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Trabalhar, Verbo Transitivo: Trajetórias Ocupacionais de Trabalhadores da Indústria Automobilística

Travailler, Verbe Transitif: Trajectoires Professionnelles des Travailleurs de l’Industrie du Matériel de Transports de l’État de São Paulo

Work, A Transitive Verb: Occupational Mobility of Workers in the São Paulo State Transports Industry

Resumos

La restructuration industrielle en cours au Brésil, associée au chômage progressif, permet de s’interroger sur la capacité qu’ont les travailleurs issus (ou renvoyés) de ce secteur économique de retrouver une nouvelle situation autant en accord avec la qualification professionnelle qu’ils ont pu accumuler qu’avec leurs espoirs et leur désir de statut social. À partir d’un texte de la RAIS (Relation Annuelle des Renseignements Sociaux) et à l’aide de méthodologies modernes d’analyse de données longitudinales, cette étude cherche à expliquer les différences de chances sur le marché du travail pour les travailleurs engagés dans les industries de matériel de transports à São Paulo en 1989, et leur trajectoire jusqu’en 1995. Parmi les conclusions inattendues, il convient de remarquer que le marché du travail à São Paulo pour ce secteur économique de pointe chasse structurellement qualifications et aptitudes, puisqu’il a renvoyé sur une période de sept ans 70% des travailleurs embauchés en 1989.

trajectoire professionnelle; industries de matériel de transports; marché du travail; São Paulo


The Brazilian transports industry includes car, aircraft, boat, and train assemblers, as well as their suppliers. The process of industrial restructuring now underway in Brazil, in conjunction with rising open unemployment, leads us to question whether workers who leave (or are removed from) this economic sector will be able to find alternative jobs commensurate not only with their acquired skill levels but also with their life and social status expectations. Based on an excerpt from the Relação Anual de Informações Sociais and on advanced methods in longitudinal data analysis, the study endeavors to explain the differences in job market mobility experienced by workers who had some formal link with the transports industry in the state of São Paulo between 1989 and 1995. One of the various surprising conclusions is the discovery that in this technologically advanced sector of the economy, the São Paulo state labor market is a structural predator of qualifications and skills - by 1995, it had dismissed 70% of workers employed in 1989.

occupational mobility; transports industry; labor market; São Paulo


trajectoire professionnelle; industries de matériel de transports; marché du travail; São Paulo

occupational mobility; transports industry; labor market; São Paulo

Trabalhar, Verbo Transitivo: Trajetórias Ocupacionais de Trabalhadores da Indústria Automobilística** Este trabalho resulta do projeto "Trajetórias Ocupacionais e Empregabilidade da Força de Trabalho: Por uma Metodologia de Acompanhamento de Trajetórias de Trabalhadores Industriais na Nova Ordem Produtiva Brasileira", financiado por bolsa do tipo A-Esp da Ford/Anpocs e que contou, na equipe, com Nadya Castro (coordenadora) e Alvaro Comin pelo Cebrap; Luis Caruso e Valéria Pero pelo Ciet/Senai; e Adalberto M. Cardoso pelo Iuperj. Agradeço os comentários de todos a versões anteriores do texto. Gostaria de registrar, também, meu profundo agradecimento ao Ministério do Trabalho, à Datamec-Rio e à AB Consultoria pela grande abertura, presteza e amabilidade com que responderam às solicitações de novas bases de dados a partir da Relação Anual de Informações Sociais ¾ RAIS, e pela enorme disposição em solucionar os problemas comuns em bases desse tipo. Este texto (e o projeto do qual resulta) não se teria viabilizado sem a colaboração de pessoas como Vera Marina Martins Alves, coordenadora de Informações do Ministério do Trabalho, Adymar Araújo Silva, gerente de Contas do MTb, da Datamec-Rio, Ricardo Fride, também da Datamec-Rio, e Eduardo Costa Carvalho, da AB Consultoria, responsável pela geração dos dados em CD-ROM. A todos um caloroso agradecimento e a certeza de que compartilham dos acertos do que se segue. Os erros, obviamente, apenas a mim devem ser imputados.

Adalberto M. Cardoso

INTRODUÇÃO

Pioneiro na utilização intensiva de métodos de gestão inspirados na produção enxuta11. O termo remete à idéia de otimização das seqüências de tarefas em uma mesma seção produtiva (armação ou funilaria, por exemplo), entre seções em uma mesma unidade (montagem final e pintura, por exemplo), e entre unidades em uma mesma fábrica de automóveis (motores e câmbio por oposição à montagem). Trabalha-se, idealmente, com estoque zero intra e entre as etapas, com entrega . O termo remete à idéia de otimização das seqüências de tarefas em uma mesma seção produtiva (armação ou funilaria, por exemplo), entre seções em uma mesma unidade (montagem final e pintura, por exemplo), e entre unidades em uma mesma fábrica de automóveis (motores e câmbio por oposição à montagem). Trabalha-se, idealmente, com estoque zero intra e entre as etapas, com entrega just in time, pela seção ou posto precedente de trabalho, do produto sobre o qual a seção seguinte irá trabalhar. Para conceituação eficiente, ver Jones (1991). Jürgens (1995xxx) aperfeiçoa o conceito na análise da experiência da VW em vários países. e na introdução de inovações tecnológicas de base microeletrônica, o complexo automobilístico brasileiro vive uma conjuntura ocupacional e empregatícia típica das revoluções industriais, quando novos paradigmas tecnológicos subvertem as formas tradicionais de se produzir e contingentes inteiros de trabalhadores vêem solapadas as bases materiais de sua reprodução, o que costuma provocar grandes movimentos de população entre setores produtivos, regiões geográficas e posições na estrutura social. Em situações desse tipo, de efetiva renovação organizacional e tecnológica21. O termo remete à idéia de otimização das seqüências de tarefas em uma mesma seção produtiva (armação ou funilaria, por exemplo), entre seções em uma mesma unidade (montagem final e pintura, por exemplo), e entre unidades em uma mesma fábrica de automóveis (motores e câmbio por oposição à montagem). Trabalha-se, idealmente, com estoque zero intra e entre as etapas, com entrega . O termo remete à idéia de otimização das seqüências de tarefas em uma mesma seção produtiva (armação ou funilaria, por exemplo), entre seções em uma mesma unidade (montagem final e pintura, por exemplo), e entre unidades em uma mesma fábrica de automóveis (motores e câmbio por oposição à montagem). Trabalha-se, idealmente, com estoque zero intra e entre as etapas, com entrega just in time, pela seção ou posto precedente de trabalho, do produto sobre o qual a seção seguinte irá trabalhar. Para conceituação eficiente, ver Jones (1991). Jürgens (1995xxx) aperfeiçoa o conceito na análise da experiência da VW em vários países. acompanhada de intensos ganhos de produtividade, as sociedades perdem muito em capital social e econômico na forma de destruição de habilidades e empreendimentos longamente cultivados por trabalhadores e empregadores.

E os números são portentosos. Comparando-se as médias de 1990 e 1996, para o Brasil como um todo, a produção física industrial cresceu 11,8%, contra uma queda de 30,3% no emprego, o que representa ganho de 42% de produtividade do trabalho no período e perda de perto de um milhão de postos de trabalho. No caso do complexo automobilístico, a produção cresceu espantosos 39,2%, enquanto o emprego caiu 23,3%, com ganho de 62% de produtividade e perda de mais de 70 mil postos de trabalho33. Fonte: PME-SP, disponível no sítio do IBGE na internet: www.ibge.gov.br. 4. Em 1990, havia 2.134 operários de manutenção de máquinas nas montadoras do Estado de São Paulo, segundo a RAIS. Em 1996, seu número tinha sido reduzido aproximadamente à metade: 1.071 operários. .

Estes números são o retrato agregado de situações como esta: nas montadoras de automóveis, funções como a de inspetor de qualidade ¾ principal vítima dos programas de melhoria contínua, qualidade na fonte e autocontrole, que transferem para o operário direto o ônus de produzir sem defeitos ¾ ou mesmo a de operário de manutenção ¾ vítima da terceirização dessa tarefa ¾ estão em via de desaparecer43. Fonte: PME-SP, disponível no sítio do IBGE na internet: www.ibge.gov.br. 4. Em 1990, havia 2.134 operários de manutenção de máquinas nas montadoras do Estado de São Paulo, segundo a RAIS. Em 1996, seu número tinha sido reduzido aproximadamente à metade: 1.071 operários. . Em pouco tempo terão desaparecido, também, nos fornecedores diretos das montadoras, as fábricas de autopeças. Com isso, no complexo automobilístico como um todo, inspetores de qualidade e mantenedores, profissionais altamente qualificados sobre quem recaía a responsabilidade pela liberação do produto final para o mercado ou pelo bom desempenho dos equipamentos, estão mudando de profissão.

Pois bem, em uma década em que o crescente desemprego faz levantar suspeitas quanto à habilidade de os trabalhadores egressos (ou expulsos) da indústria encontrarem nova ocupação compatível com expectativas de vida e status; em uma situação em que, por hipótese, quanto mais sistêmico (no sentido de atingir todos os segmentos do complexo automobilístico) e intenso o processo de renovação tecnológica, menores as chances de exercício das qualificações que estão sendo reestruturadas (como inspetores de qualidade e mantenedores, mas também as ocupações menos qualificadas, substituídas por autômatos); e com o emprego industrial como um todo em franca destruição de postos de trabalho, nestas condições, parece estratégico, na verdade crucial, argüir sobre o destino empregatício do trabalhador que está perdendo seu emprego na indústria. Até que ponto pode continuar exercitando suas qualificações, até que ponto as terá que redefinir? Que tipo de trabalhador tem mais chances de migrações "virtuosas", que preservem de alguma maneira sua qualificação ou, no mínimo, sua renda, e que tipo de trabalhador perderá qualidade de emprego na migração ocupacional provocada pela reestruturação industrial? O que dizer dos trabalhadores que permanecem empregados? Serão eles indivíduos ditos core, ou centrais aos processos produtivos, enquanto perdem o emprego os trabalhadores na periferia do mercado de trabalho (como vaticinaram, por exemplo, Piore e Sabel, 1984)?

Estas questões orientam o que virá, com foco na indústria automobilística paulista. Tal como formuladas, já denotam as hipóteses de trabalho a perseguir, mas vale a pena explicitar a mais importante delas: se é verdade que o complexo automobilístico se aproxima do que a literatura convencionou chamar de reestruturação sistêmica (Fleury, 1990xxx), e se de fato podemos falar em revolução organizacional e tecnológica no setor (como sugerem, por exemplo, Arbix e Zilbovicius, 1997artigo, não o livroxxx), então é de se esperar que sejam crescentemente menores as chances de reinserção profissional virtuosa dos egressos do complexo no sentido referido acima, isto é, reinserção que preserve o capital qualificacional acumulado pelo trabalhador no percurso de sua vida produtiva55. Ver Castro, Cardoso e Caruso (1997) para discussão circunstanciada dessa hipótese. 6. Infelizmente, a base de dados da PME de que disponho está com problemas nos meses de novembro e dezembro de 1993. Por isso estes meses foram excluídos na geração do Gráfico 1. Isto quer dizer que o ano de 1994 inicia no mês 59, e não no mês 61 como ocorreria se 1993 estivesse completo. Agradeço a Argelina Figueiredo, que cedeu a fita com os microdados para os anos 1989-1991; ao CDDI-DEATI/IBGE, que gerou a fita com os anos seguintes; e à Datamec-Rio, que graciosamente transferiu os dados para CD-ROM, tornando possível sua manipulação em microcomputador. . Estaremos diante de vetores efetivos e poderosos de precarização das condições de trabalho e vida de crescentes contingentes de trabalhadores, obrigados a se reconverter profissionalmente e a buscar novas chances de sobrevivência em um mercado de trabalho crescentemente hostil, como o que se consolidou nos anos 90.

Perguntas e hipótese serão investigadas aqui com recurso experimental a uma fonte de dados apenas recentemente tornada disponível à comunidade científica nacional, a Relação Anual de Informações Sociais ¾ RAIS. O trabalho tem duplo objetivo. Além dos aspectos propriamente analíticos denotados pelo problema a se investigar, que exige o acompanhamento das trajetórias ocupacionais de indivíduos que tiveram algum vínculo formal de trabalho no setor de material de transportes paulista, pretendo explorar o potencial analítico da RAIS e, ao mesmo tempo, testar novo instrumental metodológico para a análise de dados longitudinais, visando à construção de padrões de trajetória que permitam uma melhor apreensão dos processos macrossociais em curso. Com isso, espero estar contribuindo para o aprofundamento do conhecimento sobre os impactos da reestruturação industrial sobre a força de trabalho, enquanto ponho em evidência novas metodologias e fontes pertinentes de dados.

ESTRUTURA E DINÂMICA DO MERCADO DE TRABALHO: FONTES ALTERNATIVAS, ACHADOS COMPLEMENTARES

Iniciemos a análise pela comparação dos Gráficos 1 e 2 . O primeiro, montado com base na Pesquisa Mensal de Emprego ¾ PME, traz a composição da População Economicamente Ativa ¾ PEA segundo setores econômicos, ou a estrutura do mercado de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), mês a mês. Já o Gráfico 2, montado com base em um excerto da RAIS (ver anexo metodológico), traz as trajetórias ocupacionais dos trabalhadores que tiveram algum vínculo formal no setor de material de transportes em 1989 na mesma RMSP. Por meio de procedimentos computacionais, pôde-se reconstituir essas trajetórias também mês a mês65. Ver Castro, Cardoso e Caruso (1997) para discussão circunstanciada dessa hipótese. 6. Infelizmente, a base de dados da PME de que disponho está com problemas nos meses de novembro e dezembro de 1993. Por isso estes meses foram excluídos na geração do Gráfico 1. Isto quer dizer que o ano de 1994 inicia no mês 59, e não no mês 61 como ocorreria se 1993 estivesse completo. Agradeço a Argelina Figueiredo, que cedeu a fita com os microdados para os anos 1989-1991; ao CDDI-DEATI/IBGE, que gerou a fita com os anos seguintes; e à Datamec-Rio, que graciosamente transferiu os dados para CD-ROM, tornando possível sua manipulação em microcomputador. , desde janeiro de 1989 até dezembro de 1995. Vejamos o que cada um dos gráficos permite afirmar.


Gráfico

1989-1995

Fonte: PME, tabulações especiais.


Gráfico

RMSP, 1989-1995

Grosso modo, pela PME (Gráfico 1), descobrimos que a indústria de transformação como um todo vem perdendo espaço como empregadora na RMSP, ao passo que os setores de comércio e de serviços têm sua participação aumentada no emprego total a cada mês. Na indústria de transformação, todos os setores perdem participação individualmente. Tome-se o de material de transportes, que interessa mais de perto aqui. Seu papel de empregador sofre pequenas variações sempre decrescentes no período, de sorte que à média de 4,8% ao mês em 1989, opõe-se a de 3,6% ao mês em 1995. O gráfico não mostra, mas esta pequena variação relativa esconde grande destruição de postos de trabalho. Eles eram pouco mais de 320 mil em janeiro de 1989, e não passavam de 250 mil em dezembro de 1995, uma diferença de 22%. Quase 70 mil postos de trabalho foram perdidos, pois. Enquanto isso, o setor de serviços respondia por 42,6% do emprego em 1989, em média, contra 46,7% em 1995. Por sua vez, o desemprego médio mensal pulou de 3,5% em 1989, para 5,2% em 1995.

Como parece claro, a análise de proporções de participação de cada setor no emprego total pode-nos dizer muito sobre movimentos estruturais, sobre oportunidades e flexibilidades alocativas e salariais e, esmiuçada no que se refere às informações dos indivíduos (sexo, idade, escolaridade etc., algo que excede os limites deste trabalho), permitiria fazer previsões quanto aos desdobramentos futuros dessa estrutura mesma e de seus movimentos globais. E de fato, tudo parece indicar uma mudança estrutural importante no mercado de trabalho da RMSP. Além da troca de força de trabalho entre os setores, com vantagem para os segmentos do terciário, estudos recentes descobriram uma associação direta entre a queda na participação da indústria no emprego total e o aumento do desemprego regional, ou seja, o desemprego crescente na RMSP é, principalmente, fruto do desemprego industrial (Barros e Mendonça, 1996; Montagner e Brandão, 1996). Dito de outra maneira, ao menos na Grande São Paulo, uma parte crescente dos trabalhadores que estão sendo liberados da indústria encontra dificuldades para se reempregar em qualquer outro setor de atividade, e isto estará sendo verdade, também, para a indústria de material de transportes, que fechou 70 mil postos de trabalho no período.

Esses movimentos inter e intra-setoriais são expressão da grande flexibilidade alocativa desse mercado de trabalho, tal como demonstrado com rigor por Barros et alii (1997). Se agregarmos a enorme flexibilidade salarial detectada por Barros e Mendonça (1996), temos que as regiões metropolitanas (com destaque para a de São Paulo) têm, em termos mundiais, mercados dos mais adaptáveis a choques, de qualquer natureza, não representando empecilho aos ajustes macro ou microeconômicos77. Montagner e Brandão (1994) chegaram a conclusão semelhante, lançando mão da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Argumentam, porém, que a flexibilidade do mercado de trabalho paulista tendeu, nos anos 90, a forçar o ajuste pelo desemprego, mais do que pelo salário ou pela migração intersetorial da força de trabalho. Em uma outra direção, Amadeo e Camargo (1996) utilizaram a PME para identificar no setor informal da economia, em especial o assalariamento sem carteira, outro mecanismo importante de ajuste no Brasil pós-Real. 8. O problema da flexibilidade do mercado de trabalho no Brasil é tema cada vez mais presente na agenda pública, principalmente entre os economistas. Ver, por exemplo, Infante (1994); Baltar e Proni (1996); Manzano (1996); Camargo (1996); Carleial (1997), dentre outros. .

Desde logo, trata-se de descobertas importantes e na contramão do que querem o senso comum empresarial e os formuladores de políticas do governo federal, para quem os males do desemprego seriam resolvidos com a flexibilização do mercado de trabalho87. Montagner e Brandão (1994) chegaram a conclusão semelhante, lançando mão da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Argumentam, porém, que a flexibilidade do mercado de trabalho paulista tendeu, nos anos 90, a forçar o ajuste pelo desemprego, mais do que pelo salário ou pela migração intersetorial da força de trabalho. Em uma outra direção, Amadeo e Camargo (1996) utilizaram a PME para identificar no setor informal da economia, em especial o assalariamento sem carteira, outro mecanismo importante de ajuste no Brasil pós-Real. 8. O problema da flexibilidade do mercado de trabalho no Brasil é tema cada vez mais presente na agenda pública, principalmente entre os economistas. Ver, por exemplo, Infante (1994); Baltar e Proni (1996); Manzano (1996); Camargo (1996); Carleial (1997), dentre outros. . Demonstrar que este mercado é altamente flexível, tomando por base dados oficiais, e fazê-lo a partir de um órgão oficial (como é o caso dos textos de pesquisadores do IPEA, citados), é por si só resultado de monta e central ao debate público atual. A PME, pois, é fonte imprescindível ao analista do mercado de trabalho.

Imprescindível mas insuficiente, em especial de um ponto de vista sociológico tal como o que orienta este trabalho. Tomemos um segmento do setor formal da economia na RMSP, único coberto pela RAIS (Gráfico 2 ), e vejamos que novas informações ele nos permite agregar ao diagnóstico apenas esboçado acima. O gráfico retrata as trajetórias ocupacionais agregadas dos indivíduos que tiveram, em algum momento de 1989, qualquer vínculo empregatício formal no setor de material de transportes na Grande São Paulo99.Ver anexo metodológico. Embora o gráfico traga informações para três subsetores do segmento de material de transportes, eles serão analisados em conjunto nesta seção. 10.Ver Anexo Estatístico e Metodológico para a composição dos setores. . A cada mês esses indivíduos são novamente observados. As variações mensais referem-se a proporções dos mesmos indivíduos que, com o tempo, migraram de um setor a outro, ou que migraram para fora do sistema RAIS de informações, ou que permaneceram no setor de material de transportes. Não há como saber que proporção dos que saíram do sistema estava desempregada, ou com algum emprego informal (sem carteira assinada), ou empregada por conta própria. Mas veremos que a simples exclusão do setor formal traz conseqüências de monta para esses trabalhadores.

Assim, 82% das pessoas que tiveram algum vínculo formal no setor de material de transportes durante 1989 ainda estavam empregadas ali em dezembro do mesmo ano. Encontrávamos 2,3% em outras indústrias metalúrgicas, enquanto 11% estavam fora do sistema RAIS e as demais se distribuíam pelos outros setores econômicos109.Ver anexo metodológico. Embora o gráfico traga informações para três subsetores do segmento de material de transportes, eles serão analisados em conjunto nesta seção. 10.Ver Anexo Estatístico e Metodológico para a composição dos setores. . Ao final do período (dezembro de 1995), apenas 30% das mesmas pessoas continuavam empregadas no setor de material de transportes; 6,5% tinham migrado para outras metalúrgicas e outro tanto encontrara emprego em outras atividades. O fato realmente notável, porém, é que quase metade, ou 47%, tinha sido expulsa não apenas do segmento metalúrgico de transportes, mas do setor formal como um todo.

Pois bem, dois achados merecem destaque comparando-se os dois gráficos. Em primeiro lugar, os setores de serviços e de comércio demonstraram capacidade residual de absorção daqueles que perderam o emprego nas indústrias de material de transportes ao longo do período. Se o primeiro viu sua participação no emprego total crescer 9,7%, e se o comércio cresceu 11%, fatos apreendidos pela PME, apesar disso o comércio esteve virtualmente fechado aos egressos daquelas indústrias (2,6% ao final do período) e os serviços, ao menos em termos do emprego formal1111. É preciso assinalar que, ainda com base na PME-SP, o emprego assalariado formal cresceu mais do que o emprego assalariado sem carteira, tanto no comércio quanto nos serviços. 15,4% contra 3,3% neste último caso, e 18,6% contra 8,7% no primeiro. Por outras palavras, a grande maioria do emprego assalariado criado nos serviços e no comércio entre 1989 e 1995 era formal. A taxa de crescimento do emprego assalariado formal superou também a do emprego por contra própria, que nos serviços cresceu 13% e, no comércio, 12,6%. 12.Outro achado nessa mesma direção, tomando os demitidos da indústria de transformação em todo o país, pode ser encontrado em Caruso e Pero (1997). , e em que pese sua agregação com "outras atividades" por problemas de codificação (discutidos no anexo estatístico e metodológico), absorveram menos de 10% dos migrantes.

Em segundo lugar, os dados da PME nem de longe permitiriam suspeitar que o setor de material de transportes na RMSP (mas, como veremos daqui a pouco, também no Estado de São Paulo como um todo) é estruturalmente predatório em relação à sua força de trabalho, em especial o subsetor de autopeças (responsável pelo maior volume de emprego no início do período), mas também o segmento montador. É isto que as proporções de expulsão do setor formal (47% de todos os trabalhadores que passaram pelo setor em 1989) e do setor de material de transportes em particular (70% dos que tiveram algum vínculo ali em 1989) expressam.

Uma leitura apressada, ainda que informada pela literatura existente e pela hipótese central que guia esta análise, poderia levar o analista a atribuir a "predação" da força de trabalho apenas, ou principalmente, ao processo de reestruturação produtiva, nos moldes da reconversão tecnológica aludida na introdução, característica de revoluções industriais. Mas há evidências muito fortes de que isto é apenas parte da história, talvez a menor parte. Ora, segundo a RAIS, em dezembro de 1995 havia 35% menos empregos formais no segmento de material de transportes da RMSP do que em dezembro de 1989: 143.520 contra 219.827, respectivamente, isto é, foram fechados pouco mais de 76 mil postos formais de trabalho. Este dado contrasta fortemente com a constatação, já adiantada, de que mais de 70% dos trabalhadores, ou 184 mil pessoas do total de 263 mil que tiveram algum vínculo formal com o setor em 1989 na RMSP, perderam seus empregos no período, ao passo que metade, ou mais de 130 mil pessoas, foi excluída do setor formal. Por outras palavras, os postos de trabalho fechados no setor não explicam a expulsão dos enormes contingentes de trabalhadores que acabo de assinalar.

É conhecido de todos que o Brasil pratica as mais altas taxas de rotatividade do mundo, de 37% em média desde 1986 até 1995 (Cardoso, 1997; Amadeo e Camargo, 1996; Cacciamali e Pires, 1996; Montagner e Brandão, 1996; Macedo e Chahad, 1985). Este é um aspecto saliente do uso predatório da força de trabalho na economia brasileira, fortemente associado aos baixos salários (Baltar e Proni, 1996). Mas nas indústrias de material de transportes a rotatividade tem sido, em média, inferior a 20% desde 1986 ¾ bem menor do que a encontrada no país. Foi com base nessa informação que eu, dentre outros autores, fui levado a suspeitar que a reestruturação produtiva calcada em métodos japoneses de gestão estava contribuindo para reduzir o uso predatório da força de trabalho no setor, em especial nas montadoras (Cardoso, 1995; Arbix, 1996).

Pois tal suspeita era mero wishful thinking. Essa taxa de rotatividade esconde algo que não se sabia e que os dados analisados aqui ajudam a aclarar1211. É preciso assinalar que, ainda com base na PME-SP, o emprego assalariado formal cresceu mais do que o emprego assalariado sem carteira, tanto no comércio quanto nos serviços. 15,4% contra 3,3% neste último caso, e 18,6% contra 8,7% no primeiro. Por outras palavras, a grande maioria do emprego assalariado criado nos serviços e no comércio entre 1989 e 1995 era formal. A taxa de crescimento do emprego assalariado formal superou também a do emprego por contra própria, que nos serviços cresceu 13% e, no comércio, 12,6%. 12.Outro achado nessa mesma direção, tomando os demitidos da indústria de transformação em todo o país, pode ser encontrado em Caruso e Pero (1997). , isto é, que os trabalhadores de indústrias de material de transportes que perdem seus empregos dificilmente conseguem voltar ao setor ou mesmo ao segmento formal da economia. O desemprego significa, quase sempre, exclusão. A partir de 1989, o setor como um todo sangra mês a mês, vertendo trabalhadores rumo a outros setores e, principalmente, aos mares revoltos da informalidade ou do desemprego à impressionante taxa média mensal de 0,73 pontos percentuais. Isto significa que, até janeiro de 1999, provavelmente, todos os trabalhadores contratados dez anos antes terão perdido seu emprego e migrado para fora da economia formal ou para setores menos estruturados do que o industrial.

Os Gráficos 3 e 4 ajudam a tornar mais claro o que estou afirmando1313. Estes gráficos foram gerados no SPSS, por meio do procedimento "survival", que calcula a probabilidade de sobrevivência ou de transição de um evento a outro, dado o tempo transcorrido em determinado evento. As curvas retratam a probabilidade temporalmente dependente de permanecer empregado (Gráfico 3) ou de encontrar novo emprego formal (Gráfico 4) por parte daqueles que sofreram a sua primeira demissão entre 1989 e 1995. 14. Isto é, se o indivíduo teve mais de um vínculo formal no ano no setor, considerei apenas o primeiro deles. . O primeiro traz a probabilidade, variável no tempo até 1995, de sobrevivência no posto de trabalho por parte daqueles que tiveram um emprego em 1989 nas indústrias de material de transportes, segundo seus subsetores e considerando-se apenas o primeiro vínculo1413. Estes gráficos foram gerados no SPSS, por meio do procedimento "survival", que calcula a probabilidade de sobrevivência ou de transição de um evento a outro, dado o tempo transcorrido em determinado evento. As curvas retratam a probabilidade temporalmente dependente de permanecer empregado (Gráfico 3) ou de encontrar novo emprego formal (Gráfico 4) por parte daqueles que sofreram a sua primeira demissão entre 1989 e 1995. 14. Isto é, se o indivíduo teve mais de um vínculo formal no ano no setor, considerei apenas o primeiro deles. . Já o Gráfico 4 traz a probabilidade acumulada de retorno ao setor formal daqueles que foram demitidos (em qualquer tempo) do vínculo mantido em uma empresa do setor de material de transportes em 1989, também considerando-se apenas o primeiro vínculo.


Gráfico


Gráfico

RMSP, 1989-1995

Desde logo, salta aos olhos a maior estabilidade no emprego no segmento montador, por comparação com os outros dois subsetores. Ainda assim, as taxas mensais de "mortalidade de classe" giraram em torno de 1% ao mês até dezembro de 1994 (isto é, a probabilidade global de demissão dos que permaneceram empregados nas montadoras cresceu um ponto percentual em média a cada mês, razão por que a curva é sempre descendente), intensificando-se em 1995. A partir de janeiro desse ano a probabilidade de permanência no emprego caiu a médias mensais superiores a 2,5% (note que a curva se inclina mais intensamente para baixo). Como resultado, ao final do período um indivíduo empregado em 1989 tinha pouco mais de 50% de chances de ter sobrevivido em seu posto de trabalho. Algo bem diverso se passou com as fábricas de autopeças e outras indústrias de material de transportes, onde as probabilidades cumulativas de sobrevivência eram bem inferiores às das montadoras. Por apresentar taxas médias mensais de mortalidade bem mais altas (entre 2% e 3% no período), as chances de manutenção do emprego eram iguais ou inferiores a 20% em dezembro de 1995. Logo, boa parte da exclusão via demissões deve-se aos segmentos de apoio ao montador, mas as demissões neste último não podem ser menosprezadas.

O que dizer das probabilidades de retorno a um emprego formal? O Gráfico 4 talvez surpreenda o leitor, já que, se há diferenças segundo os subsetores, elas são muito pouco salientes. De modo geral, a perda do emprego veda o mercado formal de trabalho para mais da metade dos trabalhadores demitidos, não importa se de montadoras ou outro segmento da indústria em apreço. Note que, quanto mais passa o tempo, mais o setor formal estará fechado aos que dele foram expulsos.

Em suma, a maior parte perderá o emprego no curso de sete anos, e a maior parte dos que perderem não retornará a outro emprego formal no mesmo período. A hipótese original de trabalho confirma-se, então, de forma surpreendente: não apenas há um virtual fechamento do setor industrial aos egressos dos segmentos de material de transportes, como ainda é baixíssima a taxa de retorno a um emprego formal qualquer. A reduzida rotatividade setorial (inferior a 20% ao ano, em média desde 1989) e a perda de aproximadamente 70 mil postos de trabalho não permitiriam prever essas trajetórias excludentes, cujas conseqüências não devem ser desprezadas, seja na análise econômica da dinâmica do mercado de trabalho, seja na análise sociológica dos destinos empregatícios dos indivíduos. Vejamos algumas delas.

1 - As demissões no setor não decorrem, como suspeita a literatura sobre reestruturação produtiva (Cardoso, 1995; Castro, 1995; Arbix e Zilbovicius, 1997), apenas da redução líquida de postos de trabalho na indústria. É verdade que esta redução está ocorrendo, como vimos. Tanto a RAIS como a PME dão conta da destruição de cerca de 70 mil postos de trabalho no período. Mas isto não é suficiente para explicar os processos em curso, isto é, não estamos diante somente de redundância à inglesa1515. Isto é, desemprego tecnológico. 16. Ver Carvalho (1993); Ferro (1992); Castro (1994); Castro (1995); Cardoso (1995); e Posthuma (1994; 1995); e a recente coletânea de Arbix e Zilbovicius (1997), todos corroborando a precocidade da reestruturação setorial. . O que parece estar ocorrendo é a dilapidação pura e simples das habilidades e qualificações de contingentes inteiros de trabalhadores, regularmente substituídos por outros, o que lhes veda progressivamente acesso a um emprego formal. Não deixa de ser surpreendente que isto se dê no setor de ponta da economia brasileira, mais intensamente submetido à competição internacional e que, sabemos, deu início muito cedo à reestruturação organizacional baseada em métodos japoneses de gestão, vale dizer, programas de qualidade e produtividade em que a estabilidade no emprego é uma das condições para a garantia de lealdade e consentimento do trabalhador em relação aos objetivos empresariais1615. Isto é, desemprego tecnológico. 16. Ver Carvalho (1993); Ferro (1992); Castro (1994); Castro (1995); Cardoso (1995); e Posthuma (1994; 1995); e a recente coletânea de Arbix e Zilbovicius (1997), todos corroborando a precocidade da reestruturação setorial. . É bom frisar, isso ocorre mais intensamente no segmento de autopeças, mas é igualmente verdade para o subsetor montador, que empregava 29% dos trabalhadores do setor de material de transportes em 1989 (ou 110 mil pessoas) e apenas 16% em 1995 (60 mil pessoas), enquanto os postos de trabalho fechados não ultrapassaram a casa dos 16 mil, segundo a mesma RAIS.

Não há elementos para afirmar, categoricamente, que esta dilapidação se está dando por responsabilidade única dos empregadores. Entretanto, o fato de que o destino da maioria dos demitidos é a exclusão do setor formal da economia estará resultando, muito provavelmente, na perda de qualidade de emprego e vida. Segundo a PNAD de 1995, um assalariado formal recebia, em média, 2,06 vezes mais do que um assalariado informal (Cardoso, 1997:17). É muito pouco provável que os trabalhadores estejam trocando, voluntariamente, um emprego pelo outro. E Pero (1995) demonstrou que a migração do setor industrial para outro qualquer (comércio ou serviços, formal ou informal) representa, invariavelmente, perda de renda1717. Valéria Pero chega a estes resultados com base na PME-SP. Ela demonstra que, dos mais de 25% de trabalhadores industriais que migram para outros setores a cada ano entre 1989 e 1993, a grande maioria perde qualidade de emprego, medida em termos da renda. No caso da migração para os serviços pessoais a perda chega a mais de 30% de um ano a outro. 18. É claro que esta constatação exclui as vertentes taxonômicas da teoria das classes sociais, que utilizam o conceito de "estratificação social" de uma perspectiva predominantemente descritiva, como Breen e Rottman (1995). Mas estas vertentes não se põem o problema da transformação social, perdendo todo o interesse para o que se segue. . Pode-se supor, pois, que a maior parte da migração para fora do setor formal esteja ocorrendo contra a vontade do trabalhador, que não encontra sustento estável no mercado metalúrgico de força de trabalho.

2 - O setor caracteriza-se, então, por altíssimas taxas de mortalidade de classe, no seguinte sentido: ao perder um emprego, o metalúrgico tem grande probabilidade de deixar de sê-lo. Uma vez mais, é surpreendente que isto se dê no setor tido como típico de uma elite operária com sólida identidade de classe, sobre a qual o movimento sindical edificou sindicatos fortes (metalúrgicos de São Paulo e do ABC), duas poderosas centrais sindicais (CUT e Força Sindical) e um partido político (o PT). Se considerarmos que identidades sociais pouco estáveis não são bons terrenos para a construção de identidades coletivas sindicais ou políticas; e que a solidariedade de classe ou de categoria é tanto mais difícil de se construir e manter quanto menos os indivíduos se percebam compartilhando um destino comum, minimamente discernível a largo prazo, então os dados disponíveis sugerem que aqueles movimentos e instituições sociais se consolidaram e fortaleceram apesar da brutal fluidez de sua base de sustentação. Acrescente-se, ademais, que essa fluidez torna muito complexa a ação sindical. De um lado, porque os sindicalistas têm que estar constantemente reproduzindo a vontade de agir de seus representados, vontade de agir que é a fonte do poder sindical, isto é, necessita-se socializar os sempre novos entrantes no mercado de trabalho para a ação coletiva. De outro, há necessidade de reprodução constante de lideranças sindicais entre os novos membros da classe ou da categoria, de sorte a garantir a sobrevida da instituição.

3 - Ao perder o emprego, o metalúrgico tem grandes chances de perder a identidade de trabalhador com direitos, algo a que só o vínculo formal de trabalho faculta. O vínculo formal, como se sabe, é o passaporte para o mundo, por assim dizer, mais estável de direitos no Brasil (Werneck Vianna, 1976; Santos, 1979). Ele garante representação sindical e assegura que as relações de trabalho serão regidas por convenções coletivas, não apenas por contratos individuais entre patrão e empregado; tem na CLT e, em muitos casos, na Constituição Federal o escudo protetor contra arbitrariedades do empregador; minimamente, garante férias, 13º salário e um pecúlio na forma do FGTS. Em suma, o vínculo formal de trabalho traz o trabalhador à superfície da cena social, tornando-o protagonista de seu próprio destino, dando-lhe visibilidade pública e conferindo estabilidade à sua relação com o Estado via acesso regulado à legalidade imperante, a algo que poderia ser nomeado "mínimos civilizatórios" em termos de remuneração e direitos. A perda do emprego significa, para metade dos trabalhadores do setor, a exclusão pura e simples desse mundo estruturado dos direitos do trabalho e a inclusão, por contrapartida, no outro mundo do trabalho, aquele informalmente regulado, invisível do ponto de vista do Estado e suas instituições, provavelmente ainda mais predatório em relação à força de trabalho.

As conseqüências apenas aludidas não devem enganar. De um ponto de vista sociológico, o que está em causa são as condições estruturais de sustentação de identidades sociais e coletivas, condições em nada apreensíveis pelos dados disponíveis até hoje para análise do mercado de trabalho, como a PME ou a Pesquisa de Emprego e Desemprego ¾ PED. Nenhuma destas fontes de dados permite concluir que, no curso da vida produtiva de boa parte dos trabalhadores que em algum momento exerceram ocupação no setor de material de transportes paulista, curso aqui avaliado por apenas sete anos, o emprego industrial é um evento efêmero, transitório, mero ponto de fuga para outra condição ocupacional, em geral fora do setor formal da economia.

PADRÕES DE TRAJETÓRIA OCUPACIONAL

Mas tal não vale para todos indistintamente. Na verdade, o Gráfico 2 revelou que pouco mais de 23% dos trabalhadores encontraram algum emprego formal, principalmente em outras metalúrgicas (6,5% em dezembro de 1995) e em outras atividades (8%). E entre a permanência no mesmo emprego por todo o período e a expulsão do setor formal, há várias possibilidades de migração inter e intra-setorial. O que permite que alguns trabalhadores mantenham seus empregos? O que explica, ao contrário, que alguns sejam expulsos do setor formal? E onde buscar as causas das migrações "virtuosas" para outros segmentos desse mesmo setor formal? Há padrões recorrentes de trajetórias ocupacionais ou, ao contrário, os destinos empregatícios dos indivíduos são erráticos e aleatórios? A RAIS permite lançar alguma luz sobre o movimento de indivíduos no tempo, tendo em conta a heterogeneidade da força de trabalho, com o que podemos buscar algumas respostas. A isto me dedico daqui por diante, mas agora, e diferentemente da seção anterior, tomo como objeto o setor de material de transportes de todo o Estado de São Paulo, não apenas da RMSP. Para isto, alguns postulados são necessários.

Parece perfeitamente plausível supor que indivíduos tenham destinos sociais e empregatícios comuns, credores de características compartilhadas (endógenas e exógenas) que estabelecem os limites ou condicionam percursos ocupacionais no mercado de trabalho. Essas expectativas se alimentam, é claro, da tradição sociológica, em especial as teorias sobre classes e identidades de classe (características endógenas), de um lado, e sobre estrutura e dinâmica dos mercados de trabalho (características exógenas), de outro. Não há como ser outra coisa senão alusivo com respeito aos dois problemas, especialmente porque as teorias de classes compõem um dos terrenos mais movediços das ciências sociais desde o berço. A alusão, porém, permitirá um postulado lógico essencial à compreensão do procedimento metodológico adotado aqui.

Assim, será relativamente incontroverso afirmar que o recurso à idéia de classe social denota imediatamente a possibilidade de previsão de cursos de ação de coletivos em sociedade1817. Valéria Pero chega a estes resultados com base na PME-SP. Ela demonstra que, dos mais de 25% de trabalhadores industriais que migram para outros setores a cada ano entre 1989 e 1993, a grande maioria perde qualidade de emprego, medida em termos da renda. No caso da migração para os serviços pessoais a perda chega a mais de 30% de um ano a outro. 18. É claro que esta constatação exclui as vertentes taxonômicas da teoria das classes sociais, que utilizam o conceito de "estratificação social" de uma perspectiva predominantemente descritiva, como Breen e Rottman (1995). Mas estas vertentes não se põem o problema da transformação social, perdendo todo o interesse para o que se segue. . Quando Marx vê na separação entre proprietários e não proprietários dos meios de produção a divisão essencial operada pelo capitalismo, não está apenas descrevendo um processo, mas fundando as bases das transformações sociais por vir, mercê da contradição que aquela divisão instaura nas relações sociais e econômicas. Não por acaso, também, Weber conceitua a classe social como um lugar na estrutura de distribuição de recursos econômicos que é, ao mesmo tempo, um "componente causal de oportunidades de vida". E o "habitus" em Bourdieu é uma predisposição para a ação compartilhada por indivíduos de uma mesma classe social. Nos três paradigmas mais importantes das teorias das classes sociais, pois, se estas são pensadas como momentos constitutivos da estrutura social, o aspecto realmente relevante tem a ver com a possibilidade de antecipar ou prever ações e movimentos coletivos. Embora pareça trivial, o pressuposto epistemológico não explicitado das teorias das classes sociais é o de que as ações humanas não apenas não são aleatórias, como ainda resultam de causas identificáveis.

Dá-se coisa semelhante no que respeita à estrutura do mercado de força de trabalho. As teorias macro e microeconômicas encontram determinantes ora exógenos, como as políticas públicas diretas (estímulo ao treinamento profissional) ou indiretas (regulação do câmbio ou da taxa de juros), ora endógenos (como as estratégias de empregados e empregadores) ao funcionamento daquele mercado, mas a confiança na possibilidade de previsão de seus movimentos é inabalável, em qualquer caso. E, tendo-se em conta determinantes alheios ou não aos agentes econômicos (isto é, às classes sociais), do ponto de vista da força de trabalho a configuração do mercado de trabalho pode ser tomada como uma estrutura relativamente estável ou, no mínimo, previsível de oportunidades de emprego e renda, que restringe as opções possíveis.

Isto posto, o que importa para a análise que se segue é que, se o analista dificilmente pode ter em devida conta o leque total de alternativas de ação abertas aos indivíduos e às classes sociais, certamente pode postular sua limitação e, em termos lógicos, esperar que indivíduos e classes compartilhem destinos sociais e empregatícios no tempo, justamente porque as alternativas são limitadas e os limites não estão aleatoriamente distribuídos, isto é, não são os mesmos para todos. Sobretudo, é possível esperar que a heterogeneidade de determinantes micro e macro resulte em trajetórias ocupacionais também heterogêneas, porém compartilhadas por grupos inteiros de pessoas. O que estou propondo aqui, portanto, é que o leitor aceite como um postulado a possibilidade lógica de correspondência de destinos ocupacionais, com o que evito entrar em largas discussões conceituais sobre estrutura, ação estratégica e classe social, que tomariam muito tempo e nos desviariam do curso principal deste trabalho1919. Porém, a literatura sobre trajetórias ocupacionais agregadas é vasta e pode, sozinha, sustentar as afirmações que acabo de formular. Ver Cardoso e Castro (1998). 20. Para os padrões do setor, ter menos de mil empregados obriga que se as classifique, no mínimo, como empresas "não-grandes". .

Pois bem, em todo o Estado de São Paulo, pouco mais de 383 mil indivíduos passaram pelo setor de material de transportes no ano de 1989. Note-se que não se trata de 383 mil indivíduos empregados todo o ano, mas sim de 383 mil indivíduos que, em algum momento, tiveram um vínculo formal qualquer ali em 1989. Suas trajetórias intra e intersetoriais no tempo (até 1995) podem ser apreendidas pela observação do Gráfico 5, cuja distribuição é quase perfeitamente coincidente com a dos trabalhadores da Grande São Paulo, razão pela qual não será comentado aqui.


Gráfico

Desse universo, sorteei uma amostra aleatória de 5% (destinada unicamente a facilitar a manipulação em microcomputador, depois projetada para a população) e a submeti a um algoritmo de classificação das trajetórias individuais apenas recentemente desenvolvido por estudiosos do mercado de trabalho (Degenne, Lebeaux e Mounier, 1996). Esse algoritmo, embora complexo em seus pressupostos, é simples quanto aos procedimentos e tem dupla natureza. Primeiro, as 84 variáveis que compõem a base de dados, correspondentes ao ramo de atividade de lotação dos indivíduos nos meses em que foram observados entre 1989 e 1995 (sendo cada mês uma variável), foram submetidas a uma análise fatorial de correspondência múltipla com objetivo de encontrar recorrências nas seqüências de eventos (ver, também, Barbary, 1996). Foram selecionados dez eixos fatoriais e os indivíduos nesse espaço foram submetidos, na segunda etapa, a procedimentos de classificação hierárquica arborescente (do tipo cluster analysis). O procedimento estatístico encontra correspondência nas expectativas teóricas já aludidas, e de fato foi capaz de agregar seqüências de eventos de forma significativa, gerando classes ou padrões de trajetória de grande interesse descritivo e analítico. São estas classes que passo a analisar.

AS CLASSES

A Classe 1, maior entre as geradas pela análise estatística, agrega 1/3 da população (ver última linha da Tabela 2, no anexo estatístico e metodológico, para os totais em cada classe) e, nitidamente, retrata trajetórias de exclusão não apenas do segmento de material de transportes, mas também do setor formal da economia como um todo. Já no fim de 1991, 60% desses trabalhadores estavam fora do sistema RAIS, percentual que chegou a quase 90% em janeiro de 1993, voltando à casa dos 80% ao final do período. Uma pequena proporção conseguiu emprego em outros setores da economia, tendo como destino mais comum a própria indústria, se bem que quase 9% tinham encontrado emprego no setor de serviços e em outras atividades não industriais em 1995.

É interessante assinalar que, em média, esses trabalhadores tiveram 2,5 vínculos formais no período (Tabela 2). Mas a média esconde o fato relevante de que 44% dos membros da classe tiveram não mais do que um vínculo empregatício formal. Apenas pouco mais de 21% tiveram dois vínculos, e 36% mais de dois. Isto quer dizer que, de forma geral, uma vez demitido o trabalhador, seu destino mais provável é a exclusão do setor formal. Mas caso encontre outro emprego, o indivíduo terá mais chances de ser demitido do que permanecer ali, isto é, os que conseguem permanecer formalmente empregados "rodam" muito entre os empregos. Quase metade dos indivíduos dessa classe que tinham conseguido sobreviver no mercado formal de trabalho em 1995, teve quatro ou mais vínculos empregatícios de 1989 até ali.

Avaliando os indicadores para o primeiro vínculo formal nas indústrias de material de transportes em 1989, apresentados na Tabela 2, descobri que esses indivíduos estavam, em sua maioria, há menos de quarenta meses no emprego. Na verdade, o tempo médio de permanência era de pouco mais de 56 meses. Do total, apenas 8% tinham mais de 50 anos de idade em 1989, o que os credenciava à aposentadoria, e permite afirmar compor-se esta classe de indivíduos ainda em idade ativa que, com o passar do tempo, foram perdendo em curto espaço de tempo poder de barganha no mercado formal de trabalho, tornando cada vez menos provável um novo emprego ou, nas poucas vezes em que conseguiram novo emprego, isto se deu fora do setor de material de transportes.

Ainda pela Tabela 2, é possível ver que se distribuíam igualmente entre empresas grandes e "pequenas"2019. Porém, a literatura sobre trajetórias ocupacionais agregadas é vasta e pode, sozinha, sustentar as afirmações que acabo de formular. Ver Cardoso e Castro (1998). 20. Para os padrões do setor, ter menos de mil empregados obriga que se as classifique, no mínimo, como empresas "não-grandes". , padrão pouco usual nas demais classes, que tendem a concentrar trabalhadores em um ou outro tipo de empresa. Em termos típicos, os membros dessa classe tinham, em sua maioria, 30 anos ou mais de idade, escolaridade inferior à 8ª série, e 57% deles recebiam salários abaixo da mediana. Ademais, eram em sua maioria homens, mas a participação do sexo feminino era superior a todas as outras classes e também à média da população analisada. A distribuição geográfica correspondia, grosso modo, à distribuição global, e chama a atenção o fato de que o perfil ocupacional era rigorosamente equivalente ao da população total analisada. Finalmente, trata-se em sua maioria de operários que, no início, tiveram ocupação típica da indústria metalúrgica.

Classe

Fonte: RAIS/MTb-Codefat, tabulações especiais. N=6.039.

As informações disponíveis, em especial a comparação com as outras classes, não permitem construir explicações seguras sobre as razões da exclusão desse contingente de trabalhadores do setor formal da economia. Mas se tomarmos as classes de 2 a 5 como parâmetro, aquelas que agrupam pessoas que tiveram trajetórias "virtuosas", encontrando emprego em setores não-metalúrgicos no correr do tempo, saltam aos olhos a renda superior dos membros da classe 1 no primeiro vínculo, a idade mais elevada, maior presença de trabalhadores do segmento montador e, conseqüentemente, de empresas com mil empregados ou mais, e o maior tempo de emprego no vínculo inicial. Em média tinham estado empregados por 4,6 anos ou mais em 1989. Eram trabalhadores, no mínimo, especializados, senhores de um saber prático adquirido na lida cotidiana extensa temporalmente, comparativamente às classes de 2 a 5. Tudo isto sugere ser esta classe composta, ao menos em parte, por trabalhadores tornados redundantes em face da reestruturação produtiva e como tal a designarei aqui. O curioso, e que merece ser marcado, é que o tempo no emprego anterior parece estar contribuindo para limitar as possibilidades de acesso desses trabalhadores a outros postos de trabalho, uma vez demitidos. Voltarei a isto adiante.

Embora a transição para fora do setor formal da economia seja o caminho mais provável dos que perdem seus empregos, já foi visto que parte importante volta a ele, quase sempre em outro setor que não o de material de transportes. As classes de 2 a 5 retratam justamente esses indivíduos, isto é, os que lograram trajetórias "virtuosas" do ponto de vista do emprego formal. Podem-se adiantar algumas observações mais gerais sobre esse contingente de trabalhadores.

Em primeiro lugar, essas classes, não obstante a diversidade de destinos, apresentam grande semelhança nos padrões de migração, em termos da seqüência de saída de um e entrada em outro setor. Em segundo, em todos os casos, pelo menos a metade teve quatro vínculos ou mais no decorrer da trajetória. Nas classes 2 e 3 esse valor atinge ou se aproxima dos 60%, indicando altas taxas de rotatividade. Há reemprego, mas o novo vínculo quase nunca é estável. Em terceiro lugar, repare na curva do segmento "fora do sistema" nessas quatro classes. Sua participação é quase nunca inferior a 20% nas de números 2 e 3, e raramente inferior a 15% nas de números 4 e 5. Os anos de recessão de 1990 a 1992 apresentam as maiores taxas de exclusão do setor formal, com os trabalhadores retornando gradativamente ao sistema RAIS a partir de então até o final de 1994, para uma vez mais voltarem a ser demitidos durante o ano de 1995. Os novos vínculos são sempre precários, pois. Por último, o timing de exclusão do setor de material de transportes é muito semelhante, com a crise de 1990-1992 representando nítido divisor de águas excludente. Entretanto, embora os trabalhadores transitem muito entre os empregos, em cada classe há uma certa estabilidade da "opção" setorial de destino, uma vez ocorrida a exclusão das indústrias de material de transportes. Nitidamente, os trabalhadores mudaram de ramo da economia, e rodam muito nos empregos do novo ramo.

Classe

Fonte: RAIS/MTb-Codefat, tabulações especiais. N=486.

Classe

Fonte: RAIS/MTb-Codefat, tabulações especiais. N=459.

Classe


Transição para Indústrias Tradicionais

Fonte: RAIS/MTb-Codefat, tabulações especiais. N=395.

Classe

Fonte: RAIS/MTb-Codefat, tabulações especiais. N=1627.

As semelhanças não param por aí. As características demográficas dos trabalhadores eram muito próximas, de modo geral (Tabela 2). As empresas de origem eram em sua maioria "pequenas" (com exceção da classe 5, de distribuição mais igualitária neste pormenor). Porcentagem expressiva (60% ou mais) estava empregada há menos tempo que a mediana (40 meses). As mulheres estavam em maior proporção do que a média da população. Em torno de um terço dos indivíduos teve seu primeiro emprego na cidade de São Paulo, participação só igualada pela classe 6, analisada em seguida. Em torno de um terço tinha sido admitido no setor de material de transportes no próprio ano de 1989. Logo, eram "neófitos" no setor. De maneira correlata, a participação de jovens (com 29 anos ou menos) era expressivamente superior às outras classes. E com exceção da classe 8, todas as quatro classes em tela (2, 3, 4 e 5) tinham taxas menores de participação de operários em ocupações típicas da indústria metalúrgica, sendo maior a participação de outras ocupações de produção.

No campo das divergências, chama a atenção a disparidade de escolaridade entre as duas classes de transição para setores industriais (3 e 4) e as outras duas, que retratam a transição para setores do terciário. Nos dois casos, a maioria tinha não mais que ginásio incompleto, mas entre as transições que preservam a condição operária a proporção era significativamente superior: quase 70% na classe 3, de migrantes para "outras atividades industriais", e 63% na de migrantes para indústrias tradicionais, contra 59% dos migrantes para o comércio e significativos 57% dos migrantes para os serviços. Migrar para o terciário, ademais, tinha sua probabilidade aumentada se o trabalhador exercia profissões não tipicamente operárias. As ocupações de escritório tinham nas classes 2 e 5 sua maior participação relativa, 19% e 14%, respectivamente, assim como, excetuando-se a classe 8, era menor a incidência de ocupações tipicamente metalúrgicas do que em qualquer outra classe. Finalmente, as montadoras estavam presentes em maior proporção nessas duas classes (2 e 5) do que nas de números 3 e 4. Migrar para o terciário uma vez perdido o emprego, pois, parece mais provável se o trabalhador é mais escolarizado, menos tipicamente metalúrgico e mais jovem, enquanto a migração para outro setor industrial é mais comum entre trabalhadores com identidade mais nitidamente operária, provenientes de empresas maiores e com pouco tempo de emprego.

Olhando mais detidamente os que migraram para o setor de serviços (classe 5), nota-se que eles eram, em média, um pouco melhor remunerados do que os demais no início, estavam no emprego há um pouco mais de tempo e provinham de empresas algo maiores, além de serem mais escolarizados do que os membros das outras três classes. Tinham, no ponto de partida e em termos médios, melhor qualidade de emprego do que os demais, em especial os que migraram para o comércio. E ao menos se medida em termos de renda, a migração para os serviços preservou a qualidade do emprego desses trabalhadores por comparação com os demais. A relação entre a renda da classe 5 e da classe 4 em 1989 era de 1,08, mantida idêntica em 1995 (Tabela 1 )2121. Para se chegar a estes valores, basta dividir a renda da classe 5 em 1989 pela da classe 4 no mesmo ano, obtendo-se a primeira relação. Faz-se o mesmo para 1995 e comparam-se as duas proporções. A diferença entre as proporções representa o ganho relativo de uma classe em comparação com a outra. . Em relação à classe 3, era de 1,09 e 1,34, respectivamente, ganho relativo substancial, superior ao conseguido por comparação com a classe 2, cuja relação foi de 1,17 em 1989 e 1,28 em 1995. Por outras palavras, trajetórias migratórias que redundam em empregos nos serviços, ainda que precários devido às altas taxas de rotatividade, expressas na grande quantidade de vínculos mantidos pelos indivíduos no tempo, permitem aos trabalhadores que as vivenciam manter sua posição relativa favorável por comparação com as trajetórias migratórias para o comércio, para outras indústrias ou para indústrias tradicionais. Trata-se de trajetórias "virtuosas" desse ponto de vista. Voltarei a isto.

Indicadores de renda Classes 123456789Renda média em 1989 (*)548,67458,43492,68496,29539,06641,70592,77606,11707,84Desvio padrão543,17432,60482,01575,22578,99600,53504,34538,13477,72Renda média em 1995 (*)619,53746,08717,31882,92957,671124,331353,301367,262005,10Desvio padrão592,76751,77597,07778,261137,32965,961026,901121,351258,291995/19891,131,631,461,781,781,752,282,262,83Fonte: RAIS/MTb-Codefat.(*) Em dólares de outubro de 1996.22

Tabela

A classe 6, ainda que apresente padrão migratório muito semelhante ao das quatro que acabo de analisar, e muito próximo ao da classe 5 em especial (maior estabilidade nas proporções a partir de 1992 e timing relativamente equivalente de saída dos subsetores de material de transportes e entrada em outro emprego formal), merece um rápido comentário em separado, posto terem os trabalhadores encontrado emprego em outras indústrias metalúrgicas. Trata-se de classe com a maior concentração de homens dentre as que agregam trabalhadores migrantes, com proporção maior de operários de produção em ocupações típicas da indústria metalúrgica no emprego de origem. É muito alta a concentração inicial no setor de autopeças, na verdade a segunda maior entre as trajetórias de migrantes. É importante perceber que o perfil escolar desses trabalhadores é equivalente ao dos que migraram para os serviços, com proporção maior de pessoas com ginásio completo do que as outras trajetórias intersetoriais da indústria (classes 2 e 3), representando uma diferença digna de nota à qual voltarei. E aqui, como nas quatro classes discutidas antes, há forte concentração no município de São Paulo, que se revela lugar privilegiado de oportunidades para o emprego formal, em setores industriais ou não.

Classe

Fonte: RAIS/MTb-Codefat, tabulações especiais. N=986.

Três comentários são essenciais aqui. Em primeiro lugar, todas as trajetórias de expulsão do setor de material de transportes, sem exceção (classes 1 a 6), têm em comum um tempo menor de experiência no emprego no início do período, se comparadas às classes 7 a 9. O tempo de emprego deve ser tomado como medida da qualificação dos indivíduos, pelo que ele implica em termos de possibilidade de aprimoramento de habilidades e de trânsito entre diferentes funções, em especial no trabalho reestruturado e multifuncional, crescentemente a marca do setor de material de transportes. Ao que parece, aquele tempo está funcionando como um bem, como um ativo tanto para o trabalhador quanto para as empresas.

De fato, do ponto de vista destas, manter o trabalhador no posto de trabalho significa investimento em recursos humanos, gasto efetivo de "capital" na forma de qualificação do trabalhador para a tarefa e para a cultura da empresa. Por conseqüência, demitir tem o sentido oposto, de perda de capital, algo tanto mais importante quanto maior o tempo de emprego. Ademais, os custos de demissão crescem na proporção direta do tempo que o trabalhador permanece empregado, em razão da multa de 40% sobre o FGTS e das possíveis conquistas sindicais em favor de um trabalhador há muito empregado, na forma de prêmios de demissão. Há, pois, fortes incentivos para que as empresas o retenham, de sorte que a probabilidade de demissão é inversamente proporcional ao tempo de emprego. Já do ponto de vista do trabalhador, a manutenção do emprego é um interesse em si mesmo em situação de mercado de trabalho instável, como o mercado automobilístico nos anos 90. Como discutido em outro texto (Cardoso, 1997), é muito pouco provável que um trabalhador se submeta voluntariamente às incertezas desse mercado, em razão do risco de não encontrar outro emprego e do caráter precário do emprego informal.

Em segundo lugar, nas trajetórias de expulsão do setor de material de transportes, quanto menor o tempo anterior de emprego, maiores as chances de o trabalhador encontrar um outro emprego formal. A Tabela 2 não mostra, mas esta chance é tanto maior quanto mais jovem o trabalhador. Este achado não deixa de ser surpreendente, e pode estar indicando que a experiência anterior de trabalho, se é longa o suficiente para especializar o trabalhador e para "envelhecê-lo", funciona como uma espécie de condenação, como um estigma no mercado de trabalho quando este setor deixa de oferecer vagas e passa a desempregar. Hipótese plausível parece ser a de que uma experiência menor de trabalho não estigmatiza o trabalhador como um especialista, habilitando-o ao aprendizado de uma nova função em um novo emprego formal, possibilidade quase sempre associada à juventude, em especial se esse emprego ocorre em outro ramo que não o de origem. O problema da reconversão profissional, portanto, coloca-se mais intensamente para trabalhadores aí pela metade de sua vida produtiva do que para os mais jovens.

Finalmente, neste, como na maioria dos outros casos, e de maneira também surpreendente, a escolaridade inicial faz muito pouca diferença. O termo "qualificação" parece estar associado, antes de tudo, à experiência anterior de trabalho, e quanto mais qualificado o trabalhador, neste sentido preciso, menores as chances de que ele volte ao mercado formal de trabalho uma vez demitido (ver Tabela 2).

As três últimas classes de trajetória constituem-se dos trabalhadores que permaneceram em seus empregos durante praticamente todo o período. Trata-se, precisamente, do "núcleo duro" do mercado de trabalho no setor. Gente que, ao final de 1989, estava quase toda empregada, e apenas em 1993 uma parte começa a deixar seus empregos nas montadoras, nas indústrias de autopeças e outras indústrias do segmento de material de transportes, em direção à exclusão do setor formal.

Seus indicadores demográficos eram bastante mais favoráveis do que os das outras classes, se bem que melhorassem em um crescendo do segmento denominado "outros" (classe 7) para o montador (classe 9), passando pelo de autopeças (classe 8). Tratava-se, no geral e na ocupação de origem no setor, de trabalhadores melhor remunerados do que os das outras classes, em especial no segmento montador (70% acima da mediana). Em 1989, estavam no mesmo emprego há mais de 40 meses (56% no caso dos "outros", e 72% no das montadoras), com média acima de 67 meses, muito superior à das outras classes. Tinham, em sua imensa maioria, mais de 30 anos de idade, e no segmento montador, perto de um terço tinha mais de 40 anos em 1989. Trabalhavam majoritariamente em empresas de mais de mil empregados, com exceção dos empregados em "outros setores de material de transportes", distribuídos igualmente por empresas grandes e pequenas.

A distribuição geográfica pelo Estado de São Paulo, como era de se esperar, reflete a estrutura do mercado de trabalho setorial, com a classe 9 (montadoras) concentrando-se em São Bernardo do Campo (57,5%) e a classe 8 em "outros municípios" fora da influência da região metropolitana de São Paulo, região que, ao contrário, agrega a imensa maioria dos empregados em indústrias de autopeças (classe 7). São Paulo, São Bernardo, Diadema e Santo André davam emprego a quase metade desses trabalhadores.

É interessante notar que as classes 7 e 9 apresentavam as maiores taxas de participação de ocupações típicas da indústria metalúrgica (superior a 60%) e as menores taxas de participação de ocupações de escritório (6,4% no caso dos trabalhadores em montadoras que não perderam seu emprego), o que pode estar contribuindo para explicar a baixa participação relativa das mulheres, de apenas 4% nas montadoras, por exemplo. Finalmente, pela Tabela , percebemos que esses trabalhadores estavam em melhores condições de renda do que os que migraram para outros setores da economia no período. Tomando-se os que migraram para os serviços, por exemplo, em 1989, para alcançar a renda dos membros da classe 9, os da classe 5 tinham que multiplicar a sua por 1,31. Em 1995, para que a renda dos que migraram fosse equivalente à dos que permaneceram, ela tinha que ser multiplicada por 2,10, um ganho relativo de 60% logrado pelos que permaneceram no segmento montador.

É curioso que os trabalhadores que "resistiram" fossem também os que tinham as maiores taxas de permanência no emprego no início do período. Este fato, por si só, diz muito sobre o caráter da reestruturação produtiva em curso na indústria automobilística. Dois aspectos merecem destaque: em primeiro lugar, ela está sendo sustentada e realizada por trabalhadores com larga experiência no emprego. Isto é, se a adoção de novos métodos de gestão se está generalizando no setor (como demonstram os vários estudos em Arbix e Zilbovicius, 1997), e se um terço da força de trabalho empregada permaneceu no emprego, então é plausível imaginar que são esses antigos trabalhadores o esteio da introdução de inovações organizacionais, de um lado, e de implementação das novas tecnologias de base microeletrônica, de outro. Nesse quadro, sua baixa escolaridade inicial é um fator surpreendente, diante da constatação de que tais métodos são tanto mais produtivos quanto mais escolarizada a força de trabalho (Camargo, 1996; Gitahy, 1994). Mais surpreendente, porém, é o fato de que, em sete anos, tomados em seu conjunto, apenas 27% dos trabalhadores do setor de material de transportes melhoraram seu perfil escolar, de sorte que 48% tinham 8ª série completa ou mais de estudos em dezembro de 1995. Por outros termos, a escolaridade não parece um empecilho de monta ao aprendizado de métodos tão importantes quanto o trabalho em células de produção, o controle estatístico de processo ou os programas de melhoria contínua, todos eles demandantes de aspectos cognitivos e comunicativos dos trabalhadores em uma dimensão, supõe-se, incompatível com baixos níveis escolares. Neste como noutros casos relevantes, a qualificação no trabalho parece ser o que melhor qualifica para a renovação do próprio trabalho (Caruso, 1996).

Em segundo lugar, Comin, Cardoso e Campos (1997) mostraram que a base de apoio do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo compõe-se de trabalhadores com mais de 30 anos de idade, há muito tempo no mesmo emprego, mais qualificados, de produção e com grau de escolaridade entre o ginásio e o colegial completos. Estes trabalhadores têm perfil idêntico ao daqueles que compõem a classe 9 e, em parte, a classe 7. Por outros termos, os sindicatos de trabalhadores, em especial em São Bernardo do Campo, área de concentração da classe 9, parecem estar conseguindo o fechamento do mercado de trabalho para seu núcleo mais importante de sustentação. Esta simples constatação torna plausível supor que as empresas não estão conseguindo quebrar a espinha dorsal do movimento sindical regional, condição para uma reestruturação produtiva rápida e unilateralmente decidida. A negociação de cada etapa da reestruturação, aspecto detectado em diferentes momentos por Bresciani (1991), Salerno (1993) e Cardoso (1995), transparece no plano agregado de comportamento do mercado de trabalho regional, na forma das classes 7 e 9, principalmente.

Em terceiro lugar, e correlato aos dois pontos anteriores, se o mercado de trabalho setorial dilapida e preda sua força de trabalho, isso não vale para todos indistintamente. O que distingue os estáveis é um emprego melhor remunerado e, aparentemente, qualificante. Este é, parece, o verdadeiro núcleo duro do mercado de trabalho automobilístico, cativo, tipicamente, de trabalhadores qualificados sustentados por sindicatos fortes.

Classe

Fonte: RAIS/MTb-Codefat, tabulações especiais. N=3.384.

Classe

Fonte: RAIS/MTb-Codefat, tabulações especiais. N=1.693.

Classe

Fonte: RAIS/MTb-Codefat, tabulações especiais. N=3.702.

CONCLUSÃO

A análise comprova a hipótese central que a orientou: a perda do emprego em uma indústria de material de transportes é garantia de exclusão do setor para mais de 80% dos trabalhadores migrantes que passaram por ali em 1989. Isto sugere que as demissões estarão refletindo, no plano mais agregado, os movimentos de reestruturação sistêmica em curso no complexo automobilístico apontados pela literatura pertinente. Entretanto, a destruição de postos de trabalho no período (em torno de 25% em todo o Estado de São Paulo) é insuficiente para dar conta do fato de que mais de 70% da força de trabalho foi demitida entre uma ponta e outra da janela temporal avaliada. Ao que parece, há algo mais do que reestruturação produtiva em jogo.

Dizendo de uma vez, o trabalho industrial no setor de material de transportes, com exceção do núcleo duro das montadoras de automóveis, das empresas de autopeças e de parte dos demais segmentos, é efêmero, um ponto de passagem, uma situação transitiva para um vasto contingente de trabalhadores que, a rigor, não têm sequer tempo para consolidar uma profissão. Este aspecto é essencial e requer alguns comentários adicionais:

a) tudo sugere a inexistência de mercado externo secundário de força de trabalho setorial. Se o setor demite mais de 20% de seu efetivo a cada ano, em média desde 1989 até 1995; e se o trabalhador demitido no curso de políticas de rotatividade dificilmente encontra outro emprego em indústrias de material de transportes (apenas 22% dos demitidos em 1989 encontraram emprego em 1990 no setor e, em 1995, apenas 17% ainda continuavam empregados ali), então é possível esperar que as contratações na franja do mercado de trabalho se dão em favor de trabalhadores que nunca tiveram experiência de trabalho nessas indústrias. Não se trata de mercado secundário setorial, pois. Está-se mais próximo do conceito clássico de exército industrial de reserva, posto que essa indústria seleciona os empregados que predará, via rotatividade, de uma oferta abundante não ou semiqualificada de trabalhadores "generalistas". Não o trabalhador generalista dos processos multiqualificantes e multifuncionais de trabalho, mas o trabalhador generalista de baixa ou nenhuma qualificação;

b) o destino da grande maioria que perde seu emprego nas indústrias de material de transportes é a exclusão do mercado formal de trabalho, talvez o desemprego. Isto é tanto mais verdadeiro quanto mais o indivíduo seja um operário típico. As mulheres operárias ainda conseguem localizar-se em indústrias químicas e, mais raramente, têxteis ou tradicionais, enquanto entre os homens o destino possível, mas pouco comum, são as outras indústrias metalúrgicas. O trabalho operário é efêmero e instável no setor de material de transportes, e não serve de ponte a outros setores industriais. Ao contrário, parece vedar-lhes o acesso;

c) a fluidez de classe é um achado comum aos estudos de trajetórias ocupacionais em países industrializados, aspecto de que Featherman, Salbee e Mayer (1989) é um bom exemplo: ao longo da vida produtiva, os trabalhadores transitam de ocupações manuais para ocupações não manuais, de ocupações na produção para ocupações nos serviços etc. A classe social, definida no texto acima citado em termos da posição das pessoas em uma escala social de prestígio e poder (Goldthorpe e Hope, 1972), é fluida do ponto de vista do indivíduo que a vivencia. Isto é ainda mais verdadeiro no caso de países periféricos de industrialização tardia e poupadora de força de trabalho (como em Parodi, 1986, para o Peru; Pries, 1992, para o México; e Dombois, 1997, para a Colômbia). O caráter transitivo do emprego nas indústrias de material de transportes não devia surpreender. A surpresa está em que este setor se reestruturou muito cedo no Brasil, adotando desde logo receituário japonês de "produção enxuta". Como se sabe, este receituário é altamente sensível a interrupções no processo de produção, principalmente porque se trabalha com reduzidos estoques entre as diversas etapas, fortemente interdependentes e operando em ritmo cadenciado. A confiança no operário, a quem se transfere boa parte da responsabilidade por produzir qualidade na fonte, e a disposição voluntária deste em responder adequada e produtivamente aos objetivos da empresa, é a base de todo o sistema (Jones, 1991). Confiança e consentimento não são adequadamente consolidados e reproduzidos em mercados instáveis de força de trabalho, com o que as empresas procuram estabilizar seu efetivo. Daí ser surpreendente tanto a taxa setorial de rotatividade, girando em torno de 20% ao ano em média, quanto a taxa de mortalidade de classe, expressa na expulsão reiterada da maioria desse contingente do mercado de trabalho formal. Mas há outras conclusões importantes a assinalar:

1 - de modo geral, a possibilidade de retorno ao setor formal depois de uma demissão está restrita, tipicamente, aos trabalhadores com pouco tempo de experiência no emprego anterior e alguma escolaridade formal. A probabilidade de que isto ocorra é maior para os trabalhadores da região de São Paulo, Osasco e Guarulhos, que se configura como um mercado de trabalho mais diversificado e de oportunidades efetivas de emprego formal. O ABC paulista, ao contrário, com mercado de trabalho de corte mais especializado, veda mais intensamente um novo emprego aos trabalhadores pouco ou nada qualificados. Em qualquer caso, porém, os trabalhadores têm que se reciclar caso desejem um novo posto formal de trabalho, e apenas o reemprego nos serviços permite a manutenção da qualidade do emprego tal como medida pela renda;

2 - a experiência no emprego tem duplo efeito nesse mercado de trabalho: de um lado, torna difícil a demissão do trabalhador mais experiente mas, de outro, se a demissão ocorre, dificilmente esse trabalhador encontrará outro emprego formal, em qualquer setor de atividade. A profissionalização decorrente da experiência no emprego parece estar funcionando ao mesmo tempo como um recurso importante de poder na barganha pela manutenção no posto de trabalho, e como um estigma se o trabalhador é demitido. É provável que uma parte destes se estará instalando por conta própria, dado o pecúlio decorrente do contrato de rescisão. Outra parte, provavelmente, tem condições de esperar por um emprego melhor em que possa continuar exercendo a qualificação acumulada no tempo. Uma outra parte estará sendo recusada pelas empresas devido justamente à profissão ou, mais provável, à idade. O certo é que a demissão, nesses casos, é sinônimo de exclusão do mundo dos direitos do trabalho formal;

3 - a reestruturação produtiva está sendo levada a efeito pelos trabalhadores mais experientes que, nesta medida, muito provavelmente estão sendo requalificados no próprio trabalho. Em Cardoso (1995) já se havia identificado movimentos nessa direção por parte de duas montadoras de automóveis, algo que Arbix (1996) também encontrou em outras plantas. Ao que parece, a tendência é mais geral do que seria de se supor dada a intensidade da reestruturação setorial. Isto pode ter relação tanto com a resistência empresarial a perder seu investimento pretérito em capital humano quanto com a capacidade de os sindicatos fecharem o mercado de trabalho ao seu núcleo duro de sustentação.

Finalmente, esses achados, porque internamente consistentes e estatisticamente significativos, vêm confirmar o potencial analítico da RAIS como fonte para a investigação de trajetórias ocupacionais no mercado formal de trabalho no Brasil, outro objetivo central deste estudo. De modo geral, apesar de problemas na origem dos dados (decorrentes principalmente da falta de controle na fonte, algo incontornável do ponto de vista de seus objetivos; e da impossibilidade de rastreamento preciso do nascimento e morte de empresas), a base de dados é bastante consistente e passível de manipulação estatística robusta, visando à compreensão de processos de larga duração.

(Recebido para publicação em julho de 1998)

NOTAS:

2

. Como mostraram, no caso da indústria automobilística, Comin (1994), Cardoso (1995) e Gitahy e Bresciani (1998), dentre outros.

22

. A renda média foi calculada tomando-se o valor médio em número de salários mínimos, multiplicado pelo valor médio real do salário mínimo em dólares de agosto de 1996. Trata-se de aproximação grosseira à renda real, mas suficiente para comparações entre estratos em um mesmo ano.

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Anexo Estatístico e Metodológico

A RAIS foi instituída por decreto em dezembro de 1975, com o objetivo de "suprir as necessidades de controle, estatística e informações das entidades governamentais" (Ministério do Trabalho, 1996:11). Desde então coleta, anualmente, informações sobre empresas e seus trabalhadores, cobrindo, supõe-se, mais de 95% do mercado formal de trabalho brasileiro, incluindo o setor público.

A base de dados apresenta algumas limitações quanto à origem, das quais eu destacaria o fato de a informação ser fornecida pelas empresas e não sofrer controle na fonte, de sorte que a qualidade dos dados não pode ser aferida; e a dificuldade de controle do nascimento e morte de empresas, limite especialmente importante em situações de instabilidade econômica (ascendente ou descendente). Entretanto, sua ampla cobertura aproxima-a de um censo do setor formal da economia brasileira, o que a torna, efetivamente, uma fonte preciosa para análise do mercado de trabalho formal.

A partir de 1993 a Coordenadoria de Informações do Ministério do Trabalho deu início a um programa de disseminação do banco de dados da RAIS e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ¾ CAGED ¾ que obriga empresas com vínculos regidos pela CLT a informar mensalmente os movimentos de contratação e dispensa de empregados ¾ entre especialistas e estudiosos, o que agilizou sobremaneira a elaboração de análises conjunturais sobre o mercado de trabalho e a produção de estudos sobre dinâmicas estruturais de mudança (Baltar, 1995; Caruso e Pero, 1996). Mais recentemente, em uma iniciativa conjunta do MTb e do Senai, foi produzida uma base especial extraída da RAIS, destinada ao acompanhamento dos trabalhadores demitidos da indústria em 1989 em seu percurso pelo mercado formal de trabalho até 1995, denominada RAIS-MIGRAII. Este acompanhamento é possível por intermédio do PIS do trabalhador, que o identifica em cada informação anual fornecida pelas empresas. Sempre que o mesmo trabalhador estiver formalmente empregado e a empresa declarar a RAIS, será possível recuperar as informações demográficas e de seu vínculo empregatício. Por outras palavras, a partir da RAIS, constituiu-se um painel em sentido clássico, isto é, dado um ponto inicial qualquer, os mesmos indivíduos são acompanhados em diferentes pontos sucessivos no tempo, o que permite traçar suas trajetórias ocupacionais entre 1989 e 1995, desde que, nesse período, tenham retornado ao mercado formal de trabalhoIII.

A base de dados

Para a realização deste estudo lanço mão de outra base especial, também excerto da RAIS, produzida pelo Ministério do Trabalho por minha solicitação como parte do projeto de pesquisa "Estratégias de Emprego e Trajetórias Ocupacionais: Um Estudo sobre a Natureza do Emprego Fabril na Nova Ordem Produtiva Brasileira", financiado pela Faperj em 1996IV. Trata-se da seleção de todos os empregados no setor de material de transportes paulista em 1989, acompanhados ano a ano até 1995 em todos os vínculos empregatícios formais que eventualmente tenham tido. Ao contrário da RAIS-MIGRA, os mesmos indivíduos (pouco mais de 383 mil) têm todos os seus vínculos formais acompanhados, e não apenas em sete pontos sucessivos no tempo.

Para os procedimentos computacionais empregados aqui, extraí uma amostra aleatória simples de 5% da base original, ou 19.073 indivíduos. Foi necessário proceder a uma crítica dos dados, já que não a sofrem na origem, o que me obrigou à recodificação da atividade econômica de 1.538 casos (8,3% da amostra) e à exclusão de 248 outros (1,3% do total), resultando na amostra final de 18.825 casos. Os erros de codificação decorreram, principalmente, da mudança de classificação da atividade econômica no formulário da RAIS de 1993 para 1994.

Como foi sorteada a partir do universo e é suficientemente grande para suportar o grau de agregação das variáveis utilizadas, a representatividade da amostra é plena, com os resultados apresentados sendo significativos pelo menos no nível 0,01, podendo ser generalizados para a população de origem.

Composição dos setores econômicos

A análise de migrações intersetoriais não seria possível sem um agrupamento dos mais de 500 setores que compõem a CNAE/95. Toda classificação é necessariamente arbitrária, e requer justificativas. Utilizei dois critérios, um pragmático e outro teoricamente informado. Em termos puramente pragmáticos, era importante manter, em cada grupo, um número suficiente de casos para a manipulação estatística ao mesmo tempo robusta e confiável. Em termos teóricos, procurei levar em conta achados quanto à segmentação do mercado de trabalho que encontram correspondências entre setores econômicos enquanto possíveis destinos ocupacionais dos indivíduos. Discussão bastante ampla deste ponto pode ser encontrada em Cardoso e Castro (1998), uma resenha de estudos sobre trajetórias ocupacionais em várias partes do mundo e também no Brasil. Procurei levar em conta, especialmente, os achados de Pero (1995) e Caruso e Pero (1996) quanto à probabilidade de migração inter e intra-setorial dos demitidos da indústria no Brasil. As categorias estão assim compostas:

Categorias (RAIS.TXT)

Composição

1. Montadoras

Fabricação e montagem de automóveis, caminhões e ônibus

2. Autopeças

Fabricação de peças e acessórios para veículos

3. Outras indústrias de material de transporte

Construção e reparo de embarcações; construção e reparo de veículos ferroviários; recondicionamento de motores; fabricação de carrocerias para veículos; fabricação de bicicletas, triciclos e motocicletas; fabricação e reparo de aviões; fabricação e reparo de outros veículos e peças

4. Outras metalúrgicas

Indústrias de material elétrico e comunicação; indústrias mecânicas; indústrias metalúrgicas; siderurgia

5. Indústrias tradicionais

Indústria têxtil e de vestuário; couro e pele; alimentícia; papel e papelão; madeira e mobiliário; bebida; fumo; editorial e gráfica

6. Indústria química

Indústria química; ind. de material plástico; perfumaria, sabões e velas; ind. de produtos farmacêuticos e veterinários; extração e refino de petróleo

7. Outras indústrias

Indústrias urbanas; produtos e minerais não metálicos; extrativa mineral; outras atividades industriais não classificadas

8. Comércio

Comércio atacadista e varejista; administração de imóveis

9. Serviços

Serviços de transportes; de comunicação; de alojamento e alimentação; de reparação e conservação; serviços pessoais; serviços comerciais; serviços de diversão; entidades financeiras; administração pública direta e autárquica; fundações e associações sem fins lucrativos; outras atividades mal-especificadas ou não classificadas, inclusive agricultura

10. Fora do sistema RAIS

A categoria "serviços", como parece claro, engloba, além das atividades apropriadas, outras que, por apresentarem freqüência muito pequena (como a agricultura, por exemplo, sempre inferior a 1% durante todo o período), não permitiriam tratamento estatístico confiável. Os serviços enquanto tais representavam, ao final do período, não mais de 3% do destino ocupacional dos indivíduos que tiveram vínculos na indústria de material de transportes em 1989. Os outros 6% compõem-se da miríade de atividades dispersas (das quais estão excluídos os setores industriais, cujo "resto" foi compor o código 7) que, não sendo significativas isoladamente, somadas terminam por apresentar peso estatístico relevante, "inflando" o setor de serviços para além do que ele realmente representa no destino migratório dos indivíduos. Este é o lado pragmático do agrupamento, presente também na inclusão da extração e refino de petróleo, atividade inteiramente residual, na categoria "química". Em qualquer caso, entretanto, não há comprometimento da análise empreendida neste trabalho, dado seu nível de agregação, posto que: (i) a probabilidade de migração para qualquer outro setor é muito menor do que a de migração para fora do sistema RAIS; (ii) a probabilidade de migração para setores não industriais é muito menor do que a de migrações internas à indústria; (iii) e os setores não industriais funcionam quase sempre como "colchões" de emprego na migração interindustrial para a maioria dos que voltam ao setor formal.

Uma palavra sobre a Tabela 2, que se segue. Os dados são apresentados de duas maneiras. Primeiro, os indicadores numéricos aparecem na forma de distribuições medianas, isto é, valores de corte que, sempre que possível, dividiram a população ao meio. Apresento também distribuições mais abertas, por vezes em quartis, sempre que possível, e por vezes tal como agrupadas pelo Ministério do Trabalho. Os indicadores de escolaridade e idade, por exemplo, já estão pré-codificados no próprio formulário da RAIS, e assim os mantive, de forma a permitir que o leitor tire suas próprias conclusões.

Indicadores selecionadosClassesDistribuições medianas123456789TotalTamanho do estabelecimento Até 100051,157,760,664,150,658,549,641,75,342,01000 empregados ou mais48,942,339,435,949,441,550,458,394,758,0Escolaridade Até 8ª série incompleta65,658,869,263,356,757,364,960,159,262,48ª série completa ou mais34,441,230,836,743,342,735,139,940,837,6Renda real em U$ de ago/96 Até U$ 451,0057,167,267,971,062,550,949,849,724,849,9U$ 451,00 ou mais42,932,832,129,037,549,150,250,375,250,1Tempo no emprego em meses Até 40 meses59,870,267,465,762,260,343,737,428,449,641 meses ou mais40,229,832,634,337,839,756,362,671,650,4Idade no início Até 29 anos47,062,153,359,753,852,339,838,629,043,130 anos ou mais53,037,946,740,346,247,760,261,471,056,9Sexo Masculino85,586,987,988,287,893,087,892,695,989,4Feminino14,513,112,111,812,27,012,27,44,110,6 (continua)

Tabela 1

Composição das Classes, segundo Indicadores Selecionados

Indicadores selecionadosClasses 123456789TotalMunicípio São Paulo27,833,532,836,530,232,622,322,97,323,3São B. do Campo14,89,28,28,115,111,08,32,657,520,3Diadema/Santo André10,38,49,78,38,610,915,81,80,88,4São C. do Sul3,52,51,51,33,22,43,00,98,84,0S. José dos Campos8,26,85,85,35,94,20,915,812,07,8Taubaté2,02,11,70,52,30,72,80,17,22,9Osasco/Guarulhos8,37,89,111,67,48,89,713,31,37,6Outros da RMSP6,77,88,07,35,97,710,21,40,05,6Outros municípios18,422,023,121,221,321,627,041,14,920,0Distribuições desagregadas Renda real (quartis) Até U$27533,238,841,738,035,624,920,423,83,624,5De U$275 a U$45223,127,725,532,225,625,429,125,820,524,6De U$452 a U$70619,918,315,311,816,821,625,024,439,824,6U$706 ou mais22,114,016,416,919,826,924,625,632,524,5Ano de admissão Até 198118,78,88,98,814,615,123,334,641,524,2De 1982 a 198625,025,127,031,526,730,036,731,333,229,91987 ou 198827,733,934,127,528,733,323,419,414,824,3198928,532,230,032,229,921,616,514,710,521,6 (continua)

Tabela 2

Composição das Classes, segundo Indicadores Selecionados

Indicadores selecionadosClasses 123456789TotalOcupação no início Ocupações típicas de produção da indústria metalúrgica53,143,751,251,043,256,661,044,460,354,3Outras ocupações de produção18,218,023,320,218,612,410,923,213,316,2Técnicos de nível médio3,54,43,32,84,54,94,74,55,14,3Inspetores de qualidade, de produção ou de risco3,12,11,32,62,73,44,03,24,33,4Prof. de nível superior1,00,81,31,02,92,41,52,41,71,6Diretores e gerentes2,51,52,23,13,02,43,43,33,52,9Ocupações de escritório9,018,88,68,313,69,18,510,46,49,1Outras ocupações5,56,55,34,96,75,13,85,94,45,1Subsetor de material de transporte do primeiro vínculo Const. de embarcações e peças0,7 1,11,01,10,3 0,6 0,4Repar. de embarcações e partes0,81,01,10,31,00,2 0,50,10,5Constr. e montagem veíc. ferroviários3,63,72,43,83,43,50,116,70,23,4Reparação de veíc. ferroviários1,31,61,11,02,80,6 23,2 2,9Fabricação de veículos17,814,010,27,815,69,80,40,386,225,4Fabricação de peças para veículos59,759,364,870,860,669,798,84,913,053,6Recond. e recuperação de motores0,0 0,0Fabr. de carrocerias p/ veículos4,86,65,84,84,65,50,215,60,24,1Fabr. de bicicletas e triciclos3,95,75,85,04,63,50,212,60,13,4Constr. e montagem de aeronaves4,53,31,92,03,41,30,016,30,13,5Reparação de aeronaves e partes0,30,40,20,50,50,20,01,8 0,4Fabricação de outros veíc. e peças1,21,81,71,01,43,40,12,8 1,1Fabr. de estofados para veículos1,42,53,92,00,91,90,24,80,11,3 (continua)

Tabela 3

Composição das Classes, segundo Indicadores Selecionados

Indicadores selecionadosClasses 123456789TotalPorte da empresa Até 4 empregados0,61,00,60,80,30,30,20,40,10,4De 5 a 90,91,00,60,31,00,90,20,8 0,6De 10 a 191,62,31,52,01,50,70,91,40,01,1De 20 a 493,64,74,33,54,53,02,22,40,22,7De 50 a 994,45,77,13,54,63,83,92,90,43,4De 100 a 2499,612,511,011,610,211,97,34,80,77,3De 250 a 49912,011,513,213,610,514,79,08,51,69,2De 500 a 99918,218,922,028,717,822,426,020,52,417,21000 ou mais empregados48,742,339,335,849,241,050,458,394,757,8Tempo no emprego Menos de 3 meses10,812,710,412,812,88,53,43,02,57,33 a menos de 6 meses9,610,711,710,310,07,05,65,32,87,26 a menos de 12 meses12,315,414,312,611,410,97,86,95,39,612 a menos de 24 meses14,016,417,114,115,616,111,710,26,712,224 a menos de 36 meses11,212,713,212,610,915,411,69,08,210,836 a menos de 60 meses14,616,218,620,415,919,120,717,420,317,760 a menos de 120 meses12,29,99,111,611,513,320,821,019,415,8120 meses ou mais15,36,05,85,511,89,818,427,334,719,5Idade 10 a 14 anos0,31,00,40,50,1 0,10,10,00,215 a 17 anos2,44,53,71,82,12,12,11,61,42,118 a 24 anos24,734,727,635,529,628,618,017,012,021,525 a 29 anos19,421,821,621,921,921,619,519,815,619,230 a 39 anos27,827,734,830,730,135,235,938,039,233,340 a 49 anos16,88,210,88,612,610,819,018,726,318,050 a 64 anos7,81,81,11,03,41,75,14,45,35,465 anos ou mais0,5 0,1 0,10,30,20,3 (continua)

Tabela 4

Composição das Classes, segundo Indicadores Selecionados

Tabela


Composição das Classes, segundo Indicadores Selecionados

Indicadores selecionados

Classes

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Total

Escolaridade

Analfabeto

1,6

1,2

2,8

1,0

1,5

1,3

1,0

1,3

0,5

1,2

4ª série incompleta

12,9

9,9

15,3

14,4

11,1

10,5

14,5

12,8

7,6

11,9

4ª série completa

27,4

20,1

23,3

23,4

21,1

21,8

27,6

24,8

30,1

26,5

8ª série incompleta

23,3

27,1

27,4

24,2

22,5

23,3

21,5

21,0

20,9

22,4

8ª série completa

12,1

14,4

12,1

12,6

12,5

16,1

13,2

13,4

12,9

12,9

2º grau incompleto

7,4

8,0

6,0

9,6

8,6

9,3

6,9

7,8

7,5

7,6

2º grau completo

7,7

11,1

7,3

9,1

10,0

8,9

8,3

9,5

9,3

8,7

Superior incompleto

3,0

5,1

3,5

3,3

4,5

3,1

2,7

3,6

4,4

3,5

Superior completo

3,9

2,3

1,7

2,0

7,4

5,1

4,0

5,5

6,7

4,8

Nacionalidade

Brasileira

98,7

99,8

98,9

100,0

99,1

99,2

99,0

98,5

98,3

98,8

Outras

1,3

0,2

1,1

0,9

0,8

1,0

1,5

1,7

1,2

Vínculos na trajetória

Um

43,6

18,0

17,8

24,6

25,4

25,8

75,9

78,1

84,7

10690

Dois

20,6

23,4

21,1

26,1

23,2

27,5

14,2

12,5

11,6

3376

Três

13,4

21,5

20,0

21,9

17,9

19,8

5,6

5,8

2,6

1993

Quatro ou mais

22,3

37,1

41,1

27,4

33,5

27,0

4,2

3,6

1,1

2928

Tempo médio no primeiro emprego em meses

56,95

37,63

38,02

39,01

49,22

47,80

66,91

81,94

97,70

66,5

Renda média real no vínculo de 1989, em US$ de agosto de 1996

525,6

442,7

450,5

460,6

512,5

610,7

584,1

596,7

686,1

571,9

Média de vínculos na trajetória completa

2,47

3,21

3,45

2,71

3,08

2,77

1,4

1,37

1,2

2,05

N

6093

486

459

395

1627

986

3384

1693

3702

18825

Total na linha

32,4

2,6

2,4

2,1

8,6

5,2

18,0

9,0

19,7

100,0

Fonte: RAIS/MTb-Codefat – Tabulações e elaboração do autor.

ABSTRACT

Work, A Transitive Verb: Occupational Mobility of Workers in the São Paulo State Transports Industry

The Brazilian transports industry includes car, aircraft, boat, and train assemblers, as well as their suppliers. The process of industrial restructuring now underway in Brazil, in conjunction with rising open unemployment, leads us to question whether workers who leave (or are removed from) this economic sector will be able to find alternative jobs commensurate not only with their acquired skill levels but also with their life and social status expectations. Based on an excerpt from the Relação Anual de Informações Sociais and on advanced methods in longitudinal data analysis, the study endeavors to explain the differences in job market mobility experienced by workers who had some formal link with the transports industry in the state of São Paulo between 1989 and 1995. One of the various surprising conclusions is the discovery that in this technologically advanced sector of the economy, the São Paulo state labor market is a structural predator of qualifications and skills — by 1995, it had dismissed 70% of workers employed in 1989.

Keywords: occupational mobility; transports industry; labor market; São Paulo

RÉSUMÉ

Travailler, Verbe Transitif: Trajectoires Professionnelles des Travailleurs de l’Industrie du Matériel de Transports de l’État de São Paulo

La restructuration industrielle en cours au Brésil, associée au chômage progressif, permet de s’interroger sur la capacité qu’ont les travailleurs issus (ou renvoyés) de ce secteur économique de retrouver une nouvelle situation autant en accord avec la qualification professionnelle qu’ils ont pu accumuler qu’avec leurs espoirs et leur désir de statut social. À partir d’un texte de la RAIS (Relation Annuelle des Renseignements Sociaux) et à l’aide de méthodologies modernes d’analyse de données longitudinales, cette étude cherche à expliquer les différences de chances sur le marché du travail pour les travailleurs engagés dans les industries de matériel de transports à São Paulo en 1989, et leur trajectoire jusqu’en 1995. Parmi les conclusions inattendues, il convient de remarquer que le marché du travail à São Paulo pour ce secteur économique de pointe chasse structurellement qualifications et aptitudes, puisqu’il a renvoyé sur une période de sept ans 70% des travailleurs embauchés en 1989.

Mots-clé: trajectoire professionnelle; industries de matériel de transports; marché du travail; São Paulo

III. Para uma discussão sobre a metodologia de painel e alternativas para acompanhamento de trajetórias ocupacionais, ver Menard (1991) e Blossfeld e Rohwer (1995).

IV. Em 1997 o Ministério do Trabalho estendeu a solicitação aos setores químico da Bahia e têxtil do Rio de Janeiro, já no corpo do projeto relatado em Castro, Cardoso e Caruso (1997).

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  • WERNECK VIANNA, Luiz. (1976), Liberalismo e Sindicato no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
  • 1
    PEA de 15 Anos ou Mais na RMSP, Mês a Mês
  • 2
    Trajetórias Ocupacionais dos Trabalhadores Empregados nas Indústrias
    de Material de Transportes em 1989
  • 3
    Função de Permanência no Emprego: Subsetores de Material de Transportes:
    RMSP, 1989-1995
  • 4
    Função de Retorno ao Setor Formal depois da Primeira Demissão
    Subsetores de Material de Transportes
  • 5
    Trajetórias Ocupacionais, de 1989 a 1995, dos Trabalhadores que Tiveram algum Vínculo Formal no Setor de Material de Transportes no Estado de São Paulo em 1989
  • 1
    Trabalhadores Redundantes em face da Reestruturação
  • 2
    Transição para o Comércio
  • 3
    Transição para outras Indústrias
  • 5
    Transição para os Serviços
  • 1
    Relação entre Renda Real no Início e no Fim da Trajetória
  • 6
    Transição para Outras Indústrias Metalúrgicas
  • 7
    Núcleo Duro do Setor de Autopeças
  • 8
    Núcleo Duro de Outras Indústrias de Material de Transporte
  • 9
    Núcleo Duro das Montadoras
  • 1. O termo remete à idéia de otimização das seqüências de tarefas em uma mesma seção produtiva (armação ou funilaria, por exemplo), entre seções em uma mesma unidade (montagem final e pintura, por exemplo), e entre unidades em uma mesma fábrica de automóveis (motores e câmbio por oposição à montagem). Trabalha-se, idealmente, com estoque zero intra e entre as etapas, com entrega

    . O termo remete à idéia de otimização das seqüências de tarefas em uma mesma seção produtiva (armação ou funilaria, por exemplo), entre seções em uma mesma unidade (montagem final e pintura, por exemplo), e entre unidades em uma mesma fábrica de automóveis (motores e câmbio por oposição à montagem). Trabalha-se, idealmente, com estoque zero intra e entre as etapas, com entrega just in time, pela seção ou posto precedente de trabalho, do produto sobre o qual a seção seguinte irá trabalhar. Para conceituação eficiente, ver Jones (1991). Jürgens (1995xxx) aperfeiçoa o conceito na análise da experiência da VW em vários países.

  • 3
    . Fonte: PME-SP, disponível no sítio do IBGE na internet: www.ibge.gov.br.
    4
    . Em 1990, havia 2.134 operários de manutenção de máquinas nas montadoras do Estado de São Paulo, segundo a RAIS. Em 1996, seu número tinha sido reduzido aproximadamente à metade: 1.071 operários.
  • 5
    . Ver Castro, Cardoso e Caruso (1997) para discussão circunstanciada dessa hipótese.
    6
    . Infelizmente, a base de dados da PME de que disponho está com problemas nos meses de novembro e dezembro de 1993. Por isso estes meses foram excluídos na geração do
    Gráfico 1. Isto quer dizer que o ano de 1994 inicia no mês 59, e não no mês 61 como ocorreria se 1993 estivesse completo. Agradeço a Argelina Figueiredo, que cedeu a fita com os microdados para os anos 1989-1991; ao CDDI-DEATI/IBGE, que gerou a fita com os anos seguintes; e à Datamec-Rio, que graciosamente transferiu os dados para CD-ROM, tornando possível sua manipulação em microcomputador.
  • 7
    . Montagner e Brandão (1994) chegaram a conclusão semelhante, lançando mão da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Argumentam, porém, que a flexibilidade do mercado de trabalho paulista tendeu, nos anos 90, a forçar o ajuste pelo desemprego, mais do que pelo salário ou pela migração intersetorial da força de trabalho. Em uma outra direção, Amadeo e Camargo (1996) utilizaram a PME para identificar no setor informal da economia, em especial o assalariamento sem carteira, outro mecanismo importante de ajuste no Brasil pós-Real.
    8
    . O problema da flexibilidade do mercado de trabalho no Brasil é tema cada vez mais presente na agenda pública, principalmente entre os economistas. Ver, por exemplo, Infante (1994); Baltar e Proni (1996); Manzano (1996); Camargo (1996); Carleial (1997), dentre outros.
  • 9
    .Ver anexo metodológico. Embora o gráfico traga informações para três subsetores do segmento de material de transportes, eles serão analisados em conjunto nesta seção.
    10
    .Ver Anexo Estatístico e Metodológico para a composição dos setores.
  • 11
    . É preciso assinalar que, ainda com base na PME-SP, o emprego assalariado formal cresceu mais do que o emprego assalariado sem carteira, tanto no comércio quanto nos serviços. 15,4% contra 3,3% neste último caso, e 18,6% contra 8,7% no primeiro. Por outras palavras, a grande maioria do emprego assalariado criado nos serviços e no comércio entre 1989 e 1995 era formal. A taxa de crescimento do emprego assalariado formal superou também a do emprego por contra própria, que nos serviços cresceu 13% e, no comércio, 12,6%.
    12
    .Outro achado nessa mesma direção, tomando os demitidos da indústria de transformação em todo o país, pode ser encontrado em Caruso e Pero (1997).
  • 13
    . Estes gráficos foram gerados no SPSS, por meio do procedimento "
    survival", que calcula a probabilidade de sobrevivência ou de transição de um evento a outro, dado o tempo transcorrido em determinado evento. As curvas retratam a probabilidade temporalmente dependente de
    permanecer empregado (
    Gráfico 3) ou de
    encontrar novo emprego formal (
    Gráfico 4) por parte daqueles que sofreram a sua
    primeira demissão entre 1989 e 1995.
    14
    . Isto é, se o indivíduo teve mais de um vínculo formal no ano no setor, considerei apenas o primeiro deles.
  • 15
    . Isto é, desemprego tecnológico.
    16
    . Ver Carvalho (1993); Ferro (1992); Castro (1994); Castro (1995); Cardoso (1995); e Posthuma (1994; 1995); e a recente coletânea de Arbix e Zilbovicius (1997), todos corroborando a precocidade da reestruturação setorial.
  • 17
    . Valéria Pero chega a estes resultados com base na PME-SP. Ela demonstra que, dos mais de 25% de trabalhadores industriais que migram para outros setores a cada ano entre 1989 e 1993, a grande maioria perde qualidade de emprego, medida em termos da renda. No caso da migração para os serviços pessoais a perda chega a mais de 30% de um ano a outro.
    18
    . É claro que esta constatação exclui as vertentes taxonômicas da teoria das classes sociais, que utilizam o conceito de "estratificação social" de uma perspectiva predominantemente descritiva, como Breen e Rottman (1995). Mas estas vertentes não se põem o problema da transformação social, perdendo todo o interesse para o que se segue.
  • 19
    . Porém, a literatura sobre trajetórias ocupacionais agregadas é vasta e pode, sozinha, sustentar as afirmações que acabo de formular. Ver Cardoso e Castro (1998).
    20
    . Para os padrões do setor, ter menos de mil empregados obriga que se as classifique, no mínimo, como empresas "não-grandes".
  • 21
    . Para se chegar a estes valores, basta dividir a renda da
    classe 5 em 1989 pela da
    classe 4 no mesmo ano, obtendo-se a primeira relação. Faz-se o mesmo para 1995 e comparam-se as duas proporções. A diferença entre as proporções representa o ganho relativo de uma classe em comparação com a outra.
  • Principalmente após 1985, quando os dados passam a ser publicados, a RAIS vem sendo utilizada para a análise da dinâmica do mercado formal de trabalho no Brasil, pois traz informações relevantes tanto das empresas (como porte e ramo) quanto dos trabalhadores (sexo, idade etc.)
    II. Ver, dentre outros, Quadros (1996); Baltar e Proni (1996); e Baltar (1995). II. A elaboração desta base envolveu pesquisadores do Centro Internacional para a Educação, Trabalho e Transferência de Tecnologia ¾ Ciet, do Senai, sob a coordenação de Luis A. C. Caruso, e técnicos do Ministério do Trabalho, da Datamec (empresa responsável pelo processamento da RAIS no plano nacional) e da AB Consultoria, empresa responsável pela elaboração dos softwares de acesso às bases via microcomputador. Em 1996 foi incorporada a equipe do projeto de que este texto é um resultado. Ver Caruso e Pero (1996; 1997); Castro, Cardoso e Caruso (1997); Pero (1997). A RAIS-MIGRA compõe-se, ademais, de painéis dos demitidos em 1990, 1991, 1992 e 1993, acompanhados até 1995, e está sendo analisada, além do pessoal do Ciet, pela equipe do Cebrap/Iuperj, no corpo do projeto "Trajetórias Ocupacionais e Empregabilidade da Força de Trabalho: Por uma Metodologia de Acompanhamento de Trajetórias de Trabalhadores Industriais na Nova Ordem Produtiva Brasileira", financiado por bolsa tipo A-Esp da Ford/Anpocs..
  • Algumas empresas não atentaram para isto e utilizaram o código antigo, o que resultou, em muitos casos, em mudanças abruptas de ramo de atividade
    VV. É o caso de uma indústria de autopeças que tinha 972 empregados em janeiro de 1994 e codificou sua atividade como sendo 1430, isto é, fabricação de veículos e autopeças pelo código antigo. Entretanto, esta empresa tinha sido instruída a aplicar a Classificação Nacional de Atividade Econômica, versão 1995 (CNAE/95), e deveria ter utilizado um dos códigos entre 34410 e 34495, referentes a setores de autopeças. O código 1430 é para "criação de ovinos" na CNAE/95. Como o subsetor IBGE utilizado antes é um código derivado, ao converter o código 1430 da CNAE/95 para a subatividade IBGE correspondente, foi atribuído o código 120, relativo à criação de animais. Com isto, até dezembro de 1993 os indivíduos desta empresa aparecem como trabalhando em empresas de autopeças, e a partir de janeiro de 1994 aparecem como criadores de animais.. Já a maioria dos casos excluídos apresentava inconsistências gritantes na escolaridade ou na idade dos indivíduos de um ano para outro, ou ainda na classificação da ocupação.
  • * Este trabalho resulta do projeto "Trajetórias Ocupacionais e Empregabilidade da Força de Trabalho: Por uma Metodologia de Acompanhamento de Trajetórias de Trabalhadores Industriais na Nova Ordem Produtiva Brasileira", financiado por bolsa do tipo A-Esp da Ford/Anpocs e que contou, na equipe, com Nadya Castro (coordenadora) e Alvaro Comin pelo Cebrap; Luis Caruso e Valéria Pero pelo Ciet/Senai; e Adalberto M. Cardoso pelo Iuperj. Agradeço os comentários de todos a versões anteriores do texto. Gostaria de registrar, também, meu profundo agradecimento ao Ministério do Trabalho, à Datamec-Rio e à AB Consultoria pela grande abertura, presteza e amabilidade com que responderam às solicitações de novas bases de dados a partir da Relação Anual de Informações Sociais ¾ RAIS, e pela enorme disposição em solucionar os problemas comuns em bases desse tipo. Este texto (e o projeto do qual resulta) não se teria viabilizado sem a colaboração de pessoas como Vera Marina Martins Alves, coordenadora de Informações do Ministério do Trabalho, Adymar Araújo Silva, gerente de Contas do MTb, da Datamec-Rio, Ricardo Fride, também da Datamec-Rio, e Eduardo Costa Carvalho, da AB Consultoria, responsável pela geração dos dados em CD-ROM. A todos um caloroso agradecimento e a certeza de que compartilham dos acertos do que se segue. Os erros, obviamente, apenas a mim devem ser imputados.
  • I
    . Ver, dentre outros, Quadros (1996); Baltar e Proni (1996); e Baltar (1995).
    II. A elaboração desta base envolveu pesquisadores do Centro Internacional para a Educação, Trabalho e Transferência de Tecnologia ¾ Ciet, do Senai, sob a coordenação de Luis A. C. Caruso, e técnicos do Ministério do Trabalho, da Datamec (empresa responsável pelo processamento da RAIS no plano nacional) e da AB Consultoria, empresa responsável pela elaboração dos softwares de acesso às bases via microcomputador. Em 1996 foi incorporada a equipe do projeto de que este texto é um resultado. Ver Caruso e Pero (1996; 1997); Castro, Cardoso e Caruso (1997); Pero (1997). A RAIS-MIGRA compõe-se, ademais, de painéis dos demitidos em 1990, 1991, 1992 e 1993, acompanhados até 1995, e está sendo analisada, além do pessoal do Ciet, pela equipe do Cebrap/Iuperj, no corpo do projeto "Trajetórias Ocupacionais e Empregabilidade da Força de Trabalho: Por uma Metodologia de Acompanhamento de Trajetórias de Trabalhadores Industriais na Nova Ordem Produtiva Brasileira", financiado por bolsa tipo A-Esp da Ford/Anpocs.
  • VAlgumas empresas não atentaram para isto e utilizaram o código antigo, o que resultou, em muitos casos, em mudanças abruptas de ramo de atividadeV. Já a maioria dos casos excluídos apresentava inconsistências gritantes na escolaridade ou na idade dos indivíduos de um ano para outro, ou ainda na classificação da ocupação.. É o caso de uma indústria de autopeças que tinha 972 empregados em janeiro de 1994 e codificou sua atividade como sendo 1430, isto é, fabricação de veículos e autopeças pelo código antigo. Entretanto, esta empresa tinha sido instruída a aplicar a Classificação Nacional de Atividade Econômica, versão 1995 (CNAE/95), e deveria ter utilizado um dos códigos entre 34410 e 34495, referentes a setores de autopeças. O código 1430 é para "criação de ovinos" na CNAE/95. Como o subsetor IBGE utilizado antes é um código derivado, ao converter o código 1430 da CNAE/95 para a subatividade IBGE correspondente, foi atribuído o código 120, relativo à criação de animais. Com isto, até dezembro de 1993 os indivíduos desta empresa aparecem como trabalhando em empresas de autopeças, e a partir de janeiro de 1994 aparecem como criadores de animais.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Abr 1999
    • Data do Fascículo
      1998

    Histórico

    • Recebido
      Jul 1998
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