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A família na obra de Frédéric Le Play

The family in the works of Frédéric Le Play

La famille dans l’oeuvre de Frédéric Le Play

Resumos

Among nineteenth-century authors, sociologist Frédéric Le Play (1806-1882) stands out for the research methodology he developed to study European workers. In the perspective of the history of sociology, and in a dialogue with some of his twentieth-century readers, I analyze Le Play’s concept of family and its intimate connection with his findings. The so-called family monograph method, as the name indicates, intended to learn the living conditions of workers in different European countries by monitoring the life of some of their families. I intend to show how the construction of concepts, methods and survey and data-analyses techniques enabled the systematic reproduction of his observations, both by Le Play himself and his uncountable followers. In his methodology, the family is the core concern, and will enable future generations of both social scientists and historians to revisit them in their studies.

family sociology; history of sociology; Frédéric Le Play


Le sociologue Frédéric Le Play (1806-1882) se distingue parmi les auteurs du XIXème siècle grâce au développement d’une méthodologie de recherche à propos des travailleurs européens. Dans cet article, on examine la position de Le Play dans l’histoire de la sociologie, sa conception de la famille ainsi que sa profonde connivence avec les résultats de ses recherches, sous la forme d’un dialogue avec quelques-uns de ses lecteurs du XXème siècle. La méthode des monographies des familles voudrait, comme le suggère son nom, connaître les conditions de vie des travailleurs dans différents pays d’Europe prenant comme point de départ l’accompagnement de la vie quotidienne de quelques familles. On cherche ici à montrer comment la construction de concepts, méthodes et techniques d’inventaire et d’analyse des données a permis la reproduction systématique de ses observations, effectuées soit par lui-même soit par ses tenants. Pour sa méthodologie, la famille occupe le centre des attentions, aspect déterminant pour des générations de chercheurs en sciences sociales et en histoire qui reviennent à ses études.

sociologie de la famille; histoire de la sociologie; Frédéric Le Play


family sociology; history of sociology; Frédéric Le Play

sociologie de la famille; histoire de la sociologie; Frédéric Le Play

A família na obra de Frédéric Le Play* * Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada no XXIV Encontro Anual da ANPOCS, Grupo de Trabalho "Família e Sociedade", Petrópolis, outubro de 2000. Agradeço a Licia Valladares, Candice Vidal e Souza e Carlos Aurélio Faria pelos comentários e sugestões bibliográficas.

The family in the works of Frédéric Le Play

La famille dans l’oeuvre de Frédéric Le Play

Tarcísio Rodrigues Botelho

ABSTRACT

Among nineteenth-century authors, sociologist Frédéric Le Play (1806-1882) stands out for the research methodology he developed to study European workers. In the perspective of the history of sociology, and in a dialogue with some of his twentieth-century readers, I analyze Le Play’s concept of family and its intimate connection with his findings. The so-called family monograph method, as the name indicates, intended to learn the living conditions of workers in different European countries by monitoring the life of some of their families. I intend to show how the construction of concepts, methods and survey and data-analyses techniques enabled the systematic reproduction of his observations, both by Le Play himself and his uncountable followers. In his methodology, the family is the core concern, and will enable future generations of both social scientists and historians to revisit them in their studies.

Keywords: family sociology; history of sociology; Frédéric Le Play

RÉSUMÉ

Le sociologue Frédéric Le Play (1806-1882) se distingue parmi les auteurs du XIXème siècle grâce au développement d’une méthodologie de recherche à propos des travailleurs européens. Dans cet article, on examine la position de Le Play dans l’histoire de la sociologie, sa conception de la famille ainsi que sa profonde connivence avec les résultats de ses recherches, sous la forme d’un dialogue avec quelques-uns de ses lecteurs du XXème siècle. La méthode des monographies des familles voudrait, comme le suggère son nom, connaître les conditions de vie des travailleurs dans différents pays d’Europe prenant comme point de départ l’accompagnement de la vie quotidienne de quelques familles. On cherche ici à montrer comment la construction de concepts, méthodes et techniques d’inventaire et d’analyse des données a permis la reproduction systématique de ses observations, effectuées soit par lui-même soit par ses tenants. Pour sa méthodologie, la famille occupe le centre des attentions, aspect déterminant pour des générations de chercheurs en sciences sociales et en histoire qui reviennent à ses études.

Mots-clé: sociologie de la famille; histoire de la sociologie; Frédéric Le Play

FRÉDÉRIC LE PLAY E A TRADIÇÃO SOCIOLÓGICA

O sociólogo francês Frédéric Le Play (1806-1882) atuou como investigador social no período de consolidação da disciplina sociológica. Embora tenha produzido uma obra numerosa, ele não aparece com destaque nas histórias da sociologia; e, apesar de ser levado em conta por vários autores, ocupa uma posição secundária na disciplina. Tomo como exemplos, de início, trabalhos relativamente recentes sobre a formação da sociologia e que de algum modo remetem à obra de Le Play.

Lepenies (1996), procurando descrever o debate entre literatos e críticos literários, de um lado, e cientistas sociais (sobretudo sociólogos), de outro, recupera o papel de diversos autores não incluídos na corrente consagrada como a principal formadora da disciplina. Em seu relato, Le Play aparece como um sociólogo católico próximo ao romantismo (idem:48, 86). O tipo de estudo de Le Play se situava próximo a um dos pólos do debate entre "uma orientação cientificista, pronta a imitar as ciências naturais", em contraposição a "uma atitude hermenêutica, que aproxima a disciplina da literatura" (idem:11). Entretanto, não há uma exploração maior quanto à posição da sociologia leplaysiana nesse debate.

Levine propõe um caminho diferente na busca de uma compreensão da trajetória da sociologia. Seu objetivo é "realizar um estudo crítico das histórias anteriormente contadas pelos próprios sociólogos de modo empático, a fim de revelar o valor que essas histórias tiveram para os primeiros momentos de adaptação" (1997:23). Para tanto, relata "a história da sociologia no século passado apresentando a seqüência de histórias que os próprios sociólogos contaram sobre sua tradição" (ibidem). Esse exercício do autor é interessante, pois permite perceber que, de fato, Frédéric Le Play não ocupa uma posição expressiva nas diversas formas de se contar a história da sociologia. No âmbito do que ele denomina de narrativas pluralistas1, há uma referência significativa a Le Play: trata-se da taxonomia utilizada por Pitirim Sorokin (Contemporary Sociological Theories, 1928), que inclui a "escola sintética e geográfica de Le Play" (Levine, 1997:33). A narrativa original de Sorokin sofreu uma revisão em 1966 (Sociological Theories of Today); neste novo arranjo, exclui-se a referência explícita a Le Play (idem:34)2. Nas narrativas humanistas3, Le Play aparece novamente, agora como um autor clássico. Na obra de Robert Nisbet (The Sociological Tradition, 1966), ele é citado dentre um pequeno número de eminentes autores que escreveram entre 1830 e 1900, e que realizaram uma articulação criativa das idéias essenciais à sociologia; entretanto, o papel de destaque é desempenhado por aqueles autores consagrados e reiterados como constituintes da linha central da disciplina4.

Após essa visada sobre os diferentes modos como a história da disciplina é ou vem sendo narrada, Levine propõe construir um novo gênero de história da sociologia, por ele denominado de dialógica (idem:93-98). Sua hipótese é a de que

"[...] a condição fragmentada e anômica da sociologia [atual] poderia ser aliviada por novos esforços para recuperar a tradição sociológica, não pelo estabelecimento de um conjunto comum de crenças em torno das quais todos se congregariam mas, antes, pelo reconhecimento dos vários ramos da sociologia atual como tendo derivado dos participantes em uma conversação comum" (idem:92-93).

Esta "conversação comum" poderia ser resgatada sobretudo pela busca de tradições teóricas, definidas primordialmente como tradições nacionais, já que, segundo Levine, "as figuras criadoras da sociologia moderna citam principalmente compatriotas" (idem:95). Tratando-se da tradição francesa, todavia, o nome de Le Play não aparece entre esses participantes do debate sociológico.

Cuin e Gresle (1994), talvez pela origem francesa, colocam Le Play e seus seguidores em maior evidência. Para eles, há uma evidente importância epistemológica na obra de Le Play, já que ele conseguiu definir uma hipótese (o estado de uma sociedade pode ser apreendido a partir do estudo de unidades sociais menores), escolher um ponto de observação (a família) e construir um método (a observação direta, quase etnográfica, e a análise comparativa de dezenas de famílias de trabalhadores). Entretanto, Le Play "não tem nada de pesquisador no sentido moderno da palavra. Nele, o conhecimento é abertamente posto a serviço de um projeto ideológico" (idem:61).

Cuin e Gresle (idem:126-128) acompanham a trajetória da corrente leplaysiana após a morte do seu fundador, em 1882. Os rumos tomados por seus discípulos apontam para as dificuldades de institucionalização dos leplaysianos e sua progressiva perda de prestígio no curso principal da sociologia. Além disso, para esses autores, o interesse exclusivo pelos fatos, demonstrado por Le Play, tornaria o conhecimento produzido por ele e seus discípulos "rapidamente obsoleto" (idem:160).

Como se vê, embora tenha presença modesta nas histórias da sociologia, Frédéric Le Play certamente não é um autor relegado ao esquecimento. Algumas de suas obras tiveram reedições (mesmo que modestas) ao longo do tempo, além de fornecerem material para coletâneas5. Excertos de seus textos foram incluídos em obras coletivas com temáticas relativas aos seus objetos de estudo6. Além disso, seus escritos são muitas vezes recuperados por autores preocupados com estudos de história da família e do gênero7.

O historiador britânico Peter Laslett, em uma obra seminal para os estudos contemporâneos de história da família, considera Frédéric Le Play o autor que exerceu, e ainda exerce, a mais forte influência individual nos estudos históricos sobre a família (1972:16). No trabalho que inaugura uma nova abordagem da história da família, Laslett propõe uma tipologia para classificar os grupos familiares segundo a estrutura dos domicílios (idem:23-44). Assim, para demonstrar a aplicabilidade e a relevância de sua abordagem, parte de um diálogo intenso com os estudos de Le Play. A preocupação de Laslett é mostrar que o tipo de família privilegiado nos estudos de Le Play (a chamada "família-estirpe")8 é raro na sociedade européia, mesmo em períodos históricos recuados. Por outro lado, a perspectiva leplaysiana sobre a família nuclear seria equivocada, já que para seu autor a predominância da família nuclear seria um sintoma da desagregação social observável na Europa desde o século XVIII, provocada pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa. Laslett empenha-se em demonstrar que este seria um arranjo familiar bastante disseminado na Europa desde períodos bastante recuados no tempo (idem:16-23, 45-62). Suas análises sobre a família-estirpe encontraram forte contraponto no trabalho de Lutz Berkner (1972). Para este, a pequena presença de domicílios extensos nas fontes históricas utilizadas por Laslett deve-se ao fato de estas focarem apenas um momento, e não detectarem as transformações que as famílias sofreram ao longo do tempo. Segundo Berkner, o acompanhamento de núcleos familiares por várias décadas permite perceber que a grande maioria assume, em algum momento da sua trajetória, características que permitem descrevê-los como família-estirpe, embora em cada momento da observação este tipo de família represente uma parcela muito pequena do conjunto da população observada. Isto demonstraria que a família-estirpe estudada por Frédéric Le Play pode de fato ter sido um tipo importante de arranjo familiar na Europa9.

Um uso diferenciado da obra de Frédéric Le Play aparece em Scott e Tilly (1982). Preocupadas com o estudo das mulheres trabalhadoras na Europa do século XIX, as autoras buscam informações nas monografias de famílias elaboradas por Le Play e seus seguidores. Nestas, é possível recuperar o papel do trabalho feminino nas famílias de trabalhadores europeus graças à orientação dada por Le Play de que todas as atividades desempenhadas pelos membros das famílias deveriam ser incluídas nos cálculos dos orçamentos familiares. Assim, pode-se dispor de uma fonte de informações importante, que testemunha o papel de um segmento o mais das vezes desprezado nos estudos sociais da época, qual seja, o das mulheres.

Hervé Le Bras e Emmanuel Todd fazem um uso ainda mais intenso da herança leplaysiana, embora com resultados no mínimo polêmicos. O propósito de ambos seria compreender a peculiaridade francesa, que combinaria "unidade administrativa e diversidade antropológica" (1981:8). A chave para esta diversidade estaria nas várias estruturas familiares que a caracterizariam. A família seria o elemento explicativo graças ao seu papel como agente essencial da socialização das crianças e instrumento de reprodução da sociedade (idem:22-23). Para embasar suas preocupações com as estruturas familiares, os autores recorrem a Le Play, adaptando sua tipologia de famílias a fim de verificar os tipos predominantes nas diversas regiões francesas e relacionar esse predomínio com comportamento eleitoral, índices de suicídio, incidência de alcoolismo e outros.

Essa rápida passagem por uma parte do destino e das apropriações da obra de Frédéric Le Play permite afirmar que, embora não seja necessário requerer sua inclusão entre os grandes clássicos da sociologia, é interessante debruçar-se sobre ela para resgatar uma contribuição fundamental aos estudos de família no Ocidente. Por outro lado, creio que já é possível antecipar algo que é a marca da sua trajetória como pesquisador social e que, acredito, garantiu a sobrevivência de seus trabalhos. Refiro-me à preocupação com a coleta sistemática e planejada de evidências empíricas. Nesse sentido, no intuito de discutir tais aspectos da obra de Frédéric Le Play, pretendo, nas partes que seguem, examinar a sua trajetória pessoal e intelectual para então discutir as razões da centralidade da família em suas pesquisas e os conceitos que ele construiu e utilizou.

FRÉDÉRIC LE PLAY: VIDA E OBRA

A vida e a obra de Frédéric Le Play confundem-se por uma razão especial: boa parte dos seus escritos destinados a difundir seu método de pesquisa ocupa-se com a descrição de seus anos de formação e de seus esforços para criar e disseminar suas pesquisas. Assim, fica-se sabendo que, filho de um funcionário da administração alfandegária no interior francês, vai morar, em 1811, aos cinco anos de idade, com um tio materno, após a ausência do pai10, voltando a residir com sua mãe em 1815. Em outubro de 1825, entra para a École Polytechnique, em Paris, e dois anos depois para a École des Mines. Será o momento do contato com modernas idéias científicas e políticas. Segundo Savoye (1989:16), "é no curso dos anos passados na Escola de Minas que a questão da ‘decadência e da prosperidade das sociedades’ e da passagem de um a outro destes estados se tornam essenciais a seus olhos". No final do seu curso, no verão de 1829, propõe à direção da escola uma viagem de estudos à Alemanha do Norte. Com seu colega Jean Reynaud, percorre, segundo seu próprio depoimento, 6.800 km, a maior parte a pé. Ao lado das visitas a minas, usinas e florestas, empenha-se no estudo das populações trabalhadoras. Voltando a Paris, envolve-se em um acidente no laboratório de sua escola, permanecendo inativo durante um ano e meio. Este será um período em que a impossibilidade de exercer qualquer atividade física o afasta dos acontecimentos revolucionários de 1830. Segundo Le Play, esses são eventos decisivos para a formulação de seu método de trabalho: uma experiência de convívio, na infância e adolescência, com situações bastante diversificadas; a oportunidade de ir a campo observar sociedades diferentes; o período em que permanece entregue às suas próprias reflexões (Le Play, 1989:399-407).

Após sair desse período de inatividade, retoma a redação de seu relatório de viagem. Aos poucos, é absorvido pela École des Mines, onde não só passa a redigir os Annales des Mines, como se envolve com a construção de estatísticas de comércio internacional de minérios e a elaboração de obras de caráter técnico no campo da engenharia de minas11. Essa produção técnica será relativamente abundante até o ano de 1854, quando, às vésperas da edição de sua primeira e principal obra sociológica (Les Ouvriers Européens, 1855), publica seu último título na área12. Conforme Savoye, sua formação como engenheiro de minas servirá

"[...] de moldura para elaboração de sua ciência social que, durante cerca de um quarto de século, ele constituirá à margem de seus estudos metalúrgicos. Donde os parentescos de métodos entre as duas atividades científicas, a começar pelo primado dado ao contato direto com a realidade estudada. [...] O sociólogo como o engenheiro é antes de tudo um homem de campo que pratica a observação positiva dos fatos" (1989:16-17).

Ao longo das décadas de 1830 e seguintes, Le Play se envolverá em atividades diversas, combinando a ocupação de postos no governo francês com viagens de pesquisa. Entre 1834 e 1842, ao lado de suas funções como membro da Comission Permanente de Statistique de l’Industrie Minerale, realiza viagens à Bélgica, Inglaterra, Escócia e Irlanda (1835-1836); Áustria e Rússia Meridional (1837); Inglaterra (1842). Na Rússia, teve contato pela primeira vez com o que ele denomina de sociedades patriarcais. Continua suas viagens sistemáticas de estudo pela Alemanha do Norte e Rússia (1844); países nórdicos (1845); Itália do Norte, Áustria-Hungria e Bélgica (1846). Todas estas são ocasiões em que colige dados para a elaboração de monografias específicas de famílias. Ao mesmo tempo, vê-se impregnado de uma visão sociológica nas suas abordagens dos problemas industriais. Em suas aulas na École des Mines, desenvolve uma concepção sobre a direção de empresas que deve levar em conta o que chama de "fator humano" (idem:22).

No ano de 1848, em meio aos acontecimentos políticos, é chamado a auxiliar o governo no sentido de fornecer elementos para a fundação de uma política social reformadora. Nesse momento, seu interesse pelas ciências sociais transforma-se no objetivo principal de seus trabalhos. Com ajuda governamental, empreende novas viagens de estudos: Suíça, províncias do Danúbio e Turquia Central, em 1848; Auvergne, em 1850; Inglaterra, províncias renanas e Westphalia, em 1851; Áustria e Rússia, em 1853.

Em 1855, surge sua obra inaugural e decisiva no campo das ciências sociais: Les Ouvriers Européens, que é o resultado de esforços contínuos ao longo das duas décadas e meia nas quais coletou informações e elaborou monografias de famílias de praticamente todas as regiões européias. A obra é dividida em seis volumes. No primeiro, "Introduction", justifica a necessidade de realizar reformas sociais baseadas no conhecimento dos fatos e sustenta a superioridade das pesquisas diretas. No segundo volume, "Exposé de la Méthode Appliquée dans cet Ouvrage à l’Observation des Ouvriers", Le Play apresenta o processo de investigação e faz uma exposição preliminar dos resultados. Os volumes seguintes constituem a segunda parte da obra, sendo apresentadas 36 monografias de famílias; este é o verdadeiro corpo do trabalho, com o subtítulo: "Études sur les Travaux, la Vie Domestique et la Condition Morale des Populations Ouvriéres de l’Europe" (idem:26-28).

Savoye (idem:28-29) avalia que a obra provocou uma grande reação, em um duplo sentido. Do ponto de vista daqueles acostumados com a pura teorização, afloraram dificuldades decorrentes da necessidade de raciocinar sobre o volume de fatos levantados. Outros grupos reagiram, sobretudo, à adoção de um método baseado em uma amostragem, contestando a sua validade. De todo modo, o livro obtém ampla repercussão e é agraciado pela Academie des Sciences com o prêmio "Montyon" de Estatística, em janeiro de 1856. Neste mesmo ano, Le Play funda a Société Internationale des Études Pratiques d’Économie Sociale ou Société d’Économie Sociale (SES). Seu objetivo é "constatar pela observação direta dos fatos, em todas as regiões, a condição física e moral das pessoas ocupadas em trabalhos manuais, e as relações que as ligam, seja entre elas, seja com as pessoas pertencentes às outras classes"13. Trata-se de uma instituição com tríplice caracterização: é uma sociedade de sábios; é uma sociedade promotora de reformas sociais; é uma sociedade que não nega a política, mas busca neutralizar os efeitos das polêmicas políticas (idem:31-32). A partir daquele momento, a SES torna-se a grande difusora da metodologia leplaysiana, promovendo inclusive a publicação de novas monografias de famílias produzidas por pesquisadores nela formados14.

Le Play passa a ser consultado com freqüência por Napoleão III. Torna-se conselheiro de Estado em 1855 e, a partir de 1867, senador. Responde pela organização da parte francesa da Exposição Universal de Londres de 1862, incentivando a presença de trabalhadores. Para a Exposição Universal de 1867, em Paris, é nomeado comissário-geral, atuando com o mesmo propósito. Nesse intervalo, publica La Réforme Sociale en France (1864), incentivado por sua atuação como conselheiro de Napoleão III. Esta se tornará a sua obra mais difundida, com seis edições ainda durante a sua vida. Seu propósito é divulgar, em uma obra de leitura mais fácil e direta, os achados e as intenções contidas em sua proposta de reforma social. Trata-se de um estudo da sociedade francesa, incluindo desde a vida privada até o sistema de governo. Nele, Le Play aponta as transformações necessárias para assegurar a estabilidade e a prosperidade sociais. Por outro lado, há um apelo à iniciativa privada, mesmo que a título provisório ela deva colocar-se ao lado do poder do Estado. Neste aspecto, a obra revela de forma mais evidente os princípios liberais que pautaram a atuação de Le Play para levar à frente sua reforma social.

Em 1870, Le Play usa a sua experiência com as exposições universais para produzir uma nova obra, L’Organisation du Travail. Nela, são analisadas as práticas essenciais que, para ele, são o verdadeiro sintoma da saúde material e moral das oficinas de trabalho. No ano seguinte, vem à luz L’Organisation de la Famille. Trata-se de mais um esforço de divulgação dos seus achados no campo de estudo da família. Do ponto de vista pessoal, esse é o período em que, com a República, Le Play se volta para a vida privada. Há o abandono definitivo de qualquer perspectiva reformista com base no Estado e nas instituições públicas, o que vai levá-lo a fundar uma nova sociedade de estudos e reforma social: as Unions de la Paix Sociale (UPS). As UPS teriam o propósito de propagar a reforma social preconizada por Le Play. Entretanto, não fazia parte de seus objetivos constituir um grupo de pressão. Ao contrário, sua meta era "desenvolver uma pedagogia da reforma pela observação científica dos fatos sociais" (idem:42). Segundo o próprio Le Play, "para exercer suas propagandas da verdade, as Unions não demandam nenhum apoio de forças ou privilégios que conferem os poderes públicos" (1989:568).

Dentro dessa perspectiva, surge uma obra que representa a abertura de um novo veio de trabalho para Le Play: trata-se de La Constitution de l’Angleterre (1875). Nessa segunda fase do seu programa científico, Le Play propõe-se a estudar diretamente as sociedades (grandes ou pequenas) de um ponto de vista que compreende a dinâmica ordem/desordem, paz/discórdia (Savoye, 1989:41). Na mesma linha de Les Ouvriers Européens, apresenta seu estudo sobre a Inglaterra com o propósito de difundir sua definição sobre o quadro monográfico de estudos de sociedade. Entretanto, os poucos frutos colhidos por essa proposta de estudos levam a um retorno ao método monográfico de famílias. Surge, assim, a segunda edição de Les Ouvriers Européens (1879), associada a outra obra, La Méthode Sociale (1879). Ambas aparecem no interior de um quadro em que se tornava necessário reforçar a difusão de seus métodos de trabalho. Desde a sua estréia no campo dos estudos sociais, Le Play procurou garantir a difusão precisa de seus procedimentos, a fim de preservar a comparabilidade e a "cientificidade" dos seus achados e dos de seus discípulos. Nesse sentido, a SES procurou cumprir tal propósito mediante o treinamento de pesquisadores e a divulgação dos estudos mais recentes. Posteriormente, junto com a fundação das UPS, Le Play criou a École des Voyages e a revista La Réforme Sociale, em resposta às preocupações que o cercavam na conjuntura pós-1870. A nova edição de Les Ouvriers Européens e o lançamento de La Méthode Sociale, portanto, têm como objetivo auxiliar os trabalhos de ensino e pesquisa da École des Voyages e da SES.

La Méthode Sociale apresenta um conteúdo idêntico ao do tomo primeiro de Les Ouvriers Européens, "La Méthode d’Observation" (Savoye, 1989:8). Seu objetivo era divulgar o método de investigação social desenvolvido por Le Play, sobretudo para os estudantes pesquisadores da École des Voyages. Segundo Le Play, as viagens metódicas seriam o principal meio de obter informações sistemáticas que orientassem o intento maior da reforma social; daí a importância da École des Voyages. Para facilitar a propagação de seu método, o autor propõe-se a reunir, em um único volume, os principais elementos do (seu) "método social". Assim, justifica-se a publicação, sob nomes diferentes, de dois livros quase idênticos (Le Play, 1989:v-viii). Creio poder afirmar que a segunda edição de Les Ouvriers Européens e o surgimento de La Méthode Sociale significam o ápice da obra de Le Play, por dois motivos: de um lado, marca o retorno, que incorpora as contribuições advindas de décadas de trabalho do autor e dos pesquisadores formados segundo seu "método social"15, ao seu ponto de partida de 1855, qual seja, o estudo das sociedades (européias) com base nas monografias de famílias; de outro, sintetiza seu método de trabalho e fornece um instrumento que, a seu ver, garantiria que o mesmo se difundiria e perpetuaria.

LE PLAY APÓS LE PLAY

O empenho de Le Play em difundir seu método através de publicações e da criação de sociedades de pesquisa revela sua preocupação em garantir sua continuidade. Entretanto, após sua morte em 1882, seus seguidores envolveram-se em conflitos e cisões, frutos dos interesses diversificados daqueles que se julgavam os verdadeiros herdeiros dos propósitos do mestre. Embates começam a surgir em torno da orientação a ser dada ao principal periódico fundado por Le Play, La Réforme Sociale. O rumo que seus editores, Henri de Tourville e Edmond Demolins, vinham tentando dar às pesquisas desagradou aos dirigentes da Societé d’Économie Sociale, que os destituíram. Em reação, ambos enveredaram por um projeto alternativo, fundando o periódico La Science Sociale. Neste novo projeto, a ênfase é colocada no aspecto científico da obra de Le Play e, em um segundo momento, chega-se a abandonar os seus modelos de coleta de informações como referência mais importante (Kalaora e Savoye, 1989:125). Busca-se, com isso, uma renovação sensível da tradição leplaysiana (Chenu, 1994:8).

Henri de Tourville seria o principal responsável por tal renovação. Seu interesse volta-se para a integração entre as monografias de famílias e as monografias de sociedades, procurando realizar de forma inovadora o que seu mestre havia tentado sem muito sucesso. Assim, "estudar a família, mesmo na Europa Ocidental onde seu poder e sua autonomia estavam consideravelmente reduzidos, permanece como uma via de acesso para a compreensão da sociedade" (Savoye, 1989:57). Para cumprir tal objetivo, Tourville investe na criação de uma nomenclatura dos fatos sociais, entendida como instrumento que permitiria, partindo da análise da família, estudar as sociedades. Nesta nomenclatura, os fatos sociais seriam distribuídos em 25 grandes classes, o que favoreceria a descrição metódica da realidade através do isolamento dos fatos sociais essenciais, sobretudo porque permitiria ascender a uma explicação pelo estudo da ação e da reação dos fatos entre si (idem:57-58). Abre-se, pois, um novo campo de investigação que recria a tradição leplaysiana.

O grupo que permaneceu agregado ao periódico La Réforme Sociale volta-se, sobretudo, para a elaboração de instrumentos destinados à intervenção racional e reguladora da sociedade (Kalaora e Savoye, 1989:175). Neste grupo, destaca-se o papel de Émile Cheysson que, em 1897, lança a expressão "engenharia social", que sintetiza muito bem os propósitos do grupo. Para ele, seria necessário desenvolver nos patrões uma sensibilidade às implicações sociais do funcionamento das empresas (idem:176). Maurice Bellon, outro integrante do grupo, refere-se ao engenheiro social como o sociólogo prático que conhece a fundo os princípios e métodos necessários para assegurar a paz na relação entre patrões e operários e realizar a melhoria da sorte dos trabalhadores (ibidem). Deste ponto de vista, realiza-se plenamente o propósito maior das ciências sociais segundo Le Play: buscar na pesquisa sociológica fundamentos que permitam estender a todos os setores da sociedade um intervencionismo social racional, cientificamente fundamentado (idem:185)16.

Entre a orientação do grupo reunido em torno do periódico La Science Sociale e a daqueles que se conservam junto ao La Réforme Sociale, permanece como fator comum a concepção de uma ciência social que deve servir à intervenção. Portanto, "o desacordo deve-se bem mais, no momento da ruptura, a uma diferente apreciação sobre a combinação, a dosagem da ciência e da reforma, ambas componentes essenciais e indissociáveis do leplaysianismo" (Savoye, 1989:53).

O empenho gerado pela união entre ciência social e reforma social leva os grupos herdeiros de Le Play ao envolvimento com os diversos temas de sua época, negando-se a uma especialização e indo de encontro à tendência do saber instituído. A indissociabilidade entre ciência e ação, conhecimento e reforma, gerou dificuldades em estabelecer ligações e trocas intelectuais com os cientistas sociais universitários partidários da neutralidade do saber e do descompromisso do pesquisador (Kalaora e Savoye, 1989:29).

A universidade francesa, especialmente a partir da Primeira Guerra Mundial, assegura seu domínio sobre a produção e difusão do saber que marginaliza e isola as escolas independentes. Os compromissos políticos dos leplaysianos, especialmente suas ligações com o clero católico, isolam-nos ainda mais, dadas as sanções impostas pelas ciências sociais universitárias a tais orientações (idem:30, 38).

O movimento leplaysiano separa-se da universidade e de seus critérios de cientificidade, rompendo com seus valores e códigos. A reunião multiforme de indivíduos, associados em torno de uma base de investimento e engajamento pessoal, de iniciativa privada e sem a necessidade de se conformar às regras acadêmicas, está na raiz desse estranhamento recíproco. À formalidade facilmente legível que o sistema hierárquico dá à universidade contrapõem-se outros critérios que não apenas aqueles ligados às atividades científicas. Dentre eles, além do valor associado à produção escrita, se unem fatores como idade, experiência, status social e outros (idem:34-35).

Esse distanciamento mútuo é o principal gerador do ocultamento que sofreu, dentro da sociologia francesa, a produção associada a Le Play. Ao longo das décadas seguintes à sua morte, a sua produção e a de seus seguidores assistiram a um movimento pendular de recuperação e esquecimento. Após o ostracismo nas décadas iniciais do século XX, a tradição leplaysiana é recuperada no entreguerras. Na França, é motivada pelo interesse renovado nas pesquisas empíricas e monográficas e pelo desejo de participar dos intensos debates políticos da época. Em outros países, a descoberta de Le Play ocorre sobretudo pela valorização e desenvolvimento dos trabalhos monográficos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a identificação de alguns dos membros do movimento com o regime de Vichy provocou novo esquecimento de Le Play (idem:44-47), cuja recuperação só se torna consistente a partir da década de 60.

O interessante a destacar nessa trajetória é a persistência dos leplaysianos. Segundo Kalaora e Savoye,

"A Escola de Le Play é um grupo de pessoas privadas reunidas sobre a base de um projeto social e de pesquisa. Apesar das múltiplas vicissitudes, esta Escola se manteve de 1856 aos nossos dias, graças à renovação, geração após geração, das iniciativas pessoais e coletivas que a move. Esta duração é por si só marcante. Ela revela claramente a estratégia de reprodução [...] do grupo leplaysiano, e sua capacidade de desempenhar uma ação pertinente em face da evolução da sociedade francesa" (idem:69).

A FAMÍLIA EM LE PLAY

Já ficou claro que a família ocupa o centro das preocupações de Le Play e, conseqüentemente, é o vértice do seu "método social". Como organização básica da sociedade, sobre ela monta-se e em torno dela gravita toda a vida dos indivíduos. Para compreender a origem e as conseqüências dessa centralidade da família na obra de Le Play, proponho que acompanhemos a forma como ele demonstra o seu método. Para tanto, nesta parte, analisarei detalhadamente La Méthode Social que, conforme afirmei acima, marca o ápice de seu trabalho como investigador social.

O prefácio da obra já indica o ponto de vista e os propósitos do autor. Desde os acontecimentos de 1789, a Europa (e sobretudo a França) estava vivendo uma situação de sofrimento e instabilidade. A busca de remédios para esse estado, tentada pelos homens de Estado e pelos escritores, revelava-se inútil. Assim, Le Play propõe que se busque a solução para tais problemas no segredo dos governos fundados na paz. Para tanto, argumenta que o seu método de investigação se mostra o mais adequado, pois procura aplicar à observação das sociedades humanas um "mecanismo científico", o qual foi elaborado graças ao uso de regras análogas àquelas que ele se acostumara a utilizar no estudo dos minerais e das plantas. Conforme afirma, "eu criei um método que me permitiu conhecer pessoalmente todas as nuanças da paz e da discórdia, da prosperidade e do sofrimento que apresentam, na Europa, as sociedades contemporâneas" (Le Play, 1989:x).

Sua conclusão é que a condição para a felicidade humana se reduz a uma verdade fundamental, inerente à natureza humana: as sociedades são felizes quando cada indivíduo possui o "pão cotidiano" e pratica a "lei moral". Em função disso, é possível observar a existência de quatro tipos de sociedades, conforme uma raça (expressão utilizada como sinônimo de sociedade) adquiriu, conservou, perdeu e, enfim, recuperou esses dois bens essenciais da humanidade. Assim, temos: as raças "simples e felizes" (superiores a todas as outras); as "complexas e felizes"; as "complexas e sofridas" (situação observada na França "após o esplendor do reino de Luiz XIV"); e as "complexas e reformadas". Sua obra, portanto, tem o propósito de orientar e propagar um plano de reformas judiciosas que permita à sociedade (européia) recuperar a felicidade perdida.

Com o intuito de orientar as investigações e divulgar a necessidade de reformas sociais, a obra apresenta-se dividida em três livros. No primeiro, intitulado As Origens do Método, justifica-se a necessidade de tal empreitada e se apresenta o esquema explicativo adotado pelo autor, baseado na relação entre a sociedade e o lugar, a natureza humana e os meios de subsistência. O segundo livro, A Descrição do Método, divide-se em duas partes: argumenta-se sobre a centralidade que a investigação sobre a família deve ocupar em um método que busca ser o mais adequado para a reforma da sociedade; e apresenta-se o método de monografias de famílias trabalhadoras. Finalmente, o livro terceiro, A História do Método e seus Resultados, expõe a trajetória pessoal do autor, um resumo dos resultados obtidos com 57 monografias de famílias, um "Vocabulário Social" com 300 palavras, um "Sumário Alfabético" dos fatos expostos na obra (com mais de 600 entradas) e um relato dos resultados relativos ao ensino do seu método nos anos que separam as duas edições de Les Ouvriers Européens (1855 e 1879).

No capítulo inicial do livro primeiro, Le Play (1989:3) argumenta que a origem do sofrimento de então estava nos erros acumulados desde o século XVIII. Um deles seria a predominância exagerada do "espírito de novidade" sobre o "espírito da tradição", embora reconheça que as inovações contemporâneas melhoraram a vida material, mesmo tendo desorganizado a vida moral. Estas afirmações trazem em si um aspecto interessante da visão do autor sobre o seu tempo e a reforma social que pleiteava. Embora se possa dizer que estivesse preocupado em ir contra muitas das transformações então em curso no mundo, Le Play não advogava uma volta ao passado. Para ele, o progresso material alcançado pela sociedade européia era importante, mesmo porque o aumento da população e as conseqüentes concentrações humanas eram um caminho sem retorno. Caberia às autoridades (oficiais ou não) buscarem empreender reformas que reconciliassem o homem do século XIX com a felicidade perdida pela rapidez das transformações. Os elementos dessa reconciliação, e conseqüentemente da paz social, estavam fortemente estabelecidos na vida privada (idem:4-5). Daí a eficácia de um método científico que, com o propósito de buscar a reforma social, se volte para a observação da vida privada em suas diferentes formas de organização no mundo europeu. Seu método responde a essa necessidade, especialmente porque surgira da observação da realidade, e não de idéias preconcebidas (idem:41, 43).

A observação direta da realidade permite a ele afirmar que as diferenças entre as raças humanas guardam relação direta com os lugares habitados e com o clima (idem:49). Assim, os territórios onde se desenvolveram as diversas raças européias podem ser divididos em três tipos. As estepes, com sua abundância de recursos, permitiram a existência de grandes famílias esparsas ou agregadas em tribos homogêneas com ancestrais comuns, chefiadas por um único indivíduo; tais grupos deram origem a famílias estáveis e constituídas sobre uma base patriarcal (idem:51). Eram a "pátria da virtude", segundo os geógrafos e poetas (idem:55). O litoral, também com recursos abundantes, deu origem a outro tipo de família estável: a família-estirpe ("famille-souche"). Suas diferenças com a família patriarcal deviam-se à sua composição: um único casal compreendendo os pais, os filhos celibatários e o herdeiro casado. Este era o resultado das particularidades da atividade pesqueira, que fornecia seus principais meios de subsistência. Os recursos por ela fornecidos eram abundantes, mas dependiam de invenções humanas e de esforços diários que não permitiam a sobrevivência da família patriarcal (idem:57). Finalmente, nas florestas e solos variáveis situados entre as estepes e o litoral, as formas de sobrevivência impostas pelo meio e pela maior concentração humana levaram à necessidade de reunião em pequenos grupos, além de tornarem a emigração um de seus elementos constitutivos. Esse era o espaço em que já não se podia contar com famílias tão estáveis (idem:59-60). Essas eram as sociedades sobreviventes em algumas regiões européias ao tempo das investigações de Le Play. Entretanto, as influências contemporâneas (especialmente a expansão das ferrovias) estavam destruindo-as. O trabalho de pesquisa sobre elas tornava-se ainda mais importante porque, testemunhas de sociedades estáveis, elas poderiam fornecer os elementos para a reforma social tão necessária ao restante da Europa.

Por que essas sociedades eram estáveis? Para explicar esta questão, Le Play invoca os dois elementos já apontados no prefácio da sua obra: a busca do "pão cotidiano" e a prática da "lei moral". Será sobre a "lei moral" que ele discorrerá primeiro. Para Le Play, a natureza humana é essencialmente má. Entre os animais sociáveis, o instinto assegura o bem-estar, mas entre os homens, este só será garantido pela lei moral, que é única. Sua forma principal apareceu no Decálogo judaico-cristão, mas também em outras civilizações, como a chinesa, ele surge com o mesmo conteúdo (idem:133). A lei moral é a responsável pelo controle do livre-arbítrio, e o abuso deste engendra o sofrimento decorrente da instabilidade e da discórdia. É a lei moral que reprime as tendências ao mal (idem:70). A criança não nasce com uma tendência inerente ao bem, ao contrário. Os pais, no seio de suas famílias, são os responsáveis por transmitirem os princípios da lei moral aos filhos. Dentre estes, inclui-se, obviamente, o ensino de uma "arte útil", uma iniciação ao trabalho. Será o sucesso (ou insucesso) de tal missão que conduzirá a sociedade à felicidade (ou ao sofrimento) (idem:73-75). Entre as sociedades mais complexas, também o governo se torna responsável pela transmissão da lei moral, seja por instituições específicas (religião, escola etc.), seja pela obediência estrita ao senso de justiça, que evita a revolta e a desobediência de seus cidadãos (idem:75).

A lei moral é única, mas as formas de sobrevivência (o "pão cotidiano") são diversas. Nas sociedades complexas, estas devem estar limitadas para evitar a corrupção dos costumes provocada pelas aglomerações exageradas. Em outras palavras, os meios de subsistência devem se conciliar com as exigências da lei moral (idem:80-81). Daí a importância de se investigar as diferentes ocupações humanas e a relação que estabelecem entre a lei moral e as formas de sobrevivência. Le Play identifica e descreve nove "profissões" ou "tipos de trabalho". As seis primeiras (os selvagens, os pastores, os pescadores, os trabalhadores nas florestas, os mineradores e os agricultores) são consideradas indispensáveis à sobrevivência da sociedade (idem:84-117). Os manufatores, os comerciantes e os profissionais liberais, por sua vez, são desnecessários – são até mesmo nocivos, caso tenham criado muito rapidamente sua riqueza, porque são fontes de orgulho e de corrupção (idem:181). Do ponto de vista dos manufatores, a "indústria doméstica" é valorizada porque ainda se realiza no âmbito das atividades da família (idem:119). As "fábricas coletivas" e as "usinas hidráulicas", por sua vez, embora provoquem concentrações humanas condenáveis, ainda podem garantir a manutenção das famílias trabalhadoras e preservar, em maior ou menor grau, relações de patronagem estáveis (idem:120-122). As "usinas a vapor com engenhos mecânicos", entretanto, embora tenham representado uma grande conquista para a humanidade, foram, para as classes trabalhadoras, a origem de terríveis calamidades (idem:123). Porém, a mais terrível das invenções geradas no século XVIII deveu-se ao "filósofo escocês" Adam Smith, que se dedicou a persuadir diversas gerações sobre a inutilidade das relações de patronagem. Foi esta pregação que provocou a disseminação de comoções e discórdias nas fábricas, em lugar da estabilidade e da paz então reinantes (idem:124).

Dadas essas duas instâncias essenciais para a compreensão da sorte das sociedades humanas, resta determinar como se dá a constituição mesma de tais sociedades. Para Le Play, todas elas possuem uma característica primordial, inseparável da natureza humana: os indivíduos agrupam-se por "unidades sociais", ou seja, famílias – compostas ao menos de um pai, uma mãe e seus filhos. As formas de família podem se apresentar bastante diversificadas, com graus diferentes de simplicidade e de complexidade. Todavia, alguns elementos constitutivos são indispensáveis para a garantia da estabilidade e da paz social (idem:132). Nas raças prósperas, o edifício social compreende sete elementos essenciais, agregados em três grupos. O primeiro grupo abrange dois fundamentos inseparáveis: o Decálogo, expressão da lei moral, que completa a natureza imperfeita do homem ao regular seu uso do livre-arbítrio; e a autoridade paterna, responsável pelo ensinamento da lei moral aos seus filhos e pela repressão das suas tendências inerentes ao mal. O segundo grupo contém os dois "cimentos" das raças: de um lado, a religião; de outro, a soberania, que complementa nas aglomerações de famílias a função da autoridade paterna. Finalmente, o terceiro grupo apresenta os três materiais constitutivos da propriedade da terra, da qual as sociedades retiram seus principais meios de subsistência: a comunidade, a propriedade individual e a patronagem (idem:134-135).

Le Play identifica duas regiões onde, apesar das transformações que começavam a ser introduzidas, ainda existiam sociedades em que a constituição essencial conservava a preponderância dos espíritos, perpetuando o reino da paz e da estabilidade: o Oriente e o Norte (idem:135). As principais características dessas sociedades simples eram: relativa dispersão pelo território; uso de recursos produzidos espontaneamente pelo solo e pelas águas, com complementos fornecidos pela agricultura, pastoreio, recursos florestais e mineração; supremacia da família submissa ao Decálogo, à religião e à autoridade paterna; alta fecundidade, criadora de famílias fortes e que permitia escolher um bom herdeiro; emigração, que dirigia às colônias as atividades superabundantes que poderiam prejudicar a metrópole (idem:141).

As nações do Ocidente, por seu turno, haviam perdido a noção suprema de paz social. O sofrimento material tinha por origem, principalmente, as inovações que, transformando os regimes manufatureiros desde a Idade Média, haviam retirado da população a segurança dada pelas instituições tradicionais (idem:144). O sofrimento moral, por sua vez, decorria da corrupção dos costumes e das idéias que, através dos tempos, provocou a decadência e a ruína das nações (idem:154). Essa decomposição de costumes e idéias teve sua expressão máxima em Rousseau, cuja crença na tendência inerente ao ser humano de realizar o bem levou-o à formulação da doutrina que pregava três falsos dogmas: a liberdade sistemática, a igualdade providencial e o direito à revolta (idem:149). É importante salientar que Le Play busca expor esses seus argumentos assumindo que os mesmos foram produzidos a partir das investigações levadas a cabo por ele ao longo dos anos em que realizou suas pesquisas sociais. O contínuo recurso ao testemunho de sua trajetória pessoal seria a demonstração de que tais conclusões não foram fruto de mera especulação teórica, mas resultado de um esforço sistemático de investigação empírica. Nos dois livros seguintes, ele se ocupará da descrição e da história do método de trabalho que teria permitido construir tais conclusões.

O livro segundo, intitulado A Descrição do Método, inicia com uma explicitação dos seus objetivos: "Eu irei demonstrar neste Livro que o método de observação, o mais apto a reformar as sociedades, deve ter por objeto o estudo das famílias" (idem:157). Desde que começaram a multiplicar-se, os homens asseguraram sua subsistência cotidiana agrupando-se em famílias. As constituições sociais passaram a derivar dos meios empregados para a conquista da subsistência e de seu bem-estar, gerando influências nos costumes, nas idéias e nas instituições sociais. Tais constituições sociais podem variar ao infinito, mas colocam-se entre dois pontos extremos. De um lado, existem as sociedades que se contentam com os meios de subsistência mais simples. Estas permanecem esparsas sobre seus territórios, dentro das condições mais favoráveis de respeito à lei moral; conseqüentemente, conservam a prosperidade. No outro extremo, estão aquelas que multiplicaram ao máximo os meios de subsistência nos seus territórios, aglomerando-se e desenvolvendo influências opostas ao predomínio da lei moral. Tais sociedades viram-se corrompidas e tombaram no sofrimento (idem:158). O único meio de se alcançar a reforma social requerida pelas sociedades tomadas pelo sofrimento é a observação social, tanto das raças mais simples quanto das mais complexas. À divisão contemporânea entre espírito e interesse, devem-se opor todos os recursos de união oferecidos pela tradição do passado, controlados pela experiência e sabedoria dos contemporâneos (idem:167). O método desenvolvido por Le Play volta-se, portanto, para o estudo da família porque é nela que será encontrado o caminho para a recuperação do bem-estar, da paz e da prosperidade. Compreender a família é crucial, pois isto permitirá intervir sobre as causas do sofrimento e da corrupção. A reforma social, objetivo buscado por Le Play, deverá levar em conta que o bem-estar das famílias é o critério que permite verificar as boas constituições sociais. Daí a formulação do axioma: "a vida privada imprime seu caráter à vida pública; a família é o princípio do Estado" (idem:181).

No entanto, nem todas as famílias serão investigadas. As preocupações de Le Play voltam-se para um grupo específico: os trabalhadores, definidos como aqueles que executam com suas próprias mãos as operações que geram os meios essenciais à subsistência da sociedade. Donde resulta que a organização material e moral da população trabalhadora e a natureza de suas atividades formam um dos traços constitutivos das sociedades (idem:208). Em uma sociedade simples, todas as famílias se envolvem com esse tipo de trabalho e consomem diretamente a sua produção. Nesses casos, a família é a imagem exata da sociedade. Para conhecer a constituição social, é suficiente observar os meios e o modo de existência da família trabalhadora (ibidem). Em sociedades que alcançaram graus mais elevados de complexidade, os trabalhadores ainda compõem a maioria dos produtores e consumidores. Os demais, a minoria, podem ser divididos em dois grupos. O primeiro é formado pelos mestres (proprietários rurais, capitalistas e chefes de toda sorte), que fornecem a certas categorias os instrumentos de trabalho, a direção técnica de suas operações manuais, uma direção moral e uma patronagem que estende à oficina de trabalho função paternal semelhante à dos pais com seus filhos. O segundo grupo é constituído pelos profissionais liberais. O método social centrado na família do trabalhador, portanto, permitiria perceber a todos. Partindo dos trabalhadores, indicaria as conexões que os uniriam aos mestres e aos profissionais liberais (idem:209).

À objeção de que a análise de um pequeno número de famílias não daria conta da compreensão de uma sociedade, Le Play contrapõe o argumento da experiência (suas observações comprovariam a validade de seu método) e a indicação de que as boas sociedades geram situações que amenizam as diferenças e as diversidades humanas (idem:210). Além disso, o objetivo de seu método é divisar soluções para o sofrimento identificado nas sociedades européias (sobretudo a francesa). Para tanto, examinar detidamente algumas famílias permitiria encontrar aqueles elementos fundamentais para responder a essa questão. Nas famílias de sociedades simples, essa tarefa estaria facilitada pela força das tradições que protegeriam a paz e a estabilidade transmitida pelos ancestrais (idem:211)17. Nas sociedades complexas, centrar o foco nas famílias seria válido porque as sociedades são compostas não de indivíduos isolados e independentes, mas de famílias. Na busca de caminhos para a reforma social, observar apenas algumas famílias seria suficiente, porque as soluções para a discórdia potencialmente gerada no interior das famílias eram muito semelhantes nas diversas situações observadas. Segundo Le Play, a paz interior das famílias (trabalhadoras) seria assegurada (nas sociedades complexas) pela combinação de três condições: a indicação do (único) herdeiro capaz de perpetuar, a cada geração, a estabilidade e a paz do lar, da oficina de trabalho e da vizinhança; a ascendência moral e o exercício cotidiano da autoridade paterna, garantida pelo costume e respeitada pela lei escrita; e a organização de um regime regular de emigração que retenha no lar, na oficina, na comunidade, na província e no estado os membros mais úteis de cada geração, destinando às colônias aqueles excedentes (idem:212-213).

Ora, esta é a descrição da família-estirpe que adiante será dada por ele:

"[...] estável em seu Domicílio18, aliando a Tradição e a Novidade. Os pais manteriam e casariam apenas poucos filhos que eles intitulariam ‘Herdeiros-associados’. Os outros filhos que quisessem casar-se emigrariam isoladamente, providos de Dotes formados pela totalidade dos produtos economizados pela casa-estirpe" (idem:457).

É esta a "utopia" de Le Play, o tipo de família que, segundo sua percepção, permitiria unir o ideal da família patriarcal (cuja existência só se poderia dar nas estepes) com as circunstâncias de uma Europa já muito povoada e infiltrada pelas transformações acumuladas desde a Idade Média. A família-estirpe é o testemunho de família estável que ele ainda encontra em algumas partes da Europa, em contraposição à família em crise ou desorganizada que já prevalecia na maior parte da porção ocidental do continente. Para ele, a reforma social deveria começar pelo resgate e valorização da família-estirpe; daí, dentre outras, sua luta, enquanto conselheiro e senador, pela reforma da lei de heranças igualitárias, instituída no rastro da Revolução de 1789.

Seu método de monografias de famílias, portanto, busca definir um conjunto de observações que permita captar as informações necessárias para orientar a reforma social. Embora sua obra apresente um tom bastante conclusivo quanto aos seus achados, havia uma preocupação por parte de Le Play com a necessidade de continuar as observações. As monografias de famílias eram vistas como um gênero próximo aos livros de viagem, o que implicava a necessidade de que fossem sempre refeitas e divulgadas (idem:227)19. Ele despendeu grande esforço para formar pessoas que continuassem a realizar as monografias conforme ele as fez. Além disso, ele acreditava que a utilidade de tais monografias só aumentaria com o passar do tempo, pois elas assumiriam o caráter de viagens retrospectivas com as quais os historiadores do futuro poderiam contar (idem:228)20.

Mas, afinal, como são feitas essas monografias de famílias? Se para Le Play os povos eram constituídos de famílias, e não de indivíduos, qualquer trabalho de observação que se concentrasse na descrição dos indivíduos de sexo e idades diferentes em uma localidade seria vago, indefinido e sem conclusões possíveis. No entanto, tal trabalho seria preciso, limitado e conclusivo se tivesse por objeto a família; daí a eficácia prática das monografias de famílias (idem:220). A execução destas deveria pautar-se pela observação direta, viabilizada pelo convívio e pela contínua interlocução com seus membros21. Além disso, deve-se ter sempre o cuidado de conferir as informações e de recorrer ao que ele denomina de autoridades sociais (idem:221-222)22. Respeitando os pressupostos contidos nas suas exposições precedentes, as monografias devem ter dois fios condutores: a situação da família quanto ao conhecimento da lei moral; a situação da família quanto à satisfação do pão cotidiano. Uma família sofre ou prospera se há boa ou má conservação dessas duas condições essenciais. Tais detalhes aparecerão de forma cristalina naquela que é a parte essencial da monografia: o orçamento familiar (idem:227). Isto porque o orçamento familiar permite conhecer não apenas como o pão cotidiano vem sendo suprido, mas também, indiretamente, a forma como se dá a obediência à lei moral. Em outras palavras, o orçamento familiar reflete a vida, a organização e as funções da família.

Cada monografia deve ser dividida em três partes. A primeira é o título. Nele, devem constar três aspectos que permitam definir com clareza o seu conteúdo: a profissão do trabalhador, a posição por ele ocupada na hierarquia da profissão e o sistema de engajamento que o vincula aos chefes desta classe. Quanto à hierarquia, Le Play indica seis condições que se sucedem: os trabalhadores domésticos, os trabalhadores jornaleiros (ou diaristas), os trabalhadores autônomos, os trabalhadores gerentes, os trabalhadores proprietários, os trabalhadores chefes de ofício (idem:229-234). O engajamento destes é definido segundo sua natureza e a duração do trabalho, podendo ser de três tipos, que se sucedem, em um mesmo lugar, conforme as populações se vão aglomerando: o engajamento forçado, o voluntário permanente e o momentâneo. Este último ocorre quando a lei moral é abalada pela corrupção de idéias e de costumes e quando os sentimentos mútuos sobre os quais repousam a solidariedade entre mestres e trabalhadores vão se esvanecendo (idem:234-235). O título também deve conter uma indicação do lugar onde vive a família observada, já que o componente espacial é de suma importância para os objetivos de Le Play.

A segunda parte contém a monografia propriamente dita, com os orçamentos familiares de receitas e despesas. A centralidade dos orçamentos se deve ao fato de as famílias de trabalhadores terem a sua existência determinada, de um lado, pela busca incessante da reunião dos recursos necessários à sua subsistência, e, de outro, pela busca do equilíbrio entre a conquista desses recursos e a satisfação de suas necessidades (idem:236).

A terceira parte deve trazer dois textos complementares: "Observações Preliminares", contendo treze parágrafos, expõe a natureza do lugar, a organização do trabalho na localidade, os caracteres especiais da família descrita, os traços gerais da receita e da despesa desta, uma história da família e suas condições morais; "Elementos Diversos da Constituição Social" menciona os fenômenos sociais diante dos quais o trabalhador é simplesmente passivo, com suas conseqüências, boas ou más, não podendo ser atribuídas a ele (as leis, os atos dos governos, os exemplos das classes dirigentes e outros) (idem:238-239).

Como os orçamentos de receitas e de despesas formam o centro das monografias de famílias, Le Play concentra-se na discriminação dos diversos itens que devem compô-los. Naquilo que denomina "Os Meios de Existência dos Trabalhadores e o Orçamento de Receitas", ele discrimina quatro fontes de receitas: as propriedades, de três tipos (idem:248-261); as subvenções, de três categorias (idem:262-266); os salários de trabalhos (idem:267-280); a indústria doméstica (idem:280-285). Esta parte é complementada por instruções quanto aos valores em dinheiro e in natura (idem:286-288) e quanto ao grau e precisão na avaliação dos orçamentos (idem:288-289). Em "Os Modos de Existência e o Orçamento de Despesas" são distinguidas cinco seções: nutrição, distribuída em sete artigos (idem:291-320); habitação, em quatro artigos (idem:320-340); vestuário (idem:340-352); necessidades morais, recreações e serviços de saúde (idem:353-371); indústrias domésticas, dívidas, impostos e seguridade (idem:371-379). Com alguns comentários adicionais sobre a constituição social e as autoridades sociais, Le Play encerra o segundo livro.

No terceiro livro, A História do Método e seus Resultados, Le Play se dedica a apresentar um resumo dos resultados alcançados a partir das 57 monografias de famílias reunidas na segunda edição de Les Ouvriers Européens. Ele adota cinco áreas em conformidade à divisão geográfica da Europa e ao estado social das populações; estas áreas guiam a forma como se organizam os volumes que contêm os resultados. No volume II, aparecem as monografias do Oriente, de famílias patriarcais e populações estáveis. O volume III inclui as monografias do Norte, com famílias-estirpe e populações estáveis. Os três volumes seguintes são dedicados ao Ocidente: no volume IV, aparecem as monografias de famílias-estirpe ou patriarcais e populações estáveis; no volume V, as monografias de famílias instáveis e populações abaladas em sua estrutura; no volume VI, as de famílias instáveis e populações desorganizadas.

Ainda em La Méthode Sociale, Le Play apresenta dois conjuntos de resultados que devem servir de guia para aqueles que querem apor o método de monografias de famílias. O primeiro é o "Vocabulário Social", contendo uma abreviação alfabética da "ciência social", feita com trezentas palavras constitutivas da linguagem própria do seu "método social". Segundo ele, é necessário empregar na ciência social o método de observação que é usado com sucesso no estudo das ciências físicas. É preciso definir o senso exato atribuído às palavras que se aplicam aos elementos fundamentais da ciência social (idem:441-479). Outro conjunto de resultados é a "Tábua Analítica dos Fatos Observados em Les Ouvriers Européens". Nela, são listados mais de seiscentos "fatos" que classificam em forma alfabética os detalhes da vida moral e "física" das famílias estudadas (idem:480-548).

Não se pode deixar de mencionar dois componentes importantes desse terceiro livro de La Méthode Sociale. Em primeiro lugar, há os testemunhos autobiográficos em que Le Play expõe sua história pessoal desde a infância até o momento em que escreve esta obra. O relato é dividido em três tempos: a primeira educação do autor (1811-1815); a aprendizagem do método (1829-1855); a propagação deste (1848-1879) (idem:399-438). Trata-se de mais um retorno à sua biografia pessoal como justificadora do surgimento do seu método e como uma espécie de contraprova da sua validade enquanto resultado de observações empíricas (e por isto mais confiáveis). Em segundo lugar, Le Play dedica-se a descrever os resultados obtidos com o ensinamento do seu método. Assim, ele busca relacionar todas as atividades em que se envolveu com tal intuito: a Société Internationale des Études Prátiques d’Économie Sociale; as Unions de la Paix Sociale; o Comité de la Bibliothéque Sociale; seus esforços de ensinamento "pelos escritos" e "pelas palavras" (idem:549-573). Trata-se de demonstrar a necessidade de difundir seu "método social" e de dar continuidade à pesquisa empírica. O exercício da "dúvida metódica" continua a marcar a atuação de Le Play, e "o próprio método, ainda que arduamente elaborado e experimentado centenas de vezes, não é intangível e deve ser aperfeiçoado, até mesmo ultrapassado" (Savoye, 1989:10).

O MÉTODO EM LE PLAY

Conforme apontado anteriormente, a grande força dos estudos leplaysianos reside na construção de um método sistemático para a investigação social. Esta se concentra no estudo da família, vista como a instituição fundadora da sociedade. Nesse sentido, o método leplaysiano não pretende atender apenas a uma sociologia da família, mas a uma sociologia que a toma como elemento central. O primado da monografia de família se justificaria pela concepção segundo a qual esta inclui todo o mundo social (Chenu, 1994:201). O tipo de família dominante em uma determinada região deixaria sua marca em todas as esferas da vida social, o que permitiria a combinação, fundamental para Le Play, entre espaço geográfico e organização familiar. Quando Le Play resolve criar um método para a investigação das sociedades, as chamadas monografias de países, a família é novamente tomada como ponto de partida e como principal fonte de explicação da organização social. É o que se vê em La Constitution de l’Angleterre (1875), onde a pesquisa dos grupos familiares ocupa todo um capítulo (Livre Cinquième: La Famille et son Domaine), além de outros dedicados à vida privada (Livre Sixième: L’Association et la Hiérarchie dans la Vie Privée; Livre Septième: Les Rapports de l’Anglais et de l’Étranger dans la Vie Privée). O tema da organização política só ocorre depois da indagação de todos esses elementos que seriam seus condicionantes.

Para Chenu (1994:5-7), pode-se ver na construção desse método a combinação dos três papéis desempenhados por Le Play ao longo da sua vida: o engenheiro, o sociólogo e o reformador social. Da engenharia, ele importa a concepção do trabalho de pesquisa como atividade coletiva, inscrita em uma organização hierarquizada. Como sociólogo, ele se destaca como um dos inventores da etnologia moderna, com sua ênfase na observação direta e na pesquisa de campo. Finalmente, o reformador social transparece no seu empenho em propor reformas a partir dos seus achados como sociólogo.

A originalidade do método que surge da confluência desses três perfis reside no projeto científico que o sustenta, já que os conceitos elaborados, o método de investigação e as técnicas de levantamento de dados constituem a base de uma ciência social. A atividade de pesquisa torna-se, com Le Play, um saber cientificamente transmissível. Todas essas são características ausentes nos empreendimentos dos cientistas sociais coevos (Kalaora e Savoye, 1989:95).

Esses atributos do método desenvolvido por Le Play o distinguem no universo dos investigadores sociais de sua época. Ao dar um caráter coletivo ao seu empreendimento científico, Le Play viabiliza a realização de estudos sistemáticos, e não mais de casos excepcionais. Além disso, não é apenas o indivíduo solitário, portador de uma grande originalidade, que pode fazer pesquisa social válida. Dentro da escola leplaysiana, deve-se contar com a colaboração do número máximo de pesquisadores, que devem ser preparados de maneira minimamente uniforme antes de empreenderem seus trabalhos de campo. Desse ponto de vista, Le Play é um precursor das escolas sociológicas e da formação sistemática que marcará a sociologia universitária no século XX.

Uma das principais contestações ao método de Le Play, presente desde o momento inicial da recepção do seu trabalho, vem da ausência de critérios seguros para a escolha da família a ser pesquisada em uma determinada região. Entretanto, segundo Chenu (1994:12), sua prática de selecionar de maneira intuitiva um conjunto de situações exemplares, fazendo de cada uma delas objeto de observação intensiva seguindo um roteiro predefinido, apresenta um caráter mais sistemático que a investigação histórica difusa ou a enquete jornalística sem método específico que caracteriza o cientista social da época.

Outro aspecto a enfatizar diz respeito à elaboração teórica a partir dos achados empíricos. Em Le Play, há o trabalho empírico padronizado, circunscrito, suscetível de ser repetido e controlado. Dele devem derivar os conceitos abstratos que permitirão as amplas sistematizações que estão na base de sua tipologia de famílias. Deve-se lembrar que essa tipologia surge ao longo dos anos e após vasto acúmulo de conhecimento empírico, mas ainda assim se apresenta imperfeita e bastante influenciada por suas concepções gerais acerca da sociedade e dos seus projetos de reformador social. Isto fica evidente na grande valorização dada à família-estirpe gerontocrática, que é o ponto de ligação com sua doutrina política e social (idem:183). Todavia, pode-se concordar com Chenu (idem:13), para quem "seus trabalhos, apesar dos aspectos doutrinários e utópicos, caracterizam-se sempre por uma articulação bastante estreita entre teorização e observação. Até a aparição do Suicídio (Durkheim, 1897), tal qualidade é muito rara entre os fundadores das ciências sociais".

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora seja uma figura menor no panteão da sociologia, Frédéric Le Play ocupa um lugar especial nos estudos de família. Creio que este lugar foi alcançado graças à capacidade por ele demonstrada de construir um método de pesquisa empírica passível de reprodução. Ademais, seu empenho em aplicar tal método e difundi-lo através de suas obras e das instituições de pesquisa por ele criadas garantiu a produção de um número significativo de evidências às quais cientistas sociais e, especialmente, historiadores constantemente recorrem. Existe sempre a possibilidade de se reexplorar as evidências empíricas coletadas por Le Play e seus discípulos para abordar questões como gênero, infância e outras que, nas últimas décadas, têm sido alvo de atenção dos cientistas sociais e historiadores. Suas preocupações com a família contribuíram para transformá-la em objeto de estudo relevante para as ciências humanas em geral. Embora suas concepções acerca da família, da mudança social e do que poderíamos hoje chamar de "modernização" possam ser colocadas sob suspeição, o tipo de olhar que ele privilegiou para se aproximar do seu objeto permitiu a sobrevivência de seus estudos. Assim, conquanto não seja necessário reivindicar a sua ascensão a membro da linha principal da tradição sociológica, é possível afirmar que seus estudos ainda podem dizer muito a respeito da família e, especialmente, da família européia do século XIX.

Entretanto, cabe discutir melhor as razões do papel subordinado que a tradição leplaysiana de estudos da família acabou ocupando na trajetória da sociologia. Uma primeira explicação pode ser buscada no processo de institucionalização da disciplina. Acompanhando tal processo, especialmente na França, Cuin e Gresle (1994:172-173) mostram um progressivo distanciamento que os leplaysianos vão assumindo em relação à corrente principal da sociologia que se desenvolve nos meios universitários, sobretudo após a II Guerra Mundial. Também Kalaora e Savoye (1989) chamam a atenção para esse aspecto, procurando mostrar como esse distanciamento é mútuo, já que tanto a sociologia universitária não reconhecia a forma de organização e as estratégias de consagração e de reprodução dos leplaysianos, quanto estes não estavam preocupados em se incorporar à nascente hierarquia universitária.

Outra explicação pode ser buscada nas transformações sofridas pelas concepções acerca da família no pensamento sociológico. Ao longo do século XX, há um paulatino abandono das perspectivas que viam um declínio progressivo da família enquanto instituição social. Ao declínio são contrapostas visões otimistas (a família conjugal como ápice do desenvolvimento humano; as transformações da família como processos de quebra do patriarcalismo e liberalização da mulher ou do jovem) ou a-históricas (a família sofre mudanças nas suas funções sociais, o que não significa necessariamente um declínio), até culminar na idéia do declínio da família como um mito (o "mito do declínio da família")23. Nesse ambiente, as idéias leplaysianas, fortemente imbuídas de um espírito reformista devotado à salvação da família, dificilmente poderiam florescer. Por outro lado, a dificuldade de seus discípulos em promover a separação entre o método e a normatividade, certamente, contribuiu para a sua inserção subordinada dentro da tradição sociológica.

Principais obras de Frédéric Le Play:

Les Ouvriers Européens. Paris, 1855 (6 volumes).

La Réforme Sociale en France, Déduite de l’Observation des Peuples Européen. Tours, 1864.

L’Organisation du Travail. Tours, 1870.

L’Organisation de la Famille. Paris, 1871.

La Constitution de l’Angleterre, Considerée dans ses Rapports avec la Loi de Dieu et les Coutumes de Paix Sociale. Tours, 1875 (2 volumes).

Les Ouvriers Européens. Paris, 1879 (2ª ed., 6 volumes).

La Méthode Sociale. Paris, 1879.

La Constitution Essentielle de l’Humanité. Tour, 1881.

NOTAS

1. Tomando a obra de Pitirim Sorokin como o caso exemplar desse tipo de narrativa, diz Levine (1997:32): "ao invés de considerar a existência de escolas divergentes uma questão residual – mero fenômeno transicional – Sorokin [e as narrativas pluralistas] transformou-a no próprio âmago e substância de sua visão do campo [sociológico]".

2. É interessante notar que, na primeira parte da obra de 1928, Sorokin (1951:67) considera Le Play merecedor de um lugar entre os mais eminentes mestres das ciências sociais. Sua contribuição seria: 1) a criação de um método definido de análise dos fatos sociais; 2) a criação de um sistema sociológico também definido, junto com a formulação de uma série de generalizações sociológicas; e 3) a exposição de proposições práticas para a melhoria das condições sociais (sociologia aplicada) (idem:70).

3. "Considero narrativas humanistas aquelas que distinguem o desenvolvimento da sociologia do de outras disciplinas científicas, por terem produzido um conjunto de textos clássicos que os sociólogos atuais devem consultar a fim de atuar adequadamente" (Levine, 1997:68).

4. Nisbet (1966) organiza sua narrativa em torno de cinco idéias-elementos que julga constitutivas da sociologia: comunidade, autoridade, status, o sagrado e a alienação. Le Play aparece conectado, sobretudo, à idéia de comunidade, embora também mereça ser lembrado de modo rápido na discussão sobre status. Para Nisbet, Le Play constrói a primeira obra genuinamente científica na sociologia, conseguindo colocar um problema claro e chegar a conclusões objetivas por intermédio de um método rigoroso, ainda que às vezes extremo (idem:88-89).

5. Ainda em vida, sua obra principal, Les Ouvriers Européens, teve duas edições (em 1855 e em 1879); e La Réforme Sociale en France, surgida em 1864, teve seis edições. Dentre as coletâneas, posso citar Le Play (1941; 1947).

6. Como exemplos, cito: Sorokin (1956:76-94; 335-340; 350-352); e, no Brasil, Barreto e Willems (1940).

7. Além dos exemplos a seguir, veja a importância dada a Le Play em um manual de história da família: Casey (1992:24-28).

8. Em francês, famille-souche; em inglês, stem family.

9. Sobre a polêmica entre Laslett e Berkner em torno da família-estirpe estudada por Le Play, ver Chenu (1994:223-229). De todo modo, a polêmica evidencia que os trabalhos de Le Play e seus seguidores não se mostram tão obsoletos como querem Cuin e Gresle (1994:160).

10. Sabe-se, pelo relato do filho, que o pai abandonara sua mãe (ver Savoye, 1989:13-14). O relato que faço nesta parte se baseia neste autor e nos escritos de Le Play.

11. Le Play permanece na École des Mines até 1850.

12. É o que se depreende da bibliografia incorporada por Louis Baudin ao final do texto introdutório a Le Play (1947).

13. Artigo 1º dos Estatutos da SES, apud Savoye (1989:29).

14. Esses trabalhos formam o conteúdo dos diversos volumes publicados a partir de 1857 sob o nome de Les Ouvriers des Deux Mondes. É interessante ressaltar que a SES existe até hoje.

15. Nesse sentido, cabe destacar que enquanto a primeira edição de Les Ouvriers Européens contém 36 monografias de famílias (Savoye, 1989:28), a 3ª edição traz 57 delas (Le Play, 1989:397).

16. Tal papel, inicialmente pensado para ser desempenhado pelos patrões, vai sendo pouco a pouco apropriado pelo Estado, como mostram Kalaora e Savoye (1989:187-189).

17. Le Play identifica nas mulheres e nas crianças os veículos principais do "espírito de novidade"; daí a importância da figura paterna como geradora da estabilidade da família e, conseqüentemente, da sociedade. A este respeito, ver Le Play (1989:182, 211).

18. A tradução mais correta para "Foyer" seria fogo, e esta é de fato a palavra utilizada para designar domicílio até meados do século XIX em Portugal e no Brasil.

19. É bom lembrar que La Méthode Sociale foi produzido com a finalidade de servir para o treinamento de novos pesquisadores na sua recém-fundada École des Voyages, evidenciando a estreita ligação entre as monografias de famílias e os relatos de viagem. Pode-se dizer que o método das monografias de famílias era uma forma de obter relatos de viagem controlados.

20. De fato, acredito que esta é a principal característica que faz com que a obra de Le Play sobreviva e continue a ser utilizada por pesquisadores contemporâneos. Um exemplo desse potencial pode ser verificado no caso das diversas monografias realizadas sobre os Mélouga, família-estirpe que habitava os Pirineus franceses e que foi investigada em 1856 por Le Play, em 1869 e 1874 por Émile Cheysson, em 1906 por Bayard (pseudônimo), e em 1890 por Fernand Butel (Le Play et alii, 1994).

21. É interessante notar que Le Play despende algumas páginas explicando certos procedimentos práticos a serem observados no trabalho de campo, incluindo cuidados com a abordagem das famílias (ver Le Play, 1989:220-226).

22. Para Le Play (1989:446), autoridades sociais seriam: "Indivíduos que vão se transformando, por suas próprias virtudes, nos Modelos da Vida privada; que mostram uma grande tendência para o Bem, dentre todas as raças, em todas as condições e sob todos os regimes sociais; que, pelos exemplos de seus Lares e de suas Oficinas, como pela escrupulosa prática do Decálogo e dos Costumes da Paz social, conquistam a afeição e o respeito de todos os que os cercam; que, enfim, fazem reinar o Bem-Estar e a paz na Vizinhança".

23. Para um balanço das diferentes idéias sobre o declínio da família, ver Popenoe (1988), especialmente o capítulo 2, "Family Decline: The Career of an Idea".

(Recebido para publicação em abril de 2001)

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  • *
    Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada no XXIV Encontro Anual da ANPOCS, Grupo de Trabalho "Família e Sociedade", Petrópolis, outubro de 2000. Agradeço a Licia Valladares, Candice Vidal e Souza e Carlos Aurélio Faria pelos comentários e sugestões bibliográficas.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Mar 2003
    • Data do Fascículo
      2002

    Histórico

    • Recebido
      Abr 2001
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