Acessibilidade / Reportar erro

Dor a injeção venosa de propofol em crianças: efeitos da adição de lidocaína e da inalação de óxido nitroso

Dolor en la inyección venosa de propofol en niños: efectos de la adición de lidocaína y de la inhalación de óxido nitroso

Resumos

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O meio hospitalar tem inúmeros fatores de apreensão e medo para as crianças. Entre eles injeções venosas são um dos mais importantes, principalmente se dolorosas. Propofol tem sido largamente utilizado para a indução da anestesia, mas tem o inconveniente de causar dor à injeção. O objetivo deste estudo foi comparar dois métodos de analgesia para a injeção venosa de propofol em crianças. MÉTODO: Sessenta e nove crianças admitidas ao centro cirúrgico para procedimentos de rotina sob anestesia geral, previamente com uma via venosa instalada no dorso de uma das mãos, foram aleatoriamente divididas em quatro grupos. No grupo 1, as crianças inalaram previamente, durante 2 minutos, O2 e a indução foi feita somente com propofol. No grupo 2, inalaram O2 e a cada 90 mg de propofol foram acrescentados 10 mg de lidocaína na forma de solução a 1%. No grupo 3, as crianças inalaram N2O 66% e O2 33% e o propofol foi usado puro. No grupo 4, os dois métodos foram combinados: as crianças inalaram N2O 66% com O2 33% e a indução foi feita com propofol diluído com lidocaína. A dor à indução foi avaliada, assim como a freqüência cardíaca antes e após a injeção. RESULTADOS: O grupo 4 foi o único no qual não se observou alteração da freqüência cardíaca após a injeção de propofol. No grupo 1, as crianças apresentaram mais dor e no grupo 4 tiveram menos. No grupo 2, a analgesia não foi suficiente e no grupo 3 houve somente uma tendência estatística à analgesia. CONCLUSÕES: Nas condições deste estudo, a inalação prévia de N2O antes da injeção venosa de propofol associado à lidocaína mostrou ser o método de analgesia mais eficaz para a indução da anestesia geral com propofol em crianças.

ANESTÉSICOS, Inalatório; Local; HIPNÓTICOS; TÉCNICAS ANESTÉSICAS, Venosa


JUSTIFICATIVA Y OBJETIVOS: El medio hospitalario tiene varios factores de aprehensión y miedo para los niños. Entre ellos, las inyecciones venosas son uno de los más importantes factores, principalmente si dolorosas. El Propofol ha sido largamente utilizado para la inducción de la anestesia, más tiene el inconveniente de causar dolor en la inyección. El objetivo de este estudio fue comparar dos métodos de analgesia para la inyección venosa de propofol en niños. MÉTODO: Sesenta y nueve niños admitidos al centro cirúrgico para procedimientos de rutina bajo anestesia general, previamente con una vía venosa instalada en el dorso de una de las manos, fueron aleatoriamente divididos en cuatro grupos. En el grupo 1, los niños inhalaran previamente, durante 2 minutos, O2 y la inducción fue hecha solamente con propofol. En el grupo 2, inhalaran O2 y a cada 90 mg de propofol fueron acrecentados 10 mg de lidocaína en la forma de solución a 1%. En el grupo 3, los niños inhalaran N2O 66% y O2 33% y el propofol fue usado puro. En el grupo 4, los dos métodos fueron combinados: los niños inhalaran N2O 66% con O2 33% y la inducción fue hecha con propofol diluido con lidocaína. El dolor en la inducción fue evaluado, así como la frecuencia cardíaca antes y después de la inyección. RESULTADOS: El grupo 4 fue el único en el cual no se observó alteración de la frecuencia cardíaca después de la inyección de propofol. En el grupo 1, los niños presentaron más dolor y en el grupo 4 tuvieron menos dolor. En el grupo 2, la analgesia no fue suficiente y en el grupo 3 hubo solamente una tendencia estadística a la analgesia. CONCLUSIONES: En las condiciones de este estudio la inhalación previa de N2O antes de la inyección venosa de propofol asociado a la lidocaína mostró que puede ser el método de analgesia más eficaz para la inducción de la anestesia general con propofol en niños.


BACKGROUND AND OBJECTIVES: Hospital settings are stressful and fearful for children. Intravenous injections are mostly feared, especially if painful. Propofol is widely used for anesthesia induction but has the disadvantage of pain. This study aimed to compare two analgesic methods for intravenous propofol injection in children. METHODS: Participated in this study 69 pediatric patients admitted for routine procedures under general anesthesia, with an intravenous line on the back of one hand, who were randomly allocated into four groups. Group 1 received previous inhalational O2 for 2 minutes and anesthesia was induced with propofol only. Group 2 inhaled O2 and to each 90 mg of propofol 10 mg of 1% lidocaine were added. Group 3 inhaled 66% N2O and 33% O2 and anesthesia was induced with propofol alone. Group 4 received a combination of both methods: children inhaled 66% N2O with 33% O2 and anesthesia was induced with propofol combined with lidocaine. Pain on induction and heart rate before and after injection were evaluated. RESULTS: Group 4 was the only one with no changes in heart rate after propofol injection. Group 1 had more pain on induction and group 4 had less. Analgesia was insufficient for group 2, and group 3 has only shown a statistical trend to analgesia. Conclusions: Dilution with lidocaine combined with N2O inhalation before intravenous propofol injection showed to be the most efficient method of analgesia for propofol induction in children.

ANESTHETICS, Inhalational; Local; ANESTHETIC TECHNIQUES, Intravenous; HYPNOTICS


ARTIGO CIENTÍFICO

Dor a injeção venosa de propofol em crianças: efeitos da adição de lidocaína e da inalação de óxido nitroso* * Recebido do CET do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, Campinas, SP

Dolor en la inyección venosa de propofol en niños: efectos de la adición de lidocaína y de la inhalación de óxido nitroso

Artur Udelsmann, TSAI; Waston V SilvaII; Virgínia Maia da ConceiçãoII; Rosa Inês Costa Pereira, TSAI

IProfessor (a) Doutor (a) de Departamento de Anestesiologia da FCM - UNICAMP

IIEx-ME3 do CET/SBA da FCM - UNICAMP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. Artur Udelsmann Av. Prof. Atílio Martini, 213 13084-210 Campinas, SP E-mail: artur@fcm.unicamp.br

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O meio hospitalar tem inúmeros fatores de apreensão e medo para as crianças. Entre eles injeções venosas são um dos mais importantes, principalmente se dolorosas. Propofol tem sido largamente utilizado para a indução da anestesia, mas tem o inconveniente de causar dor à injeção. O objetivo deste estudo foi comparar dois métodos de analgesia para a injeção venosa de propofol em crianças.

MÉTODO: Sessenta e nove crianças admitidas ao centro cirúrgico para procedimentos de rotina sob anestesia geral, previamente com uma via venosa instalada no dorso de uma das mãos, foram aleatoriamente divididas em quatro grupos. No grupo 1, as crianças inalaram previamente, durante 2 minutos, O2 e a indução foi feita somente com propofol. No grupo 2, inalaram O2 e a cada 90 mg de propofol foram acrescentados 10 mg de lidocaína na forma de solução a 1%. No grupo 3, as crianças inalaram N2O 66% e O2 33% e o propofol foi usado puro. No grupo 4, os dois métodos foram combinados: as crianças inalaram N2O 66% com O2 33% e a indução foi feita com propofol diluído com lidocaína. A dor à indução foi avaliada, assim como a freqüência cardíaca antes e após a injeção.

RESULTADOS: O grupo 4 foi o único no qual não se observou alteração da freqüência cardíaca após a injeção de propofol. No grupo 1, as crianças apresentaram mais dor e no grupo 4 tiveram menos. No grupo 2, a analgesia não foi suficiente e no grupo 3 houve somente uma tendência estatística à analgesia.

CONCLUSÕES: Nas condições deste estudo, a inalação prévia de N2O antes da injeção venosa de propofol associado à lidocaína mostrou ser o método de analgesia mais eficaz para a indução da anestesia geral com propofol em crianças.

Unitermos: ANESTÉSICOS, Inalatório: óxido nitroso; Local: lidocaína; HIPNÓTICOS: propofol; TÉCNICAS ANESTÉSICAS, Venosa: indução

RESUMEN

JUSTIFICATIVA Y OBJETIVOS: El medio hospitalario tiene varios factores de aprehensión y miedo para los niños. Entre ellos, las inyecciones venosas son uno de los más importantes factores, principalmente si dolorosas. El Propofol ha sido largamente utilizado para la inducción de la anestesia, más tiene el inconveniente de causar dolor en la inyección. El objetivo de este estudio fue comparar dos métodos de analgesia para la inyección venosa de propofol en niños.

MÉTODO: Sesenta y nueve niños admitidos al centro cirúrgico para procedimientos de rutina bajo anestesia general, previamente con una vía venosa instalada en el dorso de una de las manos, fueron aleatoriamente divididos en cuatro grupos. En el grupo 1, los niños inhalaran previamente, durante 2 minutos, O2 y la inducción fue hecha solamente con propofol. En el grupo 2, inhalaran O2 y a cada 90 mg de propofol fueron acrecentados 10 mg de lidocaína en la forma de solución a 1%. En el grupo 3, los niños inhalaran N2O 66% y O2 33% y el propofol fue usado puro. En el grupo 4, los dos métodos fueron combinados: los niños inhalaran N2O 66% con O2 33% y la inducción fue hecha con propofol diluido con lidocaína. El dolor en la inducción fue evaluado, así como la frecuencia cardíaca antes y después de la inyección.

RESULTADOS: El grupo 4 fue el único en el cual no se observó alteración de la frecuencia cardíaca después de la inyección de propofol. En el grupo 1, los niños presentaron más dolor y en el grupo 4 tuvieron menos dolor. En el grupo 2, la analgesia no fue suficiente y en el grupo 3 hubo solamente una tendencia estadística a la analgesia.

CONCLUSIONES: En las condiciones de este estudio la inhalación previa de N2O antes de la inyección venosa de propofol asociado a la lidocaína mostró que puede ser el método de analgesia más eficaz para la inducción de la anestesia general con propofol en niños.

INTRODUÇÃO

O propofol é um agente hipnótico de uso venoso que está sendo muito utilizado na indução da anestesia geral, tanto em adultos como, mais recentemente, em crianças. Sua principal característica é o tempo de ação curto, o que lhe confere interesse particular em anestesia ambulatorial. A experiência com sua utilização tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Outras características foram, aos poucos, sendo colocadas em evidência, tais como efeito antiemético, particularmente em crianças 1,2, a possibilidade de sua utilização para intubação traqueal sem o uso de relaxantes musculares 3, o alívio do prurido desencadeado pela utilização de opióides espinhais 4. Além disso, tem ele sido utilizado como agente de manutenção da hipnose durante a anestesia venosa total 5.

Seu maior inconveniente é a dor à sua injeção 5,6 e esta é, sem dúvida, particularmente indesejável quando da prática da anestesia pediátrica. Na literatura a prevalência da dor à injeção venosa de propofol em crianças é muito variável e se situa entre 28 e 85% dos casos 7,8. Com o objetivo de minimizar esse inconveniente, algumas soluções já foram propostas. O uso da lidocaína é o mais empregado, podendo ser ela injetada por via venosa previamente à administração do agente 9 ou, concomitantemente, pela sua diluição na solução do propofol 10-14. Nesta última formulação, a dose mínima eficaz em crianças 15 seria de 0,2 mg.kg-1, o que corresponde a duas vezes aquela recomendada em adultos 16. Outras propostas são ainda a administração prévia de doses sub-hipnóticas de tiopental 17,18 ou a utilização prévia de opióides como o alfentanil 14,19,20 na dose de 15 µg.kg-1 ou 2,5 µg.kg-1 de fentanil 20.

O óxido nitroso é um gás anestésico fraco, inodoro, usado em anestesia desde o século passado. Em misturas não hipóxicas é incapaz de induzir hipnose em indivíduos hígidos, mas sua inalação permite que se atinja o estágio I de anestesia de Guedel 21, razão pela qual já foi proposto, com sucesso, para a realização de procedimentos pouco dolorosos em crianças como a punção venosa 22,23, embora não tenha ainda sido utilizado para prover analgesia para a injeção venosa de propofol.

O objetivo deste estudo foi avaliar, em um estudo duplamente encoberto, os efeitos de dois métodos de analgesia sobre a dor da injeção venosa de propofol em crianças: 1) a mistura de 10 mg de lidocaína na forma de solução a 1% a cada 90 mg e propofol; 2) a inalação de N2O, usados isoladamente ou combinados entre si.

MÉTODO

Após aprovação pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, participaram do estudo 69 crianças de ambos os sexos, estado físico ASA I, II ou III, admitidas para procedimentos cirúrgicos de rotina, com idade entre 8 meses e 15 anos. Todas as crianças chegaram ao Centro Cirúrgico com uma via venosa já instalada sobre o dorso de uma das mãos. Após informação e consentimento dos pais ou responsáveis, receberam como medicação pré-anestésica midazolam 0,5 mg.kg-1 por via oral até o máximo de 15 mg e foram, aleatoriamente, divididas em quatro grupos. As do grupo 1 inalaram sob máscara O2 a 100% durante 2 minutos antes da indução e para esta receberam propofol venoso na dose de 2 mg.kg-1. As do grupo 2 inalaram igualmente O2 a 100% e para indução receberam propofol na mesma dose, mas no qual foi diluído 10 mg de lidocaína a 1% sem vasoconstritor para cada 90 mg de propofol, de maneira a obter-se uma solução com 1 mg de lidocaína por mililitro (0,1%). As do grupo 3 inalaram N2O 66% e O2 33% também por 2 minutos e a anestesia foi induzida somente com propofol na dose de 2 mg.kg-1. As do grupo 4 receberam a combinação dos dois métodos, ou seja, inalaram previamente N2O 66% e O2 33% e tiveram a anestesia induzida com propofol diluído com lidocaína conforme descrito anteriormente. Uma vez na sala de cirurgia, era instalada monitorização consistindo em eletrocardioscopia, oximetria de pulso e pressão arterial não invasiva. Participaram do experimento um médico anestesiologista e um médico em especialização ME3; o primeiro tinha conhecimento do grupo ao qual a criança tinha sido incluída, preparava a seringa com o propofol e, ocultando os fluxômetros do aparelho de anestesia, aplicava a máscara na criança para inalação dos gases que, eram assim, desconhecidos do segundo experimentador, que fazia a indução venosa e avaliava a reação dos pacientes.

A dor foi avaliada segundo uma escala de 4 pontos, sendo:

0 = ausência de reação a injeção venosa - sem dor;

1 = ligeiro movimento do membro superior - pouca dor;

2 = retração do membro superior - dor de média intensidade; e

3 = retração do membro superior e choro - dor de forte intensidade.

Foram ainda verificadas as freqüências cardíacas antes da indução e imediatamente após a perda do reflexo ciliar.

Para verificar a homogeneidade entre os grupos para as variáveis idade, peso e freqüência cardíaca antes da indução, utilizou-se o teste de Kruskal-Wallis. Para as variáveis sexo e classificação do estado físico foram feitas tabelas de contingência e o respectivo teste x2 para associação ou, quando necessário, o teste exato de Fisher. Para verificar a evolução da freqüência cardíaca antes e após a indução nos quatro grupos utilizou-se análise de co-variância. Os resultados de dor nos quatro grupos foram comparados através do teste exato de Fisher, sendo consideradas inaceitáveis dores de média ou forte intensidade.

RESULTADOS

Os grupos foram homogêneos quanto à idade, peso, sexo e estado físico da ASA (Tabela I).

Revista Brasileira de Anestesiologia, 2001; 51: 5: 394-400

Dor a injeção venosa de propofol em crianças: efeitos da adição de lidocaína e da inalação de óxido nitroso

Artur Udelsmann; Waston V Silva; Virgínia Maia da Conceição; Rosa Inês Costa Pereira

Os resultados das freqüências cardíacas antes e após a indução são apresentados na tabela II e figura 1.

Revista Brasileira de Anestesiologia, 2001; 51: 5: 394-400

Dor a injeção venosa de propofol em crianças: efeitos da adição de lidocaína e da inalação de óxido nitroso

Artur Udelsmann; Waston V Silva; Virgínia Maia da Conceição; Rosa Inês Costa Pereira


Revista Brasileira de Anestesiologia, 2001; 51: 5: 394-400

Dor a injeção venosa de propofol em crianças: efeitos da adição de lidocaína e da inalação de óxido nitroso

Artur Udelsmann; Waston V Silva; Virgínia Maia da Conceição; Rosa Inês Costa Pereira

Não se evidenciou diferença das freqüências cardíacas antes da indução entre os 4 grupos porém, após a injeção de propofol, houve aumento significativo desta nos grupos 1, 2 e 3, o que não aconteceu no grupo 4.

Os resultados da avaliação da dor em cada grupo apresentaram-se como seguem na tabela III.

Revista Brasileira de Anestesiologia, 2001; 51: 5: 394-400

Dor a injeção venosa de propofol em crianças: efeitos da adição de lidocaína e da inalação de óxido nitroso

Artur Udelsmann; Waston V Silva; Virgínia Maia da Conceição; Rosa Inês Costa Pereira

Considerando-se inaceitáveis as dores de média e forte intensidade, pode-se construir a tabela IV.

Revista Brasileira de Anestesiologia, 2001; 51: 5: 394-400

Dor a injeção venosa de propofol em crianças: efeitos da adição de lidocaína e da inalação de óxido nitroso

Artur Udelsmann; Waston V Silva; Virgínia Maia da Conceição; Rosa Inês Costa Pereira

O grupo 1 apresentou o maior número de casos de dor considerados inaceitáveis. A utilização isolada de lidocaína ou N2O proporcionou resultados semelhantes. No entanto, sua utilização simultânea (grupo 4) levou à obtenção de um número significativo de casos sem nenhuma dor.

Fazendo-se uma comparação isolada de cada método de analgesia com o grupo que não recebeu nenhuma, obtivemos os seguintes resultados: a utilização da diluição de lidocaína no propofol não proporcionou analgesia significativa; este resultado é contrário aos achados na literatura 10,11,13,14 e se deve, muito provavelmente, ao tamanho reduzido da nossa amostra. A inalação de N2O (grupo 3) mostrou tão somente tendência (p = 0,103) em prover analgesia satisfatória para a injeção venosa de propofol. Já a utilização simultânea da diluição de propofol com lidocaína e a inalação de N2O (grupo 4 proporcionou a melhor qualidade de analgesia (p < 0,01) para realização da indução venosa, com um número significativo de casos sem dor alguma ou somente pouca dor, quando comparado ao grupo que não recebeu nenhum método de analgesia. Se considerarmos que o aumento da freqüência cardíaca é uma das manifestações da dor, o resultado obtido no grupo 4 é ainda corroborado pela não obtenção de variação significativa desta variável estudada.

DISCUSSÃO

Muitos são os fatores que tornam a prática da anestesia um ato agressivo às crianças, entre eles, a noção de uma injeção e ainda mais se for dolorosa! Com freqüência os pacientes pediátricos são submetidos a mais de uma hospitalização e, mesmo não sendo as posteriores objetos de uma anestesia, deve-se fazer o máximo para que o hospital e os médicos não sejam vistos como fatores de agressão e medo. O propofol tem se mostrado um agente útil para a indução venosa da anestesia, mas a dor à sua injeção é um inconveniente que deve ser minimizado ao máximo. A fisiopatologia da dor à injeção dessa droga ainda não está totalmente esclarecida e várias hipóteses já foram aventadas, porém, nenhuma delas, até o presente, foi devidamente comprovada. A droga não é hiperosmolar e seu pH se encontra entre 6 e 8,5. Alguns fatores, no entanto, já foram bem evidenciados como agravantes da dor à injeção venosa do propofol e são, entre eles: o calibre da veia utilizada que deve ser o maior possível para reduzir a dor 5,24, a velocidade da injeção que causará tanto mais dor quanto mais lenta ela for 10 e a temperatura do agente 25 que causará mais dor se for administrado frio. Os métodos atualmente propostos para analgesia de procedimentos pouco invasivos 10-14,22,23 não se mostraram satisfatórios isoladamente neste estudo. No entanto, a combinação de N2O com lidocaína, agindo em locais diferentes da percepção dolorosa, proporcionou analgesia adequada na grande maioria dos casos e tal procedimento, a nosso ver, deve ser incentivado quando da indução de uma anestesia geral com propofol em crianças.

Apresentado em 07 de dezembro de 2000

Aceito para publicação em 20 de abril de 2001

  • 01. Weir PM, Munro HM, Reynolds PI et al - Propofol infusion and the incidence of emesis in pediatric outpatient strabismus surgery. Anesth Analg, 1993;76:760-764.
  • 02. Martin TM, Nicolson SC, Bargas MS - Propofol anesthesia reduces emesis and airway obstruction in pediatric outpatients. Anesth Analg, 1993;76:144-148.
  • 03. Beck GN, Masterson GR, Richards J et al - Comparison of intubation following propofol and alfentanil with intubation following thiopentone and suxamethonium. Anaesthesia, 1993;48:876-880.
  • 04. Borgeat A, Wilder-Smith OHG, Saiah M et al - Subhypnotic doses of propofol relieve pruritus induced by epidural and intratechal morphine. Anesthesiology 1992;76:510-512.
  • 05. Tan CH, Onsiong MK - Pain on injection of propofol. Anaesthesia, 1998;53:468-476.
  • 06. Doenicke AW, Roizen MF, Rau J et al - Pharmacokimetics and pharmaodynamics of propofol in a new solvent. Anesth Analg, 1997;85:1399-1403.
  • 07. Valtonen M, Iisalo E, Kanto J et al - Comparison between propofol propofol and thiopentone for induction of anaesthesia in children. Anaesthesia, 1988;43:696-699.
  • 08. Valtonen M, Iisalo E, Kanto J et al - Propofol as an induction agent in children: pain on injection and pharmacokinetics. Acta Anaesthesiol Scand, 1989;33:152-155.
  • 09. Lyons B, Lohan D, Flynn C et al - Modification of pain on injection of propofol. A comparison of pethidine and lignocaine. Anaesthesia, 1996;51:394-395.
  • 10. Scott RPF, Saunders DA, Norman J - Propofol: clinical strategies for preventing pain on injection. Anaesthesia, 1988;43:492-494.
  • 11. Eriksson M, Englesson S, Niklasson F et al - Effect of lignocaine and pH on propofol-induced pain. Br J Anaesth, 1997;78: 502-506.
  • 12. Tam CS, Khoo ST - Modulating effects of lignocaine on propofol. Anaesth Int Care, 1995;23:154-157.
  • 13. Helbo-Hansen S, Westergaard V, Krogh BL et al - The reduction of pain on injection of propofol: the effect of addition of lignocaine. Acta Anaesthesiol Scand, 1988;32:502-504.
  • 14. Nathanson MH, Gajraj NM, Russel JA - Prevention of pain on injection of propofol: a comparison of lidocaine with alfentanil. Anesth Analg, 1996;82:469-471.
  • 15. Cameron E, Johnston G, Crofts S et al - The minimum effective dose of lignocaine to prevent injection pain due to propofol in children. Anaesthesia, 1992;47:604-606.
  • 16. Gehan G, Karoubi P, Quinet F et al - Optimal dose of lignocaine for preventing pain on injection of propofol. Br J Anaesth, 1991;66:324-326.
  • 17. Lee TW, Loewenthal AE, Strachan JA et al - Pain during the injection of propofol. The effect of prior administration of thiopentone. Anaesthesia, 1994;49:817-818.
  • 18. Haugen RD, Vaghadia H, Waters T et al - Thiopentone pretreatment for propofol injection pain in ambulatory patients. Can J Anaesth, 1995;42:1108-1112.
  • 19. Fletcher JE, Seavell CR, Bowen DJ - Pretreatment with alfentanil reduces pain caused by propofol. Br J Anaesth, 1994;72:342-344.
  • 20. Helmers JH, Kraaijenhagen RJ, Leeuwen LV et al - Reduction of pain on injection caused by propofol. Can J Anaesth, 1990;37: 267-268.
  • 21. Parbrook GD - The levels of nitrous oxide analgesia. Br J Anaesth, 1967;39:974-982.
  • 22. Henderson JM, Spence DG, Komokar RN et al - Administration of nitrous oxide to pediatric patients provides analgesia for venous cannulation, Anesthesiology, 1990;72:269-271.
  • 23. Udelsmann A, Bassanezi BSB, Corrêa CMO et al - Estudo comparativo entre a inalação de óxido nitroso e a aplicação tópica da mistura eutética de anestésicos locais na prevenção da dor da punção venosa em anestesia pediátrica. Rev Bras Anestesiol 1997;46:497-501.
  • 24. Hannallah RS, Baker SB, Casey W et al - Propofol: effective dose and induction characteristics in unpremedicated children. Anesthesiology, 1991;74:217-219.
  • 25. Fletcher GC, Gillespie JA, Davidson JA - The effect of temperature upon pain during injection of propofol. Anaesthesia, 1996;51:498-499.
  • Endereço para correspondência:
    Dr. Artur Udelsmann
    Av. Prof. Atílio Martini, 213
    13084-210 Campinas, SP
    E-mail:
  • *
    Recebido do CET do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, Campinas, SP
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Mar 2011
    • Data do Fascículo
      Out 2001

    Histórico

    • Aceito
      20 Abr 2001
    • Recebido
      07 Dez 2000
    Sociedade Brasileira de Anestesiologia R. Professor Alfredo Gomes, 36, 22251-080 Botafogo RJ Brasil, Tel: +55 21 2537-8100, Fax: +55 21 2537-8188 - Campinas - SP - Brazil
    E-mail: bjan@sbahq.org