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Dispositivo útil para intubação traqueal no paciente obeso mórbido

CARTAS AO EDITOR

Devido a esses números, é de se esperar que tenhamos cada vez mais cada vez mais pacientes desse tipo em nossa prática clínica, não somente para a realização de gastroplastias e banda gástrica, mas também para outros tipos de procedimentos. São várias as peculiaridades anestésicas que se deve conhecer quando de seu manuseio. Pode-se citar que as alterações cardiovasculares, respiratórias e farmacocinéticas fazem parte da lista das mais importantes. Porém, a intubação traqueal (IOT) e a manutenção das vias aéreas foram alvos de recentes discussões no último encontro da ASA, em outubro de 2004.

Nos obesos, o índice de Mallampati, não seria o fator mais eficaz para previsão de IOT difícil. O teste de maior sucesso para tal avaliação seria a medida da circunferência do pescoço. Assim, pacientes obesos teriam 30% de probabilidade de IOT difícil quando a circunferência do pescoço ultrapassar 60 cm. Somente nesses casos a intubação traqueal com o paciente acordado a fibroscopia seria recomendada 2,3.

Ponderou-se também, que a relação obesidade mórbida e IOT difícil está sendo supervalorizada 4. Dois estudos, um com 764 e outro com 100 obesos mórbidos, não conseguiram demonstrar uma correlação evidente entre índice de massa corpórea (IMC) e IOT difícil 5,6. Porém, quando esses pacientes obesos apresentavam apnéia obstrutiva do sono, existiu forte correlação com IOT difícil 7. Nesses pacientes, um estudo mostrou a presença de grande quantidade de tecido conjuntivo frouxo paratraqueal 8.

Ressaltou-se também nesse mesmo congresso, que na maioria das vezes quando a IOT não era possível com laringoscopia direta, o problema encontrava-se no posicionamento inadequado do paciente 3,4 (Figura 1).


Revista Brasileira de Anestesiologia, 2005; 55: 2: 256-260

Dispositivo Útil para Intubação Traqueal no Paciente Obeso Mórbido

Ricardo Francisco Simoni

Na nossa revista (Rev Bras Anestesiol) alguns autores mostraram os cuidados que se deve ter antes de se efetuar a larincoscopia direta. A avaliação criteriosa das vias aéreas, a utilização de coxins sob os ombros, a flexão do dorso da mesa foram demonstradas como manobras eficazes para o correto posicionamento desses pacientes, proporcionando a extensão da coluna torácica e flexão da coluna cervical com o favorecimento da articulação atlanto-occipital 9,10 (Figura 2).


Revista Brasileira de Anestesiologia, 2005; 55: 2: 256-260

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Ricardo Francisco Simoni

Observando-se as últimas ilustrações publicadas na Rev Bras Anestesiol e no último Refresher Course da ASA 2004, idealizei um coxim único com o formato de trapézio. O dispositivo foi confeccionado com espuma de densidade 33 e envolto em lona lavável, cujas medidas estão apresentadas na figura 5 (Figura 3, Figura 4 e Figura 5).


Revista Brasileira de Anestesiologia, 2005; 55: 2: 256-260

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Ricardo Francisco Simoni


Revista Brasileira de Anestesiologia, 2005; 55: 2: 256-260

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Ricardo Francisco Simoni

Nota-se que para haver posicionamento correto de obesos, deve-se traçar uma linha imaginária entre o meato acústico externo e o esterno do paciente, e que tal linha deve estar paralela ao solo 3 (Figura 6).


Revista Brasileira de Anestesiologia, 2005; 55: 2: 256-260

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O uso desse dispositivo único em formato de trapézio elimina a utilização de inúmeros lençóis dobrados, cobertores e travesseiros diversos que seriam necessários para se obter tal efeito. Pequenas variações podem ser feitas com pequenos travesseiros colocados sob a cabeça do paciente (Figura 7).


Revista Brasileira de Anestesiologia, 2005; 55: 2: 256-260

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Ricardo Francisco Simoni

Observando-se mais atentamente, essa posição para IOT também pode ser conseguida com flexão do dorso da mesa de operação e com a cabeceira colocada paralela ao solo. Porém, não são todas as mesas que teriam tal recurso e para alguns pacientes grandemente obesos é necessário adaptar-se duas mesas para a realização da operação proposta.

Com a utilização do coxim proposto não só a IOT é facilitada, mas também a ventilação dos obesos mórbidos é mais eficaz, resultado do deslocamento distal das mamas e do abdômen. O próprio paciente, quando colocado nessa posição, relata em muitas vezes, maior facilidade nos movimentos ventilatórios.

Atenciosamente.

Ricardo Francisco Simoni, TSA

Membro do CET/SBA do Instituto Penido Burnier e Centro Médico de Campinas

Rua Cel. Francisco Andrade Coutinho, 222/12

13025-190 Campinas, SP

E-mail: ricaboss@terra.com.br

REFERÊNCIAS

01. Mancini MC - Diagnóstico e Classificação da Obesidade, em: Garrido Júnior AB - Cirurgia da Obesidade, São Paulo: Atheneu, 2002;1-7.

02. Ogunnaike BO, Jones SB, Jones DB et al - Anesthetic considerations for bariatric surgery. Anesth Analg, 2002;95:1793-1805.

03. Brodsky JB - Anesthesia for Bariatric Surgery, em: Refresher Course ASA, 2004;506.

04. Neligan PJ - Bariatric Medicine: Clinical Implications of Morbid Obesity, em: Refresher Course ASA, 2004;121.

05. Ezri T, Waters RD, Szmuk P et al - The incidence or class "zero" airway and the impact of Mallampati score, age, sex, and body mass index on prediction of laringoscopy grade. Anesth Analg, 2001;93:1073-1075.

06. Brodsky JB, Lemmens HJ, Brock-Utne JG et al - Morbid obesity and tracheal intubation. Anesth Analg, 2002;94:732-736.

07. Erzi T, Medalion B, Weisenberg M et al - Increased body mass index per se is not a predictor of difficult laryngoscopy. Can J Anaesth, 2003;50:179-183.

08. Erzi T, Gewurtz G, Sessler DI et al - Prediction of difficult laryngoscopy in obese patients by ultrasound quantification of anterior neck soft tissue. Anaesthesia, 2003;58:1111-1114.

09. Souza LR, Porsani DF, Branco A - Posicionamento do paciente com obesidade mórbida para intubação traqueal. Rev Bras Anestesiol, 2000;50:484-485.

10. Braga AFA, Silva ACM, Cremonesi E - Obesidade mórbida: considerações clínicas e anestésicas. Rev Bras Anestesiol, 1999;49:201-212.

  • Dispositivo útil para intubação traqueal no paciente obeso mórbido

    A população obesa tem aumentado consideravelmente em quase todo mundo. No Brasil a taxa de prevalência na população feminina é de 13,3% e na masculina de 7%. Na Europa e nos EUA as taxas de prevalências são de 20% e 22,5%, respectivamente. A taxa de ascensão varia de 0,5% a 1% ao ano nos países desenvolvidos. Somente Japão e Holanda possuem taxas de ascensão estáveis 1.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Jun 2005
    • Data do Fascículo
      Abr 2005
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