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A produção de um novo regime discursivo sobre as favelas cariocas e as muitas faces do empreendedorismo de base comunitária

The production of a new discursive regime about slums in Rio de Janeiro and the many faces of community-based entrepreneurship

Resumos

O texto é resultado de uma pesquisa de caráter etnográfico realizada na Cidade de Deus, um dos primeiros territórios da cidade de Rio de Janeiro onde foi instalado o programa de "pacificação" das favelas, promovido pela Secretaria de Estado de Segurança. Procuramos compreender as transformações ocorridas após a instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), analisando os dispositivos de intervenção acionados pelos setores públicos e privados e suas relações com o emaranhado de entidades locais, assim como com os moradores em geral. Pretende-se mostrar como as intervenções procuram sustentar a imagem de "pacificação" e de "integração" da cidade; ao mesmo tempo, são acionados dispositivos que provocam a ampliação do mercado consumidor interno e a promoção de diferentes formas de empreendedorismo "de base comunitária"¹.

Favela; empreendedorismo; práticas estatais


This text is the result of an ethnographic research conducted in Cidade de Deus, one of the first territories in the city of Rio de Janeiro where the slum (favela) "pacification" program (UPP) promoted by the state government was installed. We tried to understand the transformations that happened after the beginning of the UPP program, analyzing the intervention apparatus triggered by public and private sectors, and their relationship with local grassroots organizations, and also with local dwellers. The research aims to show how the interventions manage to support the "pacification" and "integration" picture, at the same time that the apparatus that causes the expansion of domestic consumer market and the promotion of different forms of "grassroots entrepreneurship" is activated.

Slum; entrepreneurship; state practices


  • 2 BECKER, Howard. Segredos e truques da pesquisa Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 24-25.
  • 6 Utilizando as ferramentas analíticas de M. Foucault, o sociólogo Pierre Lascoumes propõe uma abordagem material das práticas estatais, consideradas enquanto "atos através dos quais se operacionaliza o governo dos sujeitos e das populações" (LASCOUMES, Pierre. La Gouvernamentalité: de la critique de l'Etat aux technologies du pouvoir. Le Portique, Strasbourg, n. 13-14, 2004, p. 3).
  • 7 Na análise de Maria Célia Paoli, a lógica gestionária substitui a política pela gestão técnica de territórios e populações. A gestão técnica das necessidades atua segundo o esquema "problemas-diagnósticos-soluções-intervenções localizadas" destruindo a política como expressão de conflitos. "A racionalidade técnica que se sobrepõe à política visa tornar inoperantes as manifestações de contestação". É um modo de gestão da vida que permite a junção do Estado policial com o Estado gestor. (PAOLI, M. C. O mundo do indistinto: sobre gestão, violência e política. In: OLIVEIRA, F. D.; RIZEK, C. S. (Orgs.). A era da indeterminação São Paulo: Boitempo, 2007, p. 243).
  • 12 Cf. VALLADARES, Licia do Prado. Passa-se uma casa: análise do programa de remoções de favelas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
  • 25 Uma das principais reprodutoras desse discurso é a antropóloga Regina Novaes, que já foi vice-secretária Nacional de Juventude. Cf. TOMMASI, Livia De. Abordagens e práticas de trabalho com jovens: um olhar das organizações não governamentais brasileiras. Revista de Estúdios sobre Juventud-Jovenes, ano 9, n. 22, México: CIEJ/IMJ, 2005.
  • 26 Cf. TOMMASI, Lívia De. Nem bandidos nem trabalhadores baratos: trajetórias de jovens da periferia de Natal. Dilemas, Rio de Janeiro, v. 5, n.1, jan.-mar., 2012.
  • 31 VALLADARES, Licia. A invenção da favela: do mito de origem a favela.com. Rio de Janeiro: FGV, 2005, p. 148-152.
  • 32 Cf. TOMMASI, Livia De. Culturas de periferia: entre o mercado, os dispositivos de gestão e o agir político. Revista Política & Sociedade, Florianópolis, v. 12, n. 23, 2013;
  • _______ . Nem bandidos nem trabalhadores baratos: trajetórias de jovens da periferia de Natal, op cit. DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2013v12n23p11
  • 33 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir 10. ed. ; Petrópolis: Vozes, 1987, p. 161.
  • 34 ROSE, Nikolas. Inventando nossos selfs Petrópolis: Vozes, 2011 p. 211.
  • 38 FOUCAULT, Michel. A governamentalidade. In: _________. Microfísica do poderRio de Janeiro: Graal, 1979.
  • 39 FOUCAULT, Michel apud PROCACCI, Giovanna. Gouverner la Misère: la question social en France (1979-1848). Paris: Seuil, 1993, p. 19.
  • 40 ROSE, Nikolas: The death of the social? Refiguring the territory of government, Economy and Society, v. 25 (3), p. 327-356, ago. 1996, p. 338. Tradução nossa. DOI: 10.1080/03085149600000018
  • 42 SCHUMPETER, Joseph A. A teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
  • 43 DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. La Nature du néolibéralisme: un enjeu théorique et politique pour la gauche. Mouvements, Paris, n. 50, 2007, p. 108-117. DOI: 10.3917/mouv.050.0108
  • 45 DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. Néoliberalisme et subjectivation capitaliste, Cités 41, Paris: PUF, 2010, p. 116.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Fev 2014
  • Data do Fascículo
    Jun 2013

Histórico

  • Recebido
    03 Out 2012
  • Aceito
    08 Mar 2013
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