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Pressão arterial do anestesiologista durante o ato anestésico-cirúrgico no período matutino

Presión arterial del anestesista durante el acto anestésico-quirúrgico en el período matutino

Anesthesiologists’ blood pressure during surgical anesthetic procedures in the morning

Resumos

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A hipertensão arterial sistêmica incide em aproximadamente 20% da população mundial, dependendo da interação entre a predisposição genética e fatores ambientais. As condições de estresse inerentes ao trabalho do anestesiologista podem se manifestar no aparelho cardiovascular, influenciando na pressão arterial do profissional que a pratica. O objetivo deste estudo foi verificar se a prática da anestesia é fator desencadeante da variação da pressão arterial no anestesiologista durante o ato anestésico cirúrgico. MÉTODO: Participaram do estudo dez anestesiologistas, cada um realizando dez anestesias raquidianas para parto cesariano. Foram registradas cinco medidas da pressão arterial em cinco momentos diferentes, no total de 50 aferições por anestesiologista. A primeira, realizada após descanso prévio de cinco minutos da chegada do anestesiologista ao centro cirúrgico, denominado M1. A segunda, antes da realização da punção lombar, M2. A terceira, logo após a retirada da agulha do local da punção onde foi realizado o bloqueio, M3. A quarta, imediatamente após a retirada do feto, M4. E a última aferição, ao término da sutura da pele, M5. RESULTADOS: Ocorreu elevação na pressão arterial do anestesiologista nos momentos M3 e M4. CONCLUSÕES: A prática anestésica realizada é responsável por alteração significativa da pressão arterial do anestesiologista e está diretamente relacionada com os momentos de maior risco para o paciente durante o ato anestésico cirúrgico.

COMPLICAÇÕES; EQUIPAMENTOS; TÉCNICAS ANÉSTESICAS; TÉCNICAS ANÉSTESICAS


JUSTIFICATIVA Y OBJETIVOS: La hipertensión arterial sistémica incide en aproximadamente 20% de la población mundial, dependiendo de la interacción entre la predisposición genética y factores ambientales. Las condiciones de estrés inherentes al trabajo del anestesista pueden manifestarse en el aparato cardiovascular, influenciando en la presión arterial del profesional que la practica. El objetivo de este estudio fue verificar si la práctica de la anestesia es factor desencadenante de la variación de la presión arterial en el anestesista durante el acto anestésico quirúrgico. MÉTODO: Participaron del estudio diez anestesistas, cada un realizando diez anestesias raquidianas para parto cesariano. Fueron registradas cinco medidas de la presión arterial en cinco momentos diferentes, en el total de 50 afericiones por anestesista. La primera, realizada después de descanso previo de cinco minutos de la llegada del anestesista al centro quirúrgico, denominado M1. La segunda, antes de la realización de la punción lumbar, M2. La tercera, luego después de la retirada de la aguja del local de la punción donde fue realizado el bloqueo, M3. La cuarta, inmediatamente después de la retirada del feto, M4. Y la última aferición, al término de la sutura de la piel. M5. RESULTADOS: Ocurrió elevación en la presión arterial del anestesista nos momentos M3 y M4. CONCLUSIONES: La práctica anestésica realizada es responsable por la alteración significativa de la presión arterial del anestesista y está directamente relacionada con los momentos de mayor riesgo para el paciente durante el acto anestésico quirúrgico.


BACKGROUND AND OBJECTIVES: Systemic arterial hypertension affects approximately 20% of the world population, depending on the interaction between genetic predisposition and environmental factors. Stresses inherent to the anesthesiologist’s work might reflect in the cardiovascular system, influencing professional’s blood pressure. This study aimed at verifying whether the practice of anesthesia is a triggering factor for anesthesiologists’ blood pressure changes during surgical anesthetic procedures. METHODS: Participated in these study 10 anesthesiologists, each one inducing 10 spinal anesthesias for cesarean section. Blood pressure was measured in five different moments, in a total of 50 readings one each anesthesiologist. The first measure was recorded soon after the anesthesiologist’s arrival in the operating center and was called M1; the second, before lumbar puncture and was called M2; the third, immediately after needle removal from the puncture site and was called M3; the forth reading, M4, was obtained immediately after fetal extraction; and the last value, M5, at end of skin suture. RESULTS: There has been anesthesiologists’ blood pressure increase in moments M3 and M4. CONCLUSIONS: The anesthetic practice is responsible for significant changes in anesthesiologists’ blood pressure and is a direct function of moments of higher risk for the patient during surgical anesthetic procedures.

ANESTHETIC TECHNIQUES; ANESTHETIC TECHNIQUES; COMPLICATIONS; EQUIPMENTS


ARTIGO DIVERSO

Pressão arterial do anestesiologista durante o ato anestésico-cirúrgico no período matutino

Anesthesiologists’ blood pressure during surgical anesthetic procedures in the morning

Presión arterial del anestesista durante el acto anestésico-quirúrgico en el período matutino

Pedro Wanderley de AragãoI; João de Oliveira PrazeresII; Vânia Maria de Farias AragãoIII; Carlos Alberto de Souza Martins, TSAIV

IProfessor Adjunto da Disciplina de Farmacologia da Universidade Federal do Maranhão; Coordenador do Centro de Estudos da Clínica São Marcos; Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Maranhão

IIProfessor Adjunto da Disciplina de Anatomia da Universidade Federal do Maranhão; Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Maranhão

IIIProfessora Adjunta da Disciplina de Pediatria da Universidade Federal do Maranhão; Mestre emSaúde e Ambiente pela Universidade Federal do Maranhão

IVResponsável pelo Serviço de Anestesiologia da Clínica São Marcos, São Luís MA; Professor Adjunto da Disciplina de Farmacologia da Universidade Federal do Maranhão; Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Maranhão

Endereço para correspondênciaEndereço para correspondência Dr. Pedro Wanderley de Aragão Rua dos Jenipapeiros, Quadra 21, nº 18, Bairro do São Francisco 65076-490 São Luís, MA E-mail: pedro.aragao@elo.com.br

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

MÉTODO: Participaram do estudo dez anestesiologistas, cada um realizando dez anestesias raquidianas para parto cesariano. Foram registradas cinco medidas da pressão arterial em cinco momentos diferentes, no total de 50 aferições por anestesiologista. A primeira, realizada após descanso prévio de cinco minutos da chegada do anestesiologista ao centro cirúrgico, denominado M1. A segunda, antes da realização da punção lombar, M2. A terceira, logo após a retirada da agulha do local da punção onde foi realizado o bloqueio, M3. A quarta, imediatamente após a retirada do feto, M4. E a última aferição, ao término da sutura da pele, M5.

RESULTADOS: Ocorreu elevação na pressão arterial do anestesiologista nos momentos M3 e M4.

CONCLUSÕES: A prática anestésica realizada é responsável por alteração significativa da pressão arterial do anestesiologista e está diretamente relacionada com os momentos de maior risco para o paciente durante o ato anestésico cirúrgico.

Unitermos: COMPLICAÇÕES: hipertensão arterial; EQUIPAMENTOS: esfigmomanômetro de mercúrio; TÉCNICAS ANÉSTESICAS, Regional: subaracnóidea

SUMMARY

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

METHODS: Participated in these study 10 anesthesiologists, each one inducing 10 spinal anesthesias for cesarean section. Blood pressure was measured in five different moments, in a total of 50 readings one each anesthesiologist. The first measure was recorded soon after the anesthesiologist’s arrival in the operating center and was called M1; the second, before lumbar puncture and was called M2; the third, immediately after needle removal from the puncture site and was called M3; the forth reading, M4, was obtained immediately after fetal extraction; and the last value, M5, at end of skin suture.

RESULTS: There has been anesthesiologists’ blood pressure increase in moments M3 and M4.

CONCLUSIONS: The anesthetic practice is responsible for significant changes in anesthesiologists’ blood pressure and is a direct function of moments of higher risk for the patient during surgical anesthetic procedures.

Key Words: ANESTHETIC TECHNIQUES, Regional: spinal block; COMPLICATIONS: arterial hypertension; EQUIPMENTS: mercury sphygmomanometer

RESUMEN

JUSTIFICATIVA Y OBJETIVOS: La hipertensión arterial sistémica incide en aproximadamente 20% de la población mundial, dependiendo de la interacción entre la predisposición genética y factores ambientales. Las condiciones de estrés inherentes al trabajo del anestesista pueden manifestarse en el aparato cardiovascular, influenciando en la presión arterial del profesional que la practica. El objetivo de este estudio fue verificar si la práctica de la anestesia es factor desencadenante de la variación de la presión arterial en el anestesista durante el acto anestésico quirúrgico.

MÉTODO: Participaron del estudio diez anestesistas, cada un realizando diez anestesias raquidianas para parto cesariano. Fueron registradas cinco medidas de la presión arterial en cinco momentos diferentes, en el total de 50 afericiones por anestesista. La primera, realizada después de descanso previo de cinco minutos de la llegada del anestesista al centro quirúrgico, denominado M1. La segunda, antes de la realización de la punción lumbar, M2. La tercera, luego después de la retirada de la aguja del local de la punción donde fue realizado el bloqueo, M3. La cuarta, inmediatamente después de la retirada del feto, M4. Y la última aferición, al término de la sutura de la piel. M5.

RESULTADOS: Ocurrió elevación en la presión arterial del anestesista nos momentos M3 y M4.

CONCLUSIONES: La práctica anestésica realizada es responsable por la alteración significativa de la presión arterial del anestesista y está directamente relacionada con los momentos de mayor riesgo para el paciente durante el acto anestésico quirúrgico.

INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial sistêmica atinge cerca de 20% da população mundial, independentemente da situação sócio-econômica. É uma enfermidade multicausal, decorrente da interação de vários fatores, que foram surgindo com as modificações na maneira de viver do homem moderno. Seria, na verdade, uma "adaptação" do organismo humano às condições desfavoráveis de vida, estando relacionada a fatores de risco tais como: obesidade, ingestão de sódio, hábitos alimentares, tabagismo, etilismo, atividade física, situação sócio-econômica, estresse e outros 1.

O desenvolvimento de hipertensão arterial depende da interação entre a predisposição genética e fatores ambientais, embora ainda não seja completamente conhecido como essa interação ocorre de modo a causar a doença. Contudo o principal agravante desta enfermidade é o fato de, na maioria dos casos, ser assintomática 2.

A prevalência de HAS varia bastante em relação a fatores sociais e culturais. Pesquisas no Brasil sugerem que quanto maior a consonância cultural de um indivíduo, menor sua pressão arterial 3.

Entre os trabalhadores, observa-se correlação negativa entre o status ocupacional e a pressão arterial 4. Isto é, as maiores prevalências de HAS são encontradas entre os trabalhadores dos setores secundário e terciário da economia, não especializados, e que ganham menores salários 5. Seguindo esta mesma tendência, embora com menor especificidade, alguns trabalhos apontam relação inversa entre morbimortalidade por HAS e níveis sócio-econômicos 6,7. Isto ressalta a importância do conhecimento da distribuição da pressão arterial sistêmica entre os distintos grupos profissionais 8.

Uma tendência, observada nos trabalhos internacionais de investigação a respeito das relações entre a HAS e a ocupação, é a sua filiação com uma entre as duas linhas de pesquisa: a do estresse ocupacional ou a dos agentes nocivos, físicos e químicos, do ambiente 6.

Sabe-se que o ser humano tem a capacidade de se ajustar a um número variável de estímulos, sempre que esses oscilem dentro de uma faixa que não altere o seu funcionamento. Porém, quando a qualidade e quantidade dos estímulos estressantes ultrapassam estes limites, o equilíbrio é alterado e afeta a saúde, podendo produzir transtornos psicológicos, somáticos ou ambos 9.

Com o desdobramento das linhas de pesquisa que tentam aprofundar o conhecimento das relações que se estabelecem entre o estresse ocupacional e a HAS, constata-se que o estresse ocupacional converge para o estabelecimento de uma situação de fator de risco para a HAS 6.

Com relação à atividade médica, pesquisas revelam que a situação não é diferente. Estudos realizados no Reino Unido nos últimos anos têm revelado insatisfação no trabalho e aumento na ansiedade e depressão entre os médicos 10.

No caso da anestesia, considera-se que esta é uma especialidade associada a altos níveis de estresse. A frase que descreve a prática anestésica como "99% de rotina e 1% de terror absoluto" freqüentemente é citada 11. Porém, só recentemente, os médicos examinaram de perto o problema do estresse dentro da própria profissão 12.

Estudos sobre a personalidade dos anestesiologistas constataram que eles são mais reservados, sérios, inteligentes, assertivos, conscienciosos, auto-suficientes e tensos quando comparados aos médicos de outras especialidades 13. A especialidade passa-lhes a falsa impressão de não necessitar da cooperação de outros médicos. Pelo fato de trabalharem sozinhos, sentem-se estáveis, independentes e têm dificuldades de confiar em outros colegas médicos, temendo a ocorrência de seqüelas graves ao paciente, levando-os a só confiarem na própria performance. Tal comportamento poderá gerar sobrecarga psicoemocional, possível responsável para a alta taxa de abuso de drogas e suicídio entre os anestesiologistas 11.

Por outro lado, o modelo de saúde e o contexto social dentro do qual a Medicina é praticada mudou profundamente nos últimos 20 anos. Fatores como: incerteza econômica, litígios, carga de trabalho, relação interpessoal, chamadas noturnas, insegurança, ameaça médico-legal, necessidade de educação médica continuada contribuem para aumentar o estresse na prática profissional dos anestesiologistas 14,15.

A analogia entre o trabalho do anestesiologista e pilotos de avião é freqüentemente citada, e os princípios que norteiam a avaliação e manutenção da competência do piloto podem ser empregados aos anestesiologistas. Uma falha mínima pode colocar pacientes em risco e uma investigação dos efeitos da especialidade sobre aqueles que a praticam é justificada 14.

O anestesiologista, como parte integrante da equipe cirúrgica responsável pelas salas de cirurgia e recuperação, enfrenta riscos relacionados com seu exercício profissional que são devidos a fatores exógenos e endógenos. Dentre os exógenos, com influência negativa na saúde do anestesiologista encontram-se a contaminação ambiental causada por inalação de agentes anestésicos e desinfetantes usados no centro cirúrgico, a exposição às radiações e a contaminação por agentes infecciosos 16. Os fatores endógenos são representados por estímulos psicossociais e os do tipo emocional, quer dizer, os que se desenvolvem a partir das situações de estresse e angústia, que usualmente são o denominador comum do ambiente hospitalar, dado o estado de gravidade dos pacientes que atende 17.

Considerando as condições estressantes inerentes ao trabalho do anestesiologista, torna-se necessário um estudo que esclareça se há influência da anestesia na pressão arterial do profissional que a pratica.

O objetivo deste estudo foi verificar se a prática da anestesia é fator desencadeante da variação da pressão arterial no anestesiologista durante o ato anestésico cirúrgico.

MÉTODO

Participaram do estudo 10 anestesiologistas do sexo masculino com idade variando entre 40 e 60 anos, aparentemente sadios, não hipertensos e sem doenças associadas. Cada um realizou 10 anestesias raquidianas para parto cesariano em centros cirúrgicos dos hospitais e clínicas privadas e públicas de São Luís do Maranhão (Clinica São Marcos, Clínica Luiza Coelho, Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão-Unidade Materno Infantil e Maternidade Benedito Leite), durante o período de 30 de outubro de 2000 a 30 de março de 2001. O projeto foi avaliado e aprovado pelas Comissões de Ética dos Hospitais e Clínicas envolvidas no estudo.

Foram excluídos os portadores de doenças previamente conhecidas, tais como as cardiopatias e endocrinopatias, anestesiologistas do sexo feminino e aqueles com idade abaixo de 40 anos e acima de 60 anos e as anestesias em que as pacientes apresentaram complicações maternas. Foram consideradas complicações maternas hipotensão arterial inferior a 60 mmHg (da pressão basal antes da anestesia); nível de anestesia superior a T4; raquianestesia total; e, as complicações cirúrgicas como atonia uterina, lesão de vasos importantes e dificuldade de retirada do feto.

Os atos cirúrgicos ocorreram no início da jornada, entre às 08h00 e 08h30 minutos, com duração limitada em até uma hora. As acomodações de trabalho e de infra-estrutura nos serviços em que aconteceram as anestesias foram semelhantes.

A pressão arterial do anestesiologista correspondia à primeira anestesia realizada no dia e era aferida pelo método auscultatório de Riva-Roci 18 e segundo as recomendações do III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial, 1998, em posição sentada, com o braço direito na altura do coração, após o descanso prévio de cinco minutos da chegada do mesmo ao centro cirúrgico, em ambiente calmo, com temperatura agradável 19.

As medidas pressóricas eram todas aferidas por uma mesma pessoa, utilizando o mesmo estetoscópio Welch Allyn-Tycos e o mesmo esfigmomanômetro de coluna de mercúrio da marca Omron, modelo 12-605, periodicamente testado e devidamente calibrado.

A verificação da calibração do manômetro de coluna de mercúrio era avaliada pela simples inspeção visual da coincidência do menisco de mercúrio com o nível zero 4. A dimensão da bolsa inflável utilizada foi escolhida de acordo com que determina a Associação Americana de Cardiologia.

Ao medir-se a pressão arterial, o manguito era colocado firmemente, cerca de dois a três centímetros acima da fossa antecubital, centralizando-se a bolsa de borracha sobre a artéria braquial, inflando-se rapidamente de 10 em 10 mmHg até a coluna de mercúrio atingir a marca de 200 mmHg.

Se neste ponto os sons de Korotkoff permanecessem audíveis, o manguito era inflado até a altura de 260 mmHg. A partir daí começava-se a desinsuflação do manguito com uma velocidade entre 2 a 4 mmHg por segundo, evitando-se congestão venosa e desconforto para o anestesiologista. O valor da pressão arterial sistólica (PAS) correspondia à altura da coluna de mercúrio ao perceber-se, no estetoscópio, o primeiro batimento regular (fase I dos sons de Korotkoff). O valor da pressão arterial diastólica (PAD) correspondia à altura da coluna de mercúrio no momento do desaparecimento dos batimentos regulares (fase V dos sons de Korotkoff), isto é, no ponto em que as bulhas se tornaram inaudíveis. Os registros foram expressos em milímetros, com aproximação para o valor mais próximo indicado pela escala do esfigmomanômetro, graduada de 2 em 2 milímetros 20.

Foram obtidas cinco medidas (5 momentos) da pressão arterial de cada anestesiologista durante dez procedimentos anestésicos cirúrgicos, correspondendo a um total de cinqüenta aferições por profissional avaliado. A primeira medida, realizada logo após a chegada do anestesiologista ao centro cirúrgico, foi chamada de M1.

A segunda, antes da realização da punção lombar entre L3 e L4, denominada de M2.

A terceira, M3, realizada imediatamente após retirada da agulha do local onde foi realizada a punção do bloqueio.

O valor de M4, correspondente à quarta medida, era obtido imediatamente após a retirada do feto e a última aferição M5, ao término da sutura da pele.

Foi considerada pressão arterial normal, para indivíduos adultos (com mais de 18 anos de idade), valores inferiores a 85 mmHg para a PAD e inferiores a 130 mmHg para a PAS 21.

Para a análise estatística os dados foram catalogados em fichas individuais e expressos como médias e desvio padrão das médias. As médias das tomadas de pressão arterial (PAS e PAD) de M1 a M5 foram comparadas entre si por meio da análise de variância. A diferença entre as médias de M1 a M5 foram determinadas pelo teste de Friedman com nível de significância de 5% (p < 0,05).

RESULTADOS

A tabela I mostra as médias dos valores das 10 medidas da PAS e PAD dos 10 (A1-A10) anestesiologistas selecionados, assim como a média geral (X) e desvio padrão (DP) das diversas medidas (M1-M5), obtidas durante o primeiro ato cirúrgico do dia.

As médias gerais dos valores das medidas da PAS e PAD, quando comparadas entre si, permaneceram inalteradas em M1, M2 e M5 (Tabela I e Figura 1).

Revista Brasileira de Anestesiologia, 2002; 52: 5: 591 - 600

Pressão Arterial do Anestesiologista durante o Ato Anestésico-Cirúrgico no Período Matutino

Pedro Wanderley de Aragão, João de Oliveira Prazeres, Vânia Maria de Farias Aragão,

Carlos Alberto de Souza Martins


Revista Brasileira de Anestesiologia, 2002; 52: 5: 591 - 600

Pressão Arterial do Anestesiologista durante o Ato Anestésico-Cirúrgico no Período Matutino

Pedro Wanderley de Aragão, João de Oliveira Prazeres, Vânia Maria de Farias Aragão,

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Em M3 e M4 observou-se elevação das médias da PAS e PAD (Tabela I e Figura 2), indicando que estes momentos são cruciais, exigem maior atenção e podem causar maior impacto emocional ao profissional.


Revista Brasileira de Anestesiologia, 2002; 52: 5: 591 - 600

Pressão Arterial do Anestesiologista durante o Ato Anestésico-Cirúrgico no Período Matutino

Pedro Wanderley de Aragão, João de Oliveira Prazeres, Vânia Maria de Farias Aragão,

Carlos Alberto de Souza Martins

Analisando a distribuição percentual de todas as medidas (M1 a M5) observou-se que 20,6 e 15,4% apresentaram valores de PAS e PAD superiores ao normal, respectivamente. Observou-se também que 0,6% para PAS e 13,8% para PAD atingiram o estágio 1 de hipertensão arterial segundo a classificação da OMS (Figura 2).

Considerando apenas os percentuais das medidas em M3 e M4 observou-se que houve elevação para 32,5% de PAD e 1,5% de PAS dos valores que atingiram o estágio 1 da hipertensão arterial (Figura 3).


Revista Brasileira de Anestesiologia, 2002; 52: 5: 591 - 600

Pressão Arterial do Anestesiologista durante o Ato Anestésico-Cirúrgico no Período Matutino

Pedro Wanderley de Aragão, João de Oliveira Prazeres, Vânia Maria de Farias Aragão,

Carlos Alberto de Souza Martins

DISCUSSÃO

O método auscultatório escolhido para determinação não invasiva da pressão arterial foi o de Riva-Rocci, por ser o mais conhecido, relativamente simples e confiável 18,22. A medição não invasiva da pressão arterial é um procedimento clínico, sensível, barato e útil, tanto para o diagnóstico da pressão arterial como para o seguimento dos pacientes hipertensos.

As técnicas automáticas, não invasivas, evoluíram rapidamente nas últimas duas décadas e, hoje, os métodos oscilométrico e auscultatório, apesar de suas desvantagens, são capazes de prover resultados acurados 23. A medida ambulatorial da pressão arterial (MAPA) é outra forma de avaliar a pressão arterial e, consegue-se obter uma curva do comportamento pressórico do paciente durante suas atividades habituais, apresentando vantagens e desvantagens na prática clínica 24. A MAPA não foi utilizada neste trabalho por se pretender avaliar a pressão arterial dos anestesiologistas pelo método mais freqüentemente empregado na prática.

Está bem estabelecido que a regulação da pressão arterial é feita por meio de vários mecanismos inter-relacionados. No caso da hipertensão arterial essencial sabe-se que o estresse possui, através de ação simpático-adrenomedular e pituitário-adrenocortical, o poder de aumentar a pressão arterial em resposta a estímulos psicológicos. Existem várias hipóteses que tentam esclarecer o mecanismo pelo qual isso ocorre. Uma das possíveis explicações é que pela ação adrenérgica do estresse, não só os vasos sangüíneos sofrem constrições, mas também o coração sofre um aumento de velocidade e da força de contração, afetando o débito cardíaco e conseqüentemente alterando a pressão arterial. Desse modo, uma pessoa com vida sistematicamente estressante está predisposta a sofrer aumentos constantes da pressão arterial 25.

A elevação da pressão arterial constitui um preocupante problema clínico, sendo responsável pela maior incidência de morte prematura. A mortalidade é maior entre os médicos do que em outros grupos da mesma condição socio-econômica, provavelmente em decorrência do estresse ocupacional 26.

Como a grande maioria dos trabalhadores, o anestesiologista fica confinado a um ambiente de trabalho. A diferença é que o ambiente deste é a sala de cirurgia ou de recuperação que o expõe a perigos específicos, diferentes dos que ocorrem de maneira geral.

O aparecimento de enfermidades psicossomática e mental vem sempre precedido por estados que se caracterizam por alterações objetivas e subjetivas do estado mental e por transtornos funcionais do organismo, sem que exista incapacidade definida ou lesão estrutural. Assim a ansiedade moderada, a hipertensão arterial, a depressão, que na maioria das vezes se curam espontaneamente quando cessa o estímulo nocivo, porém quando se prolonga ou se repete com freqüência sem períodos adequados de recuperação, pode dar lugar a manifestações graves para a saúde.

Estudos comparando grupos de médicos anestesiologistas com os de outras especialidades concluíram que os primeiros estão submetidos à estresse que provoca maior número de alterações psicológicas do que os demais. No mesmo estudo foi encontrado um percentual de 22% de hipertensão arterial, 68% de ansiedade, 50% de transtornos do sono, além de gastrite, dores anginosas e outros sintomas 16.

Trabalho realizado com diferentes grupos ocupacionais na Austrália mostrou diferenças de pressão arterial entre diversos grupos de trabalhadores sendo que as maiores alterações foram encontradas naquelas profissões associadas a níveis elevados de estresse ocupacional 27.

No presente estudo foram selecionados somente anestesiologistas do sexo masculino sem relato de doença cardiovascular. Anestesiologistas do sexo feminino foram excluídos em razão da evidência de que as mulheres são mais vulneráveis aos efeitos negativos do estresse do que os homens 28.

Foi encontrada elevação da pressão arterial acima dos limites da normalidade nos anestesiologistas, apesar de terem sido retirados da amostra grande número de fatores responsáveis pelo estresse, e de se ter optado por um único tipo de cirurgia, de caráter eletivo, em paciente hígida. Além de escolher-se a primeira anestesia da manhã, quando o anestesiologista não foi ainda submetido a uma carga máxima de trabalho.

O presente trabalho demonstra que há inter-relação entre a atividade do anestesiologista e a pressão arterial parecendo estar caracterizada pela resposta da variação da pressão arterial apresentada durante a realização do ato anestésico.

Analisando a distribuição percentual de todos os momentos do estudo (M1 a M5), observou-se aumento de PAD nos momentos M3 e M4 atingindo o estágio 1 da hipertensão arterial.

Os resultados também demonstraram que a maior elevação média ocorreu no momento da retirada da agulha (M3) e imediatamente após a retirada do feto (M4), podendo ser inferidos como momentos cruciais, pois há sempre a expectativa da ocorrência de um fator inesperado inerente à técnica e ao momento do nascimento fetal.

Nas condições deste estudo podemos concluir que a anestesia é um fator desencadeante da variação da pressão arterial do anestesiologista e está diretamente relacionada com os momentos de maior risco para o paciente durante o ato cirúrgico.

A aferição da pressão arterial, segundo o método proposto, foi capaz de detectar elevações acima dos níveis considerados normais. No entanto, torna-se necessária monitorização contínua, durante as 24 horas, diversificando o tipo de cirurgia e a técnica anestésica para detectar maiores alterações da pressão arterial.

Apresentado (Submitted) em 31 de outubro de 2001

Aceito (Accepted) para publicação em 25 de janeiro de 2002

Recebido dos (Received from) Hospitais e Clínicas Privadas e Públicas de São Luís do Maranhão (Clinica São Marcos, Clínica Luiza Coelho, Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão - Unidade Materno Infantil e Maternidade Benedito Leite). São Luís, MA

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  • Endereço para correspondência
    Dr. Pedro Wanderley de Aragão
    Rua dos Jenipapeiros, Quadra 21, nº 18, Bairro do São Francisco
    65076-490 São Luís, MA
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Abr 2003
    • Data do Fascículo
      Set 2002

    Histórico

    • Aceito
      25 Jan 2002
    • Recebido
      31 Out 2001
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