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Indução de empiema em ratos através da inoculação pleural de bactérias

Experimental empyema in rats through intrapleural injection of bacteria

EDITORIAL

Indução de empiema em ratos através da inoculação pleural de bactérias

Experimental empyema in rats through intrapleural injection of bacteria

Eduardo Henrique GenofreI; Francisco S. VargasII

IPós-graduando (Doutorado), Disciplina de Pneumologia da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo

IIProfessor Titular, Disciplina de Pneumologia da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo

O derrame pleural parapneumônico está presente em 40% dos casos de pneumonia; destes apenas uma pequena parcela complica ou evolui para empiema, necessitando drenagem1. O empiema não decorre, porém, exclusivamente de processo pneumônico, pode ser conseqüente a trauma torácico ou a procedimentos cirúrgicos. O tratamento local se fundamenta na drenagem da cavidade pleural através da colocação de dreno tubular em selo d'água. Outras condutas associadas incluem o uso de fibrinolíticos e procedimentos cirúrgicos, como a toracoscopia e a toracotomia para decorticação cirúrgica. Apesar de todos os avanços nos aspectos diagnósticos e terapêuticos, ainda é alta a morbimortalidade tanto em crianças quanto em adultos, justificando as pesquisas que, nesta área, visam a diminuir esses índices1.

Estudos prospectivos para avaliação do empiema pleural, investigando tanto a fisiopatologia quanto a terapêutica, são difíceis de realizar na população humana. Por essa razão, são utilizados modelos experimentais animais, que permitem avaliação homogênea e temporal dos fenômenos envolvidos, possibilitando, inclusive, testar novas propostas terapêuticas.

Os modelos experimentais em empiema são, em geral, caros e trabalhosos. O modelo que melhor mimetiza o empiema em humanos foi idealizado por Sasse e colaboradores2. Nesse modelo, localiza-se o espaço pleural do coelho através de um transdutor de pressão e se injeta Pasteurella multocida2-4. Como em geral esses animais desenvolvem sepse após a injeção dessa bactéria, recomenda-se o tratamento concomitante com penicilina por via intramuscular. Entretanto, esse modelo, apesar de reproduzir os resultados e permitir o estabelecimento de protocolos prospectivos, torna-se complexo, caro e trabalhoso para a nossa realidade3.

Outro modelo, idealizado por Tonietto e colaboladores5, utiliza a inoculação intrapleural de Staphylococcus aureus, entretanto a técnica por eles sugerida requer entubação traqueal, anestesia inalatória e toracotomia, aumentando a complexidade do procedimento e dificultando a reprodução dos experimentos.

O estudo atual de Fraga e colaboradores, publicado neste número do Jornal de Pediatria, baseado em outros modelos experimentais, tem como objetivo avaliar a indução experimental de empiema em ratos, de forma mais simples e econômica.

Os autores confirmaram a produção de empiema através da injeção intrapleural de Pasteurella multocida. Entretanto, mostraram a necessidade da administração sistêmica de doses controladas de antibiótico para evitar o aparecimento do quadro infeccioso sistêmico. Observaram que a oferta ad libitum do antibiótico não previne a disseminação da infecção, possivelmente por não serem atingidos níveis plasmáticos adequados. Interessante seria, em estudos futuros, determinar os níveis séricos dos antibióticos usados dessa forma.

É importante ressaltar que, além da simplificação metodológica proposta, o modelo de empiema de Fraga e colaboradores produz melhores resultados. A mortalidade foi drasticamente reduzida, e as evidências macroscópicas de empiema foram mais expressivas após a instilação intrapleural de Staphylococcus aureus.

Deve-se enfatizar a importância desse estudo. Em um país como o nosso, no qual a pesquisa ainda é pouco desenvolvida, onde em muitos centros há escassez de recursos, tanto materiais quanto humanos, é fundamental que se desenvolvam grupos empenhados em colaborar com o aprimoramento tecnológico e científico, de forma barata e tão eficaz quanto possível.

Nesse criativo estudo, é possível verificar que a técnica utilizada representa grande avanço na indução do empiema experimental, abrindo novos horizontes para pesquisas nesta área. Entretanto, a aplicabilidade para os seres humanos, dos dados encontrados no empiema em ratos ou coelhos, precisa ainda ser avaliada em novas pesquisas. A proposta de Fraga e colaboradores é certamente uma contribuição valiosa para estes estudos.

Referências bibliográficas

1. Light RW. Pleural Diseases. 3ª ed. Baltimore: Williams and Wilkins; 1995.

2. Sasse SA, Causing LA, Mulligan ME, et al. Serial pleural fluid in a new experimental model of Empyema. Chest 1996; 109:1043-8.

3. Teixeira LR, Sasse AS, Villarino MA, et al. Antibiotic levels in empyema pleural fluid. Chest 2000; 117:1734-9.

4. Sasse S, Nguyen TK, Mulligan M, et al. The effects of early chest tube placement on empyema resolution. Chest 1997; 111:1679-83.

5. Tonietto T, Pilla, ES, Madke GR, et al. Empiema pleural experimental em ratos: avaliação dos efeitos do uso intrapleural de Dextran-40 na fase fibrinopurulenta. J Pneumol 1999; 25:147-52.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 2001
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