidade em sentido amplo (0,26 a 0,50) e restrito (0,26 a 0,61) variaram, conforme o cruzamento, de baixo a médio. Dados da herdabilidade em sentido amplo para produção de grãos variaram de médio a alto (0,63 a 0,70) e, em sentido restrito, foram médios (0,41 a 0,62). As correlações fenotípicas entre produção de grãos e altura de planta foram significativas para os cruzamentos P1 x P3 (-0,19 P < 0,05) e P1 x P4 (0,62 P < 0,01) e não significativa para P1 x P2 (0,06). Correlações fenotípicas entre produção de grãos e número de grãos por espigueta (P1 x P3 e P1 x P4), e entre altura de plantas e número de grãos por espigueta (P1 x P2 e P1 x P4) foram positivas e significativas. Os resultados sugerem ser possível, no cruzamento P1 x P3, selecionar plantas mais produtivas, de porte médio a baixo e com maior número de grãos por espigueta.

trigo; altura de planta; número de grãos por espigueta; produção de grãos; herdabilidades; correlações


Aiming at estimating broad and narrow sense heritabilities for plant height, number of grains per spikelet, grain yielding potential, and phenotypic correlations among these characters, crosses were made between a tall Brazilian cultivar BH-1146 (P1), and three semidwarf Mexican cultivars CMH 80.638/CMH 75 A.411//CMH 80.638 (P2); CMH 79.958/2 * CNO 79 (P3) e CMH 79.481/CMH 77 A. 917 (P4). Hybrids seedlings from F1, F2, and backcross generations were transplanted in pots under greenhouse conditions in which the agronomic traits were evaluated. For plant height broad and narrow sense heritability estimates on a single plant basis showed high values, for all crosses (0.86 to 0.91 and 0.77 to 0.96), respectively. As to grain yielding potential, the broad and narrow sense heritability estimates were moderate (0.41 to 0.62) to high (0.63 to 0.70), while for number of grains per spikelet these values were low (0.26 to 0.50) to moderate (0.26 to 0.61). Significant phenotypic correlations were detected between grain yield and plant height for the crosses P1 x P3 (-0.19 P < 0.05) and P1 x P4 (0.62 P < 0.01), and between grain yield and number of grains per spikelet for the same crosses. Associations between plant height and number of grains per spikelet were positive and significant for P1 x P2 and P1 x P4. The results strongly suggest the fesibility of selecting semidwarf and high yielding genotypes with a high number of grains per spikelet, in the cross P1 x P3.

wheat; plant height; number of grains per spikelet; grain yield; heritabilities; correlations


MELHORAMENTO DO TRIGO:

XXXI. HERDABILIDADES E CORRELAÇÕES ENTRE TRÊS CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS EM POPULAÇÕES HÍBRIDAS(1 (1 ) Parte da Tese apresentada pelo primeiro autor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal (SP). Recebido para publicação em 2 de dezembro de 1996 e aceito em 23 de agosto de 1997. )

ANTONIO WILSON PENTEADO FERREIRA FILHO(2 (1 ) Parte da Tese apresentada pelo primeiro autor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal (SP). Recebido para publicação em 2 de dezembro de 1996 e aceito em 23 de agosto de 1997. ,4 (1 ) Parte da Tese apresentada pelo primeiro autor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal (SP). Recebido para publicação em 2 de dezembro de 1996 e aceito em 23 de agosto de 1997. ), CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA CAMARGO(2 (1 ) Parte da Tese apresentada pelo primeiro autor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal (SP). Recebido para publicação em 2 de dezembro de 1996 e aceito em 23 de agosto de 1997. ,5 (1 ) Parte da Tese apresentada pelo primeiro autor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal (SP). Recebido para publicação em 2 de dezembro de 1996 e aceito em 23 de agosto de 1997. ) e JUAN AYALAOSUNA(3 (1 ) Parte da Tese apresentada pelo primeiro autor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal (SP). Recebido para publicação em 2 de dezembro de 1996 e aceito em 23 de agosto de 1997. )

RESUMO

Para estimar a herdabilidade, em sentido amplo e restrito, para altura de planta, número de grãos por espigueta e produção de grãos, bem como as correlações entre essas características, realizaram-se cruzamentos entre o `BH-1146' (P1), de origem nacional e porte alto, com os cultivares mexicanos CMH 80.638/ CMH 75A. 411//CMH 80.638 (P2); CMH 79.959/2 * CNO 79 (P3) e CMH 79.481/CMH 77A. 917 (P4), de porte baixo a médio. Plântulas, das gerações parentais F1 e F2 e dos retrocruzamentos, para ambos os pais, foram transplantadas para vasos no telado. Para o caráter altura de planta, os valores estimados para as herdabilidades em sentido amplo e restrito, ao nível de plantas individuais, foram altos em todos os cruzamentos, variando de 0,86 a 0,91 e de 0,77 a 0,96 respectivamente. Para o caráter número de grãos por espigueta, os valores da herdabilidade em sentido amplo (0,26 a 0,50) e restrito (0,26 a 0,61) variaram, conforme o cruzamento, de baixo a médio. Dados da herdabilidade em sentido amplo para produção de grãos variaram de médio a alto (0,63 a 0,70) e, em sentido restrito, foram médios (0,41 a 0,62). As correlações fenotípicas entre produção de grãos e altura de planta foram significativas para os cruzamentos P1 x P3 (-0,19 P < 0,05) e P1 x P4 (0,62 P < 0,01) e não significativa para P1 x P2 (0,06). Correlações fenotípicas entre produção de grãos e número de grãos por espigueta (P1 x P3 e P1 x P4), e entre altura de plantas e número de grãos por espigueta (P1 x P2 e P1 x P4) foram positivas e significativas. Os resultados sugerem ser possível, no cruzamento P1 x P3, selecionar plantas mais produtivas, de porte médio a baixo e com maior número de grãos por espigueta.

Termos de indexação: trigo, altura de planta, número de grãos por espigueta, produção de grãos, herdabilidades, correlações.

ABSTRACT

WHEAT BREEDING: XXXI. HERITABILITIES AND CORRELATIONS AMONG AGRONOMIC TRAITS IN HYBRID POPULATIONS

Aiming at estimating broad and narrow sense heritabilities for plant height, number of grains per spikelet, grain yielding potential, and phenotypic correlations among these characters, crosses were made between a tall Brazilian cultivar BH-1146 (P1), and three semidwarf Mexican cultivars CMH 80.638/CMH 75 A.411//CMH 80.638 (P2); CMH 79.958/2 * CNO 79 (P3) e CMH 79.481/CMH 77 A. 917 (P4). Hybrids seedlings from F1, F2, and backcross generations were transplanted in pots under greenhouse conditions in which the agronomic traits were evaluated. For plant height broad and narrow sense heritability estimates on a single plant basis showed high values, for all crosses (0.86 to 0.91 and 0.77 to 0.96), respectively. As to grain yielding potential, the broad and narrow sense heritability estimates were moderate (0.41 to 0.62) to high (0.63 to 0.70), while for number of grains per spikelet these values were low (0.26 to 0.50) to moderate (0.26 to 0.61). Significant phenotypic correlations were detected between grain yield and plant height for the crosses P1 x P3 (-0.19 P < 0.05) and P1 x P4 (0.62 P < 0.01), and between grain yield and number of grains per spikelet for the same crosses. Associations between plant height and number of grains per spikelet were positive and significant for P1 x P2 and P1 x P4. The results strongly suggest the fesibility of selecting semidwarf and high yielding genotypes with a high number of grains per spikelet, in the cross P1 x P3.

Index terms: wheat, plant height, number of grains per spikelet, grain yield, heritabilities, correlations.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, até o final da década dos setentas, os cultivares de trigo lançados para semeadura eram de porte alto, suscetíveis ao acamamento, com baixo potencial de produção e baixa fertilidade das espigas (Alcover, 1971; Camargo, 1972; Camargo & Oliveira, 1983).

Já os cultivares de trigo recomendados para o Estado de São Paulo, originários da fonte de nanismo Norin 10 x Brevor 14, de acordo com Hanson et al. (1982), além do porte semi-anão, são também portadores de colmo forte, com maior número de espiguetas férteis, maior perfilhamento, precocidade, responsivos à adubação, insensíveis ao fotoperíodo e com maior resistência às doenças (Camargo & Oliveira, 1981).

Para obtenção de novos cultivares de trigo de porte médio a baixo, com elevada fertilidade de espiga e altas produções de grãos, para as diferentes regiões tritícolas paulistas, é necessário o conhecimento da herança, e as associações entre esses caracteres se faz necessário para que se obtenha êxito na seleção.

De acordo com Falconer (1960) e Ketata el al. (1976), a herdabilidade de um caráter agronômico descreve a extensão pela qual ele é transmitido de uma geração a outra. Altos valores de herdabilidade, tanto em sentido amplo como em restrito, para altura de plantas de trigo, foram encontrados por Vieira (1990), enquanto os mesmos autores estimaram baixos valores de herdabilidade para a produção de grãos. Camargo (1987), Camargo & Ramos (1989) e Vieira (1990) obtiveram valores médios a baixos de herdabilidade tanto em sentido amplo como em restrito para o número de grãos por espigueta.

Em cruzamentos envolvendo um cultivar nacional de porte alto com quatro diferentes fontes de nanismo, observaram-se correlações fenotípicas posi-tivas e altamente significativas entre produção de grãos e altura das plantas, e entre produção de grãos e número de grãos por espigueta (Camargo & Oliveira, 1983).

O presente trabalho objetivou estimar as herdabilidades em ambos os sentidos, bem como as associações entre os caracteres altura de plantas, número de grãos por espigueta e produção de grãos em populações híbridas de trigo, visando ao aumento da eficiência do programa de melhoramento genético do trigo para o Estado de São Paulo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Realizaram-se cruzamentos entre o `BH-1146' (P1), de origem nacional e de porte alto, e os cultivares mexicanos de porte médio a baixo CMH 80.638/CMH 75A. 411//CMH 80.638 (P2); CMH 79.959/2* CNO 79 (P3) e CMH 79.481/CMH 77 A.917 (P4).

Além dos pais, foram também estudadas, no experimento, as gerações F1s e F2s dos cruzamentos P1 x P2, P1 x P3 e P1 x P4 e as populações F1s dos retrocruzamentos para ambos os pais: (P1 x P2) x P1; (P1 x P3) x P1; (P1 x P4) x P1; (P1 x P2) x P2; (P1 x P3) x P3 e (P1 x P4) x P4.

No ensaio, instalado em vasos no telado protegido contra ataque de pássaros, da Seção de Arroz e Cereais de Inverno, do Centro Experimental de Campinas, do Instituto Agronômico, utilizou-se o delineamento de blocos ao acaso, com seis repetições. Em cada repetição, transplantaram-se, para vasos de plástico preto de aproximadamente 25 cm de altura e 20 cm de diâmetro, 24 plântulas de cada um dos pais; 15 plântulas de cada cruzamento em geração F1; 75 plântulas de cada cruzamento em geração F2 e 27 plântulas dos RC1se RC2s. As plântulas foram obtidas após sete dias de crescimento em solução nutritiva completa, para garantir a quantidade necessária ao experimento (Camargo, 1981). Cada vaso preenchido com solo corrigido e adubado, contendo três plântulas de um mesmo genótipo foi distribuído ao acaso em linhas espaçadas de 40 cm uma da outra dentro de cada repetição. No total do experimento, empregaram-se 1.056 vasos e, visando minimizar os efeitos de bordadura, plantou-se uma linha adicional de 144 vasos contornando o experimento.

Os dados, coletados na base de plantas individuais, foram os seguintes:

Altura de planta - medida, em centímetros, do nível do solo até o ápice da espiga do colmo principal, excluindo as aristas.

Grãos por espigueta - número calculado pela relação entre o total de grãos da espiga do colmo principal e o total de espiguetas da mesma espiga.

Produção de grãos - peso, em gramas, da produção total de grãos de cada planta.

Na análise da variância a soma de quadrados da causa de variação de genótipos foi decomposta para detectar possíveis diferenças entre e dentro de gerações. Por sua vez, a soma de quadrados da causa de variação dentro de gerações foi decomposta em gerações.

A comparação das médias dos três caracteres agronômicos dos parentais, dos híbridos em geração F1 e F2 e dos retrocruzamentos foi feita pelo teste de Tukey ao nível de 5%.

As estimativas da herdabilidade em sentido amplo, - proporção entre a variância genética total e a variância fenotípica - foram calculadas segundo o método de Briggs & Knowles (1977) e, as herdabilidades em sentido restrito - - proporção entre a variância genética aditiva e a variância fenotípica - pelo método de Warner (1952). O erro padrão para a foi obtido conforme método de Ketata et al. (1976). A estimativa desse parâmetro foi feita para os três caracteres em estudo dentro de cada um dos três cruzamentos e mediante dados de plantas individuais.

Estimativas das herdabilidades abaixo de 0,35 foram consideradas baixas; entre 0,35 e 0,65, médias e, maiores que 0,65, elevadas.

As correlações fenotípicas, genotípicas e ambientais, para cada uma das três populações, foram usadas para estimar o grau de associação entre: produção de grãos e altura de planta; produção de grãos e número de grãos por espigueta, e altura de plantas e número de grãos por espigueta. De acordo com Falconer (1960), as correlações usando dados de F1 foram consideradas ambientais, e aquelas com dados de F2, fenotípicas. As genotípicas foram calculadas pela seguinte fórmula:

onde rG = correlação genotípica entre x e y; rF = correlação fenotípica entre os caracteres x e y; rA = correlação ambiental entre x e y; hx e hy = herdabilidades em sentido restrito para os caracteres x e y respectivamente, considerando-se os tres cruzamentos em conjunto; ex = 1 - hx , ey = 1 - hy.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das análises da variância, para os três caracteres estudados - Quadro 1 - indicam efeitos significativos para repetições, genótipos, entre e dentro de gerações, bem como para os pais, gerações F1 e F2 e retrocruzamentos, ao nível de 1% pelo teste F, exceto para a produção de grãos na geração F1 e nos RC1s.


As médias e as diferenças mínimas significativas, pelo teste de Tukey ao nível de 5%, para os três caracteres agronômicos, das dezesseis populações estudadas, isto é, os pais, os híbridos nas gerações F1 e F2, e os retrocruzamentos RC1 e RC2, acham-se no quadro 2: para altura de planta, as diferenças foram significativas entre os quatro pais. P1, de origem nacional, foi o mais alto e, P4, o mais baixo, mostrando haver variabilidade genética para o caráter. Quando se compararam as médias dentro das populações F1 e F2, verificou-se que todos os cruzamentos diferiram entre si, exceto P1 x P2 e P1 x P4 na geração F2. Nos cruzamentos onde se empregou o cultivar P3, as médias foram as mais altas em relação à altura de planta; por outro lado, quando houve hibridação com P2, os valores foram os mais baixos, diferindo significativamente dos cruzamentos com P4 apenas na geração F1.


As médias do RC1 e do RC2, quando um dos pais era o cultivar P3, apresentaram plantas mais altas. Quando se usaram os parentais P2 e P4 nos retrocruzamentos, observaram-se plantas mais baixas, embora não diferindo significativamente entre si. Os resultados evidenciaram que porte baixo em plantas de trigo é um caráter facilmente transferível para outras gerações por intermédio de hibridações, concordando com os dados obtidos por outros autores, como Camargo & Oliveira (1983) e Camargo (1989): em cruzamentos entre variedade de trigo de origem nacional de porte alto e uma semi-anã mexicana, obtiveram descendentes de porte baixo nas gerações segregantes.

Considerando o número de grãos por espigueta, o pai P3 mostrou os maiores valores, diferindo significativamente dos outros parentais e também nas gerações F1, F2 e retrocruzamentos onde P3 foi envolvido, verificaram-se valores significativamente superiores. Assim, P3 apresentou grande potencial em transferir maior número de grãos por espigueta para as progênies dos cruzamentos em que foi usado como parental. Camargo (1987, 1989) e Camargo & Ramos (1989) encontraram resultados semelhantes, utilizando outros cultivares.

Em relação à produção de grãos, o cultivar P1 foi o mais produtivo, diferindo significativamente das diferentes fontes de nanismo, enquanto `P4' apresentou a mais baixa produção de grãos.

Apesar dos altos valores para produção de grãos, não se verificaram diferenças significativas pelo teste de Tukey, quando foram comparadas as médias dos híbridos em geração F1 e dos RC1s, Camargo & Ramos (1989), estudando cruzamentos envolvendo o cultivar C-3, de porte alto, e três diferentes fontes de nanismo, não observaram diferenças significativas para produção de grãos, quando comparadas as médias dos genótipos nas gerações F1 e F2 e entre os retrocruzamentos.

Na geração F2, destacou-se, quanto à produção de grãos, o híbrido P1 x P3, que diferiu estatisticamente dos demais. Entre os RC2s, o híbrido (P1 x P3) x P3 foi o mais produtivo, com diferença significativa. Os resultados revelaram que os parentais P1 e P3 se apresentaram promissores em transmitir aos descendentes essa característica. Em cruzamentos dialélicos envolvendo quatro cultivares de trigo, Camargo (1989) verificou que o cultivar Atlas-66 também se mostrou eficiente em transmitir a característica maior produção de grãos a suas progênies.

As estimativas das herdabilidades em sentido amplo () e em sentido restrito () para os três caracteres estudados, derivadas dos dados obtidos nas gerações parentais, F1s e F2s das três populações híbridas, encontram-se no quadro 3. Os valores estimados para a herdabilidade em sentido amplo para os três cruzamentos foram elevados para o caráter altura de planta (0,86 a 0,91), indicando que grande parte das variações obtidas nessas populações são de origem genética. Valores semelhantes foram encontrados por Petr & Frey (1966), Camargo (1981) e Vieira (1990).


Os valores das herdabilidades em sentido amplo variaram, conforme o cruzamento, de baixo a moderado para número de grãos por espigueta (0,26 a 0,50) e de médio a alto para produção de grãos (0,63 a 0,70). Esses resultados concordam com os obtidos por Petr & Frey (1966) e Camargo & Oliveira (1983), em relação a grãos por espigueta, porém os citados autores obtiveram baixos valores para a produção de grãos.

Para os três cruzamentos, os valores da herdabilidade em sentido restrito foram elevados para altura de plantas (0,77 a 0,96); de baixo a médio para número de grãos por espigueta (0,26 a 0,61) e médios para produção de grãos (0,41 a 0,62), concordando com Ketata et al. (1976) e Vieira (1990). Os valores altos da herdabilidade em sentido restrito revelaram que, para o caráter altura de planta, a seleção seria efetiva nas primeiras gerações segregantes. Para as características número de grãos por espigueta e produção de grãos, considerando os valores estimados da herdabilidade em sentido restrito, a seleção deveria ser iniciada nas gerações mais avançadas, quando se esperaria que o valor genético da progênie fosse mais precisamente avaliado.

As correlações ambientais (rA), fenotípicas (rF) e genéticas (rG), entre os três caracteres estudados nos três cruzamentos, encontram-se no quadro 4. O valor da correlação fenotípica entre a produção de grãos e a altura de plantas para o P1 x P2 foi não significativa (rF = 0,06), indicando que essas características poderiam ser selecionadas independentemente nesse cruzamento.


Para o cruzamento P1 x P3 as plantas de porte baixo a médio estavam associadas às de maior produção de grãos, porém, para o cruzamento P1 x P4, onde ocorreu correlação fenotípica positiva e significativa entre produção de grãos, e altura de plantas (rF = 0,62**), para obter progênies de porte médio a baixo e com altos rendimentos de grãos, seriam necessárias grandes populações F2 para assegurar maior freqüência de recombinantes desejáveis. Camargo (1989) encontrou correlações fenotípicas positivas e significativas entre produção de grãos e altura de plantas em seis cruzamentos.

As plantas com maior número de grãos por espigueta tenderam a ser mais produtivas para dois dos três cruzamentos (P1 x P3 e P1x P4), considerando-se as correlações fenotípicas, que foram positivas e significativas.

As correlações fenotípicas entre altura de planta e número de grãos por espigueta foram positivas e significativas para os híbridos P1 x P2 (rF = 0,43**) e P1 x P4 (rF = 0,59**), concordando com os dados obtidos por Camargo & Oliveira (1983). Para o híbrido P1 x P3, esses caracteres se comportaram independentemente.

Estimativas dos coeficientes das correlações genéticas revelaram uma tendência de as plantas de trigo de porte médio a baixo do cruzamento P1 x P3 estarem associadas com aquelas com maior produção de grãos e com maior número de grãos por espigueta. Valores de correlações genéticas mostraram tendência de plantas mais produtivas estarem associadas positivamente com maior número de grãos por espigueta nos cruzamentos P1 x P3 e P1 x P4.

4. CONCLUSÕES

1. Os cultivares escolhidos para esse estudo apresentaram largo espectro de variação genética para as características altura de planta, número de grãos por espigueta e produção de grãos.

2. Os cultivares P2 e P4 mostraram ser germoplasma de valor para um programa de melhoramento genético do trigo, quando se deseja a obtenção de plantas de porte médio a baixo, enquanto o `P3' se revelou promissor para aumentar o número de grãos por espigueta e a produção de grãos.

3. Devido às altas estimativas de herdabilidade em sentido restrito para a altura de plantas, seleção para essa característica seria efetiva nas gerações F2 ou F3 dos cruzamentos estudados.

4. Para número de grãos por espigueta e produção de grãos, os valores das herdabilidades em sentido restrito indicaram que a seleção para tais características deveria ser iniciada nas gerações mais avançadas, quando o valor genético da progênie fosse mais precisamente avaliado.

5. As correlações fenotípicas para o cruzamento P1 x P2 indicou não haver associações entre plantas produtivas com aquelas com maior altura de plantas e com maior número de grãos por espigueta. Para o cruzamento P1 x P3, as plantas mais produtivas estavam associadas às de menor porte e com maior número de grãos por espigueta e, entre P1 x P4, as plantas mais produtivas foram correlacionadas com as mais altas e com o maior número de grãos por espigueta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALCOVER, M. Melhoramento de variedades de trigo em São Paulo. Campinas, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), 1971. 26p.

BRIGGS, F.N. & KNOWLES, P.F. Introduction to plant breeding. Reinhold Publishing Corporation, 1977. 426p.

CAMARGO, C.E.O. Estudos de variedades de trigo para o Estado de São Paulo. Piracicaba, 1972. 136p. Tese (Doutoramento) - ESALQ/USP, 1972.

CAMARGO, C.E.O. Melhoramento do trigo. I. Hereditariedade da tolerância ao alumínio tóxico. Bragantia, Campinas, 40:33-45, 1981.

CAMARGO, C.E.O. Melhoramento do trigo: XIII. Estimativas de variância, herdabilidade e correlações em cruzamentos de trigo para produção de grãos e tolerância à toxicidade de alumínio. Bragantia, Campinas, 46(1):73-79, 1987.

CAMARGO, C.E.O. Melhoramento do trigo: XX. Herdabilidade e correlações entre os componentes de produção em populações híbridas envolvendo fontes de nanismo. Bragantia, Campinas, 48 (1): 39-52, 1989.

CAMARGO, C.E.O. & OLIVEIRA, O.F. Melhoramento do trigo: II. Estudo genético de fontes de nanismo para a cultura do trigo. Bragantia, Campinas, 40:77-91, 1981.

CAMARGO, C.E.O. & OLIVEIRA, O.F. Melhoramento do trigo: V. Estimativas da herdabilidade e correlações entre altura, produção de grãos e outros caracteres agronômicos em trigo. Bragantia, Campinas, 42:131-148, 1983.

CAMARGO, C.E.O. & RAMOS, V.J. Herdabilidade e associações entre número de grãos por espigueta, altura das plantas e produção de grãos em populações híbridas de trigo, envolvendo diferentes fontes de nanismo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, 24(12):1513-1521, 1989.

FALCONER, D.S. Introduction to quantitative genetics. New York, Ronald Press, 1960. 365p.

HANSON, H.; BOURLAUG, N.E. & ANDERSON, R.C. Trigo en el tercer mondo, México, Centro Internacional de Mejo-ramiento de Mays y Trigo,Westivew & Press, 1982. 166p.

KETATA, H.; EDWARDS, L.H. & SMITH, E.L. Inheritance of eight agronomic characters in a winter wheat cross. Crop Science, Madison, 16:19-22, 1976.

PETR, F.C. & FREY, K.J. Genotypic correlations, dominance, and heritability of quantitative characters in oats. Crop Science, Madison, 6: 259-262, 1966.

VIEIRA, C.M. Análise genética da tolerância ao Al3+, características agronômicas e qualidade fisiológica de sementes em populações de trigo (Triticum aestivum L.). Jaboticabal, 1990. 91p. Tese (Mestrado) - UNESP, 1990.

WARNER, J.N. A method for estimating heritability. Agronomy Journal, Madison, 7:427-430, 1952.

(2) Seção de Arroz e Cereais de Inverno, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP).

(3) Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal (SP).

(4) Com bolsa de doutorado do CNPq.

(5) Com bolsa de produtividade científica do CNPq.

  • ALCOVER, M. Melhoramento de variedades de trigo em Săo Paulo Campinas, Coordenadoria de Assistęncia Técnica Integral (CATI), 1971. 26p.
  • BRIGGS, F.N. & KNOWLES, P.F. Introduction to plant breeding. Reinhold Publishing Corporation, 1977. 426p.
  • CAMARGO, C.E.O. Estudos de variedades de trigo para o Estado de Săo Paulo Piracicaba, 1972. 136p. Tese (Doutoramento) - ESALQ/USP, 1972.
  • CAMARGO, C.E.O. Melhoramento do trigo. I. Hereditariedade da tolerância ao alumínio tóxico. Bragantia, Campinas, 40:33-45, 1981.
  • CAMARGO, C.E.O. Melhoramento do trigo: XIII. Estimativas de variância, herdabilidade e correlaçőes em cruzamentos de trigo para produçăo de grăos e tolerância ŕ toxicidade de alumínio. Bragantia, Campinas, 46(1):73-79, 1987.
  • CAMARGO, C.E.O. Melhoramento do trigo: XX. Herdabilidade e correlaçőes entre os componentes de produçăo em populaçőes híbridas envolvendo fontes de nanismo. Bragantia, Campinas, 48 (1): 39-52, 1989.
  • CAMARGO, C.E.O. & OLIVEIRA, O.F. Melhoramento do trigo: II. Estudo genético de fontes de nanismo para a cultura do trigo. Bragantia, Campinas, 40:77-91, 1981.
  • CAMARGO, C.E.O. & OLIVEIRA, O.F. Melhoramento do trigo: V. Estimativas da herdabilidade e correlaçőes entre altura, produçăo de grăos e outros caracteres agronômicos em trigo. Bragantia, Campinas, 42:131-148, 1983.
  • CAMARGO, C.E.O. & RAMOS, V.J. Herdabilidade e associaçőes entre número de grăos por espigueta, altura das plantas e produçăo de grăos em populaçőes híbridas de trigo, envolvendo diferentes fontes de nanismo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, 24(12):1513-1521, 1989.
  • FALCONER, D.S. Introduction to quantitative genetics New York, Ronald Press, 1960. 365p.
  • KETATA, H.; EDWARDS, L.H. & SMITH, E.L. Inheritance of eight agronomic characters in a winter wheat cross. Crop Science, Madison, 16:19-22, 1976.
  • PETR, F.C. & FREY, K.J. Genotypic correlations, dominance, and heritability of quantitative characters in oats. Crop Science, Madison, 6: 259-262, 1966.
  • VIEIRA, C.M. Análise genética da tolerância ao Al3+, características agronômicas e qualidade fisiológica de sementes em populaçőes de trigo (Triticum aestivum L.). Jaboticabal, 1990. 91p. Tese (Mestrado) - UNESP, 1990.
  • WARNER, J.N. A method for estimating heritability. Agronomy Journal, Madison, 7:427-430, 1952.
  • (1
    ) Parte da Tese apresentada pelo primeiro autor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal (SP). Recebido para publicação em 2 de dezembro de 1996 e aceito em 23 de agosto de 1997.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Jun 1999
    • Data do Fascículo
      1997
    Instituto Agronômico de Campinas Avenida Barão de Itapura, 1481, 13020-902, Tel.: +55 19 2137-0653, Fax: +55 19 2137-0666 - Campinas - SP - Brazil
    E-mail: bragantia@iac.sp.gov.br