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Contribuição para o estudo dos Rhinotragini (Coleoptera, Cerambycidae).VII. O gênero Ischasioides

Resumos

Eclipta brasiliensis (Fisher, 1947) é transferida para Ischasioides Tavakilian & Peñaherrera-Leiva, 2003 e sinonimizada com I. crassitarsis (Gounelle, 1911). Ischasia m. atrocephala Fuchs, 1956 e Ischasia m. nigrovittata Fuchs, 1956, embora sem status em nomenclatura, são confirmadas como sendo igual a I. crassitarsis. Ischasioides berkovae sp. nov. é descrita do Brasil. É fornecida uma chave para as espécies de Ischasioides.

Cerambycinae; Nova espécie; Redescrição; Taxonomia


Eclipta brasiliensis (Fisher, 1947) is transferred to Ischasioides Tavakilian & Peñaherrera-Leiva, 2003, and synonymized with I. crassitarsis (Gounelle, 1911). Ischasia m. atrocephala Fuchs, 1956 and Ischasia m. nigrovittata Fuchs, 1956, although without nomenclatural status, are confirmed as equal to I. crassitarsis. Ischasioides berkovae sp. nov. is described from Brazil. A key to the species of Ischasioides is provided.

Cerambycinae; New species; Redescription; Taxonomy


Contribuição para o estudo dos Rhinotragini (Coleoptera, Cerambycidae).VII. O gênero Ischasioides

Ubirajara R. MartinsI,IV; Antonio Santos-SilvaI,II; Robin O.S. ClarkeIII

IMuseu de Zoologia, Universidade de São Paulo. Caixa Postal 42.494, 04218‑970, São Paulo, SP, Brasil. E‑mail: urmsouza@usp.br IIE‑mail: toncriss@uol.com.br IIIHotel Flora & Fauna, Casilla 2097, Santa Cruz de la Sierra, Bolivia. E‑mail: hotelfandf@hotmail.com

IVPesquisador do CNPq

ABSTRACT

Eclipta brasiliensis (Fisher, 1947) is transferred to Ischasioides Tavakilian & Peñaherrera-Leiva, 2003, and synonymized with I. crassitarsis (Gounelle, 1911). Ischasia m. atrocephala Fuchs, 1956 and Ischasia m. nigrovittata Fuchs, 1956, although without nomenclatural status, are confirmed as equal to I. crassitarsis. Ischasioides berkovae sp. nov. is described from Brazil. A key to the species of Ischasioides is provided.

Key-Words: Cerambycinae; New species; Redescription; Taxonomy.

RESUMO

Eclipta brasiliensis (Fisher, 1947) é transferida para Ischasioides Tavakilian & Peñaherrera-Leiva, 2003 e sinonimizada com I. crassitarsis (Gounelle, 1911). Ischasia m. atrocephala Fuchs, 1956 e Ischasia m. nigrovittata Fuchs, 1956, embora sem status em nomenclatura, são confirmadas como sendo igual a I. crassitarsis. Ischasioides berkovae sp. nov. é descrita do Brasil. É fornecida uma chave para as espécies de Ischasioides.

Palavras-Chave: Cerambycinae; Nova espécie; Redescrição; Taxonomia.

INTRODUÇÃO

Tavakilian & Peñaherrera-Leiva (2003) descreveram Ischasioides para alocar I. crassitarsis (Gounelle, 1911) e I. gounellei Tavakilian & Peñaherrera-Leiva, 2003, definindo-o: "Mâle. Lobes inférieurs des yeux très éloignés sur le front ainsi que les lobes suérieurs sur la région occipitale. Sillon frontal bien marqué du labre jusqu'au cou. Mufle court. Pronotum allongé, cylindrique. Bords collaire et postérieur non rebordés. Saillie prosternale à peine arquée. Une pente notable mais non abrupte précède la saillie mésosternale. Élytres atteignant l'apex du premier arceau ventral visible, à surface mate et irrégulière. L'apex est em lobe arrondi, large. Métasternum renflé vers l'arrière. Sillon médian longitudinal marqué surtout vers l'arrière par une ligne peu renfoncée et relativement large. Tous les tarses ont les deux premiers articles visibles renflés, larges, avec quelques rares soies longues dressées. Méso- et métafèmurs avec de longs pédoncules clairs. Fémurs et pédoncules garnis de quelques longues soies dressées, plus nombreuses sur les méso et métafémurs. Tibias également garnis de longues soies dressées. Dernier arceau abdominal transversalement concave à apex échancré droit. Femelle. Yeux plus éloignés sur le front, tarses non renflés. Dernier tergite à apex tronque droit, les côtés évasés, sans angles vifs".

Observamos que dois desses caracteres sofrem variação: os élitros podem atingir a base do segundo segmento abdominal; o intumescimento dos tarsos dos machos pode não ser acentuado, principalmente no metatarsômero I, embora sempre sejam mais túmidos do que nas fêmeas.

Neste trabalho transferimos e sinonimizamos uma espécie descrita em Ommata (Eclipta) Bates, 1873 (atualmente Eclipta) e descrevemos uma nova espécie de Ischasioides procedente do Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

Os acrônimos utilizados no texto correspondem às seguintes instituições: AMNH, American Museum of Natural History, Nova York; CCNY, Department of Biology, City College of New York, Nova York; CHSV, Coleção Herbert Schmid, Viena; DZUP, Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba; MCNZ, Museu de Ciências Naturais, Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre; MHNB, Naturhistorisches Museum Basel, Basiléia; MNHN, Muséum national d'Histoire naturelle, Paris; MZUSP, Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, São Paulo; USNM, National Museum of Natural History, Washington D.C.

As referências bibliográficas sob cada táxon correspondem à descrição original, citação do catálogo de Monné (2005), sinonímias, omissões e as primeiras alocações em gêneros.

No item "Distribuição geográfica" das espécies, a obra indicada após o país/estado, refere-se à primeira citação.

Ischasioides crassitarsis (Gounelle, 1911) (Figs. 1‑8)


(?) Ischasia crassitarsis Gounelle, 1911:54, 1 fig.

Ischasia crassitarsis; Aurivillius, 1912:283 (cat.); Blackwelder, 1946:577 (checklist); Monné, 1993:45 (cat.); Monné & Giesbert, 1994:92 (checklist).

Ischasioides crassipes; Tavakilian & Peñaherrera-Leiva, 2003:310 (erro para Ischasia crassitarsis Gounelle, 1911).

Ischasioides crassitarsis; Monné, 2005:465 (cat.); Monné & Hovore, 2005:117 (checklist); 2006:117 (checklist).

Ischasia crassitarsis m. atrocephala Fuchs, 1956:571.

Ischasia crassitarsis m. nigrowittata Fuchs, 1956:571 (erro tipográfico – "nigrovittata").

Ommata (Eclipta) brasiliensis Fisher, 1947:2; Monné, 1993:21 (cat.); Monné & Giesbert, 1994:96 (checklist); Monné, 2005:486 (cat.); Monné & Hovore, 2005:121 (checklist); 2006:120 (checklist). Syn. nov.

Redescrição: Tegumento preto; faces dorsal e laterais da cabeça castanho-escuras, gradualmente passando a castanho-avermelhada no rostro; face ventral da cabeça castanho-avermelhada com faixa centro-longitudinal mais clara; palpos castanho-amarelados; clípeo e labro castanho-amarelados; mandíbulas castanho-avermelhadas na base e pretas no restante; escapo, pedicelo e antenômeros III‑V castanho-escuros; antenômeros VI‑VIII e XI castanho-avermelhados no terço basal; antenômeros IX‑X castanho-avermelhados na metade basal; protórax castanho-avermelhado, com anel basal e apical, estreitos, castanho-escuros (apenas acastanhados na face ventral); élitros castanho-escuros, com o terço apical castanho-avermelhado; pedúnculo dos fêmures amarelados na base gradualmente mais escuros para o ápice, que é castanho; clava dos fêmures castanho-escura com o extremo distal preto; mesotíbias castanhas; metatíbias castanhas, com anel amarelado entre o meio e o quarto apical (este último, um pouco mais claro do que na metade basal); tarsos castanho-avermelhados.

Macho (Figs. 1, 4): Vértice com pubescência amarelada curta, não notavelmente abundante; margem dos lobos oculares inferiores com franja moderadamente longa de pelos decumbentes branco-acinzentados; rostro com pelos decumbentes branco-acinzentados e moderadamente abundantes; toda a face dorsal da cabeça com pelos longos, escuros ou amarelados e esparsos; face ventral da cabeça com pelos longos e moderadamente esparsos (mais longos nas laterais). Antenas com pelos longos, escuros e esparsos (principalmente entre o escapo e o antenômero VII). Pronoto com pubescência inconspícua e pelos amarelados, longos e abundantes. Laterais do protórax com pubescência branco-acinzentada, gradualmente mais conspícua em direção da face ventral, entremeadas por pelos longos. Prosterno com pubescência branco-acinzentada nos dois terços mais próximos do mesosterno, entremeada por pelos longos; terço mais próximo da cabeça quase glabro. Mesosterno, metasterno, metepisternos e urosternitos com pubescência branco-acinzentada e abundante, entremeada por pelos amarelados e longos. Pontuação do pronoto grossa e alveolada.

Comprimento da área entre a base dos lobos oculares inferiores e o ápice do labro igual a 0,7 vezes o comprimento do lobo ocular inferior. Distância entre os lobos oculares inferiores igual a 0,75 vezes a largura de um lobo em vista frontal. Comprimento das antenas igual a 1,9 vezes o comprimento elitral; ultrapassam o ápice elitral aproximadamente no meio do antenômero X; clava antenal pouco distinta.

Élitros ultrapassam um pouco o ápice do urosternito I, deiscentes no quarto apical. Metafêmures atingem o ápice abdominal. Metatarsômero I (Figs. 3‑6, 8) com o dobro do comprimento do II e com o quádruplo do III; maior largura do metatarsômero I aproximadamente igual a largura do ápice da metatíbia.

Fêmea: As principais diferenças são: comprimento das antenas igual a 1,65 vezes o comprimento elitral; ultrapassam o ápice elitral no quarto distal do antenômero XI; distância entre os lobos oculares inferiores igual a largura de um lobo em vista frontal.

Variação: Faces dorsal e laterais da cabeça inteiramente castanho-escuras ou pretas passando a castanho-escura no rostro; face ventral da cabeça castanho-escura; face ventral da cabeça sem área centro-longitudinal mais clara; clípeo e labro castanhos; mandíbulas pretas apenas no ápice; mandíbulas pretas na margem látero-inferior e no ápice; antenômeros IV‑V (às vezes, só o antenômero V) castanho-avermelhados na base; todos os antenômeros castanho-escuros; anel basal castanho-avermelhado dos antenômeros VI‑XI, quando presente, pode ser pouco distinto e variável na extensão; coloração do protórax bastante variável, desde quase totalmente castanho-alaranjados até quase totalmente pretos no pronoto (este último pode apresentar faixa centro-longitudinal preta ou castanho-escura; metasterno e urosternitos de castanho-escuros até pretos, em geral, com a parte distal dos urosternitos I‑IV castanho-amareladas; élitros inteiramente castanho-escuros ou gradualmente mais claros da base até o ápice; clava dos fêmures sem a parte negra no extremo distal; parte clara das metatíbias de amareladas até castanho-avermelhadas; quarto distal das metatíbias quase da mesma cor da região anterior; metatarsos amarelados. Macho – comprimento da área entre a base dos lobos oculares inferiores e o ápice do labro de 0,6 a 0,7 vezes o comprimento do lobo ocular inferior; intumescimento dos tarsômeros I e II variável na espessura.

Dimensões em mm (♂/♀): Comprimento total, 5,0‑7,1/5,8‑8,3; comprimento do protórax, 1,1‑1,4/1,1‑1,5; largura anterior do protórax, 0,7‑0,9/0,8‑1,0; largura posterior do protórax, 0,8‑1,0/0,7‑1,0; largura umeral, 0,9‑1,2/1,0‑1,3; comprimento elitral, 2,2‑2,8/2,3‑3,0. Dimensões na descrição original: de Ommata (Eclipta) brasiliensis – "Length 5.5‑7 mm., width 1‑1.25 mm."; de Ischasia crassitarsis – macho, "Long.: 5‑6 mill.", fêmea, "Long.: 6 mill"; dimensões não indicadas para as séries típicas de Ischasia crassitarsis atrocephala e I. c. nigrovittata.

Tipos, localidades-tipo

De Ischasia crassitarsis (Fig. 4) – Tavakilian & Peñaherrera-Leiva (2003) designaram lectótipo para I. crassitarsis e registraram: "Des onze syntypes signalés par Gounelle, 1911:55 (8 mâles, 3 femelles), nous avons retrouvé dans les collections du MNHN le même nombre d'exemplaires mais Il s'agit em réalité de 9 mâles dont la taille oscille entre 4 et 5 mm et de 2 femelles de 6 mm. Nous désignons comme Lectotype de Ischasia crassipes [sic] Gounelle, 1911 (présente désignation) le syntype mâle porteur des étiquettes suivantes: une étiquette manuscrite vert pâle «Ischasia crassipes/Gounelle», une étiquete imprimée «BRÉSIL/ÉT. DE GOYAZ/JATAHY/PUJOL 12‑97; 1‑98 », une étiquete rouge Lectotype, un determinavit "Ischasioides crassipes (Gounelle, 1911/♂/Tavakilian & Peñaherrera det. 2003»".

De Ischasia crassitarsis m. atrocephala (Fig. 5) – Fuchs (1956) afirmou que havia um holótipo ("Type"), sexo não especificado, um alótipo ("Allotype"), sexo não especificado, e numerosos parátipos ("zahlreiche Cotypen"), sexos não identificados, todos provenientes do Brasil (Rondon, Paraná e Rio Caraguatá, Mato Grosso do Sul). As coordenadas geográficas do Rio Caraguatá são 21°48'S, 52°27'W. Com relação à instituição/coleção depositária da "série típica", Fuchs (1956) afirmou que estava depositada na coleção "Mus. Frey" (atualmente depositada no MHNB) e na sua coleção particular (atualmente depositada na CHSV), sem especificar a quantidade e o status dos tipos em cada coleção. No mesmo trabalho, Fuchs (1956) escreveu: "Überprüft: 17 Ex. f. typ., 76 Ex. m. atrocephala und 8 Ex. m. nigrovittata". Essa afirmativa sugere, que o total de exemplares da "série típica" era de 76 espécimes.

De Ischasia crassitarsis m. nigrovittata (Fig. 6) – Holótipo e 7 parátipos (sexos não indicados), todos procedentes do Brasil (Rio Caraguatá, Mato Grosso do Sul). Fuchs (1956) afirmou que os tipos estão depositados nas mesmas coleções de I. c. atrocephala e, igualmente, não especificou a quantidade e status dos tipos nessas coleções.

De Ommata (Eclipta) brasiliensis (Figs. 1‑3) – Holótipo macho, procedente do Brasil [Corupá (Hansa Humboldt), Santa Catarina], depositado no AMNH. Alótipo fêmea depositado no USNM e parátipo fêmea depositado na Coleção Lionel Lacey (atualmente depositada no AMNH), ambos coletados no Brasil [Seara (Nova Teutônia), Santa Catarina].

Nota: Monné (2005) não indicou as "morphas" descritas por Fuchs (1956) na lista bibliográfica de Ischasioides crassitarsis. Embora de acordo com o ICZN (1999: Artigo 45.6.2) essa categoria seja considerada infra-subespecífica, não tenha status em nomenclatura e, portanto, tipos e/ou localidade-típica, optamos por indicá-las nas referências e no item "Tipos, localidades-tipo".

Distribuição geográfica: Ischasioides crassitarsis é conhecida do Brasil [Goiás (Gounelle, 1911), Mato Grosso (Monné & Giesbert, 1994); Mato Grosso do Sul (Fuchs, 1956); Bahia (Monné & Giesbert, 1994); Minas Gerais (Zikán & Zikán, 1944); Rio de Janeiro (Zajciw, 1973); São Paulo (Zajciw, 1973); Paraná (Fuchs, 1956); Santa Catarina (Fisher, 1947); Rio Grande do Sul (Buck, 1959)]. Zajciw (1973) registrou, além das localidades apontadas no material examinado, que a espécie ocorre no "Leste, Sul e Centro-Oeste do Brasil".

Material examinado: BRASIL, Minas Gerais: Mar de Espanha, fêmea, 25.XI.1910, J.F. Zikán col. (MZUSP); Passa Quatro, macho, X.1916, Jaeger col. (MZUSP). São Paulo: Presidente Epitácio, macho, X.1954, J. Lane col. (MZUSP). Santa Catarina: Seara (Nova Teutônia), 2 machos, X.1940, [sem nome do coletor] (MZUSP); macho, 06.X.1940, F. Plaumann col. (MZUSP); macho, 04.XI.1940, F. Plaumann col. (MZUSP); fêmea, XI.1940, B. Pohl col. (MZUSP); fêmea, 03.XI.1941, F. Plaumann col. (MZUSP); macho, X.1965, F. Plaumann col. (MZUSP); fêmea, IX.1966, F. Plaumann col. (DZUP); macho, X.1966, F. Plaumann col. (MZUSP); 4 machos, 3 fêmeas, XI.1966, F. Plaumann col. (MZUSP); fêmea, XI.1977, F. Plaumann col. (MZUSP). Rio Grande do Sul: Estação Ecológica Taim, fêmea, 17.X.1985, H.A. Gastal col. (MCNZ); Viamão, macho, 08.XII.1982, A. Lise col. (MCNZ).

Discussão: Eclipta brasiliensis (Fisher, 1947) concorda perfeitamente com a descrição de Ischasioides e, portanto, deve ser transferida para este gênero e difere notavelmente de todas as espécies atualmente incluídas em Eclipta Bates, 1873, principalmente, pelo ápice elitral arredondado (truncado em Eclipta). Ao mesmo tempo, não existem caracteres para diferenciar Eclipta brasiliensis de Ischasioides crassitarsis. Comparando-se as descrições originais dessas duas espécies e fotografias dos tipos [respectivamente, holótipo (Figs. 1‑3) e síntipo macho (Fig. 4) [talvez o lectótipo designado por Tavakilian & Peñaherrera-Leiva (2003)], observa-se apenas uma pequena diferença no intumescimento dos tarsos (particularmente nos metatarsos). No entanto, o exame dos espécimes examinados e das fotografias dos "tipos" das morfos de I. crassitarsis (I. c. m. atrocephala (Figs. 5, 7) e I. c. m. nigrovittata (Figs. 6. 8), demonstra que esse caráter sofre variação, o que também pode ser notado na redescrição e desenhos em Zajciw (1973). Dessa forma, propomos a sinonímia entre as duas espécies.

Ischasioides berkovae sp. nov. (Fig. 9)

Diagnose: Ischasioides berkovae difere de I. crassitarsis e I. gounellei, pela presença de pubescência dourada a cada lado do disco pronotal.

Etimologia: Dedicamos a espécie a Amy Berkov (CCNY) pelas fotografias com detalhes do holótipo de Ommata (Eclipta) brasiliensis.

Fêmea (Fig. 9): Tegumento preto. Escapo, pedicelo e antenômeros III‑V castanho-escuros brilhantes; antenômeros VI‑XI castanho-escuros e opacos. Protórax alaranjado na maior parte, exceto as seguintes áreas negras: faixa estreita junto a borda anterior do pronoto, gradualmente mais estreita e mais acastanhada em direção ao centro do prosterno; faixa transversal que ocupa pouco mais do que o quarto basal do pronoto, mais estreita na área lateral e ventral. Terço basal do pedúnculo dos fêmures castanho-alaranjado, gradualmente mais escuro para o ápice; demais partes das pernas castanho-escuras.


Vértice com pelos curtos, esbranquiçados, não notavelmente abundantes, entremeados por alguns pelos longos e eretos. Fronte com pelos moderadamente longos, branco-acinzentados, decumbentes, abundantes, entremeados por alguns pelos longos e eretos ao longo da margem dos lobos oculares inferiores (os pelos decumbentes estão ausentes ao longo de estreita faixa centro-longitudinal). Clípeo e labro com pubescência branco-acinzentada, moderadamente abundante, entremeada por pelos longos e amarelados. Laterais e face ventral da cabeça com pelos longos, eretos e dispersos. Antenas com pelos longos, escuros e moderadamente abundantes até o antenômero VI. Pronoto com pelos longos, amarelados e moderadamente abundantes; a cada lado do dos 2/4 centrais do disco, faixa de pubescência dourada, bem conspícua. Dois terços basais do prosterno com pubescência amarelada, entremeada por pelos longos; terço distal glabro. Élitros com pubescência pouco evidente, entremeada por pelos longos e eretos, pouco mais longos e abundantes no terço basal e gradualmente mais curtos em direção ao ápice. Metasterno, metepisternos e urosternitos com pubescência branco-acinzentada. Tíbias com cerdas longas e acastanhadas. Pontuação do pronoto grossa e alveolada. Élitros microesculturados e com pontuação grossa e abundante (pouco visível quando os élitros estão fechados).

Comprimento da área entre a base dos lobos oculares inferiores e o ápice do labro igual a 0,65 vezes o comprimento do lobo ocular inferior. Distância entre os lobos oculares inferiores igual a 1,2 vezes a largura de um lobo em vista frontal. Comprimento das antenas igual a 1,6 vezes o comprimento elitral; atingem o ápice elitral no ápice do antenômero XI.

Élitros atingem o meio do urosternito II, deiscentes no quarto apical. Metafêmures atingem o ápice abdominal. Metatarsômero I com quase o dobro do comprimento do II e 2,5 vezes mais longo do que o III.

Variação: Face ventral da cabeça acastanhada; faixa negra basal do protórax tão estreita quanto a distal; urosternitos acastanhados; élitros atingem o terço distal do segundo segmento abdominal.

Dimensões em mm (♀): Comprimento total, 6,20‑7,00; comprimento do protórax, 1,30‑1,40; largura anterior do protórax, 0,85‑0,95; largura posterior do protórax, 0,90‑1,00; largura umeral, 1,10‑1,20; comprimento elitral, 2,85‑3,00. As maiores dimensões são as do holótipo.

Material tipo (todos depositados no MZUSP): holótipo fêmea, procedente do BRASIL, Espírito Santo: Fazenda Jerusalém, 28.IX.1912, J.F. Zikán col. Parátipos – BRASIL, Espírito Santo: Alegre (Fazenda Jerusalém), fêmea, 27.IX.1912, J.F. Zikán col. São Paulo: São Paulo, fêmea, 01.XI.1943, Nick col.

Chave para as espécies de Ischasioides

1. Pronoto, de cada lado do disco, com pubescência dourada, bem evidente (Fig. 9). Brasil (Espírito Santo, São Paulo) I. berkovae sp. nov.

Pronoto sem pubescência dourada............................................................................................. 2

2(1). Escapo mais longo do que o antenômero III; largura da parte mais estreita do processo prosternal igual a 1/9 do comprimento de uma procoxa; processo mesosternal tão largo quanto 1/4 de uma mesocoxa. Guiana Francesa......................................................................... I. gounellei Tavakilian & Peñaherrera-Leiva 2003

Escapo tão longo quanto o antenômero III; largura da parte mais estreita do processo prosternal igual a 1/5 do comprimento de uma procoxa; processo mesosternal tão largo quanto 1/2 de uma mesocoxa; (Fig. 8). Brasil (Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul)........................................................... I. crassitarsis (Gounelle, 1911)

AGRADECIMENTOS

A Amy Berkov (CCNY) pelas fotografias do holótipo de Ommata (Eclipta) brasiliensis. A Herbert Schmid (CHSV) pelas fotografias e informações sobre os "tipos" de Ischasioides crassitarsis m. atrocephala e I. c. m. nigrovittata. A Dilma Solange Napp (DZUP) e Maria Helena M. Galileo (MCNZ), pelo empréstimo de material para estudo.

Aceito em: 08.09.2012

Publicado em: 20.12.2012

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2012
  • Data do Fascículo
    2012

Histórico

  • Recebido
    08 Set 2012
  • Aceito
    20 Dez 2012
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