Corticóide na crise asmática
Senhor editor,
A pesquisa de Paro e Rodrigues(1 1. Paro, MLZ; Rodrigues, JC - É possível prever o número de nebulizações e o uso de corticosteróide intravenoso em crianças com crise asmática na unidade de emergência? J Pediatr (Rio J) 2001; 77 (3): 219-26. ) sobre a indicação do uso de corticóide na criança asmática é de um excelente nível e vai na linha da "Medicina por evidências" já que procura trazer sólidos subsídios para uma atuação segura numa das emergências mais freqüentes - a crise asmática, na qual conhecimentos científicos e empíricos se misturam de forma subjetiva. Os autores concluem que o exame físico, de grande importância, pode não ser suficiente e deve ser completado com medidas não invasivas como a oximetria de pulso e o pico de fluxo expiratório.
Quando esses recursos são disponíveis não resta dúvida de que eles devam ser utilizados. Entretanto, como isso não ocorre em todos serviços que atendem crises asmáticas, o trabalho se presta a uma releitura: o corticóide (e um número maior de inalações) está indicado nos casos moderados (e mais ainda nos graves). Mas como identificar esses casos? Inicialmente por um exame físico simples - impressão geral (inclui cor e estado de consciência), taquidispnéia (quantificada pela freqüência respiratória que se aproxima de 50 no pré-escolar e 40 no escolar) e ausculta. Vale completar com rápida anamnese: duração da crise (mais de 12 horas já está na fase tardia em que só os broncodilatadores não têm ação suficiente) e resposta (ou falta de) aos broncodilatadores, incluindo inalações já feitas em casa; convém ainda perguntar pela evolução habitual das crises ("cada criança tem sua própria asma") em condições similares, o que inclui a época do ano. Em casos de dúvida, reavaliar a crise pelo resultado da primeira inalação. O uso de corticóides encurta a crise, diminui a hospitalização e as recaídas precoces(2 2. Jones, MA; Wagener, JS - Managing acute pediatric asthma. J Pediatr 2001; 139: 3-5. ).
Em relação ao corticóide, a via EV para a metilprednisolona (usada pelos autores) pode representar um problema operacional no Serviço de Emergência: oposição da criança, dificuldade técnica para puncionar veia (mobilizando a enfermagem, às vezes por tempo prolongado); seu preço é 10 vezes maior que da dexametasona.
Algumas pesquisas-(3 3. Becker JM et al - Oral versus intravenous corticosteroids in hospitalized asthma. J Allergy Clin Immunol 1999; 103: 586-90. ) têm demonstrado eficácia idêntica dos corticóides (prednisona, metilprednisolona e dexametasona) por via EV, IM ou oral. A dexametasona tem o início de ação semelhante ao da prednisolona, é potente e com a vantagem de uma duração mais longa (meia-vida de 24 a 36h) o que diminui o risco de recaída. Por outro lado, em caso de crises a curto intervalo, obrigando a repetições freqüentes, pode causar supressão adrenal. A dexametasona pode ser usada por via oral ou intramuscular. A própria formulação parenteral pode ser aproveitada para uso oral (recomendando-se uma segunda dose no dia seguinte, em casa) misturada com um xarope doce(4 4. Qureshi, F; Zaritsky, A; Poierier MP - Comparative efficacy of oral dexamethasone versus oral prednisone in acute pediatric asthma. J Pediatr 2001; 139: 20-6. ).
Uma boa pesquisa como a que estamos comentando, é útil não só para ser usada conforme seus resultados como pode abrir caminho para reflexões que ampliem sua utilização prática.
Sobe
Referências bibliográficas
Sobe
Jayme Murahovschi Prof. Titular Pediatria Fac. Ciências Méd. Santos; Presidente co Comitê de Pediatria Ambulatorial da SBP
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
26 Nov 2002 -
Data do Fascículo
Abr 2002