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Psicose funcional em crianças e adolescentes

CARTAS AO EDITOR

Psicose funcional em crianças e adolescentes

Prezados Editores,

Foi com grande interesse que lemos o Suplemento 2 do Jornal de Pediatria sobre Saúde Mental, especialmente o artigo intitulado "Psicose Funcional em Crianças e Adolescentes" de Tengan & Maia1. Os autores discutiram um assunto relevante para a psiquiatria infantil, a distinção entre esquizofrenia com início na infância e autismo.

A partir dos trabalhos de Kolvin & Rutter2, o autismo foi seguramente diferençado da esquizofrenia de início precoce, tornando-se uma das mais bem validadas distinções na psiquiatria infantil, porém uma característica marcante da esquizofrenia com início na infância em relação à esquizofrenia com início na vida adulta é o alto índice de alterações no desenvolvimento social, motor e da linguagem. O isolamento social pré-mórbido foi a característica mais comum, detectado em 50-87% dos casos de esquizofrenia com início na infância em cinco centros de pesquisa independentes3.

As síndromes completas de esquizofrenia e autismo parecem ser distintas, entretanto é possível que um subgrupo de pacientes com esquizofrenia com início na infância e aqueles com autismo tenham uma composição genética semelhante4. Yan et al.5 relataram uma translocação equilibrada entre os cromossomos 1 e 7 em um menino com esquizofrenia com início na infância. Os pontos de quebra ocorreram no braço curto do cromossomo 1 (região p22) e no braço longo do cromossomo 7 (região q21). Esse relato é bem interessante se considerarmos um caso anterior de rearranjo cromossômico envolvendo os cromossomos 1, 7 e 21 em um menino autista, onde o ponto de quebra no cromossomo 1 também ocorreu na região p226. Esses achados fazem dos pontos de quebra dos cromossomos 1 e 7 locais prováveis para estudos de genética molecular. Essas regiões podem conter genes que possivelmente estejam envolvidos na etiopatologia da esquizofrenia com início na infância e do autismo; portanto, esses dois distúrbios aparentemente tão distintos podem apresentar uma base biológica em comum em alguns casos, consistindo de variantes fenotípicas de uma doença de início bastante precoce3.

Quirino Cordeiro

Programa de Pós-Graduação, Departamento de Psiquiatria, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP.

E-mail: qcordeiro@yahoo.com

Homero Vallada

Professor associado, Departamento de Psiquiatria, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP.

E-mail: hvallada@usp.br

Referências

1. Tengan K, Maia AK. Functional psychosis in childhood and adolescence. J Pediatr (Rio J). 2004;80(2 Suppl):S3-10.

2. Rutter M. Childhood schizophrenia reconsidered. J Autism Child Schizophr. 1972;2:315-7.

3. Sporn AL, Addington AM, Gogtay N, Ordoñez AE, Gornick M, Clasen L, et al. Pervasive developmental disorder and childhood-onset schizophrenia: comorbid disorder or a phenotypic variant of a very early onset illness? Biol Psychiatry. 2004;55:989-94.

4. Thapar A, Scourfield J. Childhood disorders. In: McGuffin P, Owen M, Gottesman II, editors. Psychiatric Genetics and Genomics. 1st ed. New York: Oxford University Press; 2002. p. 147-180.

5. Yan WL, Guan XY, Green ED, Nicolson R, Yap TK, Zhang J, et al. Childhood-onset schizophrenia/autistic disorder and t(1;7) reciprocal translocation: identification of a BAC contig spanning the translocation breakpoint at 7q21. Am J Med Genet. 2000;96:749-53.

6. Lopreiato JO, Wulfsberg EA. A complex chromosome rearrangement in a boy with autism. J Dev Behav Pediatr. 1992;13:281-3.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Dez 2004
  • Data do Fascículo
    2004
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