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Efeito da adubação NPK sobre o período de imaturidade da seringueira

Effect of NPK fertilization on the immature phase of rubber tree

Resumos

O presente estudo teve por objetivo avaliar respostas da seringueira [Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr. de Juss.) Müell. Arg.] à adubação NPK visando recomendá-la no período de formação dos seringais. Relata os resultados do experimento em solo podzólico vermelho-amarelo eutrófico no município de Matão (SP). O delineamento foi de blocos ao acaso em esquema fatorial fracionado 1/2 (4 x 4 x 4) com doses anuais de 0, 40, 80 e 120 kg.ha-1 de N, P2O5 e K2O. Até 104 meses de idade das plantas, avaliaram-se o perímetro do caule 1,20 m acima do calo de enxertia, a porcentagem de plantas aptas para sangria e o tempo de imaturidade do seringal, efetuando-se análises de solo e folhas em diversas épocas. Observou-se, a partir de 24 meses de idade, pouco mais de um ano depois do início das aplicações efeito linear da adubação potássica sobre o perímetro do caule e, a partir de de 48 meses, com freqüência, a interação NK linear. Usando como indicador de desenvolvimento a porcentagem de plantas aptas à sangria, houve efeito linear significativo para K e, em algumas poucas épocas, também paraN. O período de imaturidade, apesar de afetado significativamente apenas pela adubação potássica, mostrou-se dependente do equilíbrio dos nutrientes. Adubações desequilibradas podem retardar até em 15 meses o tempo de imaturidade, comparando-se os melhores e os piores tratamentos. Na ausência de adubação potássica, verificou-se um efeito antagônico dos nutrientes N e P. Adubações potássicas foram essenciais para garantir a antecipação do início da fase produtiva.

seringueira; Hevea brasiliensis; adubação; crescimento; período de imaturidade


The purpose of this study was to evaluate the response of rubber tree [Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr. de Juss.) Müell. Arg.] to NPK fertilization in order, to improve fertilizer recommendation during the immature phase of this crop. It reports the results obtained from an experiment conducted on a podzolic soil at Matão, State of São Paulo, Brazil. It was a randomized block design in a fractionated factorial experiment 1/2(4 x 4 x 4) using 0, 40, 80 and 120 kg.ha-1 of N, P2O5 e K2O. Fertilizers were applied every year starting eight months after planting. During the experimental period evaluations of trunk girth 1.20 m above the budgrafting union was measured at each four months. The percentage of plants able for tapping and the period of immaturity were calculated from girth measurements. Soil and plant analysis were performed at several ages. Plant responses to potassium fertilizations were observed starting at 24 months of plant age. Linear NK interaction was frequently observed after 48 months of plant age. Considering the percentage of plants able for tapping, responses were linearly and statistically significant for K fertilization, while N responses were observed in some ocasions. The immaturity period of the crop was significantly affected only by K fertilizers. Besides of this observation, the analysis of the response surface showed that the immaturity period was very dependent on equilibrated relations among nutrients. Unbalanced relations of NPK can delay up to 15 months the beginning of tapping, considering differences between the best and worst treatments. In the absence of K fertilization there was an antagonistic effect of N and P. Potassium fertilization was essential to reduce the immaturity period.

rubber tree; Hevea brasiliensis; fertilization; growth; immaturity phase


EFEITO DA ADUBAÇÃO NPK SOBRE O PERÍODO DE IMATURIDADE DA SERINGUEIRA(1)(1) Recebido para publicação em 1. Recebido para publicação em 1.o de junho de 1998 e aceito em 21 de junho de 1999.

ONDINO CLEANTE BATAGLIA(2,6)(1) Recebido para publicação em 1. Recebido para publicação em 1.o de junho de 1998 e aceito em 21 de junho de 1999. , WAGNER RODRIGUES DOS SANTOS(3)(1) Recebido para publicação em 1. Recebido para publicação em 1.o de junho de 1998 e aceito em 21 de junho de 1999. , PAULO DE SOUZA GONÇALVES(4,6)(1) Recebido para publicação em 1. Recebido para publicação em 1.o de junho de 1998 e aceito em 21 de junho de 1999. , IVO SEGNINI JUNIOR(5)(1) Recebido para publicação em 1. Recebido para publicação em 1.o de junho de 1998 e aceito em 21 de junho de 1999. & MÁRIO CARDOSO(4)(1) Recebido para publicação em 1. Recebido para publicação em 1.o de junho de 1998 e aceito em 21 de junho de 1999.

RESUMO

O presente estudo teve por objetivo avaliar respostas da seringueira [Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr. de Juss.) Müell. Arg.] à adubação NPK visando recomendá-la no período de formação dos seringais. Relata os resultados do experimento em solo podzólico vermelho-amarelo eutrófico no município de Matão (SP). O delineamento foi de blocos ao acaso em esquema fatorial fracionado 1/2 (4 x 4 x 4) com doses anuais de 0, 40, 80 e 120 kg.ha-1 de N, P2O5 e K2O. Até 104 meses de idade das plantas, avaliaram-se o perímetro do caule 1,20 m acima do calo de enxertia, a porcentagem de plantas aptas para sangria e o tempo de imaturidade do seringal, efetuando-se análises de solo e folhas em diversas épocas. Observou-se, a partir de 24 meses de idade, pouco mais de um ano depois do início das aplicações efeito linear da adubação potássica sobre o perímetro do caule e, a partir de de 48 meses, com freqüência, a interação NK linear. Usando como indicador de desenvolvimento a porcentagem de plantas aptas à sangria, houve efeito linear significativo para K e, em algumas poucas épocas, também para N. O período de imaturidade, apesar de afetado significativamente apenas pela adubação potássica, mostrou-se dependente do equilíbrio dos nutrientes. Adubações desequilibradas podem retardar até em 15 meses o tempo de imaturidade, comparando-se os melhores e os piores tratamentos. Na ausência de adubação potássica, verificou-se um efeito antagônico dos nutrientes N e P. Adubações potássicas foram essenciais para garantir a antecipação do início da fase produtiva.

Termos de indexação: seringueira, Hevea brasiliensis, adubação, crescimento, período de imaturidade.

ABSTRACT

EFFECT OF NPK FERTILIZATION ON THE IMMATURE PHASE OF RUBBER TREE

The purpose of this study was to evaluate the response of rubber tree [Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr. de Juss.) Müell. Arg.] to NPK fertilization in order, to improve fertilizer recommendation during the immature phase of this crop. It reports the results obtained from an experiment conducted on a podzolic soil at Matão, State of São Paulo, Brazil. It was a randomized block design in a fractionated factorial experiment 1/2(4 x 4 x 4) using 0, 40, 80 and 120 kg.ha-1 of N, P2O5 e K2O. Fertilizers were applied every year starting eight months after planting. During the experimental period evaluations of trunk girth 1.20 m above the budgrafting union was measured at each four months. The percentage of plants able for tapping and the period of immaturity were calculated from girth measurements. Soil and plant analysis were performed at several ages. Plant responses to potassium fertilizations were observed starting at 24 months of plant age. Linear NK interaction was frequently observed after 48 months of plant age. Considering the percentage of plants able for tapping, responses were linearly and statistically significant for K fertilization, while N responses were observed in some ocasions. The immaturity period of the crop was significantly affected only by K fertilizers. Besides of this observation, the analysis of the response surface showed that the immaturity period was very dependent on equilibrated relations among nutrients. Unbalanced relations of NPK can delay up to 15 months the beginning of tapping, considering differences between the best and worst treatments. In the absence of K fertilization there was an antagonistic effect of N and P. Potassium fertilization was essential to reduce the immaturity period.

Index terms: rubber tree, Hevea brasiliensis, fertilization, growth, immaturity phase.

1. INTRODUÇÃO

Durante os primeiros anos de vida após o transplante no campo, as plantas jovens de seringueira crescem ativamente com fluxos contínuos de lançamento de novas folhas até o quarto ou quinto ano de idade, quando se inicia uma fase de crescimento intermi tente com o processo de troca de folhas, sobretudo durante o inverno. A absorção de nutrientes é relacionada a esses estádios de crescimento.

Considerando que, no Estado de São Paulo, há um inverno rigoroso para a seringueira, os ciclos de crescimento são alternados, havendo um intenso fluxo no verão e, praticamente, uma paralisação do processo no inverno, especialmente quando o estresse hídrico é muito marcante em determinados anos.

A adubação correta deve levar em conta essas particularidades locais, de modo que a aplicação dos fertilizantes em época, forma e doses corretas seja determinante para abreviar o tempo de imaturidade do seringal. Esse é o principal objetivo da adubação na fase de plantas jovens.

Antes da década dos 60s, mesmo nos países produtores de borracha, as recomendações de adubação levavam em conta apenas grosseiras diferenças de características dos solos com base na sua classificação e mapeamento. Desde então, novos conceitos começaram a ser praticados visando a recomendações distintas para cada caso e condição particular (Pushparajah & Yew, 1977). Essa discriminação, à medida que o conhecimento evoluiu, passou a considerar outros indicadores como necessários para uma recomendação mais eficiente, ou seja, a própria classificação dos solos, seu nível de fertilidade, o estado nutricional da planta, histórico da cultura, clones e resultados de experimentos de adubação.

Resultados de experimentos talvez sejam o ponto crítico para recomendações mais eficientes. Enquanto para culturas anuais eles são obtidos mais rapidamente, no caso da seringueira são demorados e de alto custo, razão de tanta escassez no País. Alguns estudos no Sul da Bahia (Reis et al., 1984); Reis & Cabala-Rosand, 1988) mostraram respostas do crescimento e produtividade à adubação fosfatada. Na região Norte, Berniz (1987), e na Centro-Oeste, Kitamura (1992), também evidenciaram respostas à adubação fosfatada.

Em São Paulo, ao contrário, Falcão (1996) e Murbach (1997) evidenciaram ser a adubação potássica a principal responsável pelo crescimento e produtividade da seringueira em solo arenoso na região de Marília. Em solo similar, Bataglia et al. (1998) observaram efeitos significativos das adubações nitrogenada e fosfatada sobre as medidas de perímetro do caule, e das adubações nitrogenada e potássica usando como indicador a porcentagem de plantas aptas à sangria.

O presente estudo teve o objetivo de avaliar os efeitos da adubação com N, P e K em reduzir o período de imaturidade do seringal.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado em área da Cambuhy Empreendimentos Agropecuários Ltda, município de Matão (SP) (latitude: 21º 38' S; longitude: 48º 22' W), no período de 1986-95, utilizando-se um plantio comercial uniforme do clone RRIM 600.

O seringal foi implantado num podzólico vermelho-amarelo eutrófico de textura média, em área antes usada com culturas anuais nos dois anos antecedentes à implantação das seringueiras. A partir do seu plantio, não se cultivaram outras plantas, de modo que o manejo das entrelinhas foi feito por meio de roçadeira e gradagens, sobretudo para incorporação dos fertilizantes.

O solo no local do experimento foi caracterizado mediante amostragem na parcela testemunha em camadas de 20 cm até 1 m de profundidade, procedendo-se às análises conforme métodos descritos por Raij & Quaggio (1983) (Quadro 1). De acordo com a classificação adotada no Estado de São Paulo (Raij et al., 1997), o solo pode ser considerado como de boa fertilidade, com elevada saturação por bases, altos teores de cálcio e magnésio e teores médios de potássio trocável na camada superficial e baixo nas camadas subsuperficiais, apresentando, contudo, baixos teores de fósforo em todo o perfil.


O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso em esquema fatorial fracionado 1/2 (4 x 4 x 4), seguindo bases preconizadas por Colwell (1978), sendo os nutrientes N, P e K aplicados em quatro níveis: 0, 40, 80 e 120 kg.ha-1 de N, P2O5 e K2O respectivamente. Os fertilizantes usados foram uréia, super-fosfato triplo e cloreto de potássio e, as 32 parcelas, dispostas em dois blocos. A parcela experimental continha duas linhas com dez plantas sendo consideradas as doze centrais para as avaliações. As duas linhas experimentais eram isoladas por uma linha de plantas com adubação convencional do produtor.

O experimento foi iniciado em outubro de 1986, quando as plantas tinham 8 meses de idade, após o transplante das mudas no campo. No verão de 1986/87, a dose de fertilizantes aplicada foi equivalente a 1/3 da normal do tratamento, dividida em duas aplicações: uma em outubro e outra em fevereiro. No ano seguinte, foi aumentada para 2/3 do total e do terceiro ano até o final do experimento, empregou-se a dose completa, sempre dividida em duas vezes. Os fertilizantes foram aplicados a lanço em faixas laterais às plantas, promovendo-se a incorporação com gradagens superficiais.

A principal forma de avaliação foi a medida do perímetro do caule 1,20 m acima do calo de enxertia, feita anualmente em outubro, fevereiro e maio. A porcentagem de plantas aptas à sangria foi obtida pelo cálculo da relação entre o número de plantas com 45 cm ou mais de perímetro do caule e o total de plantas de cada parcela. O período de imaturidade foi determinado por meio das equações de regressão entre porcentagem de plantas aptas e idade, calculado como o tempo necessário para atingir 50% de plantas aptas em cada tratamento.

Efetuaram-se as amostragens de folhas no verão (fevereiro-março) para acompanhamento do estado nutricional, usando os procedimentos recomendados por Chapman (1973), e, as análises químicas, de acordo com Bataglia et al. (1983).

A interpretação dos resultados foi feita pela análise da variância e superfícies de respostas usando programa de computador especialmente desenvolvido pela Seção de Técnica Experimental e Cálculo do Instituto Agronômico. Além disso, procedeu-se às análises de correlação linear e de regressão linear (Steel & Torrie, 1960), para estudo das relações entre as concentrações de nutrientes nas folhas e o período de imaturidade como indicador de desenvolvimento do seringal.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O crescimento das plantas começou a ser avaliado a partir dos doze meses após o transplante para o campo, quatro meses depois da primeira aplicação de fertilizantes, sendo as primeiras respostas significativas observadas de forma consistente a começar de 24 meses de idade (Quadro 2), ou seja, decorridos dezesseis meses do início das adubações diferenciadas. A partir dessa idade, em todas as medições subseqüentes, foi marcante o efeito linear da adubação potássica. A partir dos 48 meses de idade das plantas, observou-se, também, uma interação linear NK, cujo significado será mais bem entendido na discussão sobre a Figura 3.



De maneira coerente com os níveis de significância estatística (Quadro 2), pouco pode ser observado em termos médios para os efeitos de N e P. Por outro lado, para o K, já a começar dos 24 meses de idade das plantas, é possível perceber um aumento linear do crescimento com o aumento das doses de fertilizante, efeito esse mais evidente com a idade. Numa análise generalizada, verifica-se que, aos 80 meses de idade, apenas nas doses médias de 80 e 120 kg.ha-1 de K2O as plantas superaram a medida de 450 mm, indicativo da maturidade. Aos 84 meses, em média, todos os tratamentos chegaram à maturidade.

Analisando-se o desenvolvimento da seringueira, mediante o cálculo da porcentagem de plantas aptas à sangria, nota-se efeito linear para a resposta à adubação potássica em todas as épocas estudadas (Quadro 3). A observação adicional se relaciona ao efeito linear da adubação nitrogenada em algumas das épocas. Esses resultados são semelhantes aos obtidos em experimento de Avaí em solo arenoso (Bataglia et al., 1998). Entretanto, no de Avaí, havia um efeito positivo, enquanto no presente - Figura 1 - as doses crescentes de N provocaram redução na porcentagem de plantas aptas à sangria e, em conseqüência, elevaram o período de imaturidade. Na Figura, observa-se que aumentando-se a dose de 0 para 120 kg.ha-1, de N, o tempo para atingir a maturidade (50% de plantas aptas) passou de 79 para 83 meses, considerando-se doses médias de P e K. Por outro lado, elevando-se as doses de K2O de 0 para 120 kg.ha-1, o tempo de imaturidade foi reduzido de 86 para 78 meses, com doses médias de N e P.



Os dados ressaltam a diferença regional de comportamento da seringueira. Enquanto nas regiões Norte e Nordeste do Brasil foram detectadas respostas apenas à adubação fosfatada (Reis et al., 1984; Berniz, 1987; Reis & Cabala-Rosand, 1988), no presente estudo nota-se a mesma tendência do ensaio realizado em São Paulo, por Falcão (1996) e Murbach (1997), no qual somente a adubação potássica afetou o desenvolvimento e a produtividade da seringueira.

Essas contradições são muito comuns em outros países. Assim, enquanto na Índia, Kalam (1970) e Pannoje & Potty (1975) não observaram nenhuma resposta à adubação potássica, Syvanadian et al. (1975) verificaram que a necessidade de K podia variar de acordo com o estádio de desenvolvimento do seringal, indicando que a falta do nutriente na fase de crescimento provocou redução na atividade fotossintética e menor incremento no diâmetro do caule, demorando, conseqüentemente, muito mais tempo para atingir o porte ideal para início da sangria.

Apesar dessa falta de resposta significativa à adubação fosfatada, quando se analisa com maior discriminação as possíveis interações entre os nutrientes, observa-se total interdependência entre os macronutrientes N, P e K, normalmente supridos via adubação.

O período de imaturidade, aqui definido como o tempo em meses após o plantio necessário para que 50% das plantas de cada parcela atinjam o perímetro de 450 mm, foi usado para avaliação da interdependência dos nutrientes. A superfície de respostas que expressa a dependência entre período de imaturidade (PI) e as doses de N, P e K ficou assim definida:

PI = 83,50726 + 0,017092 N - 0,0000215 N2 -

0,011986P - 0,000182P2 - 0,10808K +

0,000674 K2 + 0,000586 NP - 0,000391 NK +

0,0000309 PK

onde:

N = dose de N (kg.ha-1);

P = dose de P205 (kg.ha-1);

K = dose de K2O (kg.ha-1).

As Figuras 2 e 3 foram construídas a partir dessa superfície de respostas para facilitar-lhes a interpretação e visualização.


Como já tratado, os dados do Quadro 4 evidenciaram respostas significativas apenas para o efeito linear do potássio para PI, enquanto para a porcentagem de plantas aptas havia efeito linear para K e, em algumas épocas, para N.


A Figura 2 mostra a variação no período de imaturidade em função das doses de N e P para cada uma das doses de K e permite uma análise das interações NK para a qual se detectou significância estatística nas medições de perímetro do caule (Quadro 2). Assim, na dose zero de P, houve efeito positivo de N e K na redução do período de imaturidade, enquanto, à medida que se usaram doses mais elevadas de P, houve um efeito depressivo da adubação nitrogenada. A adubação potássica, de modo geral, reduziu o período de imaturidade. Na ausência de adubação potássica, o antagonismo entre N e P é marcante. A adubação nitrogenada aumentou linearmente o período de imaturidade nas doses mais elevadas de P, enquanto, nas mais baixas (0 e 40 kg.ha-1 de P2O5), seu efeito foi positivo principalmente na presença de K. Nas doses de 80 e 120 kg.ha-1 de K2O não importa muito a tendência dos efeitos de N e P. Houve uma consistente redução do período de imaturidade para valores abaixo de 82 meses. As combinações de N e P servem apenas para ajustes. Na ausência ou em doses baixas de adubação potássica, todavia, é preciso considerar seriamente as relações entre N e P nas adubações.

A Figura 3 é vista em planta da superfície de resposta estabelecida entre N e K, tendo o período de imaturidade como variável dependente para as quatro doses de adubação fosfatada. As isoquantas delimitam áreas de mesmo período de imaturidade. As interpretações, de certa forma, são equivalentes às da Figura 2. Mediante as isoquantas, é possível estabelecer as diversas combinações de N, P e K para condução do seringal com vistas a conseguir melhor adequação de custos dos adubos para programar o início da exploração econômica. Mais uma vez, verifica-se que o uso de doses baixas de K pode induzir a altos valores de PI, isto é, retardar o início da exploração econômica. Por outro lado, valores baixos de PI só podem ser conseguidos com altas doses de N e K, na ausência de P, ou altas doses de P e K, na ausência de N. Doses de K2O acima de 80 kg.ha-1, independentemente das combinações de N e P, garantem precocidade para a exploração do seringal.

O crescimento da seringueira em função das doses diferenciadas de nutrientes pode ser mais bem entendido pelas alterações provocadas no estado nutricional das plantas. A análise foliar realizada quando as plantas tinham 72 e 84 meses de idade (Quadro 4) mostrou coeficientes de correlação positivos e altamente significativos entre os teores de K e a porcentagem de plantas aptas à sangria. Ao contrário, como era esperado, os valores foram negativos e altamente significativos para as correlações entre os teores de K e o período de imaturidade das plantas. Apesar de apresentar coeficientes de correlação mais baixos do que para K, no caso de Ca e Mg, a inversão de sinais confirma o antagonismo normalmente relatado em plantas para as relações K/Ca e K/Mg.

O agrupamento dos tratamentos em classes de período de imaturidade possibilitou melhor interpretação das relações entre os teores de nutrientes nas folhas e o crescimento das plantas - Figura 4. Para N e P, os coeficientes de correlação foram baixos e sem significância estatística. Apesar do comportamento diferenciado entre as amostragens aos 72 e aos 84 meses, os teores dos dois nutrientes situam-se entre os limites da faixa daqueles adequados para seringais produtivos em São Paulo (Bataglia et al., 1988) e na Malásia (Pushparajah & Teng, 1972). Os teores médios de K observados estão muito abaixo dessas faixas, possivelmente em função da elevada absorção de Ca e Mg no local do experimento. Os coeficientes de correlação, entretanto, foram os mais elevados na relação entre teores de K e período de imaturidade.


Entre os micronutrientes, Cu e Mn mostraram coeficientes de correlação com significância estatística e comportamento muito semelhante ao potássio, porém suas variações ocorreram nas faixas de concentração adequadas e, provavelmente, não influenciaram o crescimento das plantas - Quadro 4.

4. CONCLUSÕES

1. Em solo de média/alta fertilidade, o perímetro do caule da seringueira na fase de formação foi afetado pela adubação potássica, com respostas significativas pouco mais de um ano após o início das adubações.

2. Usando-se como indicador de desenvolvimento a porcentagem de plantas aptas à sangria, verificaram-se respostas significativas às adubações nitrogenada e potássica.

3. O período de imaturidade, apesar de ter sido afetado significativamente apenas pela adubação potássica, mostrou-se muito dependente da interação entre os nutrientes N, P e K dos fertilizantes: correlacionou-se negativamente com os teores de K e positivamente com os de Ca e Mg das folhas.

4. A diferença no período de imaturidade entre o melhor e o pior tratamento chegou a cerca de 15 meses, sendo a adubação potássica essencial para garantir a antecipação do início da fase produtiva.

AGRADECIMENTOS

Aos Engenheiros-Agrônomos Jayme Vasques Cortez e Toshio Igue, pela cooperação no planejamento e instalação do experimento. À Cambuhy Empreendimentos Agropecuários Ltda, pela colaboração, e à EMBRAPA e à FAPESP, pelo auxílio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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(2) Centro de Solos e Recursos Agroambientais, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas(SP).

(3) Centro de Solos e Recursos Agroambientais, IAC. Bolsista da FUNAPE.

(4) Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC.

(5) Cambuhy Empreendimentos Agropecuários Ltda.

(6) Com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq.

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  • (1) Recebido para publicação em 1.
    Recebido para publicação em 1.o de junho de 1998 e aceito em 21 de junho de 1999.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Maio 2000
    • Data do Fascículo
      1999

    Histórico

    • Recebido
      01 Jun 1998
    • Aceito
      21 Jun 1999
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