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Fósseis do Devoniano de Goiás, Brasil (Sub-bacia Alto Garças, Bacia do Paraná)

RESUMO

O registro fóssil do Devoniano do estado de Goiás (Sub-bacia Alto Garças, Bacia do Paraná) é ocorrente nos arredores de diversas cidades como Amorinópolis, Iporá, Caiapônia, Rio Verde e Doverlândia. Contudo, os fósseis encontrados em Goiás são, em sua maioria, representados por braquiópodes, comumente pertencentes aos gêneros Derbyina, Australocoelia, Australospirifer, Schuchertella, Orbiculoidea e Lingula. Embora também haja ocorrências, em menor número, de outros grupos como trilobitas, moluscos, tentaculitoideos, anelídeos, equinodermas, lycopsidas e cnidários, além dos microfósseis de quitinozoários, representados pelos gêneros Ramochitina, Ancyrochitina, Sphaerochitina, Angochitina, Conochitina, Lagenochitina e Cyathochitina. No entanto, os trabalhos que tratam de fósseis para esse estado são escassos quando comparados ao grande número de trabalhos realizados no Devoniano do estado do Paraná (Sub-bacia Apucarana, Bacia do Paraná). Tal fato se deve ao baixo número de pesquisadores trabalhando nessa área. Tendo em vista esse défice de artigos, o presente trabalho objetivou instigar o estudo dos fósseis devonianos de Goiás por meio de um levantamento paleontológico, que apresenta os fósseis e as localidades fossilíferas conhecidas no estado, além de apontar novos afloramentos e novos registros fósseis do Devoniano encontrados nas regiões fossilíferas do estado, as quais foram revisitadas pelos autores.

Palavras-Chave:
Brachiopoda; Trilobita; Tentaculitoidea; Mollusca; Polychaeta; Crinoidea; Cnidaria; Lycopsida; Chitinozoa

ABSTRACT

The fossil records of the Devonian of Goiás State (Alto Garças Sub-basin, Paraná Basin) occur in the cities of Amorinópolis, Iporá, Caiapônia, Rio Verde, and Doverlândia. However, the most fossils found in Goiás are brachiopods of the genus Derbyina, Australocoelia, Australospirifer, Schuchertella, Orbiculoidea, and Lingula. Although there are records of other groups as trilobites, molluscs, tentaculitids, annelids, echinoderms, lycopsids, and cnidarians. Chitinozoans are also found as Ramochitina, Ancyrochitina, Sphaerochitina, Angochitina, Conochitina, Lagenochitina, and Cyathochitina. However, the number of works about Devonian fossils of Goiás State is smaller when compared to the works published about the Devonian of Paraná State (Apucarana Sub-basin, Paraná Basin). This fact reflects to the low number of researchers working in this area. In sight of this, the objective of this study is to instigate the study of the Devonian fossils of Goiás, through the presentation of the fossils and its respective localities of occurrence in the Devonian of Goiás State, in addition to be pointed new outcrops which presented new records of fossils for this State.

Key-Words:
Brachiopoda; Trilobita; Tentaculitoidea; Mollusca; Polychaeta; Crinoidea; Cnidaria; Lycopsida; Chitinozoa

INTRODUÇÃO

O Devoniano da Bacia do Paraná é bastante estudado e documentado, principalmente devido à presença de diversos tipos de fósseis, com destaque para os invertebrados, representados por braquiópodes, trilobitas, cnidários, anelídeos, moluscos, equinodermas e tentaculitoideos. Contudo, as rochas devonianas dos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás são relativamente negligenciadas na literatura.

Dos poucos trabalhos que versam sobre os fósseis do Devoniano do estado de Goiás (GO), a maior parte apenas cita a ocorrência dos táxons em determinado afloramento (trilobitas, Baker, 1923BAKER, C.L. 1923. The lava field of the Paraná Basin, South America. The Journal of Geology, 31(1):66-79.; trilobitas, cnidários, moluscos e braquiópodes, Oliveira, 1937OLIVEIRA, E. 1937. Fósseis devonianos de Goyaz. Serviço Geológico e Mineralógico, Notas Preliminares e Estudos, 15:2-4.; braquiópodes, Almeida, 1948ALMEIDA, F.F.M. 1948. Contribuição à geologia dos Estados de Goiás e Mato Grosso. Divisão de Geologia e Mineralogia, DNPM, Notas Preliminares e Estudos, 46:1-17.; braquiópodes, tentaculitoideos, anelídeos, trilobitas e quitinozoários, Andrade & Camarço, 1978ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1978. Mapeamento Geológico a Leste das Cidades de Iporá-Amorinópolis. Relatório Final da Nuclebrás. Goiânia. 32p., 1980ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1980. Estratigrafia dos sedimentos devonianos do flanco nordeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 31º. Anais. Santa Catarina, Balneário de Camboriú, Sociedade Brasileira de Geologia. v. 5, p. 2828-2834.; fragmentos vegetais, Quadros & Melo, 1986QUADROS, L.P. & MELO, J.H.G. 1986. Ocorrência de restos vegetais em sedimentos continentais do Paleozoico Médio do Estado de Goiás. Anais da Academia Brasileira de Ciências , 58(4):611.; trilobitas, Carvalho & Ponciano, 2015CARVALHO, M.G.P. & PONCIANO, L.C.M.O. 2015. The Devonian trilobites of Brazil: A summary. Journal of South American Earth Sciences , 64:217-228.). Existem poucos trabalhos de cunho mais descritivo sobre esse material (quitinozoários, Boekel, 1966BOEKEL, N.M.C. 1966. Quitinozoários de Ribeirão do Monte. Divisão de Geologia e Mineralogia, DNPM, Notas Preliminares e Estudos , 132:3-33.; trilobitas, Carvalho et al., 1987CARVALHO, M.G.P.; MELO, J.H.G. & QUADROS, L.P. 1987. Trilobitas Devonianos do flanco noroeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Paleontologia, 10º. Anais. Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Paleontologia, UFRJ. p. 545-565.; quitinozoários, Grahn et al., 2000GRAHN, Y.; PEREIRA, E. & BERGAMASCHI, S. 2000. Silurian and lower Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, 24:147-176.; braquiópodes, moluscos, trilobitas e crinoides, Marques, 2006MARQUES, R.C. 2006. Taxonomia dos invertebrados da Formação Ponta Grossa (Eomesodevoniano) na borda norte da Bacia do Paraná e análise cladística de espiriferídeos basais. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências. p. 144.; crinoides, Francisco & Scheffler, 2014FRANCISCO, A.P.S. & SCHEFFLER, S.M. 2014. Os primeiros Crinóides de Goiás (Emsiano-Eifeliano) e do Givetiano do Paraná, Bacia do Paraná, Brasil. In: Simpósio Brasileiro da Paleoinvertebrados, 2º. Paleontologia em Destaque - Boletim de Resumos. Ponta Grossa, PR, Sociedade Brasileira de Paleontologia. p. 43-50.). Em vista disso, o presente trabalho apresenta uma compilação da literatura que trata dos fósseis devonianos de Goiás, com o acréscimo de novos dados paleontológicos da região advindos de afloramentos visitados pelos autores. Além de reportar o estado da arte dos estudos, este trabalho pretende também instigar futuros trabalhos.

Contexto Geológico

A Bacia do Paraná abrange uma área de aproximadamente 1.100.000 km² do território brasileiro, apresentando ocorrência em diversos estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina (somente em subsuperfície), Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Sua área de ocorrência abrange também países vizinhos: Argentina, Paraguai e Uruguai, totalizando 1.600.000 km² na América do Sul (Petri & Fulfaro, 1988PETRI, S. & FULFARO, V.J. 1988. Geologia do Brasil. 2. ed. São Paulo, T.A. Queiroz/Editora da Universidade de São Paulo. 631p.; Melo, 1988MELO, J.H.G. 1988. The Malvinokaffric Realm in the Devonian of Brazil. In: McMillan, N.J.; Embry, A.F. & Glass, D.J. (Eds.). Devonian of the World: Proceedings of the 2nd International Symposium on the Devonian System. Canadian Society of Petroleum Geologists. p. 669-703. (Memoir 14).; Milani et al., 2007MILANI, E.J.; MELO, J.H.G.; SOUZA, P.A.; FERNANDES, L.A. & FRANÇA, A.B. 2007. Bacia do Paraná. Boletim de Geociências da Petrobrás, 15(2):265-287.).

Duas sub-bacias foram depositadas durante o Devoniano da Bacia do Paraná: a Alto Garças, ao norte, e a Apucarana, ao sul, as quais foram individualizadas pelos altos de Três Lagoas e de Campo Grande, também de origem devoniana (Fig. 1; Ramos, 1970RAMOS, A.N. 1970. Aspecto paleo-estruturais da Bacia do Paraná e sua influência na sedimentação. Boletim Técnico da Petrobrás, 13(3-4):85-93.). De acordo com Melo (1988MELO, J.H.G. 1988. The Malvinokaffric Realm in the Devonian of Brazil. In: McMillan, N.J.; Embry, A.F. & Glass, D.J. (Eds.). Devonian of the World: Proceedings of the 2nd International Symposium on the Devonian System. Canadian Society of Petroleum Geologists. p. 669-703. (Memoir 14).), a comunicação marinha entre essas sub-bacias só foi estabelecida durante a transgressão do Givetiano (Devoniano Médio). As rochas de ambas sub-bacias estão inclusas na Supersequência Paraná (Milani et al., 2007MILANI, E.J.; MELO, J.H.G.; SOUZA, P.A.; FERNANDES, L.A. & FRANÇA, A.B. 2007. Bacia do Paraná. Boletim de Geociências da Petrobrás, 15(2):265-287.).

Figura 1:
Mapa que mostra a separação das sub-bacias Alto Garças e Apucarana. Modificado de Grahn et al. (2010GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; PEREIRA, E. & LOBOZIAK, S. 2010. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Parana Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences , 29:354-370.).

As rochas devonianas da Sub-bacia Apucarana são representadas pelas formações Furnas, Ponta Grossa e São Domingos (Figs. 2 e 3; Grahn, 1992GRAHN, Y. 1992. Revision of Silurian and Devonian strata of Brazil. Palynology, 16:35-61.; Grahn et al., 2000GRAHN, Y.; PEREIRA, E. & BERGAMASCHI, S. 2000. Silurian and lower Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, 24:147-176., 2002GRAHN, Y.; BERGAMASCHI, S. & PEREIRA, E. 2002. Middle and Upper Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, 26:135-165., 2010GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; PEREIRA, E. & LOBOZIAK, S. 2010. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Parana Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences , 29:354-370., 2013GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; BERGAMASCHI, S. & BOSETTI, E.P. 2013. Palynology and sequence stratigraphy of three Devonian rock units in the Apucarana Subbasin (Paraná Basin, south Brazil): additional data and correlation. Review of Palaeobotany and Palynology, 198:27-44.; Bosetti et al., 2010BOSETTI, E.P.; HORODYSKI, R.S.; ZABINI, C.; MATSUMURA, W.M.K. & PENTEADO, A.C. 2010. Ocorrência de fenótipos subnormais no limite Neoeifeliano/Eogivetiano, Tibagi, Estado do Paraná: implicações tafonômicas e paleossinecológicas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, série Ciências Naturais, 5(2):135-149., 2011BOSETTI, E.P.; GRAHN, Y.; HORODYSKI, R.S.; MENDLOWICS MAULLER, P.; BREUER, P. & ZABINI, C. 2011. An earliest Givetian “Lilliput Effect” in the Paraná Basin, and the collapse of the Malvinokaffric shelly fauna. Paläontologische Zeitschrift, 85:49-65., 2012BOSETTI, E.P.; GRAHN, Y.; HORODYSKI, R.S.; MENDLOWICS MAULLER, P. & BREUER, P. 2012. The first recorded decline of the Malvinokaffric Devonian fauna in the Paraná Basin (southern Brazil) and its cause; taphonomic and fossil evidences. Journal of South American Earth Sciences, 37:1-14.). Estes estratos se caracterizam por condições marinhas representadas por sucessões sedimentares relacionadas a oscilações do nível relativo do mar, que definem os ciclos transgressivo-regressivos (Milani et al., 2007MILANI, E.J.; MELO, J.H.G.; SOUZA, P.A.; FERNANDES, L.A. & FRANÇA, A.B. 2007. Bacia do Paraná. Boletim de Geociências da Petrobrás, 15(2):265-287.).

Figura 2:
Mapa geológico da Bacia do Paraná, mostrando as Supersequências. Retirado de Milani & Ramos (1998MILANI, E.J. & RAMOS, V.A. 1998. Orogenias Paleozóicas no Domínio Sul-ocidental do Gondwana e os ciclos de subsidência da Bacia do Paraná. Revista Brasileira de Geociências, 28(4):473-484.).

Figura 3:
Relações estratigráficas entre as unidades geológicas das Sub-bacias Apucarana e Alto Garças (Devoniano, Bacia do Paraná). Mb= membro. Modificado de Grahn et al. (2013GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; BERGAMASCHI, S. & BOSETTI, E.P. 2013. Palynology and sequence stratigraphy of three Devonian rock units in the Apucarana Subbasin (Paraná Basin, south Brazil): additional data and correlation. Review of Palaeobotany and Palynology, 198:27-44.).

A Sub-bacia Alto Garças evoluiu de forma distinta da Apucarana (Fig. 2). O ambiente deposicional era mais raso na Sub-bacia Alto Garças, com maior conteúdo de siltitos e arenitos. Devido a isso, as unidades geológicas que constituem a Sub-bacia Alto Garças apresentam nomenclatura distinta da Sub-bacia Apucarana e são denominadas unidades 1, 2, 3 e 4 do Grupo Chapada (Fig. 3; Melo, 1988MELO, J.H.G. 1988. The Malvinokaffric Realm in the Devonian of Brazil. In: McMillan, N.J.; Embry, A.F. & Glass, D.J. (Eds.). Devonian of the World: Proceedings of the 2nd International Symposium on the Devonian System. Canadian Society of Petroleum Geologists. p. 669-703. (Memoir 14).; Grahn et al., 2010GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; PEREIRA, E. & LOBOZIAK, S. 2010. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Parana Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences , 29:354-370.).

Como o escopo do presente estudo são os fósseis da Sub-bacia Alto Garças, aflorante no estado de Goiás, apenas a geologia das unidades correspondentes ao Grupo Chapada será detalhada.

A litologia da Unidade 1 é similar à da Formação Furnas da Sub-bacia Apucarana e consiste predominantemente em arenitos, grossos a finos (Melo, 1988MELO, J.H.G. 1988. The Malvinokaffric Realm in the Devonian of Brazil. In: McMillan, N.J.; Embry, A.F. & Glass, D.J. (Eds.). Devonian of the World: Proceedings of the 2nd International Symposium on the Devonian System. Canadian Society of Petroleum Geologists. p. 669-703. (Memoir 14).). De acordo com o estudo palinológico de Grahn et al. (2010GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; PEREIRA, E. & LOBOZIAK, S. 2010. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Parana Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences , 29:354-370.), essa unidade é provavelmente de idade Lochkoviana (Devoniano Inferior). Os fósseis dessas rochas compreendem alguns icnofósseis e pequenas psilophytas indeterminadas (Quadros & Melo, 1986QUADROS, L.P. & MELO, J.H.G. 1986. Ocorrência de restos vegetais em sedimentos continentais do Paleozoico Médio do Estado de Goiás. Anais da Academia Brasileira de Ciências , 58(4):611.; Petri & Fulfaro, 1988PETRI, S. & FULFARO, V.J. 1988. Geologia do Brasil. 2. ed. São Paulo, T.A. Queiroz/Editora da Universidade de São Paulo. 631p.).

A Unidade 2 também é predominantemente arenítica e sua litologia compreende um conglomerado basal capeado por arenito roxo-avermelhado fino com intercalações de siltitos e folhelhos; o topo consiste em arenitos cinza-avermelhados, finos a médios (Andrade & Camarço, 1980ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1980. Estratigrafia dos sedimentos devonianos do flanco nordeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 31º. Anais. Santa Catarina, Balneário de Camboriú, Sociedade Brasileira de Geologia. v. 5, p. 2828-2834.). Tais rochas mostram-se bastante bioturbadas. A Unidade 2 foi depositada em dois intervalos, separados por um hiato deposicional, sendo o intervalo inferior de idade Neopraguiano-Eoemsiano e o superior de idade Neoemsiano-Eifeliano (Grahn et al., 2010GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; PEREIRA, E. & LOBOZIAK, S. 2010. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Parana Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences , 29:354-370.).

A Unidade 3 é restrita à borda nordeste da bacia e é substituída lateralmente em direção ao centro da sub-bacia pelos folhelhos e arenitos da parte superior da Unidade 2 (Fig. 3; Andrade & Camarço, 1980ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1980. Estratigrafia dos sedimentos devonianos do flanco nordeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 31º. Anais. Santa Catarina, Balneário de Camboriú, Sociedade Brasileira de Geologia. v. 5, p. 2828-2834.; Melo, 1988MELO, J.H.G. 1988. The Malvinokaffric Realm in the Devonian of Brazil. In: McMillan, N.J.; Embry, A.F. & Glass, D.J. (Eds.). Devonian of the World: Proceedings of the 2nd International Symposium on the Devonian System. Canadian Society of Petroleum Geologists. p. 669-703. (Memoir 14).). Litologicamente é composta por arenitos avermelhados de granulação média a grosseira com níveis conglomeráticos, característicos de deposição deltaica em ambientes marinhos rasos fortemente influenciados por ondas (Andrade & Camarço, 1980ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1980. Estratigrafia dos sedimentos devonianos do flanco nordeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 31º. Anais. Santa Catarina, Balneário de Camboriú, Sociedade Brasileira de Geologia. v. 5, p. 2828-2834.; Grahn et al., 2010GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; PEREIRA, E. & LOBOZIAK, S. 2010. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Parana Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences , 29:354-370.). As camadas transicionais entre as unidades 2 e 3 contém a mesma fauna encontrada no Membro Tibagi da Formação São Domingos (Sub-bacia Apucarana), o que sugere idade Neoemsiana para esse contato (Glaser, 1969GLASER, I. 1969. A formação Furnas no SW de Goiás. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 23º. Anais. Salvador, Sociedade Brasileira de Geologia. p. 135-144.; Melo, 1988MELO, J.H.G. 1988. The Malvinokaffric Realm in the Devonian of Brazil. In: McMillan, N.J.; Embry, A.F. & Glass, D.J. (Eds.). Devonian of the World: Proceedings of the 2nd International Symposium on the Devonian System. Canadian Society of Petroleum Geologists. p. 669-703. (Memoir 14).); a datação de Grahn et al. (2010GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; PEREIRA, E. & LOBOZIAK, S. 2010. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Parana Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences , 29:354-370.) estipula a idade Neoemsiano-Eifeliano para para as rochas da Unidade 3.

Sobreposta às unidades 2 e 3, a Unidade 4 do Grupo Chapada consiste em folhelhos cinza escuros com intercalações de arenitos argilosos e siltitos. Seu contato superior com os diamictitos do Carbonífero do Grupo Itararé é erosivo (Andrade & Camarço, 1980ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1980. Estratigrafia dos sedimentos devonianos do flanco nordeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 31º. Anais. Santa Catarina, Balneário de Camboriú, Sociedade Brasileira de Geologia. v. 5, p. 2828-2834.; Grahn et al., 2010GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; PEREIRA, E. & LOBOZIAK, S. 2010. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Parana Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences , 29:354-370.). Essa unidade é correlata com a Formação São Domingos da Sub-bacia Apucarana (Melo, 1988MELO, J.H.G. 1988. The Malvinokaffric Realm in the Devonian of Brazil. In: McMillan, N.J.; Embry, A.F. & Glass, D.J. (Eds.). Devonian of the World: Proceedings of the 2nd International Symposium on the Devonian System. Canadian Society of Petroleum Geologists. p. 669-703. (Memoir 14).) e o início de sua deposição está relacionado à máxima transgressão marinha ocorrida no início do Givetiano (Assine, 2001ASSINE, M.L. 2001. O Ciclo Devoniano na Bacia do Paraná e correlação com outras bacias Gondwânicas. Série Ciência, Técnica, Petróleo. Seção Exploração de Petróleo, Rio de Janeiro, 20:55-62.; Grahn et al., 2010GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; PEREIRA, E. & LOBOZIAK, S. 2010. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Parana Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences , 29:354-370.). De acordo com Grahn et al. (2010GRAHN, Y.; MENDLOWICZ MAULLER, P.; PEREIRA, E. & LOBOZIAK, S. 2010. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Parana Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences , 29:354-370.), as rochas dessa unidade possuem idade Givetiano-Eofrasniano.

Levantamento Paleontológico

Os fósseis do Devoniano do estado de Goiás foram primeiramente registrados no trabalho de Baker (1923BAKER, C.L. 1923. The lava field of the Paraná Basin, South America. The Journal of Geology, 31(1):66-79.), o qual indica a presença de trilobitas do gênero DalmanitesBarrande, 1852BARRANDE, J. 1852. Système silurien du centre de la Bohème: I. Partie. In: Recherches Paléontologiques. Crustacés: Trilobites. Prague/Paris. v. 1, 935pp. em folhelhos encontrados nos arredores do município de Rio Verde. Contudo o material é apenas citado em seu trabalho, sem identificação no nível de espécie e tombamento em coleção científica.

Mais tarde, Oliveira (1937OLIVEIRA, E. 1937. Fósseis devonianos de Goyaz. Serviço Geológico e Mineralógico, Notas Preliminares e Estudos, 15:2-4.) registra a ocorrência de material fossilífero em folhelhos cinzentos que afloram nos arredores do município de Caiapônia (GO). Tal material consiste em um pigídio de trilobita provavelmente pertencente ao gênero CalmoniaClarke, 1913CLARKE, J.M. 1913. Fósseis devonianos do Paraná. Monographias do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, Rio de Janeiro, 1:1-353., no cnidário Paraconularia ulrichana (Clarke, 1913CLARKE, J.M. 1913. Fósseis devonianos do Paraná. Monographias do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, Rio de Janeiro, 1:1-353.), um provável nautilóide pertencente ao gênero Orthoceras Breynius, 1832, um molde externo de um molusco bivalve (provavelmente Malletiidae) e nos braquiópodes dos gêneros Orbiculoidead’Orbigny, 1847D’ORBIGNY, A. 1847. Considérations zoologiques et géologiques sur les Brachiopodes ou Palliobranches. Comptes Rendus Hebdomadaires des Séances de l’Académie des Sciences, 25:193-195; 266-269. e LingulaBruguière, 1791BRUGUIÈRE, J.G. 1791. Tableau Encyclopédique et Méthodique des trois Règnes de la Nature: vers, coquilles, mollusques et polypes divers. Paris, Panckoucke. t. 1, p. 172-344. (os mais bem preservados podem ser identificados como Lingula leptaClarke, 1913CLARKE, J.M. 1913. Fósseis devonianos do Paraná. Monographias do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, Rio de Janeiro, 1:1-353. e Lingula lamellaClarke, 1913CLARKE, J.M. 1913. Fósseis devonianos do Paraná. Monographias do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, Rio de Janeiro, 1:1-353.). Almeida (1948ALMEIDA, F.F.M. 1948. Contribuição à geologia dos Estados de Goiás e Mato Grosso. Divisão de Geologia e Mineralogia, DNPM, Notas Preliminares e Estudos, 46:1-17.) também trata da ocorrência de alguns braquiópodes (Chonetes Fischer von Waldheim, 1830FISCHER VON WALDHEIM, G. 1830. Oryctographie du Gouvernement de Moscou. Moscow, de l’imprimerie d’Auguste Semen. 202p., Lingula e Orbiculoidea) e um trilobita indeterminado nos folhelhos da região desse mesmo município. No trabalho de Oliveira (1937OLIVEIRA, E. 1937. Fósseis devonianos de Goyaz. Serviço Geológico e Mineralógico, Notas Preliminares e Estudos, 15:2-4.) também é citada a presença de espiriferídeos nos arredores do município de Rio Verde (GO).

Microfósseis foram registrados pela primeira vez em Goiás no trabalho de Boekel (1966BOEKEL, N.M.C. 1966. Quitinozoários de Ribeirão do Monte. Divisão de Geologia e Mineralogia, DNPM, Notas Preliminares e Estudos , 132:3-33.), que fez uma análise taxonômica dos quitinozoários encontrados em Caiapônia, os classificando nas seguintes espécies: Lagenochitina brevicollisTaugourdeau & de Jekhowsky, 1960TAUGOURDEAU, P. & DE JEKHOWSKY, B. 1960. Répartition et description des chitinozoaires siluro-dévoniens de quelques sondages de la C.R.E.P.S., de la C.F.P.A. et de la S.N. Repal au Sahara. Revue de I’Institute Français Pétrole, 9:1199-1260., L. macrostomaTaugourdeau & de Jekhowsky, 1960TAUGOURDEAU, P. & DE JEKHOWSKY, B. 1960. Répartition et description des chitinozoaires siluro-dévoniens de quelques sondages de la C.R.E.P.S., de la C.F.P.A. et de la S.N. Repal au Sahara. Revue de I’Institute Français Pétrole, 9:1199-1260., L. sommeri (Lange, 1952LANGE, F.W. 1952. Quitinozoários do Folhelho Barreirinha, Devoniano do Pará. Dusenia, 3:373-386.), L. tarfayensisGrignani & Mantovani, 1964GRIGNANI, D. & MANTOVANI, M.P. 1964. Les Chitinozoaires du sondage Oum Doul 1 (Maroc). Revue de Micropaléontologie, 6:243-258., Angochitina dimorphaTaugourdeau & de Jekhowsky, 1960TAUGOURDEAU, P. & DE JEKHOWSKY, B. 1960. Répartition et description des chitinozoaires siluro-dévoniens de quelques sondages de la C.R.E.P.S., de la C.F.P.A. et de la S.N. Repal au Sahara. Revue de I’Institute Français Pétrole, 9:1199-1260., A. filosaEisenack, 1955EISENACK, A. 1955. Chitinozoen, Hystrichospharen und andere Mikrofossilien aus dem Beyrichia-Kalk. Senckenberg Leth, 36:157-188., A. globosaCollinson & Scott, 1958COLLINSON, C.W. & SCOTT, A.J. 1958. Chitinozoan faunule of the Devonian Cedar Valley formation. Division of the Illinois State Geological Survey, Circular, 247:1-38., Conochitina conulusEisenack, 1955EISENACK, A. 1955. Chitinozoen, Hystrichospharen und andere Mikrofossilien aus dem Beyrichia-Kalk. Senckenberg Leth, 36:157-188., Conochitina lagenomorphaEisenack, 1931EISENACK, A. 1931. Neue Mikrofossilien des baltischen Silurs. I. Palaeontologische Zeitschrift, 13:74-118., Cyathochitina campanulaeformisEisenack, 1955EISENACK, A. 1955. Chitinozoen, Hystrichospharen und andere Mikrofossilien aus dem Beyrichia-Kalk. Senckenberg Leth, 36:157-188., Ancyrochitina spinosaEisenack, 1959EISENACK, A. 1959. Neotypen baltischer Silur-Hystrichospären und neue Arten. Palaeontographica Abteilung A, 193-211. e Sphaerochitina cuvillieriTaugourdeau, 1962TAUGOURDEAU, P. 1962. Associations de Chitinozoaires dans quelques sondages de la région d’Edjelé (Sahara). Revue de micropaléontologie, 4:229-236.. Segundo a autora, esse material se encontra depositado no Laboratório de Micropaleontologia, Seção de Paleontologia da Divisão de Geologia e Mineralogia do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), Rio de Janeiro, Brasil (lâminas de número 63-3-1, 63-3-2, 63-3-3 e 63-3-4).

Uma década depois, Andrade & Camarço (1978ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1978. Mapeamento Geológico a Leste das Cidades de Iporá-Amorinópolis. Relatório Final da Nuclebrás. Goiânia. 32p., 1980ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1980. Estratigrafia dos sedimentos devonianos do flanco nordeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 31º. Anais. Santa Catarina, Balneário de Camboriú, Sociedade Brasileira de Geologia. v. 5, p. 2828-2834.) citam a ocorrência de fósseis na rodovia que liga os municípios de Iporá e Caiapônia, em afloramentos correspondentes à zona de transição entre as unidades 2 e 3 do Grupo Chapada. Tal material é representado por Australospirifer iheringi (Kayser, 1900KAYSER, E. 1900. Alguns Fósseis Paleozóicos do Estado do Paraná. Revista do Museu Paulista, 4:301-311.), Australocoelia flabellites (Conrad, 1839CONRAD, T.A. 1839. Descriptions of new species of organic remains: N.Y. State. Geological Survey, 3:57-66.), Orbiculoidea sp., Tentaculites sp., Calmonia sp., Asteropyge sp. e Serpulites sp. Andrade & Camarço (1978ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1978. Mapeamento Geológico a Leste das Cidades de Iporá-Amorinópolis. Relatório Final da Nuclebrás. Goiânia. 32p., 1980ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1980. Estratigrafia dos sedimentos devonianos do flanco nordeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 31º. Anais. Santa Catarina, Balneário de Camboriú, Sociedade Brasileira de Geologia. v. 5, p. 2828-2834.) também relatam a ocorrência de outros fósseis para essa zona de transição nos arredores de Caiapônia, como Australospirifer iheringi, Australospirifer kayserianus (Clarke, 1913CLARKE, J.M. 1913. Fósseis devonianos do Paraná. Monographias do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, Rio de Janeiro, 1:1-353.), Australocoelia flabellites, Orbiculoidea baini (Sharpe, 1856SHARPE, D. 1856. Description of Palaeozoic mollusca from South Africa. Transactions of the Geological Society, London, 2(7):206-215.), Derbyina sp., Schuchertella sp., Plectonotus sp., Ancyrochitina ancyreaEisenack, 1931EISENACK, A. 1931. Neue Mikrofossilien des baltischen Silurs. I. Palaeontologische Zeitschrift, 13:74-118., Ancyrochitina spinosa, Sphaerochitina cuvillieri, Cyathochitina sp., Angochitina devonicaEisenack, 1955EISENACK, A. 1955. Chitinozoen, Hystrichospharen und andere Mikrofossilien aus dem Beyrichia-Kalk. Senckenberg Leth, 36:157-188. e Conochitina lagenomorpha.

Também há evidências de restos vegetais no Grupo Chapada, como os encontrados na região de Amorinópolis (GO), na rodovia que segue para o município de Iporá, onde aflora a Unidade 1 (Quadros & Melo, 1986QUADROS, L.P. & MELO, J.H.G. 1986. Ocorrência de restos vegetais em sedimentos continentais do Paleozoico Médio do Estado de Goiás. Anais da Academia Brasileira de Ciências , 58(4):611.). Contudo, segundo os autores, esse material não pôde ser devidamente classificado devido à sua preservação fragmentária, porém se assemelha às psilophytas.

Carvalho et al. (1987CARVALHO, M.G.P.; MELO, J.H.G. & QUADROS, L.P. 1987. Trilobitas Devonianos do flanco noroeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Paleontologia, 10º. Anais. Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Paleontologia, UFRJ. p. 545-565.) estudaram os trilobitas do flanco noroeste da Bacia do Paraná e classificaram algumas espécies encontradas em dois afloramentos denominados “Ribeirão do Monte”, localizado entre os municípios de Caiapônia e Piranhas, na rodovia BR-158 e, “Ribeirão das Perdizes”, na rodovia GO-194, entre as cidades de Caiapônia e Baliza. Em Ribeirão do Monte, os autores encontraram Metacryphaeus cf. M. australis (Clarke, 1913CLARKE, J.M. 1913. Fósseis devonianos do Paraná. Monographias do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, Rio de Janeiro, 1:1-353.), Metacryphaeus aff. M. australis, Metacryphaeus sp. e trilobitas indeterminados. Já em Ribeirão das Perdizes, foram identificados Metacryphaeus aff. M. australis e Metacryphaeus sp. Tal material, segundo a autora, se encontra depositado na Coleção de Invertebrados do CENPES (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello), no estado do Rio de Janeiro (Brasil), com os seguintes números de registro: CENPES 156-I, 157-I, 158-I, 159-I, 160-I, 161-I e 162-I.

Na região de Amorinópolis, em local onde aflora a Unidade 2 do Grupo Chapada, Grahn et al. (2000GRAHN, Y.; PEREIRA, E. & BERGAMASCHI, S. 2000. Silurian and lower Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, 24:147-176.) destacam a presença de quitinozoários representados por Ramochitina cf. R. magnificaLange, 1967LANGE, F.W. 1967. Biostratigraphic subdivision and correlation of the Devonian in the Paraná Basin. Boletim Paranaense de Geociências, 21/22:63-98., que sugerem idade Praguiana para a camada investigada. No mesmo trabalho, esses autores indicam a presença dos quitinozoários Ancyrochitina parisiVolkheimer et al., 1986VOLKHEIMER, W.; MELENDI, D.L. & SALAS, A. 1986. Devonian Chitinozoans from Northwestern Argentina. Neues Jahrbuch fur Geologie und Palaontologie, Abhandlungen, 173:229-251. e Ancyrochitina sp. A Grahn et al., 2000GRAHN, Y.; PEREIRA, E. & BERGAMASCHI, S. 2000. Silurian and lower Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, 24:147-176. em afloramento localizado na rodovia entre Baliza e Doverlândia, o que, segundo os autores, indica idade Neoemsiana para esse estrato, também pertencente à Unidade 2. O material apresentado no trabalho de Grahn et al. (2000GRAHN, Y.; PEREIRA, E. & BERGAMASCHI, S. 2000. Silurian and lower Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, 24:147-176.) está depositado na Coleção de Paleoinvertebrados do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional, Rio de Janeiro, Brasil. Nenhum número de registro foi informado pelos autores no artigo.

Nos arredores de Amorinópolis, em afloramento correspondente à Unidade 3 do Grupo Chapada e denominado Fazenda “Sonho Meu”, Marques (2006MARQUES, R.C. 2006. Taxonomia dos invertebrados da Formação Ponta Grossa (Eomesodevoniano) na borda norte da Bacia do Paraná e análise cladística de espiriferídeos basais. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências. p. 144.), em sua dissertação de mestrado, identificou os braquiópodes terebratulídeos Derbyina smithi Derby, 1890DERBY, O.A. 1890. Nota sobre a geologia e paleontologia de Mato Grosso. Archivos do Museu Nacional, 9:59-88. e Cryptonella baini (Sharpe, 1856SHARPE, D. 1856. Description of Palaeozoic mollusca from South Africa. Transactions of the Geological Society, London, 2(7):206-215.), o discinídeo Orbiculoidea sp., um orthothetídeo indeterminado e um provável gênero novo de Spiriferida. Alguns moluscos bivalves também foram encontrados pelo autor nessas rochas e classificados como Ptychopteria (Actinopteria) langei?Petri, 1967PETRI, S. 1967. Nota sobre a ocorrência de lamelibrânquios pterióides no Devoniano do Paraná. Boletim da Sociedade Brasileira de Geologia, 16:13-22., Ptychopteria (A.) sp., Solemya (Janeia) sp. e Modiomorpha ? scaphulaClarke, 1913CLARKE, J.M. 1913. Fósseis devonianos do Paraná. Monographias do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, Rio de Janeiro, 1:1-353.. Outros táxons identificados incluem o tentaculitoideo Tentaculites sp. e o trilobita Kozlowskiaspis subseciva (Clarke, 1913CLARKE, J.M. 1913. Fósseis devonianos do Paraná. Monographias do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, Rio de Janeiro, 1:1-353.). Os fósseis estão depositados na Coleção Científica do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo com os seguintes números de registro: GP1E 3890, 3929, 3931, 3975, 3980, 3982, 4296, 5455, 5456, 5532, 5533, 5534, 5535, 5536, 5537, 5538, 5539, 5545, GP/1E 5536, 5541, GPE1E 3438, 3933, 3936, 5495, 5496a, 5496b, 5496c, 5526a, 5526b, 5529, 5556, 5573 e 5574.

Mais tarde, Francisco & Scheffler (2014FRANCISCO, A.P.S. & SCHEFFLER, S.M. 2014. Os primeiros Crinóides de Goiás (Emsiano-Eifeliano) e do Givetiano do Paraná, Bacia do Paraná, Brasil. In: Simpósio Brasileiro da Paleoinvertebrados, 2º. Paleontologia em Destaque - Boletim de Resumos. Ponta Grossa, PR, Sociedade Brasileira de Paleontologia. p. 43-50.) indicaram a presença de crinoides como Costalocrinus? sp. em amostras de rocha provenientes do afloramento estudado por Marques (2006MARQUES, R.C. 2006. Taxonomia dos invertebrados da Formação Ponta Grossa (Eomesodevoniano) na borda norte da Bacia do Paraná e análise cladística de espiriferídeos basais. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências. p. 144.) em Amorinópolis, correspondente à Unidade 3 do Grupo Chapada.

Um ano depois, Carvalho & Ponciano (2015CARVALHO, M.G.P. & PONCIANO, L.C.M.O. 2015. The Devonian trilobites of Brazil: A summary. Journal of South American Earth Sciences , 64:217-228.) reforçam a ocorrência das espécies de trilobitas Kozlowskiaspis subseciva e Metacryphaeus aff. M. australis nas rochas do Devoniano de Goiás em seu trabalho de revisão dos trilobitas do Brasil.

Por fim, alguns trabalhos trataram de fósseis devonianos encontrados no estado de Goiás (Sommer & Boekel, 1964SOMMER, F.W. & BOEKEL, N.M. 1964. Quitinozoários do Devoniano de Goiás. Anais da Academia Brasileira de Ciências , 36(4):423-431.; Brito, 1977BRITO, I.M. 1977. Ocorrência de Bióglifos no Devoniano Inferior do Município de Tocantínia, Goiás. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 49(3):461-464.; Ferreira & Fernandes, 1983FERREIRA, C.S. & FERNANDES, A.C.S. 1983. Notícias sobre alguns icnofósseis da Formação Pimenteira, Devoniano no estado de Goiás. Anais da Academia Brasileira de Ciências , 55: p. 140.), porém as cidades onde ocorrem esses registros fazem parte do atual estado do Tocantins (TO), antiga porção Norte do estado de Goiás, que foi emancipada após o ano de 1988. Além disso, esse material não é oriundo da Bacia do Paraná, sendo mais provável sua procedência da Bacia do Parnaíba. Tais trabalhos tratam apenas da ocorrência de icnofósseis (Brito, 1977BRITO, I.M. 1977. Ocorrência de Bióglifos no Devoniano Inferior do Município de Tocantínia, Goiás. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 49(3):461-464.; Ferreira & Fernandes, 1983FERREIRA, C.S. & FERNANDES, A.C.S. 1983. Notícias sobre alguns icnofósseis da Formação Pimenteira, Devoniano no estado de Goiás. Anais da Academia Brasileira de Ciências , 55: p. 140.) e quitinozoários (Sommer & Boekel, 1964SOMMER, F.W. & BOEKEL, N.M. 1964. Quitinozoários do Devoniano de Goiás. Anais da Academia Brasileira de Ciências , 36(4):423-431.) provenientes dos arredores dos municípios de Miranorte e Tocantínia (TO).

Afloramentos Visitados

A procura por afloramentos do Devoniano de Goiás teve como foco os arredores de cidades como Iporá, Amorinópolis, Caiapônia, Piranhas, Doverlândia e o limite estadual Baliza (GO)-Torixoréu (MT), devido às ocorrências de material fossilífero encontradas na literatura e citadas anteriormente (Fig. 4). Durante os trabalhos de campo, vários afloramentos foram visitados, porém a maior parte correspondeu à Unidade 1 do Grupo Chapada, onde apenas alguns icnofósseis (estruturas tubulares) foram encontrados.

Figura 4:
Afloramentos de idade Devoniana visitados durante os trabalhos de campo em Goiás.

Os afloramentos correspondentes à Unidade 1 estão localizados nas cercanias das cidades de Amorinópolis, Piranhas, Palestina de Goiás, Iporá e Caiapônia, apresentando as seguintes coordenadas geográficas: 51°05’38,156”O 16°35’22,556”S; 51°05’53,962”O 16°34’39,689”S; 51°40’43,159”O 16°28’11,244”S; 51°14’50,225”O 16°33’52,186”S; 51°32’13,355”O 16°45’09,150”S; 51°16’41,296”O 16°39’58,092”S; 51°34’11,036”O 16°48’35,604”S; 51°42’36,051”O 16°39’00,009”S. Litologicamente esses afloramentos tem em comum a presença de arenitos finos a grossos, comumente esbranquiçados, ora com estratificações cruzadas acanaladas e bioturbações (Fig. 5A).

Figura 5:
Detalhes litológicos dos afloramentos das unidades 1, 2, 3 e 4 encontrados no estado de Goiás. (A) Arenitos da Unidade 1 encontrados nos arredores de Amorinópolis (51°05’53,962”O 16°34’39,689”S). (B) Siltitos bastante bioturbados da Unidade 2 encontrados em Amorinópolis (51°05’34,058”O 16°36’01,643”S). (C) Rochas areníticas da Unidade 2 oriundas de Amorinópolis (51°42’08,929”O 16°45’41,919”S). (D) Arenitos avermelhados de granulação média a grosseira da Unidade 3, encontrados nos arredores de Amorinópolis (51°22’42,671”O 16°41’05,208”S). (E-F) Siltitos da Unidade 4, localizados nos arredores de Doverlândia (52°15’46,897”O 16°42’43,080”S).

A Unidade 2 do Grupo Chapada foi identificada em três afloramentos, porém apenas um apresentou litologia predominante de siltitos, que foi localizado na estrada Iporá-Amorinópolis, mais precisamente a cerca de 500 m da entrada de Amorinópolis (Fig. 5B; 51°05’34,058”O 16°36’01,643”S). Neste local icnofósseis (estruturas tubulares) foram identificados em um afloramento com alto nível de bioturbação. Os outros dois afloramentos identificados como pertencentes à Unidade 2 (coordenadas 51°20’52,940”O 16°40’47,958”S e 51°42’08,929”O 16°45’41,919”S) são mais areníticos (finos a médios) e variam de coloração entre róseos e avermelhados (Fig. 5C). Nenhum fóssil foi encontrado nessas localidades.

Um dos afloramentos indicados por Marques (2006MARQUES, R.C. 2006. Taxonomia dos invertebrados da Formação Ponta Grossa (Eomesodevoniano) na borda norte da Bacia do Paraná e análise cladística de espiriferídeos basais. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências. p. 144.) em sua dissertação de mestrado foi revisitado (51°22’42,671”O 16°41’05,208”S) e reconhecido como Unidade 3, devido à sua litologia apresentar extensas camadas de arenitos ferruginosos, característicos dessa unidade geológica (Fig. 5D; Andrade & Camarço, 1980ANDRADE, S.M. & CAMARÇO, P.E.N. 1980. Estratigrafia dos sedimentos devonianos do flanco nordeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 31º. Anais. Santa Catarina, Balneário de Camboriú, Sociedade Brasileira de Geologia. v. 5, p. 2828-2834.). Contudo, o trabalho de campo nessa localidade não logrou fósseis de invertebrados ou de vegetais, apenas icnofósseis (estruturas tubulares).

Afloramentos da Unidade 4 foram encontrados em quatro localidades: nos arredores dos municípios de Doverlândia (Fig. 5E-F; 52°15’46,897”O 16°42’43,080”S), Caiapônia (51°46’48,022”O 16°50’40,059”S) e na rodovia entre Caiapônia e Doverlândia (51°56’55,427”O 16°48’51,620”S e 51°57’19,480”O 16°48’31,172”S). Foram confeccionados perfis colunares dos afloramentos que renderam fósseis. Os fósseis reconhecidos nesses afloramentos são de braquiópodes, trilobitas, tubos vestimentíferos, restos vegetais e icnofósseis. Tal material está depositado na Coleção Científica do Laboratório de Paleontologia de Macroinvertebrados (CCLP), localizada na Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Bauru, São Paulo, Brasil.

Os fósseis encontrados no afloramento próximo à cidade de Doverlândia (52°15’46,897”O 16°42’43,080”S) são representados pelos braquiópodes Derbyina sp. (CCLP 934, 1007, 1015, 1018 e 1041), Chonetidina indeterminados (CCLP 935 e 1034) e prováveis Obolidae indeterminados (CCLP 933, 936 e 1040), tubos vestimentíferos (CCLP 810 a 817, 937, 939 a 941, 943 a 945, 1003 a 1006, 1010, 1019 a 1026, 1028, 1031, 1032, 1039, 1040, 1042, 1044 a 1049, 1054 a 1063, 1065 a 1078, 1080, 1081, 1083 a 1085, 1087 a 1101, 1104 a 1115), icnofósseis (estruturas tubulares) e pelo trilobita Metacryphaeus tuberculatus (Kozlowski, 1923KOZLOWSKI, R. 1923. Faune devonienne de Bolivie. Annales de Paléontologie, 12:1-112.) (Figs. 6A-G e 7; CCLP 874a e 874b).

Figura 6:
Fósseis encontrados nos afloramentos correspondentes à Unidade 4 do Grupo Chapada. (A-G) Pertencem ao afloramento de Doverlândia (52°15’46,897”O 16°42’43,080”S); (H-I) São provenientes do afloramento da rodovia que liga os municípios de Caiapônia e Doverlândia (51°56’55,427”O 16°48’51,620”S); (J-L) Foram coletados no afloramento de Caiapônia (51°46’48,022”O 16°50’40,059”S). (A-B) Valvas dorsais de Obolidae indeterminados (CCLP 936 e CCLP 933); (C) Valva dorsal de Derbyina sp. (CCLP 934); (D) Chonetidina indeterminado (CCLP 935); (E-F) Prováveis tubos vestimentíferos (CCLP 939 e 943); (G) molde externo convexo da porção cefálica de Metacryphaeus tuberculatus em vista dorsal (CCLP 874a); (H-I) Fragmentos de plantas (CCLP 912 e 913); (J) fragmento de Haplostigma sp. (CCLP 883); (K) Molde da valva ventral de Orbiculoidea baini (CCLP 880); (L) Molde da valva dorsal de Orbiculoidea excentrica (CCLP 962). Escala: A, C, E, F, H, I, J, K, L: 1 mm; B, D: 0,5 mm; G: 5 mm.

Figura 7:
Perfil colunar do afloramento encontrado nos arredores de Doverlândia (52°15’46,897”O 16°42’43,080”S).

O afloramento de Caiapônia (51°46’48,022”O 16°50’40,059”S), anteriormente estudado no trabalho de Carvalho et al. (1987CARVALHO, M.G.P.; MELO, J.H.G. & QUADROS, L.P. 1987. Trilobitas Devonianos do flanco noroeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Paleontologia, 10º. Anais. Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Paleontologia, UFRJ. p. 545-565.) e denominado “Ribeirão do Monte” (onde fósseis de trilobitas foram descritos), apenas rendeu fósseis dos braquiópodes de pequenas dimensões, representados por Orbiculoidea baini, O. excentricaLange, 1943LANGE, F.W. 1943. Novos Fósseis devonianos do Paraná. Arquivos do Museu Paranaense, 3:223-225. e Orbiculoidea sp. (CCLP 875 a 911, 946 a 983, 985 a 998, 1000 a 1002, 1118 e 1119) e de plantas identificadas como Haplostigma sp. e Palaeostigma? sp. (CCLP 878, 882, 883, 954, 958, 962, 982, 983 e 984), além de poucos icnofósseis de tubo (Figs. 6J-L e 8). Já o afloramento encontrado na rodovia que liga os municípios de Caiapônia e Doverlândia (51°56’55,427”O 16°48’51,620”S) apresentou fragmentos de plantas de difícil identificação por praticamente todas as camadas do afloramento (Figs. 6H-I e 9; CCLP 912 a 931), além de alguns icnofósseis como Bifungites sp.

Figura 8:
Perfil colunar do afloramento localizado próximo à cidade de Caiapônia (51°46’48,022”O 16°50’40,059”S).

Figura 9:
Perfil colunar do afloramento situado na rodovia que liga os municípios de Caiapônia e Doverlândia (51°56’55,427”O 16°48’51,620”S).

Considerações Finais

Os macrofósseis do estado de Goiás estão representados por diversas espécies (Tabelas 1, 2 e 3), sendo os braquiópodes os organismos que possuem maior diversidade específica, seguido dos trilobitas e moluscos (Fig. 10). Os microfósseis também estão bem representados por 18 espécies de quitinozoários distribuídas em sete gêneros distintos (Tabela 3). Dentre esse material, as unidades geológicas com maior número de espécies são as unidades 2 e 3 do Grupo Chapada.

Tabela 1:
Macrofósseis de invertebrados das unidades 2 e 3 do Grupo Chapada encontrados no estado de Goiás.

Tabela 2:
Macrofósseis de invertebrados da Unidade 4 do Grupo Chapada e de unidades geológicas desconhecidas encontrados no estado de Goiás.

Tabela 3:
Microfósseis e vegetais fósseis do estado de Goiás.

Figura 10:
Diversidade específica dos macrofósseis do Devoniano de Goiás, Brasil (Sub-bacia Alto Garças, Bacia do Paraná).

Não há muitos trabalhos que descrevem fósseis para o Devoniano de Goiás, em sua maior parte, eles apenas citam a ocorrência de determinados fósseis, sem sequer retratar o material com imagens. Os trabalhos taxonomicamente descritivos totalizam cinco em número, sendo três artigos (Boekel, 1966BOEKEL, N.M.C. 1966. Quitinozoários de Ribeirão do Monte. Divisão de Geologia e Mineralogia, DNPM, Notas Preliminares e Estudos , 132:3-33.; Carvalho et al., 1987CARVALHO, M.G.P.; MELO, J.H.G. & QUADROS, L.P. 1987. Trilobitas Devonianos do flanco noroeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Paleontologia, 10º. Anais. Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Paleontologia, UFRJ. p. 545-565.; Grahn et al. 2000GRAHN, Y.; PEREIRA, E. & BERGAMASCHI, S. 2000. Silurian and lower Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, 24:147-176.), uma dissertação de mestrado (Marques, 2006MARQUES, R.C. 2006. Taxonomia dos invertebrados da Formação Ponta Grossa (Eomesodevoniano) na borda norte da Bacia do Paraná e análise cladística de espiriferídeos basais. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências. p. 144.) e um resumo expandido (Francisco & Scheffler, 2014FRANCISCO, A.P.S. & SCHEFFLER, S.M. 2014. Os primeiros Crinóides de Goiás (Emsiano-Eifeliano) e do Givetiano do Paraná, Bacia do Paraná, Brasil. In: Simpósio Brasileiro da Paleoinvertebrados, 2º. Paleontologia em Destaque - Boletim de Resumos. Ponta Grossa, PR, Sociedade Brasileira de Paleontologia. p. 43-50.). Dentre esses trabalhos, Carvalho et al. (1987CARVALHO, M.G.P.; MELO, J.H.G. & QUADROS, L.P. 1987. Trilobitas Devonianos do flanco noroeste da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Paleontologia, 10º. Anais. Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Paleontologia, UFRJ. p. 545-565.), Marques (2006MARQUES, R.C. 2006. Taxonomia dos invertebrados da Formação Ponta Grossa (Eomesodevoniano) na borda norte da Bacia do Paraná e análise cladística de espiriferídeos basais. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências. p. 144.) e Francisco & Scheffler (2014FRANCISCO, A.P.S. & SCHEFFLER, S.M. 2014. Os primeiros Crinóides de Goiás (Emsiano-Eifeliano) e do Givetiano do Paraná, Bacia do Paraná, Brasil. In: Simpósio Brasileiro da Paleoinvertebrados, 2º. Paleontologia em Destaque - Boletim de Resumos. Ponta Grossa, PR, Sociedade Brasileira de Paleontologia. p. 43-50.) tratam de macrofósseis; os demais (Boekel, 1966BOEKEL, N.M.C. 1966. Quitinozoários de Ribeirão do Monte. Divisão de Geologia e Mineralogia, DNPM, Notas Preliminares e Estudos , 132:3-33.; Grahn et al. 2000GRAHN, Y.; PEREIRA, E. & BERGAMASCHI, S. 2000. Silurian and lower Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, 24:147-176.) versam sobre microfósseis.

Os novos achados fossilíferos são de suma importância para o crescimento do estudo de fósseis devonianos em Goiás, principalmente na investigação de rotas de migração de organismos entre as bacias paleozoicas, fato corroborado pela nova ocorrência de M. tuberculatus na Sub-bacia Alto Garças (Bacia do Paraná), como tratado no trabalho de Carbonaro et al. (2016CARBONARO, F.A.; MEIRA, F. VAN E.; LEME, J. DE M.; BOSSETTI, E.P. & GHILARDI, R.P. 2016. Metacryphaeus tuberculatus and Metacryphaeus australis (Trilobita, Phacopida) from the Devonian of the Paraná Basin: Taxonomy and Palaeobiogeography. Ameghiniana, 53(5):552-564.).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPESP (2013/09683-3) pela bolsa de doutorado de Fábio A. Carbonaro e ao biólogo Bruno dos Santos Francisco pelo auxílio nos trabalhos de campo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2016

Histórico

  • Aceito
    07 Out 2016
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