Acessibilidade / Reportar erro

Nova espécie de Parandrinae do Brasil e chave para as espécies de Hesperandra (Hesperandra) Arigony, 1977 (Coleoptera, Cerambycidae)

Resumos

É descrita uma espécie nova de Parandrinae do Brasil (Minas Gerais), Hesperandra ( Hesperandra ) imitatrix . Uma chave para as espécies de Hesperandra ( Hesperandra ) Arigony, 1977 é fornecida.

Hesperandra; Neotropical; nova espécie; taxonomia


A new species of Parandrinae from Brazil (Minas Gerais), Hesperandra ( Hesperandra ) imitatrix , is described and illustrated. A key to the species of Hesperandra ( Hesperandra ) Arigony, 1977 is added.

Hesperandra; Neotropical; new species; taxonomy


Nova espécie de Parandrinae do Brasil e chave para as espécies de Hesperandra (Hesperandra) Arigony, 1977 (Coleoptera, Cerambycidae)

Antonio Santos-Silva

Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, Caixa Postal 42494-970, 04218-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: toncriss@aol.com

RESUMO

É descrita uma espécie nova de Parandrinae do Brasil (Minas Gerais), Hesperandra ( Hesperandra ) imitatrix . Uma chave para as espécies de Hesperandra ( Hesperandra ) Arigony, 1977 é fornecida.

Palavras-chave: Hesperandra; Neotropical; nova espécie; taxonomia.

ABSTRACT

A new species of Parandrinae from Brazil (Minas Gerais), Hesperandra ( Hesperandra ) imitatrix , is described and illustrated. A key to the species of Hesperandra ( Hesperandra ) Arigony, 1977 is added.

Keywords: Hesperandra; Neotropical; new species; taxonomy.

INTRODUÇÃO

Recentemente, Fernando Vaz de Melo (IECO, Instituto de Ecología, Xalapa, México), doou para a coleção do Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, São Paulo (MZSP) uma fêmea de Parandrinae, proveniente de Lavras (Brasil, Minas Gerais), que se assemelha muito à Hesperandra (Hesperandra) expectata (Lameere, 1902), mas apresenta alguns caracteres distintivos. Apenas as mandíbulas pareciam diferenciar o espécime recebido de H. (H.) expectata. Foi então solicitado ao Dr. César Freire de Carvalho (UFLA, Universidade Federal de Lavras, Lavras), o envio de todos os exemplares de Parandrinae, depositados no Departamento de Entomologia daquela instituição, com a finalidade de tentar localizar exemplares semelhantes ou concluir tratar-se de um exemplar teratológico. O exame desse material revelou a existência de outros espécimes iguais o que permitiu confirmar a existência de uma nova espécie, descrita neste trabalho, que compartilha parte da distribuição geográfica de H. (H.) expectata .

Hesperandra foi revisto por Arigony (1978) e Santos-Silva (2003) dividiu o gênero em três subgêneros: H. (Hesperandra), H. (Zikandra) e H. ( Tavandra ).

Hesperandra (Hesperandra) imitatrix sp. nov.

(Figuras 1-4, 6 )

Material-tipo: Holótipo fêmea, proveniente do BRASIL, Minas Gerais: Lavras, XI.2003, Eduardo B.C. col. (MZSP). Parátipos - BRASIL, Minas Gerais: Ibiá, fêmea, 2.IX.1981, R.A. Paiva col. (UFLA); Lavras, macho, 19.X.1981, H.P. Castro col. (UFLA); fêmea, 8.XI.2002, Soares D. col. (UFLA); Nepomuceno, macho, 07.VIII.1981, M.M. Costa col. (MZSP). Espírito Santo: Santa Tereza, macho, XII.1964, C.T. Elias col. (MZSP).


Etimologia: Latim, imitatrix = imitadora. Alusivo à semelhança com Hesperandra (Hesperandra) expectata .

Descrição : Tegumento castanho a castanho-escuro; clípeo-labro, mandíbulas, ápice das genas, borda do pronoto, epipleuras, sutura elitral, e partes das pernas enegrecidas.

Fêmea (Figura 1). Região dorsal da cabeça com pontos pequenos e esparsos, mais concentrados em direção ao occipício; ápice do clípeo-labro estreito e truncado; carena ocular destacada; olhos pequenos: comprimento igual a 0,3 vez e largura igual a 0,15 vez o comprimento do pronoto no centro; genas com pontos pequenos e dispersos; área hipostomal com pontos pilíferos muito grossos, profundos e confluentes. Mandíbulas (Figura 3 ) tão longas quanto a distância entre as carenas oculares na base; dois terços basais da face dorsal, com carena nítida e depressão entre a carena e a margem interna; interior da depressão dorsal com pontuação grossa e abundante; área entre a carena e as laterais estriado-pontuadas; terço dorso-apical liso e brilhante; margem interna com dois dentes pequenos, subtriangulares, localizados entre a base do dente apical interno e a região média. Antenas mais curtas do que o protórax; antenômeros IV-X mais largos do que longos; comprimento do antenômero XI igual ao dobro do comprimento do antenômero X.

Pronoto estreitado depois do meio até a base; pontuação microscópica e esparsa; ângulos posteriores bem marcados e aguçados. Élitros com pontuação microscópica e esparsa em toda superfície, exceto no sexto apical, onde os pontos são pequenos. Metasterno e metepisternos glabros; metasterno com pontos grossos, rasos e dispersos nas laterais; metepisternos com pontos grossos, profundos e abundantes no quarto basal e dispersos no restante. Urosternitos I-IV com pontos grossos, rasos e dispersos nas laterais; urosternito V com pontos grossos, relativamente abundantes e profundos nas laterais e fracamente áspero na região central. Tíbias fortemente dilatadas para o ápice; cavidade apical, onde se inserem os tarsos (Figuras 4 , 6 ), larga e sem projeção voltada para o tarso, no lado oposto aos esporões tibiais. Tarsômeros I-III (Figura 6 ) nitidamente alargados para o ápice.

Macho (Figura 2). Mandíbulas com pontuação grossa e abundante em toda a superfície dorsal, sem estrias; face dorsal com pêlos muito curtos e dispersos, próximo da borda; margem interna com dois dentes: o primeiro pequeno, subarredondado, localizado na base do dente apical; o segundo triangular, destacado, localizado antes do meio. Comprimento da antena desde mais curta até pouco mais longa do que o comprimento do pronoto no centro. Lados do pronoto (Figura 2) angulosos e estreitados para a base. Élitros com pontuação fina e abundante.

Dimensões em mm ( / ): Comprimento total (inclusive mandíbulas), 22,726,4/21,2-25,8; comprimento do pronoto na região central, 4,75,1/4,3-5,1; largura do pronoto na base, 5,36,3/5,1-6,7; largura umeral, 6,27,0/5,6-7,3; comprimento dos élitros, 12,514,0/11,9-15,0.

Discussão: Assemelha-se a Hesperandra (H.) expectata (Lameere, 1902) e difere: mandíbulas das fêmeas (Figura 3 ) mais largas, sem reentrância acentuada no centro da margem interna e com parte das superfícies dorsal e lateral estriado-pontuada; antenas mais curtas do que o comprimento do protórax; tíbias fortemente dilatadas para o ápice; cavidade apical das tíbias (Figuras 4 , 6 ), onde se inserem os tarsos, larga e sem projeção voltada para o tarso no lado oposto aos esporões tibiais; tarsômeros I-III (Figura 6 ) mais curtos e nitidamente engrossados para o ápice. Em H. (H.) expectata: mandíbula das fêmeas (Figura 7) mais estreita, com reentrância acentuada no centro da margem interna e com as superfícies dorsal e laterais apenas pontuadas; antenas pouco mais longas do que o comprimento do protórax; tíbias apenas dilatadas para o ápice; cavidade apical das tíbias (Figuras 5 , 9), onde se inserem os tarsos, estreita e com projeção voltada para o tarso no lado oposto aos esporões tibiais; tarsômeros I-III (Figura 9) mais longos e apenas engrossados para o ápice.

Apesar de Arigony (1970) não ter comentado a reentrância central da margem interna da mandíbula da fêmea de P. (A.) expectata, as figuras apresentadas nesse trabalho, mostram claramente esse caráter. A forma da margem interna da mandíbula das fêmeas de H. (H.) imitatrix sp. nov. é típica das espécies de Parandra Latreille, 1804, Acutandra Santos-Silva, 2002 e Neandra Lameere, 1912. A margem interna da mandíbula das fêmeas das outras espécies de Hesperandra (nos três subgêneros) sempre possui uma reentrância nítida em proximidades do meio (Santos-Silva, 2002). Esse caráter permite distinguir as fêmeas da nova espécie de todas as outras do gênero.

Chave para as espécies de Hesperandra (Hesperandra):

1. Metepisternos e laterais do metasterno com pilosidade evidente; laterais do metasterno com pontuação forte. Bolívia ..................H. (H.) conspicua (Tippmann, 1960)Metespisternos glabros ou com pilosidade curta e restrita à base; metasterno glabro e liso ............................................................................................2

2(1). Machos com marginação lateral do protórax nula ou presente apenas no quarto basal; margem interna da mandíbula das fêmeas com reentrância central larga (Figura 8). Argentina (Jujuy, Catamarca, Salta, Tucumán) ...H. (H.) tucumana (Zikán, 1948) Machos com marginação lateral do protórax na metade ou 2/3 basais; margem interna da mandíbula das fêmeas com reentrância central estreita (Figura 7) ou apenas dentada (Figura 3 ) ...................................................................................3

3(2). Mandíbulas das fêmeas (Figura 3 ) sem reentrância central e estriadas na face dorsal; cavidade tibial (Figuras 4 , 6 ), onde se inserem os tarsos, nos dois sexos, larga e sem projeção voltada para o tarso no lado oposto aos esporões tíbias. Brasil (Minas Gerais e Espírito Santo) .............................................H. (H.) imitatrix sp. nov.

Mandíbulas das fêmeas (Figura 7) com reentrância central e apenas pontuadas na face dorsal; cavidade tibial (Figuras 5 , 9), onde se inserem os tarsos, nos dois sexos, estreita e com projeção voltada para o tarso, no lado oposto aos esporões tibiais. (Bahia até Rio Grande do Sul), Argentina (Misiones), Paraguai e Uruguai ................. ...................................................................H. (H.) expectata (Lameere, 1902)

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. César Freire de Carvalho (UFLA) pelo empréstimo de material para estudo e doação do parátipo macho para a coleção do MZSP. Ao Dr. Ubirajara R. Martins (MZSP) pelo auxílio na obtenção de material para estudo. Ao Dr. Fernando Vaz de Melo (IECO), pela doação do material que culminou com a descrição da espécie descrita neste trabalho.

Recebido em: 02.08.2005

Aceito em: 19.10.2005

  • Arigony, T.H.A. 1970. Notas sôbre Parandrinae (Col., Cerambycidae) I. Redescrição de Parandra expectata Lameere, 1902. Papéis Avulsos de Zoologia, 23(9):77-82.
  • Arigony, T.H.A. 1978. Revisão do gênero Parandra (Coleoptera, Cerambycidae) 1. O subgênero Hesperandra Arigony, 1977. Revista Brasileira de Entomologia, 22(34):119-159.
  • Santos-Silva, A. 2002. Notas e descrições em Parandrini (Coleoptera, Cerambycidae, Parandrinae). Iheringia, Série Zoologia, 92(2):29-52.
  • Santos-Silva, A. 2003. Notas, descrições, sinonímias e revalidação em Hesperandra Arigony, 1977 (Coleoptera, Cerambycidae, Parandrinae). Revista Brasileira de Entomologia, 47(1):119-131.

  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Nov 2005
    • Data do Fascículo
      2005

    Histórico

    • Aceito
      19 Out 2005
    • Recebido
      02 Ago 2005
    Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo Av. Nazaré, 481, Ipiranga, 04263-000 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 2065-8133 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: einicker@usp.br