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AVALIAÇÃO AGROTECNOLÓGICA DE VARIEDADES DE ABACAXIZEIRO, CONFORME OS TIPOS DE MUDA, EM CORDEIRÓPOLIS (SP)

Resumos

As duas variedades de abacaxizeiro cultivadas comercialmente no Brasil, Smooth Cayenne e Pérola, são altamente suscetíveis à fusariose. Com o objetivo de caracterizar as variedades existentes para boa utilização no melhoramento genético, desenvolveram-se, de maio/91 a fevereiro/94, em Cordeirópolis (SP), quatro experimentos, cada um com um tipo de muda de abacaxizeiro, a saber: tipo "filhote", "rebentão", "coroa" e "gema", esta obtida pelo brotamento, em areia, de gemas da haste da planta. As variedades estudadas foram: Rondon (RD), Roxo de Tefé (RT), Turi Verde (TV), Natal Queen (NQ), Guiana (GN), Pérola (PR) e Smooth Cayenne (SC). Semanalmente, em cada planta, avaliaram-se os estádios de desenvolvimento: emissão natural da inflorescência, início e final da emissão de flores e maturação dos frutos (colheita); a produção (massa) e os comprimentos dos frutos e de suas coroas; os diâmetros (o maior, o da base e o do ápice) dos frutos, e, na polpa, os teores de sólidos solúveis (grau Brix), a textura, a acidez titulável, os teores de ácido ascórbico (vitamina C) e o pH. As variedades Rondon e Pérola emitiram as inflorescências mais precoce e uniformemente que as demais, enquanto Cayenne e Turi Verde mostraram-se tardias. Na soma dos períodos dos três estádios de desenvolvimento da inflorescência e do fruto, isto é, da emissão da inflorescência até a colheita, `NQ' foi a mais precoce e `GN' e `RT', as mais tardias. `SC' e `GN' produziram frutos com massa média, em gramas, respectivamente, 52% e 24% superiores à média de `RD', `PR' e TV'; os frutos de `NQ' apresentaram massa inferior a todas as variedades. `GN' revelou a maior produção de mudas e `SC', a menor produção da muda tipo filhote. As plantas provenientes de muda tipo gema produziram menor número de mudas que as de filhotes, rebentões e coroas. Os teores de sólidos solúveis da polpa dos frutos de `SC' e de `NQ' e a acidez de `TV' alcançaram os maiores valores. O teor de vitamina C de `PR' foi o mais elevado e, o de `RD', superior ao de `SC'. `NQ' apresentou a mais alta relação grau Brix/acidez.

abacaxi; Ananas comosus (L.) Merrill; variedades; avaliação agrotecnológica; tipos de muda


Seven pineapple varieties were tested in field trials in Cordeirópolis, State of São Paulo, from May 1991 to February 1994, in four experiments, each one using different planting materials: sucker or shoot, slip, crown and stem section plants (developed from bud stem in sand box). The varieties were: Rondon (RD), Roxo de Tefé (RT), Turi Verde (TV), Natal Queen (NQ), Guiana (GN), Pérola (PR) and Smooth Cayenne (SC).The followings characteristics were evaluated: the periods for natural inflorescence emission, the time between the emission until the flowering completed, and from then until the ripped-fruit; also, the fruit diameters (the base, the top and the largest diameter), the mass production (fruit and crown), and in the pulp, the soluble solid content (Brix), texture, acidity, ascorbic acid content and pH. The main results were: (1) RD and PR had the earliest uniform natural inflorescence emission, and SC and TV had the latest ones; (2) NQ had the shortest and SC and GN the longest period from the emission to the harvest; (3) SC and GN yielded fruits with mean weight (g) 52% and 24% higher than the mean weight of RD, PR and TV together. NQ had the lowest mean weight; (4) GN had the highest number of slips and suckers, and SC had the lowest number of slips; (5) The plants from bud-stem had lower number of slips and suckers than from the other three planting materials; (6) The pulp soluble solid content (Brix) of SC and NQ and the acidity of TV had higher values, and NQ had the highest value for the Brix and acidity ratio; (7) PR had the highest ascorbic acid content and RD had higher content than SC. It was concluded that some of the varieties cultivated in Brazil may replace the Smooth Cayenne and Pérola, what is desirable, because SC and PR are highly susceptible to Fusarium subglutinans.

pineapple; Ananas comosus (L.) Merrill; varieties; technological evaluation; types of planting material


AVALIAÇÃO AGROTECNOLÓGICA DE VARIEDADES DE ABACAXIZEIRO, CONFORME OS TIPOS DE MUDA, EM CORDEIRÓPOLIS (SP) (1 (1 ) Trabalho apresentado no XIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, em Salvador (BA), de 27/11 a 2/12/94. Recebido para publicação em 31 de maio de 1996 e aceito em 22 de abril de 1997. Parcialmente financiado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa Agropecuária (FUNDEPAG). )

ADEMAR SPIRONELLO(2 (1 ) Trabalho apresentado no XIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, em Salvador (BA), de 27/11 a 2/12/94. Recebido para publicação em 31 de maio de 1996 e aceito em 22 de abril de 1997. Parcialmente financiado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa Agropecuária (FUNDEPAG). ,6 (1 ) Trabalho apresentado no XIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, em Salvador (BA), de 27/11 a 2/12/94. Recebido para publicação em 31 de maio de 1996 e aceito em 22 de abril de 1997. Parcialmente financiado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa Agropecuária (FUNDEPAG). ), VIOLETA NAGAI(3 (1 ) Trabalho apresentado no XIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, em Salvador (BA), de 27/11 a 2/12/94. Recebido para publicação em 31 de maio de 1996 e aceito em 22 de abril de 1997. Parcialmente financiado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa Agropecuária (FUNDEPAG). ), JOAQUIM TEÓFILO SOBRINHO (4 (1 ) Trabalho apresentado no XIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, em Salvador (BA), de 27/11 a 2/12/94. Recebido para publicação em 31 de maio de 1996 e aceito em 22 de abril de 1997. Parcialmente financiado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa Agropecuária (FUNDEPAG). ), LUIZ ANTÔNIO JUNQUEIRA TEIXEIRA(2 (1 ) Trabalho apresentado no XIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, em Salvador (BA), de 27/11 a 2/12/94. Recebido para publicação em 31 de maio de 1996 e aceito em 22 de abril de 1997. Parcialmente financiado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa Agropecuária (FUNDEPAG). ) e JOSÉ MARIA MONTEIRO SIGRIST(5 (1 ) Trabalho apresentado no XIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, em Salvador (BA), de 27/11 a 2/12/94. Recebido para publicação em 31 de maio de 1996 e aceito em 22 de abril de 1997. Parcialmente financiado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa Agropecuária (FUNDEPAG). )

RESUMO

As duas variedades de abacaxizeiro cultivadas comercialmente no Brasil, Smooth Cayenne e Pérola, são altamente suscetíveis à fusariose. Com o objetivo de caracterizar as variedades existentes para boa utilização no melhoramento genético, desenvolveram-se, de maio/91 a fevereiro/94, em Cordeirópolis (SP), quatro experimentos, cada um com um tipo de muda de abacaxizeiro, a saber: tipo "filhote", "rebentão", "coroa" e "gema", esta obtida pelo brotamento, em areia, de gemas da haste da planta. As variedades estudadas foram: Rondon (RD), Roxo de Tefé (RT), Turi Verde (TV), Natal Queen (NQ), Guiana (GN), Pérola (PR) e Smooth Cayenne (SC). Semanalmente, em cada planta, avaliaram-se os estádios de desenvolvimento: emissão natural da inflorescência, início e final da emissão de flores e maturação dos frutos (colheita); a produção (massa) e os comprimentos dos frutos e de suas coroas; os diâmetros (o maior, o da base e o do ápice) dos frutos, e, na polpa, os teores de sólidos solúveis (grau Brix), a textura, a acidez titulável, os teores de ácido ascórbico (vitamina C) e o pH. As variedades Rondon e Pérola emitiram as inflorescências mais precoce e uniformemente que as demais, enquanto Cayenne e Turi Verde mostraram-se tardias. Na soma dos períodos dos três estádios de desenvolvimento da inflorescência e do fruto, isto é, da emissão da inflorescência até a colheita, `NQ' foi a mais precoce e `GN' e `RT', as mais tardias. `SC' e `GN' produziram frutos com massa média, em gramas, respectivamente, 52% e 24% superiores à média de `RD', `PR' e TV'; os frutos de `NQ' apresentaram massa inferior a todas as variedades. `GN' revelou a maior produção de mudas e `SC', a menor produção da muda tipo filhote. As plantas provenientes de muda tipo gema produziram menor número de mudas que as de filhotes, rebentões e coroas. Os teores de sólidos solúveis da polpa dos frutos de `SC' e de `NQ' e a acidez de `TV' alcançaram os maiores valores. O teor de vitamina C de `PR' foi o mais elevado e, o de `RD', superior ao de `SC'. `NQ' apresentou a mais alta relação grau Brix/acidez.

Termos de indexação: abacaxi, Ananas comosus (L.) Merrill, variedades, avaliação agrotecnológica, tipos de muda.

ABSTRACT

EVALUATION OF SEVEN PINEAPPLE VARIETIES FROM DIFFERENT PLANTING MATERIAL, IN THE STATE OF SÃO PAULO, BRAZIL

Seven pineapple varieties were tested in field trials in Cordeirópolis, State of São Paulo, from May 1991 to February 1994, in four experiments, each one using different planting materials: sucker or shoot, slip, crown and stem section plants (developed from bud stem in sand box). The varieties were: Rondon (RD), Roxo de Tefé (RT), Turi Verde (TV), Natal Queen (NQ), Guiana (GN), Pérola (PR) and Smooth Cayenne (SC).The followings characteristics were evaluated: the periods for natural inflorescence emission, the time between the emission until the flowering completed, and from then until the ripped-fruit; also, the fruit diameters (the base, the top and the largest diameter), the mass production (fruit and crown), and in the pulp, the soluble solid content (Brix), texture, acidity, ascorbic acid content and pH. The main results were: (1) RD and PR had the earliest uniform natural inflorescence emission, and SC and TV had the latest ones; (2) NQ had the shortest and SC and GN the longest period from the emission to the harvest; (3) SC and GN yielded fruits with mean weight (g) 52% and 24% higher than the mean weight of RD, PR and TV together. NQ had the lowest mean weight; (4) GN had the highest number of slips and suckers, and SC had the lowest number of slips; (5) The plants from bud-stem had lower number of slips and suckers than from the other three planting materials; (6) The pulp soluble solid content (Brix) of SC and NQ and the acidity of TV had higher values, and NQ had the highest value for the Brix and acidity ratio; (7) PR had the highest ascorbic acid content and RD had higher content than SC. It was concluded that some of the varieties cultivated in Brazil may replace the Smooth Cayenne and Pérola, what is desirable, because SC and PR are highly susceptible to Fusarium subglutinans.

Index terms: pineapple, Ananas comosus (L.) Merrill, varieties, technological evaluation, types of planting material.

1. INTRODUÇÃO

São Paulo é o maior Estado brasileiro consumidor de abacaxi ao natural, maior produtor de seu suco concentrado congelado para exportação e quarto produtor, em valor econômico, da fruta. Suas principais regiões produtoras são: Oeste e Noroeste (São José do Rio Preto e Araçatuba), com 35%, Centro (Bauru e Marília), com 48%, e Leste (Campinas e Sorocaba), com 15% (IEA, 1993). As duas variedades cultivadas comercialmente, Smooth Cayenne (quase com exclusividade) e Pérola, são altamente suscetíveis à fusariose [Fusarium subglutinans (Wollenw. Reinking) Nelson, Tousson & Marasas Comp. Noz.]. Além disso, `Smooth Cayenne' não é bem aceita para consumo in natura por sua elevada acidez, e `Pérola', ao contrário, não é adequada para industrialização, por apresentar polpa branca e pouco ácida.

Há necessidade, portanto, da substituição de ambas. Com esse objetivo, iniciou-se, no IAC, em 1991, um programa de melhoramento genético visando à resistência do abacaxizeiro à fusariose (Spironello et al., 1994). Conta o IAC, para tanto, com um banco de germoplasma constituído por 50 variedades de Ananas comosus (L.) Merrill (comestíveis), além de espécies selvagens de Ananas. São raros os trabalhos sobre avaliação de variedades desenvolvidos no Brasil: Cabral et al. (1988) efetuaram ava-liações morfológico-agronômicas de 25 germoplasmas de abacaxizeiro, na Bahia; em São Paulo, Giacomelli & Teófilo Sobrinho (1984) fizeram considerações sobre aspectos gerais da planta e dos frutos. Espironelo & Teófilo Sobrinho (1991) e Espironelo et al. (1992) relataram dados preliminares sobre avaliação de plantas e frutos de diversas variedades. Os tipos de muda utilizados no plantio podem influenciar o ciclo da cultura: as coroas proporcionam plantas de ciclo natural mais longo que os filhotes, e, estes, mais longos que os rebentões (Giacomelli, 1982).

Sendo necessário, pois, conhecer as características de variedades de abacaxizeiro existentes, de acordo com os tipos de muda usados, para melhor emprego no melhoramento genético, desenvolveram-se experimentos com seis variedades e quatro tipos de muda.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Instalação e desenvolvimento dos experimentos

Desenvolveram-se, de maio de 1991 a fevereiro de 1994, em Cordeirópolis (latitude 22o34'S, longitude 47o25 W e altura 689 m), quatro experimentos contíguos, cada um com apenas um tipo de muda de abacaxizeiro, em vista da heterogeneidade e disponibilidade dos diferentes tipos de mudas. Empregaram-se três tipos de muda produzidos naturalmente pela planta: filhote (pelo pedúnculo do fruto), rebentão (pela haste da planta), e coroa (pelo ápice do fruto), além de mudas obtidas pelo brotamento, em areia, de gemas da haste da planta (gema). As mudas de gema foram transplantadas para sacos plásticos contendo uma mistura de terra, esterco e areia e, depois, plantadas no campo com o torrão. O local foi em um latossolo vermelho-escuro distrófico textura argilosa.

Os tratamentos - variedades - foram distribuídos em blocos ao acaso com seis repetições. A parcela constou de oito plantas (quatro úteis) em linha dupla, espaçadas 40 cm entre linhas e 30 cm na linha; o espaçamento entre as parcelas foi de 120 cm.

2.2. Variedades estudadas, suas características e tratos culturais

As variedades e suas principais características constam do quadro 1.


As variedades RD, PR e SC foram estudadas nos quatro ensaios (tipos de muda); a TV, em três, e a NQ (rebentão), a GN (filhote) e a RT(gema), em apenas um ensaio.

Aplicaram-se fertilizantes nas doses de 250 kg/ha de P2O5 (superfosfato simples no plantio - maio/91); 450 kg/ha de N (sulfato de amônio) e 600 kg/ha de K2O (sulfato de potássio) em julho/91 (1/6), em dezembro/91 (1/3), em março/92 (1/3) e em maio/92 (1/6). Aplicou-se, periodicamente, Vamidothion (30 mL de p.a. por 100 L d'água) para controlar infestação de cochonilha. As inflorescências emitiram-se naturalmente, sem uso de reguladores de florescimento.

2.3. Métodos de avaliação

Semanalmente, em cada planta, avaliaram-se os estádios de desenvolvimento: emissão da inflorescência (momento em que o botão emergente se torna visível), início e fim da emissão de flores e maturação dos frutos (colheita). Pesaram-se os frutos e as coroas e mediram-se os comprimentos e os diâmetros (maior, da base e do ápice) dos frutos.

Em três frutos por parcela, na polpa, determinaram-se os sólidos solúveis ( grau Brix), a textura, na base, meio e ápice, a acidez titulável (AT) e o ácido ascórbico (vitamina C), na base e no ápice dos frutos, conforme consta em Spironello et al. (1997).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Florescimento e frutificação

Nas figuras 1 a 4, encontram-se as representações gráficas da emissão natural da inflorescência (percentagem acumulada) em função das épocas, de acordo com os tipos de muda e as variedades de abacaxizeiro.

Figura 1.
Emissão natural da inflorescência em abacaxizeiro desenvolvido a partir de mudas tipo rebentão em cinco variedades (1992-93)

Figura 2. Emissão natural da inflorescência em abacaxizeiro desenvolvido a partir de mudas tipo filhote em cinco variedades (1992-93)

Figura 3.
Emissão natural da inflorescência em abacaxizeiro desenvolvido a partir de mudas tipo coroa em quatro variedades (1992-93)
Figura 4.
Emissão natural da inflorescência em abacaxizeiro desenvolvido a partir de mudas tipo gema em quatro variedades (1992-93)

Verifica-se que, de modo geral, as variedades Rondon e Pérola emitiram as inflorescências mais precocemente que as demais. A `Cayenne' e a `Turi Verde' mostraram-se tardias e a `Natal Queen', intermediária. A `Guiana' emitiu a maioria das inflores-cências quase um ano após as anteriores, mesmo tendo suas plantas alcançado grande porte, mas em curto espaço de tempo. As plantas das variedades Cayenne e Turi Verde, provenientes de coroas (Figura 3), emitiram boa parte das inflorescências também no ano seguinte, ocorrendo o mesmo com as plantas oriundas de gemas (Figura 4) das três variedades estudadas. Em todos os ensaios (exceto os de gema), a `Pérola' emitiu as inflorescências no menor espaço de tempo. Naquele com a muda rebentão, o início da emissão ocorreu mais cedo para as variedades mais precoces (Rondon e Pérola) e, no ensaio com a muda gema, houve desuniformidade na emissão para as quatro variedades estudadas. No caso da muda coroa, houve grande uniformidade (período total mais curto) nas variedades Rondon e Pérola, e grande desuni-formidade na `Cayenne' e `Turi Verde'.

A emissão natural de inflorescências ocorreu, provavelmente, em vista das quedas de temperatura de abril a outubro de 1992 e de abril a junho de 1993 (Quadro 2). Assim, nas variedades mais precoces, ela se iniciou na quarta semana de julho, cerca de 75 dias após queda de temperatura para 11oC (10 de abril). Nas variedades mais tardias, começou em agosto, cerca de 120 a 130 dias após a primeira queda de temperatura (10 de abril). Os picos de emissão aconteceram, geralmente, no fim de agosto e início de setembro, 80 a 90 dias após segunda grande queda de temperatura (9oC em 21 de maio). Os resultados com a muda tipo filhote concordam com os obtidos no mesmo local por Espironelo & Teófilo Sobrinho (1991) e no Nordeste do Estado, embora com temperaturas mais altas, por Spironello et al. (1997). A `Guiana', que não foi estudada nesses trabalhos, teve seu primeiro pico de emissão em 1993 (final de junho e início de julho), 70-75 dias após queda de temperatura (13oC em 25 de abril). Giacomelli et al. (1984) verificaram, para `Cayenne', que a coroa se mostrou mais resistente à diferenciação floral, enquanto o rebentão foi o tipo mais sensível; a emissão se deu em junho e julho para os três tipos de muda.


No quadro 3 constam os tempos médios decorridos para florescimento, frutificação e colheita de frutos em cada experimento (tipos de muda) para as variedades estudadas.


Entre as variedades, os períodos diferiram significativamente pelo teste de Duncan a 5%. A `Pérola' apresentou o maior período e a `Turi Verde', o menor, nos dois primeiros estádios do desenvolvimento da inflorescência. Quanto ao terceiro estádio (desenvolvimento do fruto até a maturação), `Pérola' e `Natal Queen' apresentaram os menores períodos e `Cayenne' e `Turi Verde', os maiores.

Na soma dos três estádios, isto é, da emissão da inflorescência à colheita, `Natal Queen' apresentou o mais curto período (134 dias), e `Guiana' (153 dias) e `Roxo de Tefé' (148 dias), os mais longos. As demais variedades pouco diferiram entre si, com períodos de 140 a 145 dias.

3.2. Produção e dimensão dos frutos

No quadro 4, encontram-se os dados médios das produções e dimensões dos frutos de abacaxi nos ensaios com as mudas filhote, rebentão e coroa, de acordo com as variedades. As plantas oriundas de muda gema desenvolveram-se pouco e de maneira desuniforme, não sendo possível avaliar seus frutos. Contribuíram, para tanto, o solo argiloso, a estiagem no inverno, maior que a normal, e as mudas pequenas plantadas em torrões.


Quanto à massa do fruto com a coroa, como é comercializado, `SC' destacou-se nos três ensaios, produzindo frutos 52% mais pesados que a média de `RD', `TV' e `PR'. A `Guiana', estudada apenas num ensaio (filhote), foi superior a essas três; a `NQ' (ensaio com rebentão) foi inferior a todas. A `SC', plantada com essa muda, produziu frutos menores que aqueles das plantas oriundas das demais mudas. As coroas de `SC' foram sempre as mais pesadas e as de `RD', as mais leves.

Embora não tenha sido possível comparar estatisticamente os tipos de muda (ensaios diferentes), as coroas proporcionaram frutos maiores que as demais mudas, principalmente na `Cayenne', concordando com o resultado obtido por Giacomelli et al. (1984), ao passo que os rebentões proporcionaram frutos menores.

Em relação às dimensões dos frutos, destacaram-se `SC', com os maiores diâmetros, e esta, `GN' e `PR', com os mais compridos. Os frutos de `SC', `PR' e `NQ' apresentaram formato de barril, com a base pouco maior que o ápice; os de `RD', formato mais cilíndrico (menor diferença entre os diâmetros). A `TV' e a `GN' produziram frutos com o ápice mais afunilado (Figura 5). O comprimento da coroa da `SC' e da `PR' foi maior que aquele das demais variedades. A `Pérola' normalmente apresenta frutos cônicos; entretanto, existe uma variação conhecida por `Jupi', cujos frutos são menos afilados no ápice. As mudas da coleção do IAC utilizadas provinham, provavelmente, da mistura de ambas.

Figura 5.
Formato e tamanho dos frutos de abaca-xizeiro de seis variedades

Esses resultados são semelhantes aos obtidos por Spironello et al. (1997), que os compararam com os de outros autores.

3.3. Produção de mudas

No quadro 5, encontram-se as produções de mudas filhotes e rebentões, destacando-se a `GN'; a `SC' foi a pior quanto à produção de filhotes. A `TV' produziu um pouco mais de rebentões que as outras. As plantas provenientes de muda gema apresentaram, nas duas variedades avaliadas nos quatro ensaios, `RD' e `PR', número bem menor de mudas, provavelmente devido ao sistema empregado para o desenvolvimento e plantio. É mais conveniente utilizar para plantio as mudas produzidas naturalmente por essas plantas e não as desenvolvidas em sacos plásticos. Spironello et al. (1997) obtiveram, para `RD', `PR', `SC' e `TV', no Nordeste paulista, respectivamente, 7,7, 10,4, 3,8 e 8,7 filhotes/planta, e Espironelo & Teófilo Sobrinho (1991), no mesmo local do presente trabalho, encontraram, para essas variedades e para RT e GN, respectivamente, para filhote e rebentão: 5,3 e 1,0 (`RD'), 6,2 e 1,3 (`PR'), 2,6 e 1,3 (`SC'), 7,3 e 1,2 (`TV'), 6,3 e 0,6 (`RT') e 8,8 e 1,8 (`GN') mudas/planta; proporcionalmente, os resultados são semelhantes quando são comparadas as variedades. A `NQ' produziu, constantemente, rebentões, formando grandes touceiras, porém não filhotes, conforme haviam constatado Espironelo & Teófilo Sobrinho (1991).


3.4. Características químicas e físicas dos frutos

Quanto às características químicas e físicas (Quadro 6), houve maior variabilidade entre as variedades do que entre os tipos de muda.


Os teores de sólidos solúveis (grau Brix) da `SC' e da `NQ' foram geralmente os maiores. A superioridade de ambas sugere que possuem um teor de açúcar maior que o das demais. As variedades pouco diferiram entre si.

Quanto à acidez total (AT), os frutos da `TV' apresentaram teores significativamente maiores que os das demais, somente se igualando ao teor do `SC' para frutos provenientes de mudas tipo filhote. Embora mais ácidos (AT), os frutos da `TV' revelaram valores de pH significativamente semelhantes aos das demais variedades, exceto no caso de muda tipo coroa, onde seus valores foram maiores que os de `NQ'. O nível de vitamina C da `PR' foi superior ao das outras, exceto da `RD' no ensaio coroa, que, geralmente, apresentou teor intermediário; `SC' apresentou o menor teor nos três.

Os teores das variedades, médias de três ensaios (tipos de muda) e das partes dos frutos, foram os seguintes: para grau Brix, 13,0 (`SC'), 12,0 (`RD'), 11,9 (`TV') e 12,0 (`PR'); para AT(%), 0,94 (`TV'), 0,87 (`SC'), 0,77 (`RD') e 0,62 (`PR'); para pH, variou de 3,5 a 3,8; para vitamina C (mg de ácido ascórbico/100 g), 32,3 (`PR'), 27,7 (`RD'), 21,9 (`TV') e 17,4 (`SC'); a textura variou de 1,5 a 2,7 kgf. A `NQ' (ensaios rebentão e coroa) apresentou 17,3o Brix na média da base e meio do fruto e 14,4 no ápice, superiores aos teores das restantes; apresentou, também, a mais alta relação Brix/acidez (20,2). A AT da `RT' foi a mais baixa. Em geral, quando as variedades são comparadas entre si, os resultados concordam com aqueles obtidos por Espironelo et al. (1992) e Spironello et al. (1997). Os valores de graus Brix obtidos em 1992 foram um pouco menores e os de 1996, um pouco maiores que os do presente trabalho, cujos valores de acidez foram superiores aos encontrados por Espironelo et al. (1992) e por Spironello et al. (1997). Essa diferença nos valores dos teores de sólidos solúveis (grau Brix) e acidez parecem coerentes, já que o segundo trabalho foi realizado no Noroeste do Estado (Votuporanga), cuja temperatura é mais elevada e, segundo Pedro Júnior et al. (1989), há maior disponibilidade de radiação solar que na região Leste, onde se realizou este trabalho e o de Espironelo et al. (1992). Quanto à vitamina C, houve alguma diferença de comportamento entre as variedades, já que, em Spironello et al. (1997), a `TV' foi superior às demais, a `RD' apresentou o menor valor e a `SC', um dos maiores.

Fica evidenciado que os teores de sólidos solúveis (grau Brix) diminuem e os de acidez total aumentam da base para o ápice dos frutos de todas as variedades e para todos os tipos de muda, o que era esperado, já que o processo de amadurecimento ocorre no mesmo sentido. Não foram observadas, porém, variações acentuadas no nível de vitamina C, pH e textura ao longo dos frutos.

4. CONCLUSÕES

1. Independentemente do tipo de muda utilizado no plantio, as variedades Rondon e Pérola emitiram, naturalmente, as inflorescências mais precoce e homogeneamente que as demais; `Cayenne' e `Turi Verde' mostraram-se tardias.

2. As variedades comportaram-se diferentemente nos três estádios de desenvolvimento da inflorescência e do fruto. Na soma deles, isto é, da emissão da inflorescência até a colheita, `Natal Queen' apresentou o mais curto período (134 dias) e `Guiana' (153 dias) e `Roxo de Tefé' (148 dias), os maiores. As demais pouco diferiram entre si, e seus períodos variaram de 140 a 145 dias.

3. As variedades Smooth Cayenne e Guiana produziram frutos com peso médio, respectivamente, 52% e 24% superiores à média de `Rondon', `Pérola' e `Turi Verde'. A `Natal Queen' apresentou frutos com o menor peso (122% mais leves que os da `Cayenne'). Os frutos da `Cayenne', da `Pérola' e da `Natal Queen' mostraram formato de barril; os da `Rondon', mais cilíndrico e, os da `Turi Verde' e da `Guiana', ápice mais afunilado.

4. A `Guiana' apresentou a maior produção de mudas (filhote e rebentão), superior à das demais variedades, e a `Cayenne', a menor produção de muda filhote. As plantas provenientes de muda tipo gema produziram menor número de mudas que aquelas oriundas de filhotes, rebentões e coroas.

5. Os teores de sólidos solúveis (grau Brix) da polpa dos frutos da `Cayenne' e da `Natal Queen' e a acidez da `Turi Verde' foram geralmente maiores que os das demais variedades. O nível de vitamina C da `Pérola' foi geralmente superior ao das demais e, o da `Rondon', superior ao da `Cayenne'. As variedades não diferiram em relação ao pH dos frutos, e a `Natal Queen' revelou a mais alta relação Brix/acidez (20,2).

(2) Seção de Fruticultura Tropical, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP).

(3) Seção de Técnica Experimental e Cálculo (IAC).

(4) Centro de Citricultura "Sylvio Moreira" (IAC).

(5) Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL).

(6) Com bolsa de produtividade científica do CNPq.

  • CABRAL, J.R.S.; MATOS, A.P. & CUNHA, G.A.P. Caracterizaçăo morfológico-agronômica de germoplasma de abacaxi. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 9., Campinas, 1987. Anais Campinas, Sociedade Brasileira de Fruticultura, 1988. v.1, p.35-40.
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  • (1
    ) Trabalho apresentado no XIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, em Salvador (BA), de 27/11 a 2/12/94. Recebido para publicação em 31 de maio de 1996 e aceito em 22 de abril de 1997. Parcialmente financiado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa Agropecuária (FUNDEPAG).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Jun 1999
    • Data do Fascículo
      1997

    Histórico

    • Aceito
      22 Abr 1997
    • Recebido
      31 Maio 1996
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