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EFEITO DO ESPAÇAMENTO SOBRE A PRODUÇÃO EM RABANETE

Resumos

Com o objetivo de estudar o efeito de diferentes espaçamentos entre linhas e entre plantas na cultura de rabanete (Raphanus sativus L.), cv. Early Scarlet Globe, instalou-se este ensaio na área experimental do Departamento de Horticultura da ESALQ-USP, com semeadura em 2/9 e colheita em 10/10/94. Utilizaram-se seis tratamentos, sendo três espaçamentos entre linhas (15, 20 e 25 cm) combinados com dois entre plantas (5 e 10 cm), quatro repetições, com parcelas de 1,5 m2, em um delineamento em blocos ao acaso. Avaliaram-se o número de plantas e a massa de raízes e de folhas por parcela e por planta, além da relação entre a massa fresca de raízes e de folhas. Os diferentes espaçamentos entre linhas não afetaram as variáveis avaliadas e, entre plantas, observou-se aumento na produção média de raízes por planta, redução na produção de folhas e maior produção de raízes por unidade de massa foliar, para o espaçamento maior entre plantas na linha (10 cm).

rabanete; Raphanus sativus L.; espaçamento


The effect of different inter and intra-row spacing in radish, Raphanus sativus L., cv. Early Scarlet Globe, was evaluated, from September, 2nd to October 10th, 94 at the experimental area of the Horticulture Department, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"- Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), in Piracicaba, State of São Paulo, Brazil. Three inter-row spacings (15, 20 and 25 cm) were combined with two intra-row spacings (5 and 10 cm), and four replications, each plot with 1.5 m2, in a randomized complete block design. The number of plants, the root and shoot yield (per plot and per plant), as well as the root/shoot yield ratio were evaluated. It was observed that the inter-row spacings did not affect any of the analised variables. On the other hand, the largest intra-row spacing (10 cm) increased root yield and reduced the total shoot yield, resulting in a higher root/shoot yield ratio, indicating a better production of root per unit of shoot.

radish; Raphanus sativus L.; spacing


NOTA

EFEITO DO ESPAÇAMENTO SOBRE A PRODUÇÃO EM RABANETE (1)(1) Recebido para publicação em 9 de maio de 1996 e aceito em 27 de março de 1998. Recebido para publicação em 9 de maio de 1996 e aceito em 27 de março de 1998.

KEIGO MINAMI(2) (2) Departamento de Horticultura, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", ESALQ-USP, Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP). (4) Aluno de Pós-Graduação da ESALQ-USP. , ANTONIO ISMAEL INÁCIO CARDOSO(3) (2) Departamento de Horticultura, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", ESALQ-USP, Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP). (4) Aluno de Pós-Graduação da ESALQ-USP. , FÁBIO COSTA(4) (2) Departamento de Horticultura, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", ESALQ-USP, Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP). (4) Aluno de Pós-Graduação da ESALQ-USP. e FERNANDO ROMARIZ DUARTE(4, 5) (2) Departamento de Horticultura, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", ESALQ-USP, Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP). (4) Aluno de Pós-Graduação da ESALQ-USP.

RESUMO

Com o objetivo de estudar o efeito de diferentes espaçamentos entre linhas e entre plantas na cultura de rabanete (Raphanus sativus L.), cv. Early Scarlet Globe, instalou-se este ensaio na área experimental do Departamento de Horticultura da ESALQ-USP, com semeadura em 2/9 e colheita em 10/10/94. Utilizaram-se seis tratamentos, sendo três espaçamentos entre linhas (15, 20 e 25 cm) combinados com dois entre plantas (5 e 10 cm), quatro repetições, com parcelas de 1,5 m2, em um delineamento em blocos ao acaso. Avaliaram-se o número de plantas e a massa de raízes e de folhas por parcela e por planta, além da relação entre a massa fresca de raízes e de folhas. Os diferentes espaçamentos entre linhas não afetaram as variáveis avaliadas e, entre plantas, observou-se aumento na produção média de raízes por planta, redução na produção de folhas e maior produção de raízes por unidade de massa foliar, para o espaçamento maior entre plantas na linha (10 cm).

Termos de indexação: rabanete, Raphanus sativus L., espaçamento.

ABSTRACT

SPACING EFFECT IN RADISH YIELD

The effect of different inter and intra-row spacing in radish, Raphanus sativus L., cv. Early Scarlet Globe, was evaluated, from September, 2nd to October 10th, 94 at the experimental area of the Horticulture Department, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"- Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), in Piracicaba, State of São Paulo, Brazil. Three inter-row spacings (15, 20 and 25 cm) were combined with two intra-row spacings (5 and 10 cm), and four replications, each plot with 1.5 m2, in a randomized complete block design. The number of plants, the root and shoot yield (per plot and per plant), as well as the root/shoot yield ratio were evaluated. It was observed that the inter-row spacings did not affect any of the analised variables. On the other hand, the largest intra-row spacing (10 cm) increased root yield and reduced the total shoot yield, resulting in a higher root/shoot yield ratio, indicating a better production of root per unit of shoot.

Index terms: radish, Raphanus sativus L., spacing.

O rabanete (Raphanus sativus L.), apesar de ser uma cultura de pequena importância em termos de área plantada, é importante em grande número de pequenas propriedades dos cinturões verdes, com grande diversidade de cultivo de hortaliças. Uma característica da cultura de rabanete é poder ser usada como cultura "cash" entre outras de ciclo mais longo, com épocas definidas de plantio, pois, além de ser relativamente rústica, apresenta ciclo muito curto (cerca de 30 dias), com retorno rápido. Poucos trabalhos têm sido efetuados com essa cultura, havendo carência de informações sobre seu cultivo, principalmente no Brasil. Buscando a otimização da produção, um dos primeiros pontos a considerar é o espaçamento ideal, pois uma maneira óbvia de tentar aumentar a produtividade de uma cultura é plantar um número maior de plantas por unidade de área. Entretanto, em geral, o aumento de produtividade por esse método tem um limite, considerando que, com o aumento na densidade de população, cresce a competição entre plantas, sendo o desenvolvimento individual prejudicado, podendo, inclusive, ocorrer queda no rendimento e/ou na qualidade.

Schmitt et al. (1986) destacaram que as plantas apresentam certa plasticidade no seu crescimento, caracterizada pela grande variação no crescimento entre plantas dentro de uma população. Essa variação é devida, em grande parte, à competição intra-específica, levando ao aparecimento de indivíduos dominadores e dominados. Destacaram, ainda, que, quanto maior for a densidade de plantio, maior será a variação entre plantas na população, e tanto maior será essa variação quanto mais limitante for o fator luz. Relataram que, no cultivar Scarlet Globe, a taxa de crescimento e a massa média produzida diminuíam com a redução da intensidade luminosa e com o aumento na densidade de plantio. Com isso, ocorria a intensificação das condições de plantas dominadoras e dominadas.

Benjamin (1982), trabalhando com cenoura, também observou que, quanto maior a densidade de plantio, maior foi a variação entre plantas. Esse aumento, porém, na variação entre plantas, ocorria pela intensificação de diferenças preexistentes entre as plantas, ocasionada, sobretudo, por diferenças no tempo de emergência. Conseqüentemente, a maior densidade de plantio apenas acentuava as desigualdades, tornando dominantes as plantas maiores e dominadas as menores, ao longo do ciclo da cultura.

Holmes & Smith (1975) sugeriram que o crescimento das plantas em competição poderia ser alterado pelo sombreamento entre e dentro das plantas, reduzindo, assim, o nível total de radiação para cada uma.

O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito de diferentes espaçamentos entre linhas e entre plantas sobre o desenvolvimento de plantas de rabanete, mediante parâmetros produtivos.

MATERIAL E MÉTODOS

O ensaio foi instalado na área experimental do Departamento de Horticultura da ESALQ-USP, em Piracicaba (SP), caracterizada pelo cultivo intensivo de hortaliças há várias décadas. O solo utilizado no experimento apresentou teores elevados dos principais macronutrientes (potássio, cálcio, magnésio e fósforo), como mostram os resultados da análise química: pH (CaCl2) = 5,6; M.O. (g/dm3) = 26; P (mg/dm3) = 78,0; cátions trocáveis, S (soma de bases) e CTC (mmolc/dm3): K+ = 7,4; Ca2+ = 48,1; Mg2+ = 11,4; H+ + Al3+ = 32,5; S = 67; CTC = 99; saturação por bases (%) = 67,3.

A variedade utilizada foi Early Scarlet Globe, muito precoce e com raízes vermelhas, arredondadas e relativamente pequenas. A semeadura foi realizada em 2/9/1994, o desbaste em 16/9/94 e a colheita em 10/10/94 (38 dias após a semeadura). Não se realizaram adubações básica nem de cobertura. Durante o experimento, praticamente não ocorreu precipitação pluvial (apenas 1,1 mm durante todo o período), requerendo-se irrigações diárias. As temperaturas foram relativamente elevadas (Figura 1).

Figura 1.
Temperaturas médias, máximas e mínimas diárias no período experimental. Piracicaba (SP), 1994.

Os tratamentos constaram de três espaçamentos entre linhas (15, 20 e 25 cm) combinados com dois espaçamentos entre plantas (5 e 10 cm), tendo como ponto de referência para sua escolha o espaçamento recomendado por Filgueira (1982), de 15-20 x 8 cm. O experimento foi montado em canteiros de 1,5 m de largura, com parcelas constituídas por oito, seis ou cinco linhas transversais aos canteiros nos espaçamentos de 15, 20 e 25 cm entre linhas respectivamente. A primeira e a última linha de cada parcela foram consideradas bordaduras e, os dados, ajustados para a mesma área padrão (1,5 m2) antes de analisados estatisticamente.

Avaliaram-se o número de plantas, a produção (g) de raízes e de folhas por parcela. A partir desses dados, obtiveram-se a produção média de raiz e de folha por planta e a relação entre a produção de raiz e a de folhas. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. A análise estatística foi feita no esquema fatorial 3 x 2 (espaçamento entre linhas x espaçamento entre plantas) e, a comparação das médias, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As médias das quatro repetições para as características analisadas encontram-se no Quadro 1. A interação espaçamento entre linhas (EEL) por espaçamento entre plantas (EEP) não foi significativa para nenhuma das características analisadas. Por essa razão, as médias foram comparadas separadamente para EEL e EEP.


Os coeficientes de variação (CV) foram de 14 a 35%, indicando uma precisão experimental apenas razoável, considerando-se experimentos ao nível de campo, com diversos fatores ambientais não controláveis agindo sobre as plantas. Provavelmente, o fator mais importante tenha sido a desuniformidade na oferta de água, pois era visível que a irrigação por aspersão não era 100% uniforme. Maior precisão experimental talvez detectasse outras diferenças entre os tratamentos, principalmente para os diferentes espaçamentos entre linhas.

Mediante análise estatística, verificou-se que não houve diferença significativa entre os espaçamentos entre linhas testados para nenhuma das características analisadas. Só foi significativa a competição entre plantas na linha. Isso deve ter ocorrido devido ao pequeno desenvolvimento foliar das plantas que, mesmo no menor espaçamento entre linhas (15 cm), não chegou a cobrir todo o espaço entre as linhas. Houve pequeno sombreamento das plantas de uma linha por plantas de linhas adjacentes. Além disso, não deve ter havido concorrência por nutrientes e água entre plantas de linhas diferentes, pois suas raízes não exploraram a mesma área de solo.

A produção total de raízes por parcela não foi afetada significativamente nem pelos espaçamentos entre linhas nem entre plantas, ao contrário da produção média de raízes. Plantas mais espaçadas na linha (EEP de 10 cm) produziram raízes maiores e, portanto, de maior valor comercial. Os resultados concordam com os de Weston (1982), que obteve raízes mais desenvolvidas em plantas espaçadas por 3,8 cm entre si, em comparação com o espaçamento de 2,6 cm. Para a produção de folhas, ocorreu o inverso, isto é, a produção total por parcela foi afetada pelo número de plantas na linha, sendo maior quanto maior o número de plantas. A produção de folhas por planta não foi afetada nem pelo espaçamento entre linhas nem entre plantas. Weston (1982) também não observou diferença para massa fresca de folhas por planta nos espaçamentos testados. Outro resultado concordante foi a relação entre massa de raízes frescas e massa de folhas frescas, sendo essa relação maior para plantas mais espaçadas na linha; para uma mesma massa foliar, plantas sob menor competição na linha produziram raízes maiores, mostrando que acumularam maior quantidade de reservas fotossintetizadas.

O menor acúmulo de material fotossintetizado por unidade de massa foliar, pelas plantas mais próximas entre si na linha, deve ser resultado da maior competição por luz, ou seja, maior sombreamento de uma planta sobre as vizinhas. Hole et al. (1984) também observaram um aumento na relação parte aérea/raiz para altas densidades de plantio: densidades muito elevadas chegaram a inibir a formação de raízes comerciais. A luz, porém, não deve ter sido o único fator limitante para essas plantas A competição deve ter sido agravada pela limitação de água e nitrogênio, pois não foi feita adubação em cobertura, devido ao pequeno ciclo da cultura.

Provavelmente, melhor suprimento de água e de nitrogênio teria favorecido maior desenvolvimento das plantas, fazendo-as competir melhor por luz, ao mesmo tempo que reduziria o déficit por esses elementos.

(3) Departamento de Horticultura, Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) - UNESP, Câmpus de Botucatu, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu (SP).

(5) Centro de Horticultura, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP).

  • BENJAMIN, L.R. Some effects of differing times of seedling emergence, population density and seed size on root variation in carrot populations. Journal of Agricultural Science, Cambridge, 98:537-545, 1982.
  • FILGUEIRA, F.A.R. Manual de Olericultura: cultura e comercializaçăo de hortaliças. Ceres, Săo Paulo, 1982. v.2, 357p.
  • HOLE, C.C.; THOMAS, T.H.; BARNES, A.; SCOTT, P.A. & RANKIN, W.E.F. Dry matter distribution between shoot and storage root of carrot, parsnip, radish and red beet. Annals of Botany, Londres, 53(5): 625-631, 1984.
  • HOLMES, M.G. & SMITH, H. The function of phytochrome in plants growing in the natural environment. Nature, Londres, 254:512-514, 1975.
  • SCHMITT, J.; EHRHARDT, D.W. & CHEO, M. Light dependent dominance and supression in experimental radish populations. Ecology, Tempe, 67:1502-1507, 1986.
  • WESTON, G. The effects of crowding, daminazide and red to far-red ratios of light on the growth of radish (Raphanus sativus L.). Journal of Horticultural Science, Ashford, 57: 373-376, 1982.
  • (1) Recebido para publicação em 9 de maio de 1996 e aceito em 27 de março de 1998.
    Recebido para publicação em 9 de maio de 1996 e aceito em 27 de março de 1998.
  • (2)
    Departamento de Horticultura, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", ESALQ-USP, Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP).
  • (4)
    Aluno de Pós-Graduação da ESALQ-USP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Jun 1999
    • Data do Fascículo
      1998

    Histórico

    • Aceito
      27 Mar 1998
    • Recebido
      09 Maio 1996
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