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Métodos estatísticos e epidemiológicos em estudos de prevalência: odds ratio versus razão de prevalência

CARTAS AO EDITOR

Métodos estatísticos e epidemiológicos em estudos de prevalência: odds ratio versus razão de prevalência

Prezado Editor,

Lendo o interessante artigo de Rodrigues et al.1, intitulado "The association between cardiorespiratory fitness and cardiovascular risk in adolescents", foi possível a detecção de algumas incorreções com relação à aplicação de métodos estatísticos e epidemiológicos, bem como suas respectivas interpretações; no entanto, a nosso ver, isso não invalida os achados, mas pode depreciar o mérito científico do trabalho, o que não é desejável para os autores, para os leitores e nem para o Jornal de Pediatria, este importante periódico.

O artigo em questão é fruto de um estudo transversal, ou seja, um estudo de prevalência, situação em que as estimativas de associação são calculadas preferencialmente por medidas de razão de prevalência (RP) ou, menos apropriadamente, por medidas do odds ratio (OR) e seus respectivos intervalos de confiança a 95% (IC95%). Isso acontece porque, neste tipo de estudo, não é possível a determinação de incidência. Observando os resultados, podemos ver que foram empregados como estimadores de associação o OR e o risco relativo (RR), ambos inadequados, pois é conhecido que o OR superestima a força de associação2,3, e o RR não pode ser estimado, já que se trata da possibilidade de cálculo de prevalência, e não de incidência4.

Outro aspecto importante que verificamos foi a não publicação dos IC95% dos referidos estimadores empregados. Em nosso entender, a visualização dos mesmos é de grande auxílio na análise apropriada dos resultados, sendo possível estimar adequação do tamanho amostral e verificação de significância estatística da associação, além de ser um ponto a mais na busca da inferência causal.

Esperamos ter contribuído com nossas observações e sugerimos que, em estudos dessa natureza, seja dada preferência para estimar força de associação através de RP, exibindo sempre seu IC95%. Desta forma, a aplicabilidade e a interpretação dessas ferramentas estatísticas empregadas em estudos epidemiológicas mostram-se adequadas a seus propósitos.

Ressaltamos a importância do artigo e salientamos que as inadequações relatadas não tiram o mérito e nem invalidam os resultados; apenas precisam ser corrigidas as formas de apresentação.

Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação desta carta.

Altacílio Nunes

Doutor. Professor adjunto, Departamento de Medicina Social, Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG. Coordenador do Internato de Pediatria, Medicina, Universidade de Uberaba, Uberaba, MG.

Resposta dos autores

Prezado Editor,

Lemos e agradecemos as contribuições do professor doutor Altacílio Nunes feitas ao artigo "The association between cardiorespiratory fitness and cardiovascular risk in adolescents"1 sobre a aplicação de métodos estatísticos, campo onde temos muito a avançar.

Os autores esclarecem que, no tipo de estudo em questão, o odds ratio (OR), embora numericamente maior, conforme demonstrado nas Tabelas 3 e 4 do referido artigo1, acompanha o risco relativo (RR), sendo uma boa estimativa para o mesmo2. Este método (RR) tem sido preconizado como o preferível para determinação do risco de exposição à determinada doença, e talvez o mais adequado aos objetivos do estudo. Contudo, é impróprio em pesquisas transversais, como a em questão. A opção pelo não uso da razão de prevalência (RP), embora possa ser utilizada, deve-se ao fato de que, neste tipo de estudo (transversal)3, o OR permite a identificação de possíveis associações nas quais a RP pode levar a falsas conclusões2.

Os autores reconhecem não terem chamado à atenção, no texto do artigo, para o fato de que, embora o RR apresente valores menores para as associações pesquisadas, devido à impropriedade metodológica, os que devem ser considerados são os do OR, uma aproximação estimada do RR. Os autores não reconhecem a impropriedade do uso do OR nessa pesquisa.

Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação desta carta.

Anabel Nunes Rodrigues

Doutor. Professor adjunto, Faculdade Salesiana de Vitória, Vitória, ES.

Referências (resposta dos autores) / References (authors' reply)

  • 1. Rodrigues AN, Perez AJ, Carletti L, Bissoli NS, Abreu GR. The association between cardiorespiratory fitness and cardiovascular risk in adolescents. J Pediatr (Rio J). 2007;83:429-35.
  • 2. Thompson ML, Myers JE, Kriebel D. Prevalence odds ratio or prevalence ratio in the analysis of cross sectional data: what is to be done? Occup Environ Med. 1998; 55; 272-7.
  • 3. Pearce N. Effect Measures in Prevalence Studies. Environ Health Prospect. 2004;112:1047-50.
  • 4. Gordis L. Epidemiology. 2nd ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company; 2000.
  • 1. Rodrigues AN, Perez AJ, Carletti L, Bissoli NS, Abreu GR. The association between cardiorrespiratory fitness and cardiovascular risk in adolescents. J Pediatr (Rio J). 2007;83:429-35.
  • 2. Rumel D. "Odds ratio": algumas considerações. Rev Saude Publica. 1986;20:253-8.
  • 3. Kleinbaum DG, Kupper LL, Morgenstern H. Epidemiologic research. Beltmont, CA; Lifetime Learning; 1982.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2008
  • Data do Fascículo
    Fev 2008
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