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Avanços no manejo do recém-nascido prematuro extremo

EDITORIAL

Avanços no manejo do recém-nascido prematuro extremo

Renato S. ProcianoyI; Ruth GuinsburgII

IProfessor titular de Pediatria, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Chefe do Serviço de Neonatologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Editor do Jornal de Pediatria

IIProfessora associada, livre-docente da Disciplina de Pediatria Neonatal, Departamento de Pediatria, Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM)

O homem do século 21 está cercado de paradoxos. Os avanços da ciência e da tecnologia permitem que se navegue e se investigue desde planetas distantes até as profundezas do nosso próprio corpo, tornando possível entender mecanismos complexos que cercam a nossa própria existência. Neste sentido, o homem, por vezes, sente ter poderes divinos, desvendando mistérios que até pouco tempo atrás eram domínio da especulação e da imaginação. Simultaneamente, entretanto, a impotência humana se torna evidente através da impossibilidade de prever e evitar catástrofes que se sucedem ao longo da história da humanidade.

No microcosmo da neonatologia, estes mesmos paradoxos fazem parte do dia-a-dia da pesquisa e da assistência. De um lado, os avanços obtidos são estarrecedores. Nos últimos 30 anos, assistimos e participamos de uma revolução na área, com a sobrevivência crescente de bebês cada vez mais prematuros e daqueles portadores de malformações antes consideradas incompatíveis com a vida. A pesquisa tem propiciado tanto conhecimento que é possível cuidar simultaneamente dos problemas respiratórios, cardiovasculares, infecciosos, metabólicos, nutricionais e neurológicos dos recém-nascidos doentes, em ambientes altamente especializados das unidades de terapia intensiva neonatal, por profissionais treinados de forma específica para o desafio de dar a melhor assistência possível a tais pacientes. Por outro lado, a sobrevivência destes bebês impõe um desafio quase que intransponível: a missão de devolver às famílias e à sociedade uma criança capaz de desenvolver de maneira plena o seu potencial afetivo, cognitivo e produtivo. A imprecisão sobre até onde os esforços dos neonatologistas podem e devem se concentrar para manter a vida de nossos pequenos pacientes é um dos terrenos escorregadios mais difíceis para se tomarem as decisões corretas.

Neste contexto paradoxal de avanços e impotências, o entendimento dos limites e a busca incessante por ultrapassá-los são justamente o que impulsiona o desenvolvimento da arte e da ciência médica pela viagem do conhecimento. É nesta viagem que se situa o presente suplemento do Jornal de Pediatria.

Para o suplemento, procuramos primeiro estabelecer o tema geral, segundo os desafios que hoje se impõem aos neonatologistas. Assim, escolhemos tratar da prematuridade extrema, pois, sem dúvida, a incorporação clínica de avanços no entendimento da fisiologia e das doenças destes pacientes pode melhorar não só a sua possibilidade de vida, mas a qualidade e o desenvolvimento desta vida. Uma vez escolhido o tema geral, definimos os assuntos específicos a serem tratados e seus autores. Assim, escolhemos temas que abrangem desde os cuidados na reanimação do prematuro extremo, passando por preocupações freqüentes no cuidado hospitalar destes pacientes, como a minimização da lesão pulmonar, a enterocolite necrosante, a sepse bacteriana e fúngica, as questões nutricionais e as lesões isquêmicas cerebrais, até assuntos relativos ao seguimento pós-alta destas crianças, como o seu crescimento e desenvolvimento, o prognóstico pulmonar, os problemas oftalmológicos mais prevalentes e as dúvidas relativas às imunizações ativa e passiva. Para concluir o suplemento, achamos importante situar o leitor em termos da mortalidade do prematuro extremo em nosso meio, discutindo os desafios que nos esperam nos próximos anos. Quanto aos autores, convidamos médicos brasileiros que atuam no país ou no exterior, reconhecidos por sua experiência acadêmica e clínica em cada uma destas subáreas do conhecimento, para desenvolver os temas propostos.

Dedicamos, assim, este número do suplemento a você leitor, para que possa, ao incorporar os conhecimentos obtidos em sua prática clínica, ampliar a possibilidade de seguir os princípios éticos básicos da assistência neonatal: fazer o bem, sem fazer mal aos nossos pequenos pacientes.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Abr 2008
  • Data do Fascículo
    Mar 2005
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